Monday, March 23, 2009

Um brasileiro ao serviço do Azerbaijão


Thiago Gabriel Rodrigues Paz é um dos jogadores brasileiros que integra o elenco da selecção do Azerbaijão. Decorrida a fase de apuramento, o Azerbaijão assegura um marco na história do país ao se qualificar para o Euro 2010. Thiago deixou o distintivo nas três jornadas ao assinalar cinco golos, mas o futuro ainda não detém certezas para o jogador no que concerne ao futsal.
Iniciado no Internacional de Porto Alegre, o trajecto de Thiago passou pelo Atlético Erechin, pelo Minas e pelo Veranopolis. Transferido para Espanha, ingressou pelo Marfil Santa Coloma e pelo Burela, tendo terminado no Cáceres até à proposta para o Aras do Azerbaijão.
O destino levou-o para o outro canto do mundo, se pensarmos nos milhares de quilómetros que o separam de Santana do Livramento, no Brasil; porém, é a paixão, o amor pelo futsal que o movem para qualquer direcção. Aos 27 anos, a modalidade é que o faz feliz e lhe tem dado alegrias representadas em títulos; no entanto, a família, sobretudo a filha, são a prioridade e, por isso, o futuro apenas lhe cabe a ele traçar.

Anabela (A) – Queria começar por saber um pouco acerca do teu percurso profissinal.
Thiago Paz (TP) –
Comecei a jogar aos 9 anos já em torneios, na disputa de competições. O meu primeiro ano de profissional foi em 1999, no Internacional de Porto Alegre, no Brasil. Em 2001, saí para a Espanha onde joguei cinco temporadas até que surgiu esta proposta, a oportunidade de ir para o Azerbaijão. Cheguei ao Azerbaijão há três meses, tirei a cidadania através do meu bisavô que morou lá (não sei o que é que ele estava a fazer lá (risos)). Tenho a agradecer ao Azerbaijão o facto de me ter aberto as portas para eu poder disputar um pré-europeu que para o Azerbaijão vai entrar para a história, porque nunca se classificou. Vim a Portugal representar um país e sinto-me sinto orgulhoso por ter podido representar da maneira como representamos. Ninguém esperava que o Azerbaijão se fosse classificar, mas a verdade é que conseguimos e agora é trabalhar e esperar 2010, na Hungria.

A – E a selecção do Brasil não era algo ambicionado da tua parte uma vez que seria a representação do teu país?
TP –
Não. Claro que como sou brasileiro o meu sonho sempre foi representar o meu país, mas não tive oportunidade. Como referi, o Azerbaijão abriu-me estas portas e eu vou ser sempre agradecido. Onde eu estiver a jogar, se eu receber uma convocatória irei certo onde for para representar o país.

A – Qual a razão para escolheres o futsal quando o futebol 11 é o mais ambicionado pelos miúdos, ainda mais no Brasil?
TP –
Verdade. Até aos 18 anos sempre joguei os dois. Durante o dia jogava futebol e à noite jogava o futebol de salão. Com 19 anos, tive de escolher e, como é óbvio, se fosse a pensar financeiramente estaria a jogar futebol, mas optei pela minha paixão que perdura até hoje. Eu amo jogar futebol de salão e sinto-me orgulhoso de ter optado por esta modalidade.

A – Ao longo do teu percurso enquanto jogador, qual o momento que mais destacas como o momento mais feliz?
TP –
Teve vários. Desde que comecei a jogar futebol de salão, eu quero vencer! Se saio derrotado, sinto-me muito mal e até nos treinos eu quero vencer, quero vencer. Já tive vários títulos, mas representar uma selecção, representar um país como o que aconteceu aqui. Ver o Azerbaijão a classificar-se, algo que nunca aconteceu… e agora ficamos a saber pelos directores que o país está à nossa espera. Sinto-me orgulhoso por causa disso: estar a representar um país e saber que vou entrar para a história, não só eu como os meus companheiros, os jogadores que classificaram, pela primeira vez, um país para uma competição tão importante como o Europeu.

A – Durante esta fase de apuramento para o Europeu as expectativas foram superadas pelo facto de vocês prosseguirem, mas qual o balanço que fazem dos três jogos que realizaram?
TP –
Como a nossa equipa da selecção tem cinco brasileiros entregamo-nos ao máximo, já está no sangue. Nós conversamos muito, treinamos um pouco separados da equipa e preparamo-nos muito para chegar aqui. Não viemos em passeio e tentamos transmitir aos nossos colegas que podíamos conquistar este pré-europeu. A cada dia levantávamos o astral do «pessoal» e viemos confiantes. Contra Portugal, sabíamos que o favoritismo era de Portugal, mas fizemos um bom jogo. No final, o árbitro deu um penalty, mas, de facto, era penalty. Nesse jogo vimos que tínhamos condições. Depois jogamos com a Polónia, ganhamos 4-3 apesar de termos tido um pouco de dificuldades, talvez por termos empatado com uma selecção tão importante como a de Portugal. No entanto, ganhamos e graças a Deus hoje chegamos confiantes para o jogo ao ganhar a Finlândia por 5-1.

A – E quais são as perspectivas em relação ao Europeu que aí vem?
TP –
Olha, agora é aproveitar um pouco e descansar. Vou ficar em Espanha até Domingo e vou descansar um pouco, descansar mesmo. Depois vou voltar para me apresentar no meu clube, porque está no final da competição lá também e temos de conquistar o título. Posteriormente, vou falar com a administração para ver o que é que eles pretendem e ver a proposta deles. Entretanto vou de férias para o Brasil aproveitar a minha família, pensando já no meu futuro.

A – E Portugal? Já que estamos em Portugal, como é que achas que a selecção nacional se vai comportar no Europeu?
TP –
Até lá ainda há muita coisa para acontecer. Não se sabe se vamos estar do lado do Azerbaijão, se vão estar os mesmos jogadores, mas sabemos que Portugal está entre as melhores selecções do mundo. Espero que, se tivermos condições de jogarmos contra eles, se nos cruzarmos lá, possamos dificultar ao máximo (risos), porque, como te falei, estou a defender as cores do Azerbaijão e vamos lutar até ao final.

A – Voltando a bola para ti, como é que te defines dentro e fora das quatro linhas?
TP –
É difícil (risos). Fora das quadras, sou uma pessoa que procura fazer o bem, para o próximo, para a minha família. Onde vou espero poder passar para as pessoas quem eu sou. Sou muito aberto, sou muito dado, eu entrego-me mesmo. Estou longe… jogo para poder dar condições à minha família. Eu jogo para a minha família. Tenho uma filha de um ano e jogo a pensar nela. Estou há seis anos a viver sozinho, longe de casa, mas a coisa mais importante continua a ser a minha família só que sei que ao estar a trabalhar, ao estar bem, vou poder dar condições para a minha família de modo a que estejam bem no Brasil e a minha filha vai poder crescer bem. Dentro das quadras, acho que é complicado (risos). Defino-me como… complicado mesmo (risos), acho que é mais fácil perguntar para o treinador, para os companheiros… Não sei, eu sou uma pessoa que tento fazer o que o treinador pede. Entro sempre a pensar em defender, porque penso que era a minha maior dificuldade. Há dois anos, meti na cabeça que tinha de começar a defender, então cresci muito na defesa. Não adianta fazeres golos e não ajudares na defesa, ainda mais no futebol de salão que jogas em todas as posições. Entrego-me, tento sempre fazer tudo o que o meu treinador me pede, o que os meus companheiros me pedem e é isso.

As ambições não fazem em grande proporção parte dos prognósticos de Thiago e daí que o jogador confesse “se eu disser que estou muito feliz é uma das coisas que eu queria muito. Deram-me a oportunidade de poder representar o Azerbaijão e poder chegar e colocar a cabeça na almofada e ver que eu ajudei, que eu fui importante para um país como o Azerbaijão, eu fico muito feliz”.
A felicidade é o bem maior num universo de luta e de permanência num lugar que o satisfaça e que dê novas possibilidades aos que o cercam. Prosseguir rumo ao Euro vai ser um momento marcante para o país onde reside, neste momento, e, por isso, o camisola 6 revela que gostaria de continuar a representar a selecção: “foi uma parte de um torneio que vai continuar em 2010 que vai ficar marcado. E eu pretendo, se eles contarem comigo e eu for convocado para jogar o Europeu, eu vou-me preparar muito bem para poder ajudar ao máximo o Azerbaijão”.
O futuro pode continuar a passar pela Europa ainda que o maior desejo de Thiago seja regressar ao seu país: “É complicado, porque eu penso muito em voltar a jogar no Brasil. Faz seis anos que estou a morar sozinho longe da minha família e penso muito em voltar a jogar no Brasil para poder estar perto deles. Para poder estar presente no crescimento da minha filha, porque não é fácil, mas não sei”, afirma.
Durante a época passada, Thiago recebeu propostas do Brasil. Ele pensou que, realmente, poderia voltar, mas foi nessa altura que “apareceu a proposta do Azerbaijão. Eu tenho de pensar no futuro da minha filha. Onde for bom para mim, onde me vá sentir bem, dependendo da estrutura do clube e do que me vão passar, então eu vou. Estando bem, confiante e desde que o clube que me contrate me passe confiança, eu vou para onde for”, assevera.
Os planos que Thiago tem em mente, por ora, são os de “acabar o campeonato e levar o título do Azerbaijão pelo meu clube que é o Aras. Depois ir para casa, descansar com a minha família, ver a minha filha. Passar uns 20 dias lá e depois sim começar a pensar no que vai acontecer, no que é que eu quero para mim para a próxima temporada”.
Mais um triunfo passa a ser assegurado por Thiago Paz num caminho que não tem sido fácil de atravessar para quem está a bem mais do que um oceano de distância, mas nem isso faz com que ele desista de lutar por esta paixão que se mantém acesa até ao final de cada campeonato e se prolonga pela competição da vida: o futsal.

Anabela da Silva Maganinho

Portugal e Azerbaijão juntos no Euro



Portugal e Azerbaijão seguem em frente no apuramento para o Euro 2010 a decorrer na Hungria.
Os primeiros a arrecadarem a vitória foram os jogadores do Azerbaijão.
Após terem empatado com Portugal (3-3), na primeira jornada, venceram a Polónia (4-3) e, ontem, mostraram o que valem ao derrotarem a Finlândia (5-1).
Um jogo em que a formação de Alécio da Silva deixou quase sem margem de resposta a selecção finlandesa. O primeiro golo surge aos 7’ por Biro Jade. O pontapé cheio do camisola 10 inaugura o marcador da primeira partida da tarde. A selecção azeri prossegui com lances de condução de bola e de controlo sobre a área finlandesa. Um remate aos 8’ volta a assustar o guardião finlandês. Três minutos depois volta um canto a ser motivo de assusto para os finlandeses e a resposta parecia longe de ser concretizada.
Até ao intervalo, via-se, claramente, mais Azerbaijão e nem os tempos pedidos conseguiam desmoralizar a equipa.
O segundo tempo dava continuidade ao trabalho de Alécio da Silva e eis que aos 21’ um novo golo voltava a surgir. Desta vez o protagonista é Thiago Paz que consegue um remate certeiro após algumas tentativas ao lado no tempo transacto. O 3-0 é feito no minuto subsequente por intermédio de Serjão. Posteriormente, a Finlândia alcança a resposta desejada por intermédio de Ville Lindgren (37’). No entanto, de nada serve o golo do finlandês, perante a supremacia adversária. O 4-1 é fixado pelo próprio guarda-redes do Azerbaijão Andrey Tveryankin que consegue da sua baliza projectar a bola até à baliza adversária (38’). Um grande golo, sem margem para dúvidas, que mereceu o aplauso de toda a assistência presente no Pavilhão Municipal de Monserrate. O golo que fixa o resultado (5-1) é novamente Serjão que concretiza no minuto final do encontro.
Viana assistia ao primeiro apurado para o Europeu, contudo, era por Portugal que todos esperavam no recinto.
Às 17h a formação lusa dava entrada para o último jogo do apuramento e, apesar do nervosismo, a confiança acabava por dominar no espírito de todos.
Portugal entra em campo já com o intento de se colocar na frente do marcador. Os lances ofensivos com coordenação de passes começa a tomar conta dos primeiros minutos de jogo. Aos 2’, um lance entre Israel, Arnaldo e Gonçalo quase resulta no golo, só que a bola sai por cima. A Polónia ainda tentava diferir a posse de bola dos portugueses, mas estes estavam decididos a passar a fase de apuramento. Ao minuto 4, surge o primeiro golo do encontro por Gonçalo Alves. Na sequência de um canto batido em cruzamento, Gonçalo acaba por ser feliz ao inaugurar o contador. Três minutos depois é Leitão quem protagoniza o golo que estabelece o 2-0. Portugal mantinha-se mais equilibrado, porém, de facto, permanecia uma vontade de vencer por entre os jogadores. Ainda assim surge o golo da Polónia Pieczynski aos 9’ que traz uma certa intermitência ao resultado. Um sentimento de pouca dura, pois Cardinal tira todas as dúvidas a quem não acreditava na vitória de Portugal. O jogador do Freixieiro mostra o que o torna num dos melhores marcadores do campeonato ao fazer o terceiro e o quarto golos de Portugal.
O primeiro tempo estava terminado. Faltavam 20 minutos para a tão aclamada vitória, mas em todo esse tempo ainda a bola tinha muito que rolar.
De volta às quatro linhas, a selecção polaca mostrava um pouco mais de garra, algo com que João Benedito conseguiu lidar bem. Portugal optava pelos arranques nas laterais e foi através de um desses lances que Israel chegou ao golo. Aos 27’, o camisola 8 faz o que sabe melhor e num remate forte consegue ser feliz ao concretizar o quinto golo. Joel, tal como Cardinal, também consegue bisar na partida (28’ 36’), correspondendo o primeiro à cobrança de uma falta sobre Marcelinho. Finalmente, mas não menos merecedor, Marinho, o miúdo que muito mostrou ao serviço da selecção das quinas, faz o golo a um minuto do término do jogo. Um jogo cheio de golos (8-1) que acabou por decretar a passagem ao Euro, o objectivo que Orlando Duarte tinha em mente. Mais de duas mil pessoas vibraram em Viana: os jogadores asseguraram a vitória e os portugueses não faltaram com o apoio.

Anabela da Silva Maganinho

Sunday, March 15, 2009

A luta de cada jornada ao serviço do futsal

Ricardo Domingues, mais conhecido por Kiko, corre todos os fins-de-semana pela conquista de três pontos, juntamente com a formação do Olivais. O camisola 7 tem conseguido uma boa época ao serviço da equipa lisboeta ainda que os resultados não sejam os mais esperados. Independentemente de vitórias e derrotas, que fazem parte de qualquer jogo e até mesmo da vida, Kiko tenta desfrutar de uma vida normal que toma duas direcções: por um lado, o turismo, a área em que se licenciou, e, por outro, o futsal que acabou por se tornar numa das suas paixões. Aos 25 anos, o jogador pensa no que ainda pode vir a ser o percurso pelo futsal, embora não possa fazer prognósticos sobre o que a vida lhe reserva. A promessa de lutar, já esta época, pela Taça de Portugal e pela chegada aos play-offs está assegurada e quanto ao resto é esperar para ver. A selecção é um sonho que está por concretizar, assim como a profissionalização, mas a esperança de um dia tornar os sonhos em realidade traduzem o significado daquilo que representa lutar por cada cruzamento junto à baliza.
O jogo vai ser aberto nesta entrevista em que o resultado não é o que importa, quando o fundamental é a forma de lutar pelo que queremos.

Anabela (A) – Vamos começar pelo início, chamas-te Ricardo, mais conhecido por Kiko, vives nos arredores de Lisboa e jogas pelo Olivais, mas como surgiu o interesse pelo futsal?
Kiko (K) –
Sempre joguei futebol 11, o futsal começou a fazer parte da minha vida há, aproximadamente, seis ou sete anos. Desde miúdo que jogava futebol, mas quando cheguei a sénior apenas consegui fazer meia época, porque o clube ficava um pouco longe do local onde moro. Vivo em Odivelas e o clube ficava a cerca de 50 km, em Samora Correia. Fazer, todos os dias, uma viagem de 100km acabava por não ser, exactamente ,o que pretendia. Em Dezembro, acabei por deixar o clube e rumar ao futsal. Estava naquela idade em que uma pessoa não sabe bem o que quer e, então, optei mesmo por deixar o futebol. Tenho muitos amigos no futsal e esta modalidade acabou por ser alvo da minha escolha. No ano em que fui para o Samora Correia, ainda treinei no Sporting CP e isso despoletou em mim o gosto pelo futsal. Decidi enveredar pela modalidade que até agora tem sido a minha vida e não estou nada arrependido de ter deixado o futebol.

A – Recordas-te da primeira vez que entraste em campo?
K –
Já tinha jogado futsal nos iniciados, depois segui para o futebol. A primeira vez que entrei em campo, enquanto sénior, foi pelo Castelo. Tive a sorte de encetar logo na primeira divisão, mas não era fácil porque o futsal nada tem que ver com o futebol. O futsal requer mais do atleta, exige muito mais esforço, quer ao nível da concentração quer ao nível do físico. Tenho uma vaga ideia da primeira vez pelo Castelo, no Pavilhão da Ajuda, e lembro-me de que foi uma situação totalmente diferente. Para além das exigências da modalidade, o ambiente de pavilhão é diferente e o público está bem mais perto. Estava num clube de bairro com mística e força, não obstante, ao apoio que havia por parte das pessoas. Gostei muito de lá jogar e, para a primeira vez, considero que foi o clube ideal para começar no futsal.

A – Estreaste-te pelo Castelo, foste para o Odivelas e jogas agora no Olivais?
K –
Joguei no Castelo, posteriormente fui para a CME, um clube que já não existe. Ainda comecei uma outra época ao serviço da CME, mas, em Dezembro, saí para o G.R.O.B. Este último acabou por passar a ser Odivelas, visto que o clube adquiriu os direitos. O, ainda, G.R.O.B. era o clube do meu bairro, Olival de Basto, que permanecia na segunda divisão. Todos os meus amigos estavam lá e foi, justamente, pelo ambiente lá vivido e pelo Presidente, o sr. Chico, que lá fiquei. Já tinha jogado no Odivelas dos 11 aos 18 anos e, quando o Odivelas adquiriu os direitos do G.R.O.B., permaneci lá. Foi bom por ter sido o Odivelas, um clube em que eu já conhecia toda a gente, mas, por outro lado, era triste ver desaparecer, por opção administrativa, o clube. No Odivelas tive algumas propostas, entre as quais acabou por me suscitar maior interesse a do Olivais. É um clube diferente que luta para estar nos play-offs. Apesar de este ano estar mais complicado, não deixa de ser um clube que tem história no futsal e, na altura, eu também queria dar outro passo para a minha carreira. Chegar ao Olivais foi, para mim, muito bom e continua a sê-lo e estou a aprender muito. O futsal não é só o jogar, encontrei lá grandes amigos. Sou uma pessoa que gosta de encontrar amigos e que se dá bem com toda a gente e o Olivais é um grupo espectacular.

A – Penso que, neste momento, continuas a envergar o número 7. Esse foi o número que transportaste deste o início?
K –
No Odivelas, jogava com o número 8. Depois saí para o Olivais e o 8 não estava disponível. Sempre gostei mais do 7, mas o 8 tinha sido o número que me acompanhara até então e daí que o tenha solicitado em primeira instância, mas como o Miguel Fernandes o tinha, fiquei com o 7.

A – Mas não tem nenhum significado?
K –
Não, é só porque gosto. Talvez porque o Figo jogava com o 7 e eu gosto muito dele também.

Sem deixar de patentear que continua a adorar o futebol, Kiko mostra-se contente com a decisão que tomou ao optar pelo futsal. Assume que adora ver futebol, mas ver futsal também se traduz numa das coisas que mais gosta de fazer. Os amigos são os protagonistas que compõem o distintivo de ídolo e dentre eles sobressaem dois nomes: Gonçalo Alves e João Marçal. “Não é só pela questão de serem meus amigos. Eu gostava e gosto de os ver a jogar e não é pelo facto de me retratar neles. Sempre olhei para eles como um exemplo porque são, realmente, bons jogadores, bons amigos. Tenho a felicidade de ser amigo deles e de poder também usufruir dos seus conselhos para poder ter evoluído alguma coisa no futsal”, confessa.
Foi Gonçalo, actual jogador do Benfica, quem conseguiu que Ricardo fosse treinar ao Sporting: “tive lá uma experiência, treinava com eles de manhã, eles eram semi-profissionais, e fiquei logo com o bichinho do futsal, ainda para mais estava a treinar no Sporting que é uma grande instituição (apesar de eu ser do Benfica)”.
A “força de vontade” acabou por comandá-lo, efectivamente, pelo futsal, embora nos primeiros tempos tenha pensado “será que vou conseguir, será que não?!”. A realidade é que o futsal acabou por ser o desporto por onde conseguiu, mais facilmente, singrar, como o próprio assume, traduzindo-se hoje num dos grandes motivos de felicidade.

A – Eram os teus amigos as tuas referências e hoje continuam a ser eles?
K –
Sim, eles vão ser sempre. Para além deles, o Ricardinho é um grande jogador por tudo o que faz: ataca, defende, constrói, vê-se que tem paixão pelo jogo. Por todos os clubes que passei aprendi e continuo a aprender com toda a gente, com os mais experientes e com os menos experientes, gosto sempre de aprender e não consigo destacar um de topo. Não consigo ver uma pessoa como alguém que gostava de vir a ser. Dou o exemplo do Ricardinho, pois é mesmo o melhor no contexto nacional e não tenho mais ninguém para enaltecer. Já mencionei em quem me inspirei para começar e, neste momento, talvez possa referir o Ricardinho e o Wilson, do Freixieiro, que também gosto muito de ver a jogar. Ídolos são todos os meus colegas. Gosto de ser como sou e tento ser o melhor em relação a mim. Tento ir buscar um bocadinho de cada um, das suas características, para tentar mostrar a minha prestação da melhor maneira, ainda que, às vezes, não seja possível.

A – Ser jogador sempre foi a profissão que pensavas vir exercer ou outras profissões faziam parte do teu imaginário?
K –
Desde miúdo que sempre quis ser jogador de futebol. É a minha paixão. Tornei-me jogador de futsal e levo isto mesmo muito a sério, embora o Olivais não seja um clube profissional. Contrariamente ao que muitos possam pensar, o Olivais é um clube amador, tal como eram o Odivelas e o Castelo. No Castelo não recebia nada, jogávamos por gosto. Ainda hoje jogo por gosto e não pelo que ganho, que não é nenhuma exorbitância. Sou uma pessoa pacata, pouco conhecida, mas também não faço para o ser. Não gosto de ter protagonismo, faço o que faço por prazer. Fico «doente» quando perco, quando ganho é uma loucura. Gosto mesmo disto e se pudesse chegar a profissional seria a concretização de um sonho. Não é um objectivo prioritário da minha vida, porém, se um dia surgisse essa oportunidade ficava contente e era uma experiência nova. Gosto de viver novas experiências.

A – E qual era o clube que gostavas de vir a representar?
K –
O Benfica, uma vez que sou do Benfica. No entanto, se surgisse a oportunidade, fosse em Lisboa ou no Norte, fosse em Espanha, não fechava qualquer porta. Era mesmo uma experiência que gostava de ter fosse aqui ou em outro lado. Mas se me fizessem a pergunta que acabaste de fazer claro que responderia o Benfica. O jogo é uma componente que faz parte do dia-a-dia de qualquer jogador. Jogos amigáveis, jogos-treino, jogos para o campeonato, para a taça e até mesmo o jogo da vida. Ao longo do trajecto que percorreu no futsal, Kiko destaca a época no Odivelas como a que mais o marcou. Foi uma época com alguns entraves que acabou por, ainda assim, culminar na subida de divisão: “quando subimos de divisão foi mesmo no último jogo e, apesar de não ter sido um jogo difícil, conseguimos ganhar com uma margem elevada 6-1 ou 5-1”, assevera. Esta foi a partida, em que Kiko partiu o pulso, como o próprio acaba por revelar: “Na última jogada, parti o pulso. Nunca fui invejoso na vida, naquele dia quis ser invejoso e marcar um golo, tropecei na bola e parti o pulso. Mas foi o jogo mais marcante porque subimos de divisão, a festa… foi um espectáculo”. Uma experiência nunca antes vivida para quem gosta de ter novas experiências e “apesar de não termos sido campeões – ficamos em segundo lugar –, subimos para a primeira divisão e esse era o meu regresso”.
Kiko recorda a época que principiou com um treinador que acabou por abandonar o clube juntamente com a equipa técnica e com meia equipa do Odivelas: “ficamos só quatro jogadores. O presidente entrou na cabine e olhou para nós – parecíamos uns coitadinhos –, e ele disse que íamos conseguir. Íamos formar outra equipa e íamos chegar longe. Só que ele disse aquilo só para nos animar e nunca pensou que íamos mesmo conseguir subir. Acabamos por, gradualmente, chegar aos 12 jogadores. Indicamos o Pimpão para nosso treinador e subimos de divisão. Destaco esse jogo, o jogo da subida, mas toda a época foi marcante por conseguirmos um objectivo que todos pensavam ser impossível e conseguimos”, lembra.
De um jogo, uma das sensações mais inexplicáveis pode ser a de marcar um golo. Kiko afirma que não marca muitos golos, mas quando marca a sensação “é a de uma pessoa ver o trabalho que tem feito durante a semana, ver o fruto do trabalho, do empenho, de uma semana, de um ano, de uma época toda a treinar. Não sou daquelas pessoas que faço o tudo por tudo para marcar um golo, se puder dar o golo a marcar até prefiro”.
“Uma alegria enorme” talvez seja a mais sintética definição do que sente naquele momento ainda que assuma que não consegue explicar muito bem. “Todos os jogadores querem é marcar golos. Quando uma pessoa marca e dá uma vitória ou se o jogo está complicado e marcamos, mostramos outra pessoa. Sou uma pessoa muito calma fora dos campos, mas, ao jogar, uma pessoa sente-se outra e acho que só assim é que conseguimos ter sucesso. O golo é o auge do jogo”. Independentemente de quem concretize, Kiko festeja os golos de igual modo, aliás, “até costumo festejar mais os dos outros do que os meus porque não tenho muito jeito”, diz o jogador com um sorriso e continua “o golo é sinónimo de espectáculo e é isso que o futsal também quer. O futsal, apesar de agora estar a passar por uma fase em que começa a cair um bocadinho e tem de começar a haver mais espectáculos para ver se volta ao que era”. A imagem do último Europeu decorrido em Portugal vem-nos à memória quando falamos em futsal e a mobilidade das pessoas face ao campeonato e à própria modalidade é algo que não deixa os apaixonados pelo desporto indiferentes.

A – Aquando do Euro notou-se uma maior compreensão da própria modalidade, a divulgação acabou por chegar a todos.
K –
Sim, houve um «boom» de pessoas a verem e a praticarem futsal. Não quero estar a inventar nada, mas acho que é a modalidade mais praticada em todas as faixas etárias e só isso mostra aquilo que o futsal é. Pratica-se em todo o lado e não temos ideia das pessoas que praticam esta modalidade. Eu costumo dizer que sou um felizardo, porque há tanta gente que queria jogar e não consegue. Nem sempre damos o devido valor, mas a verdade é que há imensas pessoas que gostariam de estar no nosso lugar para jogar e ainda receber algum dinheiro com o prazer que isso nos dá. Sou mesmo um felizardo por poder estar no Olivais com grandes condições e poder usufruir daquilo que gosto mais de fazer que é jogar à bola. E estamos sempre a aprender com o futsal.


A – Estavas há pouco quase a auto-definir-te dentro do campo e fora dele. É, justamente, por aí que direcciono a pergunta: como é que te assumes dentro e fora de campo?
K –
Fora do campo sou uma pessoa muito tranquila, às vezes até enerva de ser assim. Sou muito calmo, para mim está sempre tudo bem. Só mesmo em situações extremas é que me «salta a tampa», mas é muito raro isso acontecer. Sou muito calmo, gosto de passar despercebido, sou muito amigo dos meus amigos, às vezes até demais. Dentro de campo também sou muito amigo e até me criticam por isso. Muitos treinadores já me disseram que não vou mais longe por ter este feitio em que chego a meter os interesses dos outros acima dos meus. Já vi que ao nível do futsal e do desporto nem sempre pode ser assim; todavia, é uma característica que tenho. Dentro de campo dou tudo, transfiguro-me um bocado. Não é ser mau, é ser um jogador duro, raçudo a jogar, que dá o máximo. Não sou grande tecnicista, tento cumprir ao máximo aquilo que o meu treinador pede e tento ajudar ao máximo o colectivo. Penso que tenho uma característica boa, dou-me bem com toda a gente e puxo muito pelos meus colegas e isso acaba por ser um incentivo e um apoio também para eles. Noto isso e sinto-me bem por ser assim. Sou um jogador de colectivo, definindo-me ao pormenor.

A – Agora no Olivais jogas como ala/pivot. Mais ala?
K –
Universal. Sempre joguei um pouco por todas as posições. No Odivelas, a experiência anterior ao Olivais, jogava como ala/fixo, nunca jogava a pivot, agora no Olivais é que passo um pouco por todas as posições, mas mais por ala e, ultimamente, tenho jogado como pivot.

A – Jogas também como jogador volante, qual a vantagem que pode um clube tirar de um jogador volante?
K –
No Odivelas jogava como jogador volante; no Olivais só recentemente comecei a desempenhar essa função. As vantagens toda a gente sabe quais são. Não sou muito a favor de jogar com o guarda-redes à frente ou o jogador volante. Apesar de jogar não sou muito a favor, sou sincero. As vantagens são os resultados que vão para o golo e o Olivais, este ano, conseguiu virar muitos resultados com o guarda-redes à frente. É a mesma vantagem, se uma pessoa conseguir sair de pressão, o guarda-redes passar a bola e conseguir chegar os cinco ao meio campo adversário. É logo uma vantagem, pois estamos com um a mais e se estiver tudo bem coordenado, se houver uma estratégia bem delineada, podemos tirar grandes vantagens de cinco para quatro. O Belenenses e, agora, o Freixieiro também jogam muito de cinco para quatro com os guarda-redes. São os próprios guarda-redes que jogam bem com os pés e tiram muitos proveitos e é uma situação complicada de defender. Essa estratégia compreende essa noção dos proveitos que tem, ainda que, às vezes, possa correr mal. Quando corre bem vira os resultados até mesmo de jogos possivelmente perdidos, cujos resultados acabam por ser contornados.


A – Qual a maior frustração que se pode ter num clube: ser substituído ou dispensado, estar de frente à baliza e não conseguir concretizar?
K –
A minha maior frustração foi na segunda divisão, quando saí da CME e fui para o G.R.O.B. Saí da CME numa segunda-feira e no sábado já estava a jogar contra a CME pelo G.R.O.B. Eu tinha falado com responsáveis do actual clube que achava que não poderia ser inscrito já para aquele jogo, por causa do prazo que compreende cinco dias úteis, e eles sempre disseram que me inscreviam com taxa de urgência e que não iria haver problema nenhum. Fui jogar contra a CME e passados 15/20 dias estava suspenso. Disseram-me que fui mal inscrito, que os cinco dias não tinham sido completados, e com isso fiquei um mês suspenso sem poder jogar. No final da época, o G.R.O.B. não subiu por causa dos três pontos que perdemos nesse jogo. Sem ter culpa ter ficado suspenso e não subirmos de divisão, posso dizer que foi a minha maior frustração apesar de não ser culpado.

A – As próximas perguntas vão-se situar mais no Olivais, mas surgiu-me agora uma pergunta que é em relação à situação que houve no ano passado entre o Freixieiro e o Olivais. Como é que encarar esse tipo de situações?
K –
O jogo com o Freixieiro… estava um pouco incendiada a nossa ida ao Freixieiro. Estava um ambiente hostil, para nós, e eu, infelizmente, fiquei de fora esses dois jogos do play-off. Eu, o Pinheiro e mais dois ou três colegas ficamos de fora e ficamos a ver o jogo no púlpito por cima da claque do Freixieiro que era o lugar onde podíamos ficar. Tínhamos uma garrafa de água no chão – nesse dia estava um calor insuportável – e sem querer o nosso director deu um pontapé na garrafa que acabou por cair na claque. Não foi de propósito e aquilo desencadeou uma violência extrema perante nós. O jogo em que não podia ter acontecido aconteceu aquilo. Desencadearam-se insultos contra nós, ainda levamos com os suportes da bandeira… e a situação caricata foi quando, passados cinco minutos, o meu amigo Pinheiro estava a mandar uma mensagem a um colega nosso com o resultado e o telemóvel caiu-lhe da mão. O telemóvel caiu na claque e, depois, só vimos o telemóvel a bater no tecto e a partir-se todo… mas acho que ele ainda o conseguiu ligar e mandar a mensagem. (risos)

A – (risos) Mas o que é que se sente nessa altura?
K –
Nós não temos culpa, pertencemos ao Olivais. Nem estávamos a jogar e aquilo parecia que havia um ódio de morte contra nós que apenas queríamos ver o jogo. Eu cheguei a dizer que éramos como eles, que apenas estávamos a ver o jogo, que éramos jogadores. Eles só queriam bater e fazer e acontecer. Claro que uma pessoa fica enervada na altura, mas nunca me passou pela cabeça responder até porque não sou assim. Podia ter sido mais calmo, mas por um lado foi bom para o espectáculo. Os adeptos puxarem pela equipa é muito bom, sem violência. Naquele caso, para nós, se não houvesse lá a PSP tinha havido violência.

A – Relativamente ao Olivais, qual o balanço que fazes desta temporada que difere da do ano transacto?
K –
Este ano, o futsal evoluiu muito. As equipas estão todas muito mais fortes e o Olivais está a sentir muito essa dificuldade. Houve uma evolução extrema e nós também não temos tido sorte. A sorte que tínhamos tido noutros anos, este ano não a temos. Jogamos bem, só que a bola não entra. Não consigo explicar muito bem, a única explicação é o facto de as outras equipas também evoluírem e a situação do guarda-redes à frente também condiciona muito. Ainda no último encontro com o Mogadouro, eles jogaram quase sempre com o guarda-redes à frente. Estávamos a ganhar 2-0, logo no início, e eles lançaram logo o guarda-redes à frente, e é complicado. Só estou no Olivais desde o ano passado, correu muito bem, este ano parece que a bola não entra, temos oportunidades, jogamos bem, mas na altura da finalização não sei o que se passa. Também temos tido algumas expulsões que têm condicionado alguns resultados. Ainda estamos a lutar para os play-offs e se ganharmos os nossos jogos vamos lá chegar. É esperar até ao fim. Não tem sido fácil, mas vamos tentar dar a volta.

A – E quais os objectivos que tens em mente ao serviço do Olivais?
K –
Este ano, estou numa fase em que nunca tinha chegado: as meias-finais da Taça de Portugal. Se conseguisse ganhar a taça era um espectáculo. Era algo que gostava mesmo, mas só poder estar numa competição como esta e estarmos nas meias-finais já é muito bom. Em relação ao campeonato, era chegar aos play-offs, visto que a partir daí tudo pode acontecer.


A – Falamos no clube, mas não é por aí que começa o teu dia. Como é que é um dia da vida do Ricardo?
K –
Ultimamente tem sido procurar trabalho, que isto não está fácil. Sou uma pessoa muito calma, todos os dias acordo cedo e a primeira coisa que faço é ligar o computador e, agora, na fase do desespero, procurar trabalho. Depois é o normal: almoço, à tarde vou dar uma volta, vejo um filme, uma série, estou com a minha família e à noite vou treinar. É quase sempre o mesmo ritual, não muda muito. Vou continuar a tentar arranjar trabalho e se o conseguir é isso que vou fazer, senão é dar umas voltinhas ir até à praia. (risos)

A – A selecção continua a ser um sonho adiado?
K –
A selecção é o objectivo de todos os jogadores, acho eu. Pelo menos eu gostava de um dia chegar à selecção. Claro que não é fácil, é muito complicado, contudo, um dia gostava de ir à selecção. É representar o país e representar Portugal é o maior orgulho que um atleta pode ter. Como todos não fujo à regra, se conseguisse lá chegar poderia dizer que era um jogador satisfeito quase a todos os níveis. Não é impossível, há que trabalhar. É um objectivo que tenho e se conseguisse lá chegar era muito bom.

A – Mas consideras-te um jogador um pouco aquém das expectativas em relação aos outros jogadores ou consideras-te um jogador ao mesmo nível?
K –
Para jogar num clube como o Olivais tenho que me considerar um jogador como os outros, senão também não faz parte da minha maneira de ser, estar num local e estar a pensar que sou mais fraco que os outros. Se cheguei ao Olivais é porque mostrei valor e se estou no Olivais é porque continuo a mostrar. Nunca me vou relaxar nem pensar que sou inferior aos outros porque não acho, acho que sou igual aos outros e trabalho para ter o meu espaço. Posso não o conseguir conquistar logo, mas sei que tenho o meu espaço e sei que sou igual aos outros. Evidente que conseguir chegar a um clube de topo basta para ser igual aos outros. Sou um jogador normal, como outro qualquer, em nada inferior aos outros atletas.

A – O que é que achas que se vai passar nesta fase de apuramento da selecção já na próxima semana, e quais as perspectivas para o Euro na Hungria?
K –
Acho que Portugal tem uma grande selecção e vimos isso no último Europeu. Eu fui ver a Gondomar o jogo contra a Espanha e só perdemos nos penalties. Penso que Portugal tem uma grande equipa e esse jogo mostrou tudo, faltou aquela pontinha de sorte e aquela experiência que os outros têm. Portugal vai-se qualificar, isso é um dado adquirido, e depois lá tem série possibilidades, se jogar como no último europeu.

A – Na tua opinião, o futsal continua a ser uma modalidade em nada comparada com o futebol em todos os níveis, designadamente o financeiro?
K –
Pois. Não sei muito bem a realidade de todos os clubes nem a realidade do futebol 11, ou sei por aquilo que vemos. No que concerne ao mediatismo não tem nada a ver. O futebol é um mundo à parte. O futsal, como disse há pouco, teve um «boom», podia ter chegado mesmo muito longe, mas agora tem estado a decrescer. Inclusivamente com esta situação da SIC não transmitir todos os jogos e quando os transmite enquadram-se nuns horários um bocado estranhos, parece que decresceu um bocadinho. Vamos lá ver agora se se vai voltar a “erguer”, a ter o impacto que chegou a ter.

A – Joga-se bom futsal, em Portugal, se compararmos com o desempenho ao nível europeu de clubes?
K –
Espanha é o topo, no entanto, considero que o nosso futsal evoluiu muito e penso que estamos a jogar cada vez melhor. Com a vinda de jogadores estrangeiros tem evoluído mais, novos treinadores, novos métodos e tácticas de jogo que acabam por tornar o nosso futsal cada vez mais completo. A Espanha é mesmo o topo e lá jogam os melhores dos melhores, esperamos um dia conseguir chegar ao nível deles.

Os sonhos que Kiko gostava que se viessem a concretizar são, essencialmente, no «campo» do futsal. Apesar de assegurar que não pensa muito no futuro, o jogador aponta “o poder ganhar um campeonato e a taça de Portugal” como algo que gostava de conseguir o mais rapidamente possível e diz mesmo que “se fosse este ano, melhor”. A selecção nacional também seria um grande objectivo alcançado se conseguisse ser um dos «eleitos».
“Ao nível do futuro não sei bem como é que vai ser o meu futuro, é como eu digo um jogador nunca tem certeza de onde fica ou para onde vai e então em amador é sempre contratos de um ano, estamos sempre na indefinição de se contam ou não connosco, mas claro que o meu objectivo, se possível, é ficar no Olivais”, revela sem nunca esconder o desejo de se tornar um jogador profissional. “Assim muitos mais sonhos não tenho, porque não sou uma pessoa de fazer muitos projectos. Depois não se concretizam e eu não gosto de viver na ilusão. Sou prático e realista”, diz Kiko.
Um jogador com ambições que espera atestar no campo e que não pretende deixar a bola rolar enquanto as oportunidades podem surgir. “Lutar para um dia conseguir” é uma frase que muito nos diz relativamente a este jogador e se cada jornada for uma batalha então a esperança é chegar ao final do campeonato com a maior das vitórias: ser feliz.

Anabela da Silva Maganinho