Monday, November 5, 2007

A esperança do embaixador

Numa fase da Cimeira de Lisboa em que o tema de sicussão será o Médio Oriente, Rice prometeu a Israel que os Estados Unidos vão continuar a assegurar a segurança israelita, subsequentemente à criação de um futuro Estado palestiniano. Este foi indicado como um motivo plausível pelo qual o governo hebraico deve tomar decisões.
No mês de Maio último, Aron Ram, embaixador de Israel em Portugal, concedeu uma entrevista para a qual devemos ter especial atenção, uma vez que estamos a falar num conflito contemporâneo.

A consagração da paz entre Israel e a Palestina tem sido um fundamento debatido não só pelo Médio Oriente e pelo continente asiático, mas por todo o mundo ocidental.
O conflito entre estes dois Estados tem vingado durante décadas de tentativa de construção da independência livre. A Palestina vê aquele território como parte que lhes foi retirada, ao invés, o povo israelita apenas deseja ter o seu canto para viver.
A faixa de Gaza, dia após dia, expele o «ardor» dos dois Estados intensificando-se a luta da qual ainda não se prevê um desfecho atempado.
Acordos e tentativas de apaziguação e até mesmo a cessação têm sido propostas pela ONU; contudo, de nada servem uma vez que, como assevera Aaron Ram, Presidente da Comunidade Israelita de Lisboa: “Gaza terá de aceitar os termos da Comunidade Internacional, as condições da União Europeia, reconhecer o direito do Estado de Israel existir e admitir a validade dos acordos anteriormente existentes”. De acordo com o embaixador de Israel em Portugal, a solução estará em conversar “temos de nos sentar, não apenas para parecer bem, mas para falarmos acerca do assunto”.
Aaron Ram revelou a sua satisfação por estar em Portugal e por se encontrarem a ser impulsionados em terras lusas, projectos como o Centro de Estudos de Israel, Médio Oriente e Mediterrâneo (CEIMOM) que foi decretado aberto, a 10 de Maio, no Instituto Superior de Línguas e Administração (ISLA), de Vila Nova de Gaia.


In(dependência) de Israel
Aaron Ram aborda que entre a Palestina e Israel perdura há 60 anos um conflito. “Ninguém na Europa e talvez noutros continentes se apercebeu do colapso que vimos acontecer rapidamente. O Hamas atacou de súbito. A Fatah era aliada da unidade governamental e ficamos um pouco cépticos, porque quando os moderados se juntam aos extremistas como o Hamas, o mais provável é que o grupo extremista se apodere”, revela o embaixador, e continua “É que em vez de se tornarem mais moderados, pelo contrário, eles assumem o controlo, por que a ideologia dos dois não é muito diferente, e tornam-se mortíferos”. Este pode ser, de acordo com o seu critério, o elemento de comparação com o caso do Líbano. O Hezbollah, no Líbano, não se tornou mais moderado aquando da junção com o Governo, mas, em vez disso, “tentam «minar» o Governo para o forçar a agir de acordo com as suas convicções”, afirma o representante de Israel.
O Hamas, declara, é uma “unidade governamental que não está baseada na boa vontade; todavia, em distrair o Estado de Israel”. Convém lembrar que não quiseram aceitar os princípios da Comunidade Internacional, que consiste em reconhecer a Israel o direito de existir. Um fundamento que os palestinianos não reconheceram nem aceitaram os acordos anteriores; no entanto, “também não quiseram renunciar o seu próprio território”, aclara.

«Não» sem renúncia
Afirma Aaron Ram que “o Governo [palestiniano] mostrou a «verdadeira face» aos palestinianos da maneira mais brutal: mataram, feriram e mandaram muitos deles para a prisão. Particularmente a brutalidade com que mataram os seus próprios «irmãos» mostra essa verdadeira face”. O embaixador atenta no sentido em que tentaram passar, a priori, uma imagem; porém, que não iludiu os israelitas, pois já tinham em erudição a «verdadeira face do Hamas». Israel revela-se optimista perante o cenário actual e espera que se estabeleça a cooperação, porquanto, “neste momento, o Hamas controla a faixa de Gaza e a Fatah cria um novo Governo, sem o apoio do Hamas, Wesbin”, confessa.
É, desta forma, que se conduz o pensamento, rumo ao apoio dos moderados (politica e economicamente), “a dar a mão aos moderados e, por outro lado, lutar sempre contra os extremistas”, alude o embaixador.
Este é o ponto de vista exposto por Aaron Ram que acredita num «novo nascer». Novas oportunidades terão de ser aproveitadas pelos israelitas e “esperamos que os palestinos, eles próprios, mesmo em Gaza, percebam que o Hamas não pode propagar as suas ideologias”, explícita, porque “toda a gente boicotou (Europa, ONU, América e mesmo outros). Estão contra o tipo de vida que o Hamas está a levar – o extremismo”.


“Os palestinianos têm de escolher o melhor caminho”
Não foi reprovado o modo de viver dos palestinianos, o que entra em discórdia é, justamente, o terrorismo, tal como referiu. “No futuro, vemos Gaza e o Wesbin como uma unidade. Os moderados vão ter de superar os extremistas em Gaza”, prevê Aaron Ram.

Seis décadas ou mais?
A solução para o conflito poderá estar no achamento de um termo encontrado pelos dois lados, de acordo com a opinião do embaixador, o problema poderá estar é em “encontrar os termos certos para o resolver”.
Falar e discutir soluções poderia ser um passo para o acordo, que falta a estes dois Estados, na direcção da cessão do conflito “Os palestinianos agora não quiseram resolver, quiseram impor-nos as soluções, sem falar connosco. As duas partes têm de se comprometer em encontrar uma solução”, assume Aaron Ram.
O embaixador salienta que os palestinianos “tiveram oportunidades e não as aproveitaram”.

“E porque é que isso ainda não foi resolvido?”
“Não sei, temos de lhes perguntar” é a resposta que Aaron Ram proferiu acerca do assunto. Ao relembrar o processo histórico que acercou Israel e a Palestina, Aaron Ram expõe como “a decisão das Nações Unidas recaiu sobre a criação de dois Estados” em que a posição contra foi optada pela Palestina. Essa foi a razão para a concretização da fundação de Israel no ano de 1948. O problema residiu na vontade de quererem tudo e, por isso, “perderam a sua oportunidade”. “Depois da independência, até 1967, Israel não controlou o território. Isto não era parte de nós. Havia regiões que não eram nossas, nomeadamente a Judeia e a Samaria que faziam parte da Jordânia, não obstante, a Asa estar nas mãos do Egipto. Durante 19 anos, não houve nenhum estabelecimento de Israel lá e, no entanto, eles nunca quiseram criar o estado, porque pensavam que, no futuro, iriam suprimir e sufocar o estado de Israel e que nos iria conseguir derrotar”, manifesta o embaixador.

História, guerra, conflito
Em 1964, estabeleceu-se a Organização da Libertação da Palestina (OLP). Aaron Ram aviva que “eles sabiam que Israel nos três anos subsequentes conquistaria o território e instalaram OLP com o intuito de destruir Israel”. Foi a Guerra dos Seis Dias que vigorou e concedeu a tomada de Israel. Em 2000, o primeiro-ministro Barak e o Arafat encontraram-se em Camp David, nos Estados Unidos, “para oferecerem 97% daquele território. Foi proposto o melhor acordo e eles disseram que não”, recorda o embaixador, “ele não voltou a Ramalah para consultar os seus conselheiros e voltar à negociação. Voltou e imediatamente deu permissão aos terroristas, ao Hammas, para colocar bombas em cidades israelitas, em bares, restaurante, discotecas, autocarros, em hotéis… Ele não só o permitiu como ainda os incentivou”.
Desta sequência advém a asserção de Aaron Ram “eles perderam todas as oportunidades”.

“Espero que desta vez comecemos a negociar seriamente. Que o governo deles aceite o nosso direito de existir, porque se não, o que adianta? Por isso, esperamos que, desta vez, eles não percam a oportunidade, que estão sempre a perder e que se torna num ciclo vicioso que afecta as pessoas, não só as palestinianas, como as israelitas que também sofrem com isto”, garante. O embaixador reflecte sobre todos os danos que o conflito causa não apenas no que concerne aos directamente envolvidos, mas também ao nível da economia, do turismo – pois menos turistas vêm –, além das consequências que dizem respeito “à perda de vidas, e isso é muito importante”.
Na Conferência de Oslo pretendeu-se a defesa dos direitos que devem ser garantidos a Israel, designadamente a assunção do compromisso do desarmamento. Aaron Ram garante que Israel cumpriu o acordo, enquanto que “a Fatah fez exactamente o oposto, para matar o maior número de israelitas possíveis ou até mesmo os civis”.

In(cumprimento) de acordos
“Eles metem bombas em todos os locais e o que eu espero é que o governo deles reconheça e aceite os termos”, só assim, segundo o embaixador, poderão ter a “possibilidade de analisar, porque nós estamos disposto a dar muito pela paz, e nós só queremos ver se o lado de Gaza está tão sério como nós”. É apontado este parâmetro como uma oportunidade para os palestinianos. O que o governo israelita pretende é que sejam conseguidas negociações “baseadas no princípios, que pensam que nos esquecemos, mas que são aqueles que nos dão as plataformas de como proceder”, sendo este o primeiro passo apontado por Aaron Ram: “renunciar ao terror, não disparar, não matar, não colocar bombas”. Israel está disposta a debater pela paz e, se a compreensão e as conversações forem bem sucedidas “levantaremos muitos bloqueios de estradas, e outras sanções, e assisti-los-emos economicamente”, sendo estas as etapas para que os Estados Árabes reconheçam Israel no seio das «Nações Unidas».

Compromisso e Honra
Aaron Ram está em Portugal desde Dezembro de 2004, ao serviço pelo seu país e conta com um currículo invejável. Para ele, é “uma grande honra ser embaixador de Israel em Portugal, mas também um compromisso”. O seu objectivo é promover as relações entre os dois países em vários campos, que pode traduzir-se na promoção das relações políticas, económicas, académica, entre outras em que o raio de interacção se identifique. É ao embaixador que cabe a «missão» de fortalecimento “dos relacionamentos entre as duas nações e os dois povos”, de modo a que os povos se conheçam melhor e possam cooperar melhor.

Israelitas e Portugal
O embaixador transmite aos portugueses aquilo que lhe é emitido pelo seu povo. Os israelitas pensam “só coisas boas” acerca de Portugal e dos portugueses.
Aaron Ram anseia que uma transformação seja activada por terras lusas, no que diz respeito aos voos directos entre Portugal e Israel “para que mais israelitas possam vir a Portugal tanto como portugueses possam ir a Israel, assim impulsionar-se-ia a oportunidade de se saber mais sobre os dois países”, afirma o embaixador.

A similitude cultural
Israel é, essencialmente, como os outros países europeus “partilhamos valores europeus como a democracia” e, seguindo esse critério, “não há diferenças muito significativas”, atesta o embaixador. “As instituições políticas são muito idênticas, exceptuando algumas leis. As pessoas agem de uma maneira muito parecida. E, hoje em dia, no que concerne a culturas, falamos de um mundo muito pequeno”. Aaron Ram não considera ter tido qualquer choque cultural, mas assume a preferência por este país e pelas gentes que aqui habitam. O embaixador recorda que se integrou muito rapidamente e que gosta “de tudo aqui, porque Portugal é um país calmo assim como as pessoas que são muito simpáticas e muito calorosas. E isso é algo que é parecido com Israel”.

Estudar Israel em Portugal
O contentamento reveste a resposta de Aaron Ram acerca do Centro de Estudos Israel, Médio Oriente e Mediterrâneo (CEIMON). Este local direccionado para a pesquisa e investigação em prol do «saber» promovem as relações entre os dois países, mas também com qualquer outro “estudante” que o queira fazer. “Quando vim cá pela primeira vez, há um ano atrás, apenas estávamos perante a iniciação que fizemos erguer, para vermos como podíamos cooperar e criar um centro destes”, considera Aaron Ram. Na sua opinião é muito importante haver um departamento do Médio Oriente, em Portugal, porque ler nos jornais ou ouvir o que o outro disse ou escreveu, é bom e importante, mas o mais relevante é termos peritos disponíveis para procurar e extrair conclusões e redigir artigos”.

Turismo: medo ou curiosidade?
Com a época de férias a chegar os portugueses começam a eleger os seus destinos para desfrutar de grandes momentos de descontracção e repouso.
Israel não é um grande destino turístico e o embaixador comprova isso “eu conheço os números e, infelizmente, não são tão altos. Só poucos milhares de portugueses é que vão a Israel e poucos milhares de israelitas estão a vir para Portugal”.
Porém, Aaron Ram assegura que “não há nada a temer, nem nada que possa preocupar”. O representante de Israel em Portugal promove o seu país de origem pronunciando-se um pouco acerca dele “Israel é definitivamente um bom local para passar férias. Se for uma pessoa religiosa pode encontrar locais religiosos. Israel é um país muito soalheiro, para aqueles que gostarem de sol”. O discurso prossegue com a enunciação de alguns lugares aprazíveis para desfrutar de bons momentos “No Mar Morto podemo-nos deitar de costas e ler um livro que não nos afundamos. Há várias atracções: as zonas históricas e a natureza com paisagens magníficas; o Ilar que é muito quente no Verão, mas é também um lugar diferente para passar o tempo e o deserto da Judeia reúne a pura beleza através de dois conceitos: o historicismo e a beleza. Na Galileia, encontra-se um diferente tipo de paisagem por entre as colinas…Há muito que ver, não esquecendo as cidades modernas, que são das mais desenvolvidas do mundo. Jerusalém é a Cidade Santa e está próxima de todas as outras”.
“Todos podem descobrir em Israel aquilo que quiserem e de boa qualidade”, certifica Aaron Ram, “uma boa praia, com águas quentes do mediterrâneo, zonas históricas e boa comida com excelentes restaurantes. Com a expectativa de virem a ser realizados voos directos entre Israel e Portugal, espero também que todos os portugueses que vão a Israel voltem a Portugal muito satisfeitos, agradados com a experiência e a saber mais”.
Conforme Aaron Ram referiu durante a entrevista “se não forem para Gaza, não têm nada a temer. É absolutamente seguro e o que se vê na televisão não é correcto. As pessoas vêm que aquilo é em Gaza, mas pensam que abrange Israel”. Com as imagens transmitidas, pelos media ao nível mundial, as pessoas extraem um conclusão errónea no que diz respeito ao que se passa em Israel, pois pensa que os incidentes ocorrem por todo Israel e discorre-lhes que Israel é só Gaza. O embaixador reforça a ideia dizendo que “as pessoas voltam felizes de Israel” e temos de relevar o facto de ele estar a falar de dois milhões de turistas que vem de todo o mundo.

Anabela da Silva Maganinho

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