Monday, October 29, 2007

O (en)cantador do palco dos sonhos


Ruben Madureira integra o elenco de Jesus Cristo SuperStar, como Simão e como Bartolomeu, em exibição no Rivoli.
O jovem artista começou desde cedo o percurso profissional com uma banda: “já tinha alguma experiência, nomeadamente em alguns concursos regionais” e já “tinha ganho um concurso da Rádio Festival” do qual tinha saído como um dos “premiados com a gravação de um jingle”. Agora recorda que essa etapa lhe deu a oportunidade de gravar “dois temas de Natal para uma colectânea da Vidisco”. Foi aqui que se consubstanciou “a passagem do anonimato”, como menciona Ruben que integrava a banda composta por dois rapazes e duas raparigas.
Entretanto, a banda terminou, no ano de 1998, com dois álbuns editados. A posteriori, surgiu uma nova oportunidade, que Ruben não deixou que lhe passa-se por entre os dedos – o casting da Nz Produções para a formação de uma banda pop. “Fui lá, participei no casting e fiquei nos Excesso”, afirma Ruben.
O segundo agrupamento dos Excesso triunfou assim que se deu a conhecer; contudo, a longevidade não foi a esperada e muitos dos fãs ficaram sem perceber porque deixaram de ver Mauro, Igor, Rui, Rodrigo e Ruben. Quando se previa para a banda um futuro aspirante – tendo sido considerada como das promissoras no panorama nacional – e se aguardava pelo passo seguinte, a banda extinguiu-se.
Ruben não desistiu de perseguir o sonho e rumou a um programa televisivo com o nome “Ídolos”. A participação do músico não foi para além da primeira gala, o que o decepcionou no sentido em que considerava ter muito para dar; todavia, assume que esta iniciativa lhe deu uma nova visão desse mundo.
A música conduziu o artista para mais uma banda e, não obstante, fê-lo enveredar pela área da representação em musicais.
“Amália” foi o primeiro andar para a conquista que viria a ser “Jesus Cristo SuperStar”.
Actualmente com uma nova banda de covers, Ruben Madureira está já a preparar o novo espectáculo com “Música no Coração”.

Anabela (A) – Fala-nos um pouco acerca da época dos Excesso.
Ruben (R) – Com o casting da Nz Produções fiquei nos Excesso. Fiz duas digressões com eles e tenho momentos dos quais me vou lembrar para toda a vida. Tenho três grandes amigos que vão ficar para sempre. Mantenho o contacto com eles e eles vêm cá ao Porto e, às vezes, eu vou lá a baixo. Aprendi muito. Ganhei muita experiência de palco, aprendi muita disciplina e gostei muito. Foram momentos agradáveis para mim.

A – Pertenceres a uma banda como os Excesso significou o quê na tua carreira?
R – Foi o início da luta e comecei logo por cima. Estava em casa e pensava que a Nz Produções tinha lançado muitos artistas de sucesso em Portugal. Terem-me escolhido e apostado no meu talento fizeram-me ficar contente e com vontade de vencer. Não queria acreditar quando soube que ia trabalhar naquele estúdio enorme, onde iria conhecer gente conhecida e fazer aquilo que gosto. Na realidade, fazemos aquilo que gostamos, saímos de lá contentes e ainda nos pagam por isso. É óptimo, assim como é espectacular acordarmos e sentirmo-nos completamente realizados.

A – Subsequentemente ao lançamento do primeiro disco e de toda a promoção realizada, adivinhava-se um futuro auspicioso. Porquê de, justamente nessa altura, a banda terminar?
R – Não chegamos a acordo para gravar algo para a editora e, não gravando álbum não conseguimos marcar espectáculos com mais empresários. Eles dizem logo é sempre o mesmo álbum e que há que gravar um novo registo. Não houve aposta, uma vez que, se calhar, as vendas não corresponderam à expectativa da editora. Ainda assim, saímos todos do projecto com a mesma sensação, penso eu, de que foi uma boa experiência que serviu de rampa de lançamento para as nossas carreiras.

Já passou algum tempo sobre essa experiência, visto que estávamos no ano de 2002. Ruben relembra essa época “com saudade”; principalmente “as digressões que são muito engraçadas”. “Adormecermos em Bragança e acordarmos no Algarve, por exemplo, com o pensamento constante que estamos aqui para trabalhar, cantar para tanta gente, dar autógrafos… e tanta miudagem a rir-se e a gostar do nosso trabalho”, rememora o ex-membro. E, por isso, não é que não voltasse a repetir; porém, se voltasse atrás no tempo “se calhar, fazia algumas coisas diferentes. Tentaria, porventura, sozinho”.

A – Não desististe da música e ingressaste no programa “Ídolos”. Foi mais uma prova na tua carreira, mas em que medida contribuiu para a tua evolução?
R – Foi uma boa oportunidade que tive. Acrescido ao facto de eles me aceitarem, estando eu na condição de semi-profissional. Consistiu em mais uma passagem na minha vida. No momento fiquei um pouco desiludido com a decisão do “público”, ainda assim nesta passagem também aprendi imenso. Saí de lá e tive logo imensas propostas de trabalho e talvez o “Ídolos” tenha sido o responsável por eu ter tido até agora muito trabalho.

A – Embora tenhas sido finalista, o programa não superou as tuas expectativas. Houve algo que te desiludiu?
R – Desiludiu-me, pois tinha muito para dar, tal como qualquer um pensava assim que ia saindo ao longo do programa. Quer eu, quer a Luciana, a título de exemplo, tínhamos a obrigatoriedade de estarmos nos cinco finalistas; mas é a decisão do “público” e quando é assim não podemos fazer nada.

Apesar das vicissitudes, Ruben considera a sua participação “positiva, cheguei à final”. A sua luta prossegue por caminhos mais ou menos tortuosos. A integração no elenco do “Amália”, de La Feria, compôs-se numa “nova página na minha vida”, especialmente por “ter que criar complementos mentais e ter de me fazer passar por aquela pessoa. Temos que sentir aquilo naquele momento”, revela o artista.

A – No que concerne ao Ruben: quem é o Ruben Madureira hoje?
R – O Ruben hoje continua a ser o lutador de há muitos anos. De há muitos anos para cá tem sofrido muito, mas tem gostado cada vez mais daquilo que faz e tem aprendido muito. Comecei a reunir músicos e, neste momento, tenho uma banda de covers de funky. Acabei por descobrir realmente qual é a minha zona musical: o showbiz dance e entertainment, ao mesmo tempo. Tocamos músicas como Jamiroquai, Stevie Wonder, entre outras; canções mais retro. Tive uma banda de rock alternativo, que terminou por falta de tempo. Tínhamos patrocinadores atrás de nós e eu estava no Superstar, pelo que era um pouco complicado. Já vou fazer outra peça e não tenho tempo para nada. Então, eles querem trabalhar, pois são músicos que só vivem disto, e a vida continua. Tive esse projecto, foi mais uma passagem e, presentemente, ando a crescer. Tenho 25 anos e sinto que o momento está para chegar. Quando começas és músico, gostas muito de música e de cantar. Continuas e pensas “isto é mesmo o que eu gosto”. No entanto, eu já cheguei ao patamar de saber aquilo que eu quero! Sinto-me feliz por isso, por saber aquilo que quero e por ter reunido um conjunto de músicos excepcionais que estão comigo para o que der e vier. Após ter terminado o “Amália” contactaram-me a dizer que iria haver um casting para um musical pop/rock se eu queria participar. A minha resposta foi “La Feria, claro que sim!”. Tinha trabalhado com ele, sabia os métodos dele, fantástico. Fiquei no casting e agora sou o Simão, um dia; outro dia sou o Bartolomeu.

A – O que é que mudou em ti desde os primórdios da tua carreira até hoje?
R – Muita coisa mudou. Uma das coisas, evito ouvir gravações antigas, já desde o “Ídolos”. Houve uma evolução muito grande. Começou por surgir o interesse em formação musical, nunca tinha tido formação profissional, sempre fui um autodidacta e tocava sozinho. O Ruben está muito diferente mesmo em palco. Antes era muito inibido, agora desde que esteja em palco estou em paz. Às vezes, tenho concertos que posso dizer que são monólogos meus. Vou conversando com as pessoas e é uma risota descabida. Esse é um dos pontos que posso dizer, se calhar todos os músicos dizem isso, mas esse é um dos pontos que caracteriza realmente o dizermos que “estar em palco é estar em casa”. Isso acontece e é muito bom.

A – Qual destes grupos de adjectivos [que se atribuem ao Ruben], consideras que, por vezes, se pode revelar um “defeito”: directo e franco ou perfeccionista e teimoso?
R – É um defeito bom. Teimosia penso que tem a ver um pouco com o signo de touro. Desde miúdo, que pedinchava à minha mãe. Perfeccionista sim. Essa é uma das razões pelas quais olho o meu passado e digo “eu cantava assim. coitadinho” [risos]. Sou perfeccionista, o que é capaz de ser um defeito, mas é muito bom quando trabalho a este nível. Quando se trabalha a este nível não podemos falhar. As pessoas fazem-te a seguinte questão: “O que é que precisas para seres perfeito”. À qual respondes com o que precisas e eles dizem-te “Agora não falhes!”. Tens de ser perfeito. Quando não o és tens de ser teimoso e insistir até conseguires.

A – Podemos dizer que és uma pessoa emotiva e sonhadora?
R – Muito. Considero que nunca ninguém se deve privar de sonhar. Gosto muito de sonhar e o sonho comanda a vida.

A – E qual o sonho que, ainda, não passou a realidade?
R – Não sei. Possivelmente estar um dia no palco e dizer que isto tudo valeu a pena. Em vez do percurso que levo “será que isto está valer a pena? será que eu vou conseguir?!”. Eu vou conseguir, isso é ponto assente, seja de que maneira for. Até chegar lá ainda falta algum tempo, sinto isso, mas estou convicto que sim.

A – Qual o projecto que, realmente, te faria sentir concretizado?
R – Gostava de te dizer isso. Era exactamente isso: um projecto que pudesse levar as pessoas, não só pelo meu som, mas também pela pessoa que eu posso ser e pela maneira que eu consigo envolver as pessoas. Conseguir momentos agradáveis por algumas horas, gostava muito disso. A posteriori, isso reflecte-se. A energia que se recebe através das palmas… só o simples facto de teres palmas estás a receber a tonelada de energia que entra por ti a dentro e respiras e sentes… quero mais, quero mais.

A – Este é o mundo que te circunscreve, mas o que representa para ti a musica? Qual a mensagem que queres passar através dela ou da forma como cantas?
R – A música aos meus olhos é a coisa que não é para quem não goste, porque há músicas para todos os gostos. Pode haver um que diz que não gosta de música; contudo, ate se identifica com aquela que dá na Rádio. Não há ninguém que não goste de música. Eu não passo um dia sem música, é impossível. A mensagem seria eu próprio. Não propriamente falar em histórias vividas; porém, passar imagens que fossem credíveis e que fizessem as pessoas sonhar. Essas são as músicas que ficam. A forma como canto é um acréscimo, porque nunca vai agradar a todos.

A – Também no sentido de criar imagens?
R – Sim, com a formação de imagens.

A viragem na música deu-se com o musical “Amália”, no qual Ruben fazia figuração e coros. No fundo, podemos dizer que se processou a transição de boysband para a representação, embora a música seja um elemento comum. Ruben confessa com franqueza que, na altura, “foi um desafio muito grande, uma vez que eu não percebia nada de estar em palco. Ainda por cima de um palco de um teatro, todos os dias cheio, com muitas pessoas”. Tens a “responsabilidade de não falhar” sempre em mente e tens “de te vestir em 15 segundos” e é aí que “corres dois riscos: ou entras em cena ou não entras. Se não entras em cena és despedido”.
Tal como Ruben nos mostra “tens de ser muito rápido”. Não pode haver preconceitos ou vergonhas como vestirem-se todos juntos, “não tens hipótese, só pensas se entras ou não entras”, patenteia e diz mesmo que “esqueceste-te de todo o resto. Não vês ninguém à tua frente, só vês as roupas”.
Não há forma de justificar essa mudança; porém, o artista divulga que pode ter sido “por querer sair um bocado de toda a imprensa cor-de-rosa que nos rodeava. Não sou muito amigo da imprensa [cor-de-rosa]”. Não é “por mal, só acho que eles fazem «notícias de borla». As pessoas merecem ter a sua caixinha de segredos e tem o direito de com ela fazerem o que quiserem da sua vida”.
Ao fugir um pouco dessa realidade, “quis fazer uma coisa mais verdadeira”. Ruben não ouvia fado, mas admite que após fazer o “Amália”, ficou um apaixonado: “fiquei um bom ouvinte de fado. Não de todos, só de alguns intérpretes, sobretudo, pelas mensagens que muitas músicas arrecadam que fazem as pessoas pensar”. Embora como cantor não interprete fado “houve músicas que me conseguiram mudar, particularmente os fados da Amália, com mensagens muito fortes”, revela.

A – Podemos considerar esse tipo de música como uma referência para ti. Quais são as tuas referências?
R – Neste momento sim. Não canto influenciado pelo fado; contudo, escrevo, muitas vezes, de mágoa e de dor. É normal numa pessoa que é emotiva – tinhas-me perguntado isso anteriormente – eu sou muito emotivo. E sim, sou influenciado. É obvio que não se vê esse estilo em mim quando canto, mas acho que todos nós, portugueses, somos a esse nível influenciados pela tristeza e pelo sentido da vida…

A – Seguiu-se a versão Jesus Cristo SuperStar. Como recebeste a oportunidade de integrar o elenco?
R – Fiquei super contente. Já conhecia o musical muito bem, principalmente o filme de 73, e era um apaixonado pelos cantores. Iria ser um desafio muito grande. Sinto-me muito bem por estar a fazer um dos papéis que gostava de um dia vir a fazer – Simão Zelotes. É um homem que chega, canta, sai e as pessoas não se esquecem.

A – Numa peça desta envergadura, qual a fase mais difícil?
R – Conseguimos reunir um elenco muito forte. De pessoas que não cedem a pressões, que já estavam preparadas para trabalhar com Filipe La Feria e que deram uma resposta fantástica. Isso está agora a reflectir-se no público que vamos tendo que conseguem encher a casa todos os dias. Por isso, por momento algum, as pessoas aqui deslizaram ou sentiram qualquer tipo de pressão. Posso dizer que tivemos nervos nas estreias, o que é normal; mas quando constatamos “Isto tem pernas para andar”, partimos todos em bloco. Se fosse uma peça em monólogo ou com três pessoas em palco seria diferente. Quando somos muitos, partimos todos em força, defendemo-nos muito bem e atacamos com o melhor que temos.

A – Como te assumes em palco?
R – Tenho que me assumir como um guerreiro. Um homem que quer mostrar a Cristo que, com a ajuda dele [Simão], podem deitar abaixo todas as tropas. É um conquistador que quer ir para a luta, quer ajudá-lo a vencer. A ideia de Cristo é exactamente o contrário: deixar as coisas acontecer, porque já sabe, na realidade, o que vai acontecer e qual será o Seu destino. A ajuda de Simão é em vão; no entanto, não deixa de ser um dos apóstolos mais influentes nos últimos sete dias de Cristo.

Uma peça que conta com salas cheias a cada sessão, vista por lusos e por pessoas de outras nacionalidades, surpreendeu tudo e todos e isso verifica-se com números. Mais de 100 mil pessoas já assistiram a “Jesus Cristo SuperStar”, algumas até mais do que uma vez.
Segundo o elenco, nomeadamente por Ruben, esta peça é classificada a “um nível muito alto”. É uma pela que “nos envolve a todos. A chegar ao fim ainda nos faz chorar todos os dias”, assevera Ruben ao assumir que lhes “está a deixar muitas saudades. Não só pelas amizades que fizemos, mas pelo espectáculo que construímos”. “É uma coisa, completamente diferente de todos os musicais que ele já tinha feito e está a ser um desafio imenso”, constata e revela que “gostávamos que ficasse cá por muito mais tempo, mas o espectáculo tem de continuar. E siga para Lisboa”. Na opinião de Ruben, “esta é a melhor peça que Filipe La Feria fez. Ao nível de encenação, do dramatismo que ele dá nas alturas certas, dos jogos de luz e dos técnicos fabulosos” que se trabalham desde o primeiro trecho.
La Feria fez “um investimento muito grande” naquele que se tornou num “investimento que está a superar todas as expectativas”. Agosto é o mês de eleição de férias para muita gente; mas, foi nesse mês que se apurou um feito que “em nenhum musical ele tinha tido tanta gente a ver. Conseguimos encher todas as salas”, anuncia Ruben. Além das “centenas de espanhóis que vieram ver a peça, temos pessoas com quem até criamos uma certa afinidade, por que já vieram ver isto doze vezes” e isso projecta nas mentes do elenco a ideia que “vamos fazer mais um bom espectáculo”. E, assim, tentam fazer “um espectáculo melhor de dia para dia”.
O que é bom para Ruben é “cantar em cena e ter que criar complementos”. Um dos exemplos que o músico-actor nos dá é “quando tens de estar triste e veres aquela pessoa ali. Teres de pensar em coisas trágicas que possam acontecer, para conseguires entrar mesmo na personagem e mostrar um sentimento de revolta e, ao mesmo tempo, de sofrimento”.

A – A peça começa com o 11 de Setembro, é esse para ti o maior toque de modernidade?
R – Não, tem outros elementos. Pretende-se mostrar a realidade. Porventura, que um Cristo pós-11 de Setembro. Na realidade, a mensagem a passar é que não era preciso ter sofrido, apesar do destino dele ser esse para nos salvar. Ele passou por aquele martírio todo e o mundo continua igual, no sentido em que o Homem continua a destruir o mundo e a auto-destruir-se. O 11 de Setembro acho que foi um dos exemplos que se quis dar até para chocar algumas pessoas que fiquem mais susceptíveis de ver aquelas imagens.

A – A peça vai estar até ao final do mês na Invicta, qual o conselho/mensagem para quem ainda não a viu?
R – Se quiserem comprar bilhetes que venham “ontem”, porquanto só faltam dois ou três até ao fim. E eu gostava muito que muitas pessoas pudessem ver esta peça, não só para podermos ter críticas positivas, como também para podermos ter críticas só no sentido da palavra. Toda a gente devia de ver esta peça, porque esta é a história que mais vendeu no mundo e que mais apaixonou o mundo. Considero que é uma história que interessa a todos e que tem a ver com toda a gente.

A – A peça está a acabar e vai para Lisboa. Muitos pensarão, tal como eu, que o elenco do Porto iria representar em Lisboa, mas pelos vistos isso não corresponde à verdade?
R – O elenco do Porto vai, em grande parte, para baixo. Aos outros elementos, o Filipe optou por dar papéis noutra peça, designadamente no “Principezinho” que agora está cá. No meu caso, vou desempenhar o papel de Rolf que é o carteiro de “Música no Coração”. Vai ser mais um desafio. Só tenho uma música, não é cantado é falado; contrariamente, ao SuperStar que é um musical sem paragens para falar. É cantado do princípio ao fim e, qualquer contra-cena que haja com uma pessoa, é cantada, daí a dificuldade por ter métricas e tempos completamente opostos. Tens de ser muito bom de ouvido e muito bom musicalmente para o fazer. Existem pessoas que sei que vão fazer musical lá em baixo, ficaram no casting que houve em Lisboa, e vão sair-se muito bem. Essas pessoas vão repor aquelas que vão sair daqui e vão desempenhar optimamente o papel.

Ruben Madureira vai agora integrar o elenco do “Música no Coração”.
Projectos a longo prazo Ruben não gosta de pensar sequer: “o meu lema de vida sempre foi «carpe diem». E explica que “essa é mais uma das coisas que mudou em mim, que é não estar com a cabeça assente na semana que vem”. Ruben advoga que gosta “de viver as coisas no dia-a-dia. Quero sempre fazer melhor de forma a agradar às pessoas, para continuar o trabalho”.
Ainda assim o artista não deixa de espelhar o contentamento ao referir que “gostava de ter o projecto a solo, sem dúvida”.
Confessou que veio para o Porto (re)começar, afastando de si a «imprensa cor-de-rosa»: “voltei para o Porto, vivia em Sintra, e voltei para cima. Desvinculei-me completamente daquilo – não era feito à minha imagem –, para recomeçar e assim estou a recomeçar. Já recomecei há algum tempo e já faltou mais”.
Ruben Madureira foi apanhado de surpresa aquando da questão “uma pergunta que ainda não te tivessem feito?”. Esta foi justamente uma das questões que nunca lhe colocaram e, apesar de mais nada lhe ocorrer, não tardou em dizer que nunca lhe perguntaram talvez qual o prato preferido. Descobrimos que o prato da sua predilecção são “os rojões confeccionados pela mãe”.
Um artista multifacetado por entre um olhar que transparece o seu verdadeiro “querer”, traduzido na luta a cada palco que pisa, por um (re)conhecimento “em cada segundo” de “uma vida, de um sonho” que se concretizam a cada oportunidade.



Anabela da Silva Maganinho

"Nunca Mais": o embarque de cada um




Sonia Araújo interpreta o papel de Isa, a reclusa que viu os filhos desaparecerem nas ondas

“Nunca Mais” teve a sua última sessão, ontem, na Galeria Nave dos Paços de Concelho, em Matosinhos, pondo término ao ciclo “Teatro em Matosinhos” (TEM).
A peça de autoria, encenação, coreografia e figurinos de Luísa Pinto, com textos de Fernando Moreira e direcção musical de Carlos Azevedo, reuniu num mesmo projecto actrizes e reclusas que lutam em prol de um comum objectivo.
As actrizes Sónia Araújo, Micaela Cardoso e Anabela Nóbrega juntam-se a mulheres do Estabelecimento Prisional de Santa Cruz e embarcam na vida de Ferida, Vera, Edite, Áurea, Isa e Clara.
Em “Nunca Mais” presentifica-se a união destas seis mulheres que vieram de “mundos” distintos; todavia, que se envolvem na mesma partilha de experiências. Por entre recordações entre elas, o “mundo” para além das grades que as impede, não raras vezes, de se iluminarem com a luz do Sol.
A união destas mulheres na luta pelo filho de Áurea, uma mulher muda, fá-las falar. Não por actos violentos “mas pelo sentimento de que este é um acto legítimo”.
A revolta perante o destino que lhes saiu ao lado não culmina na subversão de sentimentos por aqueles que lhes são de sangue; ao invés, “Nunca Mais” transparece índole por entre águas submersas que se tornam numa carência de afectos, como revela Edite no decorrer das cenas.
Um projecto de reinserção social frutuita por entre todos, espelhado pelos aplausos de um público, fiel a cada sessão, que chorou, sorriu; mas, acima de tudo, reflectiu sobre uma realidade desconhecida para os que conseguem ver, somente, “o outro” lado do Sol.


Anabela da Silva Maganinho

Thursday, October 25, 2007

Depois de Amar, o Amor por Fátima Lopes



Fátima Lopes voltou ao Porto, na passada sexta-feira, para apresentar o mais recente livro “Um Pequeno Grande Amor”, que já conta com 35 mil exemplares vendidos.
Uma obra que retrata a história de Gonçalo e Estela, duas crianças filhas de pais divorciados. Quando parece que os casamentos duram para sempre por se assinar o juramento “até que a morte os separe”, vem uma separação. Pois Fátima Lopes mostra-nos o lado mais real de um amor que desfalece num instante e se deposita num outro ser, porque “mesmo quando a vida nos prega partidas, quando os casamentos se desfazem, quando estamos cansados e nada parece fazer sentido, há sempre um pequeno grande amor que fala mais alto”.
A comunicadora assume que foi preciso “um psicólogo para perceber a mente das crianças, para perceber a mente do Gonçalo e da Estela”, pois apesar de ter uma filha o conhecimento do assunto parecia-lhe insuficiente.
Num discurso curto, mas, tal como no livro, “sensível e intimista”, Fátima Lopes revela que “aquilo que me deixa feliz é quando as pessoas me dizem o seu livro permitiu-me reflectir sobre os meus comportamentos com os meus filhos. É só isto que pretendo, não tenho qualquer outro tipo de pretensão, não quero filosofar sobre nada. Eu não sou psicóloga nem tenho pretensões a isso. Sou, simplesmente, uma mãe e uma comunicadora e procurei, através deste livro, ajudar as pessoas a pensar nas atitudes que têm com os filhos”.
Fátima Lopes continua com o programa de todas as manhãs e, não obstante, vai correr parte do país a divulgar o “pequeno grande amor”, mostrando que “os filhos são para toda a vida”.


Anabela da Silva Maganinho

De volta aos clássicos

Sábado foi dia de mais um jogo de Hóquei em Campo.
Num encontro a contar para os quartos de final da Taça de Portugal, o GD Viso recebeu o Ramaldense, acabando por perder por 4-1.
Os golos marcados por Carlitos (2), Pedro Pinto e Octávio deram a passagem à equipa de Ramalde para as meias-finais, pelo que o embate que o GD Viso queria criar com o golo de Bruno Oliveira não surtiu grandes efeitos.
Na zona Norte disputou-se, na mesma tarde, em Lousada a competição entre o Lousada e o Ac Espinho. Do jogo saiu vencedora a equipa da casa que fixou o resultado de 2-1.
As meias-finais decorrem no próximo dia 27, estando a final marcada para as 15horas do dia seguinte, no Complexo Desportivo do Jamor.


Tiago Marques actuou, na época passada, pelo Ac Espinho e agora regressa ao clube do coração: GD Viso







As caibras acontecem quando menos se espera, mas nem por isso o jogo não continuou.







No final do jogo, o desalento chegou aos jogadores do Viso que ambicionavam a etapa seguinte.




Um jogo que iniciou com:

Um minuto de silêncio por José Ramos, um dos mais antigos sócios do CF Benfica e antigo dirigente.


Anabela da Silva Maganinho

Wednesday, October 24, 2007

Uma década segura em mãos

Sérgio Mendes, Rui David, João Luís, João Coelho

Os Hands on Approach (HOA) marcaram o regresso ao Porto com a apresentação do novo álbum “10 anos – Casino da Figueira”, em formato acústico, o quarto registo da banda. Este disco reúne êxitos de uma década, tendo os HOA aparecido no panorama musical no ano de 1996.
Rui David estava a tocar com amigos numa praia do Algarve quando começou por suscitar o interesse de um animador de Rádio. O vocalista decidiu formar então uma banda da qual viria a fazer parte o irmão, João Luís. Mais dois amigos foram convidados para integrarem a formação e, assim, os quatro rapazes puderam ouvir-se e ser ouvidos na Antena 3, estúdio onde a banda de Setúbal se estreou.
Por entre um circuito de EP’s e contactos para editoras os HOA conseguem, mais de um ano depois, dar o grande passo: a gravação do primeiro álbum, intitulado “Blown”.
Já com o guitarrista Sérgio Mendes, o primeiro registo, datado de 1999, vendeu mais de 38 mil cópias, atribuindo-se a “culpa” ou não ao sucesso do single My wonder moon.
No ano subsequente, “Moving Spirits”, o segundo álbum, já se encontrava nas discotecas e um ano de digressão circunscreveu o percurso dos Hands on Approach. Uma torne que fê-los ganhar experiência e crescer enquanto músicos para que, em 2003, estivesse na forja o terceiro álbum de originais.
O contrato de dois álbuns que tinha sido estabelecido com a editora estava concluído, pelo que estavam perante uma editora independente. A banda teve a “oportunidade de participar mais activamente no processo criativo”.

Após a inserção de músicas como “A Chance” ou “Let’s be in love” na série televisiva “Morangos com Açúcar”, a banda liderada por Rui David consegue o feito de se afirmar cada vez mais no mundo da música com “10 anos de carreira”.

Anabela (A) - O que vou levou a lutar por este projecto que, no fundo, é um sonho?
Rui David (RD) – Penso que acabamos por descobrir o gosto pela música. Quando gostamos de uma coisa damos o máximo e vamos até ao fim. E foi isso, o que começou por ser algo meio por acaso, por que foi a tal “descoberta” feita por um locutor de Rádio quando eu estava a tocar na praia. Na altura, eu tinha uns temas novos, mas era tudo muito amador. A partir do momento em que formamos a banda e começamos a tocar e a compor mais músicas apercebemo-nos que era aquilo que, realmente, queríamos fazer.
A – Era verdadeiramente neste mundo que queriam ingressar ou havia outras áreas que despertavam a curiosidade?
RD – Cada um tem, e sempre teve, outros projectos que gosta também; porém, a música encetou num papel tão importante na nossa vida que, a certa altura, tivemos de nos dedicar a ela a cem por cento. Ainda bem que o fizemos. Acho que estamos no sítio certo.

Os HOA contam com um vasto repertório de canções em inglês, não obstante, às letras em português que mostram uma sonoridade diferente. Nenhuma razão justifica a escolha de uma das línguas; contudo, o vocalista da banda assume que “é por uma questão racional, mas também por uma razão irracional”. Pode parecer uma afirmação antagónica pelo que Rui David explica “que é uma questão meramente artística, uma escolha artística, que tem a ver com o facto de sempre termos ouvido mais música anglo-saxónica”. “Não pensamos se vamos fazer uma música em português ou inglês, as coisas vão saindo. Hoje em dia continuam a ser temas cantados em português, a questão de não estarem no disco é simplesmente uma questão de selecção que temos que fazer”, assevera o cantor.
De acordo com a opinião do irmão João “ há um processo criativo, que se processa na maior parte das bandas, aquando da composição de uma música em que a música vem primeiro e a letra é um pouco acessória”. O guitarrista assume, também como compositor, que “a letra serve para dar um contexto aquelas melodias que acabamos por descobrir.” Deste modo, tentam criar uma melodia vocal e compor com uma língua que faça sentido; no entanto, João admite haver “ pessoas a escreverem maravilhosamente bem em português e nós não sentimos nenhuma obrigação patriótica para compor em português”.

A – Na língua lusa ou anglo-saxónica, o que representa para vocês a música?
RD – Considero que aqui possa ser também uma coisa muito particular. A minha vida, neste momento, é só música. Tudo o que faço tem a ver com música e, portanto, é quase um modo de vida, uma maneira de estar na vida.
João (J) – Uma forma de expressão.
RD – Acaba por ser também um refúgio, porque é na música que estou no meu país das maravilhas.
J – É um pouco isso. Independentemente de termos outros interesses ou não - e a maior de nós tem interesses noutras áreas -, a música é sempre um sítio para onde fugimos e estamos com os nossos pensamentos e com as nossas ideias e com as nossas emoções. Lá, nesse cantinho, sentimo-nos mais próximos e livres como pessoas e como artistas.

Uma década decorreu sobre a iniciação dos HOA. Rui David e João recordam a primeira performance, na Antena 3. Um evento que hoje é habitual ser feito por bandas, especialmente na fase de produção, há dez anos foi tudo menos normal. Por entre um sorriso, os irmãos confessam em coro: “não, não foi normal”.
Rui lembra o efeito contrário “a actuação foi emitida em directo para o todo o país e estávamos muito nervosos. Acabou por não correr tão bem como gostaríamos”
Uma observação que é feita pelos músicos em geral, porque tal como João refere “nunca correm”. Ainda assim ambos concordam que “foi inesquecível, talvez das actuações mais inesquecíveis que tivemos”. “Principalmente pelo facto de nunca termos tido esse tipo de condições para gravar e tivemos boas condições”, assevera João e continua Rui dizendo que “o ambiente de estúdio para nós era uma novidade e foi espectacular”.
Ao saberem que estavam a tocar para o país inteiro sentiram “um pouco essa responsabilidade” e, “o mais engraçado foi que uma das músicas que tocamos foi o original Tão perto, tão longe. Posteriormente, ouviram a música tocar na Antena 3 muitas vezes “e isso também foi importante para a nossa decisão de continuar com a banda”. Foi aí que viram que “havia interesse e aquilo que estávamos a fazer era especial”.

A – Como foi a primeira vez que ouviram a vossa música a tocar na Rádio?
RD – Foi um sentimento muito estranho e, ao mesmo tempo, de satisfação, como é lógico. Quando ouves a música na Rádio fazes uma espécie de retrospectiva de tudo o que fizeste e pelo qual passaste. Pensamos que valeu a pena todo esse esforço e toda a dedicação.
J – Hoje vínhamos no carro a ouvir a música e o primeiro instinto foi logo “muda aí”, porque estamos tão fartos [refere com um sorriso]. Porém, não ficamos indiferentes ao que estamos a ouvir e temos consciência que outras pessoas também ouvem o nosso som, o que acaba por ser gratificante.

O álbum de estreia foi produzido por Darren Allison, que colaborou com bandas de renome internacional como Skunk Anansie, Spiritualized e Divine Comedy, alcançou a platina. Um registo que atravessou o Atlântico rumo ao Brasil, onde foi lançada a edição dupla.
Nesse ano [1999], tornaram-se a banda revelação da música portuguesa e a sua dimensão despoletou na realização de quase uma centena de actuações.
Poderíamos dizer que, subsequentemente, à apresentação os HOA só somaram, mas Rui e João não avaliam o trajecto dessa forma. “Não, a partir daí foi muito trabalho”, garantem os músicos “muito suor; portanto, aquilo não foi nada garantido”.
Rui David ainda destaca uma curiosidade em relação aos primórdios “aconteceu aquela coisa curiosa com o My Wonder Moon, um tema que suscitou alguma indecisão de o inserir no disco e teve o sucesso que teve e ainda continua a ter. É engraçado pois teve quase para não entrar no disco”. Para os músicos que integram a banda “era um dos temas que não fazia sentido colocar no disco; todavia, as pessoas de fora tem uma outra perspectiva e fizeram-nos ver que era um bom tema e que devíamos pôr, declara João “ não estávamos preparados para o sucesso nem era previsível. Aliás, penso que ninguém prevê o sucesso. Era o mesmo que dizer que o sucesso se consegue produzir, e ninguém consegue fazê-lo”.

A – Hoje, passados dez anos, o que é que mudou na vossa vida, na vossa música e nos concertos que apresentam?
RD – Considero que o que mudou mais foi a nossa forma de estar, hoje em dia, na música. Crescemos como pessoas e, inclusive, crescemos como músicos. Temos uma certa insatisfação crónica em relação àquilo que fazemos, ou seja, queremos sempre melhorar. Penso que isso é óptimo, uma vez que nos faz evoluir e saber de forma mais consistente aquilo que queremos. Isso facilita especialmente no processo de composição dos temas ou até mesmo a gravar. Somos uma banda mais madura e a nossa música está mais madura e mais desenvolvida.
J – Quando saíram discos sentimos uma certa responsabilidade. Temos um disco cá fora ou vários, como é o nosso caso, e já há um certo número de pessoas que ouviram a nossa música, gostaram, compraram. Há, então, sempre a responsabilidade e o respeito. Tentamos transmitir isso nos nossos concertos ou quando nos abordam na rua. Por isso temos de ter essa responsabilidade para retribuir com alguma atenção e igual respeito o apreço que as pessoas têm pela nossa música e por nós. Acrescido àquele sentimento de divertimento por fazermos aquilo que gostamos.
A – Quanto a referências musicais, ainda há referências que influenciam na música que fazem?
RD – Sim, tudo o que ouvimos acaba por nos influenciar e temos um pouco esse “cuidado” involuntário. Ouvimos muita música de todos os estilos possíveis e imaginários. Tentamos estar um bocado a par daquilo que se faz hoje em dia e isso, quer se queira quer não, acaba sempre por influenciar. Estou agora a ver uma salada [no ambiente de trabalho de um computador], e é um pouco isso que vai nas nossas cabeças: uma salada de música – dos vários géneros, formatos e feitios – que, aquando da composição, vamos buscar os bocadinhos que queremos.

A – Então é nisso que te inspiras quando compões as músicas?
RD – A inspiração é outra coisa. A inspiração é a forma como depois dispomos a salada. A inspiração vou buscá-la às experiências que tenho na minha vida no decorrer do dia-a-dia, designadamente os sentimentos, as emoções. Não consigo explicar muito melhor. Vem algures daqui de dentro – não sei de onde – e sai espontaneamente.

A – Qual mensagem a passar através da música?
RD – Tento falar um pouco naquilo que são essas experiências, nos meus sentimentos e emoções, que se revelam na minha forma de ver a vida.
J – Como indivíduos à medida que crescemos e temos consciência do mundo que nos rodeia temos um pouco a tentação de tentar transmitir alguma mensagem sobre as coisas que nos tocam e que mexem connosco. Contudo, os HOA nunca foram uma banda de intervenção, no sentido em que nunca foram uma banda que quisesse transmitir determinada mensagem através de uma canção. Uma das qualidades da banda tem sido essa. Uma pessoa que ouve If you give up ou My wonder moon identifica-se com a letra, porventura, por uma experiência que teve na vida, mas outra pessoa que ouve a mesma música e pode ir buscar outro aspecto com o qual se identifica. Quando uma letra consegue fazer com que cada indivíduo torne a canção como a sua própria história, acho que o objectivo está conseguido.

João encara “o problema das canções de intervenção [como] canções muito direccionadas e muito fechadas no seu formato”. O músico revela que “por acaso, neste último disco de originais, que estamos a fazer, tem uma música talvez das mais “intervencionistas” que escrevemos, mas foi também por puro exercício estético e de diversão”. Um álbum que chegará às discotecas no próximo ano “está quase a acabar, é o que podemos dizer, mas estamos super entusiasmados com o trabalho”, refere João e Rui acrescenta “sobretudo, queremos deixar amadurecer mais”.
A vantagem da banda é “termos o estúdio nosso em Setúbal o que nos dá, pela primeira vez, a serenidade para compor as coisas com calma. E isso é bom”.

A – Estamos numa Era em que é difícil permanecer no mundo da música. Há muitas bandas a falar desta falta de apoio, porque entram e não se conseguem afirmar. Qual a razão para conseguirem lutar e sobreviver nesse mundo já há dez anos?
J – Temos de ser honestos connosco próprios naquilo que fazemos, é essa a principal razão.
RD – Gostar daquilo que se faz é o essencial.
J – Penso que as bandas que sobrevivem ao longo dos anos são as bandas que fizeram isso. Se há uma mensagem que podemos passar para bandas ou músicos que se estão a formar é essa. Não devemos fazer porque está na moda. O que é realmente importante é fazermos aquilo que sentimos que é verdadeiro.
RD – Sermos nós próprios.
J – O nosso segredo, se é que é segredo, no “sucesso” até agora tem sido esse: mantermo-nos fieis àquilo que somos e nunca ir atrás de nada só porque alguém nos diz.

A – Efectivamente a dificuldade está na promoção e divulgação. Vocês ressentem-se ou não têm grandes dificuldades nessa realidade?
RD – Actualmente a promoção tem uma parte importante naquilo que é o sucesso ou não de determinado projecto. Porém, temos sempre a consciência de que a música é o principal. Se tiveres uma boa música com pouca promoção, podes chegar longe; se tiveres uma má música, podes ter a maior promoção do mundo e, se calhar, não vais a lado nenhum. O que não quer dizer que não tenhamos já sentido o que é uma boa promoção e o que é uma má promoção. Já sentimos isso. Mas também não é uma parte que nos diga muito respeito. Preferimos dedicarmos à parte musical.
J – Reconhecemos que há uma certa dificuldade em fazer passar a palavra – há muitas palavras a serem passadas – felizmente que existem muitas bandas novas a aparecerem, com muitos trabalhos. O mundo é cada vez mais competitivo nesse aspecto, pelo que as bandas não estão quatro anos sem gravar um disco. De dois em dois anos ou de ano a ano gravam um disco e, quando há muita informação para passar, é difícil. Há sempre alguma que fica por passar. O nosso desafio ao fim de dois anos é encontrar meios alternativos para fazer passar essa mensagem, seja pela Internet ou pelo contacto directo com pessoas nos nossos concertos, tentar comunicar das mais variadas formas possíveis.

A – Ainda continuam com uma editora independente, certo?
João – O disco que está agora nas lojas é quase produção nossa na totalidade. Licenciamos o disco para ser distribuído por uma editora; porém, se formos a pensar na realidade somos os editores e, neste caso, a Farol (a editora) está licenciada para distribuir o disco. O mercado está a caminhar para uma maior independência das bandas, pelas razões que toda a gente sabe, e como já andamos nisto há alguns anos, se calhar, estamos um bocadinho há frente disso nesse aspecto de tomarmos conta do nosso trabalho. Vamos ver o próximo disco como será.

A – E isso surte efeitos na vossa sonoridade?
J – Não, não tem a ver. Reflecte-se mais na nossa serenidade e na nossa confiança, no nosso envolvimento com o trabalho que fazemos, e isso é importante para nós. Dá-nos mais a sensação que isto é nosso; ao passo que, quando lançamos um disco por uma multinacional, há sempre aquela sensação de que o nosso trabalho foi expropriado por uma grande companhia. É essa a única diferença, porquanto a nível artístico nunca deixamos de fazer as coisas por estarmos numa multinacional.
A – Estamos a falar em gravações, qual a fase que vocês preferem: estúdio ou digressão?
J – A gravação é um processo óptimo, importante para qualquer músico. É onde temos espaço para experimentar e para criar e é onde, realmente, somos criativos. Essa parte é fundamental, sem essa parte não há outra. Apesar disso, nós, os HOA, adoramos a parte ao vivo, de andar em torné, conhecer pessoas, comunicar e de sentir qual é a reacção do público à nossa música. Se tivéssemos que preferir seria andar em concertos; no entanto, os dois são indissociáveis.

Foi no estádio de produção, num dos concertos, que um produtor de Televisão sugeriu a inserção do tema A Chance na banda sonora da série televisiva “Morangos com Açúcar”. O feed-back extraído deste feito ditou a eclosão do terceiro álbum “Groovin’ On Monster’s Eye-Balls”. Um disco que contou com a participação da vocalista dos Wire Daisies, grupo inglês no qual João tocou. If You Give Up permaneceu nos tops durante mais de três meses e assegurou, por um período de três semanas, o segundo lugar nos dowloads do iTunes.
João acredita que o facto de as músicas constarem da série fez repercutir consequências, nomeadamente numa maior projecção da banda por ser “um meio de divulgação óptimo. Nunca tivemos qualquer preconceito em relação a essa ou qualquer outra série. O que nos interessa é o vínculo em si e os resultados que produzem, o chegar a novos públicos”, patenteia e prossegue o discurso ressaltando que há “gerações de pessoas a ouvirem a nossa música que, naturalmente, talvez nunca chegariam a fazê-lo, e isso só pode ser positivo”.
Rui David atenta que quando escrevem uma música não colocam restrições: “a nossa música pode ser ouvida por quem quer que seja e ficamos satisfeitos com isso”. O vocalista reflecte sobre a realidade de haver “uma grande falta de programas dedicados à música na Televisão” e, por isso, consideram ser “uma boa oportunidade que tinham de aproveitar” e decidiram aceitar o convite.

A – Relativamente a este álbum, é um registo que dispensa apresentações, repleto de êxitos, mas o que significa este álbum para vocês?
RD – Muito, muito.
João – Acho que foi uma prenda que quisemos dar a nós próprios para marcar o facto de estarmos a celebrar dez anos de carreira. Quisemos também dar-lo a todas as pessoas que gostam, que ao longo destes anos nos apoiaram e que tiveram connosco.Valia a pena marcar esses dez anos, visto que temos um convite do Casino da Figueira para fazer espectáculos. É uma sala que adoramos e tocamos lá várias vezes, o que nos levou a pensar: “isto pode ser uma coisa especial e vamos aproveitar para fazer deste evento um marco”.

A – Foi essa a causa que levou à escolha do Casino da Figueira?
J – Foi, exactamente. Coincidiu, na altura em que estávamos a fazer dez anos, o Casino convidar-nos para fazer espectáculos. Associamos as coisas e vimos que a sala era óptima. Não obstante, como um dia já tínhamos falado na hipótese de fazer um DVD e de ter qualquer coisa visual dos HOA editado, pensamos que seria uma boa oportunidade.

A – Conseguem seleccionar um ou mais momentos que marquem realmente a vossa carreira?
J – Sim, vários. Para além daquele que já falamos da Antena3, tivemos um espectáculo também no Pavilhão Atlântico com os Silence 4 e os Phase. Realizou-se no ano de 1999, numa altura em que estávamos ainda a acabar de gravar o primeiro álbum; portanto, ainda éramos uns meros desconhecidos que de repente, estávamos a tocar para 10 mil pessoas. Esse momento foi marcante para todos. Foi o primeiro grande concerto, o primeiro concerto oficial dos HOA, e foi assim em grande escala. É engraçado, poderíamos estar todos nervosos – e estávamos –; todavia, quando entramos parece que esse nervosismo se transformou em concentração e confiança ao ponto de termos tocado. Foi fantástico!

A – Uma das músicas intitula-se “A Chance”. Podemos dizer que esta vossa entrada e estes dez anos foram uma oportunidade que surgiu e se tem vindo a consagrar?
J – Sim, considero uma oportunidade que qualquer artista sonha ter. Tentamos a cada dia aproveitá-la ao máximo e só assim é que conseguimos tornar as coisas interessantes para nós.

A – Qual a música que escolheriam, neste momento, para vos apresentar?
J – Este CD DVD acústico é um bom cartão de apresentação para a banda no seu todo. Para quem nunca ouviu a banda, se comprar o CD/DVD e se vir e ouvir vai perceber, vai ter uma boa ideia do que são os HOA. Percorre os 10 anos de carreira e todos aqueles temas conhecidos, mas outros desconhecidos. Tem temas originais e dois temas novos que vão sair, inclusivamente, no próximo disco. Reúne o passado, o presente e o futuro.

A – Com quem gostavam ainda de vir a trabalhar ou dividir o palco?
J – Muita gente. Há muita gente que respeitamos e admiramos em Portugal. Portugal é um país com artistas fantásticos, com músicos fabulosos e, às vezes, esquecemo-nos um pouco disso. Há muitos desses artistas com quem gostávamos de partilhar e esperamos que um dia aconteça. Certamente irá acontecer, talvez nos 20 anos dos HOA.

A – E quanto a palcos, qual o palco mítico que gostariam de pisar?
J – Vou ser um pouco regionalista, patriota: o Coliseu de Lisboa. É uma sala fantástica. Noutras andanças já toquei em muitas salas da Europa. O Coliseu de Lisboa é um dos sítios que esperamos tocar brevemente e fazer um espectáculo especial.

Com a música “Step Forward”, os HOA aproveitam para olham para o futuro e “pensam continuar a fazer isto”, de acordo com João “gostávamos de expandir a nossa música e de levar a nossa música a outras pessoas, mesmo fora do país. Era um sonho que tínhamos. Sabemos que vai demorar algum tempo e vai implicar ainda mais trabalho e muito mais investimento da nossa parte, mas estamos preparados para isso”.
Para João parte do «sonho» seria “poder fazer uma torne europeia, por exemplo”. Uma iniciativa que exigiria, com certeza, muito trabalho; porém, os HOA estão preparados e, sobretudo, conscientes daquilo que podem ter pela frente: “conseguir montar uma coisa assim para levar música, para ver como é que as pessoas, na Suécia, em Espanha ou em França reagiriam à nossa música”, assevera João. Por outras palavras, o que o músico pretende chamar a atenção não para a realização de “uma torne só pelo facto de irmos tocar para portugueses; não é que isso não tenha valor, mas queríamos fazer uma coisa que levasse a música realmente a pessoas que não sabem o que é a cultura portuguesa, sem termos o selo de banda portuguesa”. O que pretendem é levar a música a vários sítios como “uma banda que faz música e que toca uma pessoa que nasceu na Áustria, a título de exemplo”.
Esse é o próximo passo afirmado pelos HOA “faz parte dos nossos planos. Não vou dizer que não. Não quer dizer que seja imediatamente; no entanto, gostávamos que isso acontecesse”, comunica João.
Uma banda que se afirma cada vez mais no mundo, para muitos inalcançável, que se desvincula de tratados, de forma a criar a autonomia e a “serenidade” na elaboração de novos projectos.
Um contínuo de perseverança, sem rendições a modas, evidencia os Hands on Approach no panorama da música nacional e o espaço além fronteiras será mais um limite a transpor “tão perto, tão longe”.



Anabela da Silva Maganinho