Sunday, December 30, 2007

Muito mais do que um nome, muito mais que música


da dir para a esq AJ Marlon Nena e Salsa

Os Azeitonas estão a promover o recente registo “Rádio Alegria”, um álbum enfaixado em livro que envolve alguma polémica, mas, acima de tudo, amor pela música.
O percurso musical desta banda de garagem, com um nome bizarro e um estilo irreverente, iniciou-se no ano de 2002, no Porto. Marlon, AJ e Salsa, com a colaboração de Nena, o elemento feminino do grupo, começaram a escrever, compor e tocar canções que, a posteriori, vieram a ser coreografadas pelos próprios.


Assumem-se como aqueles que reivindicam “o estatuto de fiéis depositários de um Nacional-Cançonetismo perdido algures nas brumas do tempo, pelo direito alienánel à pretensão que assiste qualquer artista que se preze” e fazem do «formato-canção» “a tocha que nos alumia pelos trilhos perdidos da Música Ligeira Portuguesa”.
A música romântica, especialmente a portuguesa, não é a que reúne mais admiradores pelo que Os Azeitonas mencionam hoje que é “proibido gostar de música romântica”, podendo ser “punível com sanções que podem ir até à exclusão total dos mais concorridos grupos sociais”.
Actualmente, Nena é membro integrante da banda Os Azeitonas e dá um tom suave às músicas que eles apelidam como “pirosas”.
“Rádio Alegria” efectiva a transmissão de rádio imaginária e apresenta-se sob a forma de livro, uma vez que só assim seria aplicado o imposto de 5% ao invés da usual taxa de 21%, por serem os discos considerados “artigos de luxo”, como frisam Marlon e AJ no decorrer das apresentações na FNAC.
“O livro foi a forma de lançarmos as nossas músicas” é como a banda define este processo inovador que já conquistou muitos dos seguidores da banda e, sobretudo, da música. O livro é uma forma de fazerem chegar a música a mais pessoas sem que paguem mais por isso: “o nosso intuito não é lançar uma obra literária, mas sim a nossa música de modo a contornar a questão do IVA”, menciona Marlon.
O que Os Azeitonas enfatizam é que “a lei esqueceu-se de explicar que o imposto cai sobre o CD e não sobre o que vai lá dentro; ou seja, recai sobre o suporte físico e não sobre a música”.


Os primórdios do “nome da canção”

“Este projecto surgiu nas férias de 2002, como resultado de uma brincadeira entre amigos. Resolvemos fazer umas músicas a puxar para o piroso e resolvemos intitular-nos “Os Azeitonas”, de modo a fazer desta banda o nosso alter-ego do azeite”.

A – Quatro pessoas estão unidas num projecto comum; no entanto, cada um tem personalidades distintas e gostos diversificados. Até que ponto se pode tornar difícil conciliar esses aspectos?
Nena – Não o é, porque somos amigos.
AJ – Já éramos amigos, o que, às vezes, pode dificultar. Ao sermos todos amigos depois não temos muito respeito pelos outros (risos). Em qualquer grupo de pessoas há sempre diferenças e temo que saber lidar com isso.

A – Todos são detentores de referências musicais. De que referências estamos a falar que possam influenciar Os Azeitonas?
Salsa – Existem alguns pontos de encontro, designadamente a música pirosa que todos nós assumimos. Noutro dia estávamos a falar da “Niquita”, de Elton John, Scorpions, algumas músicas mais «duvidosas» de José Cid. Não temos vergonha de assumir o facto de gostarmos das baladas mais «duvidosas» de Bon Jovi ou de Aerossmith. Ao mesmo tempo cada um puxa para o seu lado: o guitarrista tende mais para o rock; eu, como pianista, influencio-me mais no clássico; a Nena é cantora mais doce e o Marlon, que tem um gosto um pouco mais virado para o soul e é, inclusive, DJ, traz uma componente mais moderna.

Um tanto ou quanto atarantados

“Tudo o que for mais do que tocar na praia para amigos, que foi assim que a banda nasceu, para nós, é um sucesso inacreditável”. AJ

A – No ano de 2005 o primeiro disco estava editado. Com a saída para as discotecas e com a promoção que foi feita conseguiram o sucesso esperado?
Salsa – Nunca esperamos grande coisa, na verdade. Não sabíamos para o que é que íamos. Lançamos o disco com o Rui Veloso; contudo, não sabíamos bem o que ia acontecer a seguir. Hoje estamos aqui a apresentar o novo livro e não fazíamos a mínima ideia que isto ia acontecer. O que tem acontecido são tudo constantes surpresas.
AJ –Não interessa se o nosso disco vende uma cópia ou mil, o facto de haver o disco é, para nós, um sucesso inesperado. Não tínhamos como objectivo gravar discos, por isso, tudo o que venha a mais é sempre um bónus. O sucesso, nós medimo-lo assim: tudo o que seja mais do que zero é muito.
Salsa – Não é um fim. Cada coisa que aconteça acaba por ser uma consequência. Temos que acreditar que é uma consequência do trabalho que andamos a fazer e é esperar que hajam mais hipóteses destas para continuar o que temos vindo a fazer até agora.

A – Alguma vez se sentiram “um tanto ou quanto atarantados”?
Salsa e Marlon – Claro.
Salsa – Quando se faz playback fico sempre todo atarantado. Nunca sei onde se põe as mãos e o que fazer ao certo.
Marlon – Essa é uma situação «atarantadesca», sem dúvida. Além disso, nos concertos, a reacção do público tem como consequência ficar um pouco atarantado.


As “Cantigas de Amor”

“Estudar mais, trabalhar mais e fazer as coisas cada vez mais bem feitas é o que, realmente, dá gozo a um artista para que se evidencie mais qualidade”. Salsa

A – Como é que definem a vossa música?
Marlon – A nossa música é simplesmente pop/rock.
Nena – Há nela estilos para toda a gente e para todas as idades.
AJ – Música ligeira portuguesa.

A – Perante o panorama da música musical e a indústria envolvente, qual o maior entrave em viver da música, em Portugal?
Salsa – Se fosse fácil, se calhar, perdia um pouco a piada. Uma pessoa tem de lutar para conseguir algo melhor e tem de acreditar que está a lutar por uma qualidade que, no futuro, se espera que compense. Penso que não é tão difícil como as pessoas pensam. É trabalho, como tudo o resto.

O livro que se ouve

“É uma forma de vender música. Fazer passar isto como um livro só sai mais barato para as pessoas, para nós e para a editora é exactamente a mesma coisa. Uma obra para ser aprovada como livro tem que lhe ser atribuído o depósito legal. Foi essa a nossa grande luta de um ano inteiro”.

A – Acerca do novo álbum o que podemos dizer acerca dele?
Salsa – É um álbum, é grátis.

A – É este o álbum que vos fará dar o salto para a ribalta?
Salsa – Não tenho a mínima ideia. Considero que isso vai depender da comunicação.
Nena – Desde que começamos a trabalhar com o novo álbum, que é livro, despoletou-se uma maior publicidade à nossa banda.
Salsa – A aceitação tem sido outra.
Nena – Tem havido mais visitas ao myspace e verificamos um maior interesse. No quotidiano, não há um colega que não me diga “hoje ouvi a tua música”.
AJ– O último mês foi a loucura total de idas à televisão e entrevistas. Muito mais do que no primeiro disco.
Nena – Fomos, inclusivamente, a várias Rádios dar entrevistas, o que não tinha acontecido com o primeiro álbum.
AJ – Não obstante, no primeiro nunca aconteceu um single passar em mais de uma rádio.


A – Terá, de alguma forma, a ver com a inserção de uma das músicas do álbum na banda sonora dos “Morangos com Açúcar”?
Salsa – Não sei bem. Houve muita adesão de rádios: algumas acredito que tenha sido por causa das músicas, outras devido à semi-polémica dos 5% do IVA e de termos feito o livro. Houve muitas rádios que acharam a ideia boa ou que pelo menos consideraram que dava para falar sobre isso e convidaram-nos para discutir isso.

A – Como suscitou essa ideia de fazer um CD acompanhado por um livro?
Barbas – A ideia de ser livro é só fachada para lançarmos o nosso CD com 5% de IVA.

A – Como está a ser a receptividade por parte do público face a esta novidade?
Marlon – As pessoas reconhecem que foi boa ideia. Quando dissemos, pela primeira vez, que iríamos lançar um livro recebemos bastantes respostas de apoio e incentivo. “Rádio Alegria” está há uma semana nas lojas e esperamos para ver qual a receptividade.

O sucesso é aquilo que Os Azeitonas têm alcançado à medida que vão maturando a sua melodia. Porém, eles não o reconhecem nem apontam uma razão evidente, daí que Marlon afirme: “primeiro temos de saber se existe sucesso e depois vamos procurar a razão para ele”. O «azeitona» revela com simplicidade que sentem que ainda estão a lutar e ambicionam mais. “A nossa ambição acaba por pregar na qualidade”, é a opinião que Salsa emite e assevera que “a única ambição não é ser conhecido, nem aparecer em capas de revistas ou tão pouco fazer novas modas, é mais um pretexto para ter a qualidade que queremos ter”.
“Não há fim. Permanece sempre a vontade de querer fazer melhor com melhores condições” é o que a banda delimita no presente indefinido. Todavia, uma causa ressalta por Marlon ao assegurar que “a razão principal de qualquer projecto musical é ser genuíno. Uma pessoa sentir mesmo o que faz sem intuitos lucrativos, por que se uma pessoa acreditar no que faz, isso transparece”.
Conscientes de que o público é o denominador que determina o sucesso, Os Azeitonas pretendem vir a conceber “músicas por medida”. Marlon deixa o convite para aqueles que ainda não o fizeram ouvirem “este novo trabalho «Rádio Alegria», o novo livro” e acaba por mencionar que gostava de fazer um outro: “já pensamos noutro livro, disco, noutro trabalho”.
O que pretendem é continuar no mundo da música a fazer o trabalho que lhes dá gozo, sem grandes ambições ou prospecções para o futuro, apenas na expectativa de que
“o próximo seja ainda melhor do que este”.
Os Azeitonas vão persistir no «rádio» com o mesmo estilo, semelhante género e com a preserverança de que “a semente fica e continua, teimosa e autónoma, a crescer, acabando por medrar”.


Anabela da Silva Maganinho

Monday, December 24, 2007

Uma década ao ritmo da música


Bruno, AJ, Jorge


Os Blunder regressaram aos showcases no mês corrente, nas lojas Fnac do Porto, nas quais estiveram a promover o álbum mais recente “Pawn” e a divulgar algumas das iniciativas que apadrinham.
A banda liderada por AJ Santos surgiu no ano de 1998 com o EP de estreia “Naif”. Os Blunder começavam a ser conhecidos no panorama nacional, sobretudo, com a vitória alcançado num concurso de bandas nacional.
O projecto Blunder, como todos os projectos, “são criados primeiro no imaginário”, assevera AJ e continua “nós pensamos no projecto Blunder quando ainda tínhamos outras bandas, outros projectos, e foi possível pôr em prática com uma formação que era diferente da que temos agora”.
AJ Santos, na guitarra e na voz, Jorge e Bruno Oliveira a cargo do baixo e da bateria, respectivamente, integram a actual formação da banda que ficou conhecida com a música “Blister in the sun”.
Subsequentemente ao registo de 2000, a banda foi premiada com o título de “best new act” e “best vídeo” por algumas das mais influentes revistas portuguesas. No entanto, os rapazes não se ficam pelo nosso país e decidiram dar o seu contributo ao panorama internacional. Os videoclips dos Blunder rodaram nas grandes estações televisivas especializadas e conseguiram boa cotação entre o público.
Em 2005, os Blunder decidiram criar um disco dissemelhante “Pawn”, com formato «branco» (2006) e «preto» (2007), ambos licenciados no Reino Unido. Um álbum que continua a dar frutos, nomeadamente pela inserção do tema “Aka everything she wants” na série televisiva “Morangos com Açúcar”. Não obstante, os Blunder encontram-se repartidos por duas iniciativas de culto da música nacional que são o Arena Rock e o projecto A Cause.

O primeiro andar

“Tocamos pela primeira vez, em 1998, na Fnac do Norteshopping”.

Anabela (A) – Sabemos que os Blunder apareceram no panorama da música nacional há quase dez anos, mas como é que se encetou o processo de formação da banda?
AJ – Os Blunder eram compostos por cinco pessoas. Sou o único elemento remanescente da formação inicial e foi, de certa forma, comigo que surgiu a banda e continuo a carregar o estigma do projecto. Em 1998, conseguimos tornar possível o projecto Blunder da forma como é, com os temas e com o género musical com que se apresenta.

A – Estamos, então, a falar de um projecto planeado que não deixou de ser o embarcar numa aventura?
AJ – Foi a junção de um conjunto de amigos que não tocavam juntos, mas que já pensavam em ter um projecto com determinada sonoridade e com determinado objectivo. Num ano conseguimos assinar contrato e gravar o disco que ansiávamos. Portanto, não foi feito em laboratório; porém, foi pensado antes de ser posto em prática.

A – Em muitas pessoas pode ainda suscitar curiosidade de porquê o nome Blunder?
AJ – Era mais um projecto. Mais um risco que podia ser um grande erro, mas não foi felizmente. O nome ficou por que o fonema era interessante e prevaleceu.

O frente-a-frente com o público

“Quando pensamos no primeiro concerto suscita-nos alguma nostalgia. Temos gravado em vídeo e até podemos vir a mostrar ou a editar isso em algum dvd”.

A – Lembram-se do primeiro concerto que realizaram? Como correu?
AJ – Tenho ideia. O primeiro concerto foi em Maio de 1998, em São Pedro do Sul. Lembro-me de ter sido trabalhado para ser uma primeira mostra, na qual as pessoas pudessem estar a testemunhar. Realmente marcante é como caracterizo esse concerto, porque foi a primeira vez que nos deslocamos. Fomos com um grande staff, com carrinhas e com material para uma terra que não era a nossa.

A – E da primeira vez que a vossa música tocou nas rádios, qual foi a sensação?
AJ – A primeira vez que ouvimos o nosso tema na rádio foi numa rádio local, mas já não tenho tão presente. Tenho mais ou menos ideia de uma determinada maqueta que tocou em determinados spots; no entanto, não tenho tão presente como o primeiro concerto.

Ao longo de uma década

“Para o ano estamos a fazer dez anos, mas parece que estamos nos primeiros três”.

A – Com quase uma década de existência, qual é o balanço que fazem?
AJ – O balanço é sempre positivo, porque consegues sempre chegar a pontos que não conseguirias se não tivesses tido um projecto. É um projecto que tem três discos, muitas compilações, tem determinado número de acções com os media; portanto, foi um projecto de certa forma exposto. Não me arrependo de nada que, eventualmente, tenhamos feito no percurso da carreira: mesmo que não tenham sido as melhores apostas, pelo menos foram as que nos permitiram chegar até aqui e ter o núcleo de fãs, simpatizantes e de conhecedores da nossa música. É assim, pensar em dez anos para nós sintetizando isto tudo foi tudo muito rápido. Parece que o projecto ainda agora estava a começar a acontecer e já se passaram dez anos.

A – Com as dificuldades que a indústria musical atravessa, como é que se mantém uma banda com esta longevidade? Há algum segredo?
AJ – Nenhum de nós depende, única e exclusivamente da música, pelo que se assim não fosse, considero que poderia deparar-se com problemas sócio-económicos. Todos temos actividades paralelas e isso permite-nos levar isto como uma ocupação de tempo livre, que nos dá muito gozo, e que fará com que, possivelmente, continuemos cá, nos próximos 30 anos, com a mesma vontade e com muito empenho.
A – Acarretas o projecto Blunder desde a iniciação deverás ter mais em mente as mutações da banda. O que é que mudou, designadamente na sonoridade e na própria banda?
AJ – As coisas mudam naturalmente. O que vais ouvindo, que são as influências backgroung, despoleta o que já gostavas e queres pôr em prática, ao tocar. O primeiro álbum Blunder, talvez tenha sido mais comercial por imposição da editora. Neste momento, damo-nos ao luxo de fazer aquilo que queremos.

A – Qual é para ti a maior dificuldade em manter uma banda?
AJ – Não vou falar na dificuldade, vou para o outro extremo. Penso que o mais importante é que as pessoas se dêem bem, no sentido de que prevaleça a amizade que transcende o espectro de trabalho. Não sentir a obrigação de ter de estar na sala de ensaios a uma certa hora, para lá estar determinado tempo a tocar, por que o mais importante é sentirmos que nos vamos juntar. Nos nossos concertos as pessoas conseguem aperceber-se que estamos à vontade e que gostamos de estar juntos. Somos capazes de sair de um espectáculo e irmos jantar para estarmos a confraternizar. Esse é o segredo da longevidade. O mais difícil é conjugar personalidades. No nosso caso chegamos a um ponto de equilíbrio, no qual nos complementamos. Todas as ideias vão para cima da mesa, de forma a serem equacionadas e chegamos sempre a um ponto de entendimento.

Uma pausa, não o desaparecimento

“Por vezes, o facto de tocares muito, ou de quereres tocar muito, acaba por levar ao minimalismo. Atinges aquilo que queres realmente mostrar, aquilo que queres realmente fazer, e cinges-te a isso sem teres que dar mais para mostrares que é isto que sabes”.

A – Houve um período em que os Blunder estiveram um pouco mais afastados das áreas de promoção. Existe uma razão para o sucedido?
AJ – Teve como causa vários factores. As vidas sociais, as outras ocupações, … alguns de nós já constituíram família e isso faz com que haja dispersão. O projecto Blunder não é levado, às vezes, como o objectivo prioritário. Quando há um disco para lançar ou uma digressão para realizar existem targets e timings que são específicos. No entanto, quando estamos a levar por levar o projecto, surgem outras coisas que são consideradas de maior prioridade. A consequência é a banda ser levada para segundo plano, mas sem qualquer tipo de descrédito, uma vez que aquando de uma maior disponibilidade nos agarramos mais.

A “arena” das “causas” da música

“Nesta altura, o facto de estarmos a apadrinhar traduz-se em estarmos a tornar possível a iniciativa, não obstante, a permitir também a mostra de outros projectos e engrandecer o cenário musical português”.

A – O Arena Rock é um dos projectos que os Blunder não deixaram de apadrinhar. O que é que essa iniciativa significa para vocês?
AJ – No início, como é normal em qualquer banda, também nós passamos pela fase de concursos. Tentávamos mostrar o espectro musical e o potencial da banda. Não raras vezes, aparecem projectos como estreantes; porém, têm um potencial enorme e podem vir a ser algo de representativo no cenário musical português. Portanto, considero que é importante e, quando nos pediram, aceitamos dar o nosso contributo sem qualquer outro interesse inerente. É óbvio que está sempre patente a exposição do nosso projecto também, mas, acima de tudo, o que nos move é tornarmos possível a iniciativa.

A – Ainda no que concerne a projectos, dão a voz a um outro propósito que se intitula “A Cause”. Uma iniciativa diferente daquilo que se vê no nosso país; contudo, que se tem destacado pela sensibilização dos músicos e até mesmo do público. Como é que vêm essa inserção de bandas, nomeadamente do Norte do País, em prol de um objectivo?
AJ – O projecto A Cause surgiu numa conversa de café com o José Araújo – locutor da Rádio Comercial –, na tentativa de se fazer algo que nunca tivesse sido conseguido em terras lusas. Um “We Are The World” à portuguesa era o que pretendíamos. Por outras palavras, queríamos reunir vários músicos num plano em que pudéssemos ajudar, atribuindo todos os lucros do disco a uma instituição. Em Portugal, existem muitas iniciativas; todavia, estão disfarçadas e revertem 10% ou 15%, tendo em mente o lucro que irá provir para a própria entidade. O nosso caso foi de entrega total. Continuo a ter o projecto A Cause com o José Araújo e temos ideias de fazer reverter os lucros para outras instituições, conduzidos pelo mesmo propósito. Pretendemos organizar outras iniciativas com músicos, que são pessoas que estão bem, vivem bem estão felizes e têm meios. Por que não pegar um pouco na felicidade deles e entregar aos outros? O projecto “A Cause” prevalece. Foi um sucesso na primeira tentativa e há-de continuar. Acredito que se não for um exemplo ao menos pode servir de mostra como espelho para aquilo que se deva fazer.

O plano dos hemisférios

“Neste momento temos projectos com plano A e plano B para que, no caso de um não resultar, saibamos fazer uma aplicação prática da outra versão”.

A – Por falar em bandas nacionais, como é que vês o panorama da música contemporâneo, quer ao nível nacional quer internacional?
AJ – O mercado está mau. Não se vendem discos, está toda a gente, porventura, com o dado adquirido que pode encontrar tudo na Internet sem qualquer custo. O resultado é que as pessoas cada vez gravam menos, as editoras cada vez menos têm dinheiro para investir em promoção e penso que, nesta fase, não se pode adivinhar nada, porque ninguém sabe o que vai acontecer. Estamos a jogar um pouco sobre a bitola daquilo que era, a ver o que vai acontecer, para que nos consigamos situar. Em Portugal, a qualidade têm crescido muito: é gradual que se faz mais e melhor música. No campo internacional passa-se o mesmo o que faz com que haja ainda mais concorrência; no entanto, não estou preocupado com isso. Considero que cada um tem o seu espaço, tem é que ser original e saber-se placar ao mercado.

A – Como está a correr a divulgação do vosso trabalho nesses dois hemisférios?
AJ – Quando se fala em projecção internacional estamos a competir com os grandes, logo, é muito difícil ao estarmos na gaveta dos independentes. Ainda assim conseguimos grandes reviews e estamos a vender bastante música, mais internacionalmente do que cá. Estamos distribuídos não só no CD físico como na colocação das músicas no iTunes. É, para nós, já uma grande mostra de valor por parte das pessoas que apreciam, compram e consomem. Temos outras ideias para aplicar internacionalmente, designadamente os concertos. Os concertos são a grande vaga. Os discos são cada vez mais o cartão de visita para mostrarmos a música; porém, na minha opinião, os concertos é que são a mais valia das bandas. Ao invés, pode tornar-se na grande extinção, pois pode ser feito um grande trabalho em estúdio e, subsequentemente, não se conseguir representar ao vivo. Estamos muito satisfeitos com o que está a acontecer internacionalmente e estamos a trabalhar nesse sentido. Em Portugal, não se está a vender. Continuamos a ter bastantes spots, bastante solicitação e temos em perspectiva o novo disco. Vamos ver o que é que vai acontecer.

A – E para quando o próximo disco?
AJ – Se calhar para o final do próximo ano. Tenho um projecto novo, um projecto em português, do qual o Bruno também faz parte, mais mainstream que, entretanto, se vai interpelar na carreira dos Blunder. Os Blunder vão ter que, de certa forma, hibernar, enquanto o outro projecto é instalado.

Passagem “Morangos”

“Ajudou-nos muito. Deu-nos bastantes concertos e as pessoas conhecem o tema. Temos a percepção de que algumas pessoas conhecem os Blunder exactamente por esta nova vaga”.

A – Em relação à vossa música ser inserida também nos “Morangos com Açúcar” como é que se procedeu a essa inserção?
AJ – Por vários contactos. O tema tinha a ver com a temática daquela série, o que fez com que o interesse deles fosse quase imediato. Ouviram o tema quiseram fazer a inserção na série. Estamos a falar de uma faixa que não consome Blunder, mas que conhece os Blunder através da compilação “Morangos com Açúcar” ou da série Foi bastante positivo.

Palco a palco

“De festivais, queimas das fitas, dos concertos dos grandes palcos, se calhar, o concerto das Noites Ritual 2004, no Porto, tenha sido o mais memorável. Muita gente esteve presente, foi um grande concerto e funcionou muito bem”.

A – Qual o palco que gostariam de pisar?
AJ – No que diz respeito a palcos internacionais bastantes constariam da eleição. Há muitas salas míticas em Inglaterra. Não estou a falar de grandes palcos, mas de salas. No nosso país também há muitos espaços emblemáticos, como Aula Magna, Casa da Música e Coliseus.

A – Com que banda a dividir o palco?
AJ – Com uma banda internacional. Escandinava, sueca, … os Editors, Bloc Party, entre outros.

Trabalho mediatizado

“O nosso trabalho já contou com determinado número de acções com os media”.

A – O vosso trabalho já percorreu os media. Com certeza já tiveste que responder a diversas perguntas, mas há uma pergunta que gostavas que te tivesse sido feita?
AJ – Não, penso que não. Eu nunca falei sobre o meu passado musical e, como gosto, até oriento nesse direcção algumas respostas. Sou consumidor de música, compro muitos discos e tenho verdadeiras relíquias no baú. Constam no meu repertório pessoas que estão no panorama com quem já toquei; não obstante, estive inserido em distintos projectos de blue, jazz e experimental. Considero que é isso que complementa o músico.

A – E quais foram as outras bandas que não deixam de fazer parte do teu percurso musical?
AJ – Muitos projectos. Estive na formação embrionária dos Ornatos Violeta, por exemplo, ainda antes do Manuel Cruz. A posteriori, estive envolvido em projectos com o João André, baixista do Abrunhosa. Nunca aconteceu nada. Os projectos nunca tiveram nada editado, foram projectos que não passaram da garagem.

A “Promessa” do amanhã

“O que acontece é que as pessoas querem aparecer no panorama para gravar discos e ter logo exposição. Isso é um processo que, às vezes, demora tempo e que as pessoas têm de saber equacionar e avaliar”.

A – Falamos de bandas, qual o conselho para as novas bandas que estão a surgir?
T – Paciência. As coisas não acontecem imediatamente. É muito importante perceber que se, às vezes, as coisas não estão num patamar é por que a qualidade ainda não é a suficiente para estar lá. Os projectos levam tempo a amadurecer e é importante que as pessoas tenham noção disso e que se deixem levar. Pisem palcos e que façam muitos espectáculos e muitos ensaios, de modo a que se sintam confiantes no que estão a dar. É necessário, inclusive, que tenham pessoas a darem bons indicadores. Apreciadores e bons formadores de opinião que saibam dizer se a banda está bem ou se precisa de algo mais, mas com bom sentido de oportunidade. Estar cinco anos na sala de ensaios e, só ao fim desse tempo sair, é tempo a mais. Há uma linha muito ténue entre o que é o suficiente e o que é o importante e o aceitável.

Com mais um aniversário a chegar, desta vez na consecução um patamar que não é atingido por muitas bandas, os Blunder deixaram no sítio do MySpace a nota de que uma grande surpresa está a ser preparada para o próximo ano: “há a ideia de editar um DVD, com imagens raras, com videoclips, com tudo. Esse, se calhar, é o grande projecto para o ano para os Blunder”, revela o vocalista da banda.
Relativamente a prospectivas, os Blunder não querem ansiar nada “nem queremos estar a equacionar ter grandes vendas e grandes fãs. Queremos é continuar a subsistir, a fazer música cada vez mais de acordo com as nossas convicções”, afirma AJ. Os Blunder assume que é música que gostam de fazer e confessam que se sentem “completamente entregues ao fazermos a música que sentimos e que gostamos de acordo com aquilo que ouvimos”. É isso que tentam passar para os discos e, especialmente para os concertos, onde tocam ao vivo.
Com uma vincada independência face ao mundo da música, a banda assegura, pela voz de AJ que “antes de pensarmos no público, que é muito importante, pensamos em nós. Se gostamos realmente de tocar e fazer aquilo que fazemos”.
Os Blunder evidenciam a garra de uma banda que marca o panorama da música nacional, ainda que cada etapa continue a ser como “um começo” no qual persiste o “caminhar através da chuva”.


Anabela da Silva Maganinho

Sunday, December 23, 2007

À luz do jogo


O Leixões somou mais um empate, a uma bola, desta vez frente ao Setúbal, hoje, no Estádio do Mar.

Mais um jogo marcado pela arbitragem que acabou por atribuir mais um ponto à equipa leixonense, tendo o marcador assinalado 1-1 por Jorge Gonçalves (Leixões) e (Setúbal).
Apresento a visão de José Maganinho, uma opinião que retrata alguns dos factos do jogo.

Os lances

Primeira Parte “O resultado de 2-0 era o merecido para a equipa da casa”.

Golo Leixões 1-0 (21’) “Cruzamento de Jorge Gonçalves”.

A polémica
(27’) “É feita rasteira sobre Jorge Gonçalves e o juiz de linha não assinala a falta. Os jogadores do Setúbal correm em contra-ataque a acabam por chegar ao golo. Jorge Gonçalves continua no chão a queixar-se quando o golo é marcado”.

Golo do Setúbal 1-1 “Quem viu diz que o Beto defendeu para o ar e de cabeça marcou”.

Segunda Parte “O jogo foi taco-a-taco. Ambas as equipas se debateram”.

Final
“Aos 80’ o Leixões remata, mas a bola vai à trave”

Balanço: “O Leixões dominou o jogo todo. Os sadinos só praticavam faltas e entradas muito agressivas”. “Pelo segundo jogo consecutivo, o juiz de linha do lado poente falhou”. “O Leixões acabou por ser prejudicado pela arbitragem”.
“O que se passa com a arbitragem que se faz apitar o Leixões?”

Friday, December 21, 2007

Futebolês Nacional

imagem extraída de http://ante-et-post.weblog.com.pt/bola_trave800.jpg
Antes da Ceia de Natal ainda muita bola vai rular.
A Liga Vitalis vai continuar renhida, aliás atrevo-me a dizer que com o decorrer dos anos é aquela que mostra uma maior regularidade de equacionalização.
A Bwin Liga ainda vai dar que falar, ainda que saibamos que o FC Porto vai continuar a liderar a tabela das classificações.
Por entre ligas intercalares, taça de Portugal, taça da Liga e competições europeias, interessa saber que o Braga vai ter uma tarefa de certo modo complicada. O Werder Bremen, que tem Hugo Almeida a liderar o ataque, é o nome que calhou, em sorteio, ao Braga. Falta saber se a equipa liderada por Manuel Machado vai saber-se impor com Linz, Wender, Jaílson ou, porque não João Pereira?

Veremos o que se vai passar na nacionalidade do futebol.
E por cá ainda quero deixar algo bonito que um grande amigo escreveu:
"(...) E dele também se diz que nunca perde, às vezes não ganha. O que pode haver mais bonito do que esse dito bonito? Se todas são histórias bonitas, umas são mais bonitas que outras, ainda mais bonitas. "
JM

Sunday, December 16, 2007

Domingo de Jogo

Foto extraída de leixoessc.pt


O Leixões recebeu o Leiria, hoje, no Estádio do Mar, num jogo a contar para a 13ª jornada da Bwin Liga.

José Maganinho deslocou-se até ao Estádio e mostrou-se disponível a fazer o comentário à partida.
“Foi um bom jogo. O Leixões dominou o jogo todo”.
“A equipa de arbitragem foi a pior que pisou o relvado do Mar. O juíz de linha do lado poente andava sempre atrasado a assinalar foras-de-jogo, faltas… Elas existiam e ele não as chegava a marcar”.

Os lances

Golo Leixões 1-0 “Cruzamento de Jorge Gonçalves. Roberto chega a cabeça rente à relva e marca de cabeça”.
Golo Leixões 2-0 “Diogo Valente marca o segundo golo. Vem isolado, finta dois jogadores e remata, conseguindo concretizar um golo bonito”.

“Os jogadores recolhem ao intervalo. O Leiria entra nos primeiros 10 minutos da segunda parte com vontade de inverter o resultado, ainda que o Leixões não tivesse deixado”.

A polémica

“O árbitro era tendencioso para o lado do Leiria. Chegou ao ponto dos jogadores andarem aos encontrões. Os jogadores que estavam no banco do Leixões tentaram impedir que a situação se alastrasse. Entretanto, o guarda-redes do Leiria agrediu Jorge Gonçalves que já tinha sido substituído e estava ao banco.
Com algum tumulto à mistura, o árbitro atribuiu o cartão vermelho ao jogador do banco do Leixões, Nuno Diogo (86'). A confusão instalou-se e estragou o final do jogo”.

No decorrer

Golo do Leiria 2-1 “Em cima dos 90’ surge o contra ataque do Leiria. Beto defende, mas larga a bola. Ainda consegue a segunda defesa; porém, à terceira a bola entra”.

Final
“Leixões ganhou bem, teve oportunidades de golo, mas devido à arbitragem não deu para mais”.

Thursday, December 13, 2007

Jovem em plena forma


João Vilela foi eleito, pelo Sindicato dos Jogadores, o melhor jovem jogador da Liga Vitalis, referente ao mês de Novembro.
O jogador do Gil Vicente tem sido titular nos jogos da Liga e, no que concerne aos encontros do mês passado, assinalou o golo do empate dos gilistas frente ao Vizela. Não obstante, o ex-jogador do Benfica deu um toque decisivo a cada jogo, mostrando a qualidade no campo.
A prestação de João Vilela fizera-lhe arrecadar o Prémio Diadema, tendo ficado para trás os jogadores Bruno Severino (Gondomar) e Nuno Coelho (Portimonense).
Anabela da Silva Maganinho

Wednesday, December 12, 2007

A(r)riscar na Música


Luís, Bruno, Pedro, Nélio e Daio

Os CAIM voltaram ao Porto, no último fim-de-semana, para dar mais música à Invicta ao promoverem o álbum de estreia “Beg a Dime”.
Este é um nome que pode não ser indiferente, uma vez que integra a banda sonora da série televisiva “Morangos com Açúcar”. Cinco elementos que, acima de tudo, se uniram pela amizade em prol de um fundamento comum – a música.
No ano de 2001, cinco rapazes decidiram ingressar numa aventura de participar num concurso que estava prestes a decorrer na ilha da Madeira, um passo que viria a ditar, de certa forma, o futuro de uma banda. O CAIM saíram vencedores do concurso, mas não se ficaram por aí. Ao saberem que a Antena 3 estava a organizar um concurso de bandas, não deixaram a oportunidade escapar e, ainda que concorressem na «desportiva», evidenciou-se o talento da banda, cuja ideia de formação surtiu de Nélio, o baterista oriundo da ilha.
Em 2004, o EP saiu como forma de materializar o trabalho e o caminho que tinham percorrido até então. “Beg a Dime” foi um dos temas que constou nesse primeiro formato e tornou-se um sucesso da banda.
Três anos sucederam-se ao primeiro registo e, foi este ano, que a banda editou o disco de estreia.

O início

Anabela (A) – Sabe-se que os CAIM deram o primeiro passo através de um concurso de rádio. Podem explicar um pouco mais o vosso processo de formação?
Bruno – O Nélio tinha vivido uns anos nas Caldas da Raínha. Lá conheceu o Pedro e o Daio e formaram uma banda. Entretanto, o Nélio voltou para a Madeira, de onde eu sou também. A certa altura soube-se que ia haver um concurso de bandas e o Nélio convidou o Pedro e o Daio para irem à Madeira passar umas férias. O objectivo principal era divertirem-se um pouco; contudo, já que havia o concurso decidiram participar. A posteriori, eu – que sou amigo de infância do Nélio – fui convidado juntamente com outro rapaz que, mais tarde, viria a sair da primeira formação. Fomos participar nesse concurso, com temas que eles tinham da outra banda, e ganhamos. O prémio atribuído foi abrir, três dias depois, para GNR, o que foi um pouco assustador para nós.
Daio – Por que iríamos actuar para 7500 pessoas.
Pedro – Não estávamos com esperanças de ganhar. Foi, somente, com o intuito de participar. Íamos conhecer a ilha, participar e acabamos por ganhar. Apenas nos voltamos a juntar um ano depois, para o segundo concurso: o Antena 3 rock. Para participar tínhamos que, inclusive, compor uma música em português. O Daio fez a música, enviamos a maqueta e ficamos seleccionados. As três bandas que entrassem tinham de ir para o estúdio gravar três músicas e assim o fizemos. Subsequentemente, a viagem prosseguia para o espectáculo no Tecnopolo, que se tratava de um espectáculo grande, ao vivo. A banda que ficasse em primeiro lugar, teria direito a três músicas no CD, ao segundo cabiam duas e, finalmente, o terceiro inseria uma música. Ganhamos outra vez. Foi a partir daí que começamos a pensar que o projecto tinha «pernas para andar». Começamos a investir mais, a ensaiar mais e a arranjar concertos. Assim começaram os CAIM.

A – Era um sonho que já perseguiam há muito tempo enveredar pela música?
Bruno – Sim. Já tínhamos tido experiências musicais anteriores que, entretanto, se foram dissipando. Avançamos e juntamo-nos na intenção de manter esta banda.
Pedro – Tudo começou por brincadeira, por diversão tal como o jam. Às vezes, vamos a sítios e convidam-nos para tocar. Não temos problema nenhum, fazemo-lo. Vamos brincar um bocado com a música, por que gostamos mesmo é de brincar com as notas musicais. Não estamos muito colados a um registo até porque tivemos formação musical muito novos: começamos a tocar, tivemos o contacto com os instrumentos e, então, é natural.

O sonho de um projecto

“Ninguém está a querer apostar muito na música, porque também o mercado musical, em Portugal, caminha a passinhos muito curtos. Quisemos, vamos apostar, vamos andar para a frente. É a força de vontade”.

A – No fundo consistiu em embarcar numa aventura, ou já havia um projecto estruturado?
Pedro – Não havia um projecto. Em 2004, gravamos um EP que alguém nos incentivou a gravar. Tivemos uma música no CD das bandas de garagem, sempre no espírito de participar por participar. Temos a música e resolvemos participar, pode ser que dê alguma coisa. Entramos em concursos até que constatamos que tínhamos valor e que as pessoas também gostavam da nossa música. As coisas foram acontecendo e foi uma bola de neve até à hora que dissemos “vamos gravar”.
Bruno – Uma bola de neve muito suada. A determinada altura, o que começou a acontecer não foi por acaso. Houve muita dedicação da nossa parte, muito esforço e sacrifício para chegar ao primeiro álbum. É o que temos agora, mas ainda não é nada, ainda somos bebés. Inicialmente, era só por diversão e as coisas eram levadas com descontracção; porém, a partir de certo ponto, teve que haver um compromisso. O espírito em palco é o mesmo, só que há que ter em conta uma atitude fora do palco que consiste em assumir isto como algo que não é brincadeira.
Pedro – Ainda por cima como a nossa situação. Produzimos o álbum e temos estado a promover. Só temos distribuição pela Musicactiva, uma vez que editamos, produzimos tudo, desde o videoclip, passando pelas gravações... Foi uma junção de esforço da nossa parte, e dizer: “vamos conseguir”.

O gosto da música

O prazer que a música dá a estes rapazes conduziu-os no perseguir de um sonho. O que, para muitos pode ser inalcançável, para os CAIM apenas bastou acreditar.
“Não queremos ser tipo músicos profissional, uma banda é mais artistas do que ser mesmo músico”.

A – O que é que significa a música neste momento para vocês?

Daio – A música é uma linguagem, acima de tudo. A linguagem transpira mensagens, emoções e considero que a nossa música é muito emotiva. Toda ela é tocada e não temos máquinas, que é o que parece estar muito na moda.
Pedro – Nós desistimos de tudo para nos dedicarmos aos CAIM.
Daio – E, se fosse, económica e financeiramente, viável era isso que continuaríamos a fazer.

Amigos em cima do palco

“Já passaram seis anos; todavia, nos primeiros anos, um dos elementos saiu da banda, entrou o Luís e estamos com esta formação desde 2004”. Muita dedicação, muito profissionalismo e suor são as palavra-chave”.

A – Para quem não conhece os CAIM o que podemos dizer?
Daio – Somos cinco amigos com muita emoção em cima do palco. Nota-se que há um tom de brincadeira e diversão em cima do palco, mas muito profissionalismo, acima de tudo. Tudo é levado muito a sério, apesar de, por vezes, haver um lado mais recreativo e podermos viver as coisas de uma forma muito descontraída, pois a nossa maneira de ser, regra geral, é também essa.

“Para quem não conhece [o álbum] considero que tem que comprar, porque é baratíssimo. A capa está bonita e ao ouvir vão constatar que não é todo rock, mas é muito power”. (risos)

A – E do novo álbum? Este é o álbum de estreia, mas porquê o nome “Beg a Dime”?
Daio – “Beg a Dime” é um tema que já roda há mais tempo. Estava incluído no EP de 2004 e voltamos a gravá-lo. O single passou em várias rádios nacionais e, inclusivamente, em França e na Holanda. Tivemos uma sorte acrescida de terem gostado da música e quererem colocá-la nos “Morangos com Açúcar”. O álbum foi todo através de patrocínios e apoios e, portanto, o tema “Beg a Dime” – implorar ao cêntimo – faz todo o sentido.
Pedro – Quase que andamos a pedir tostões para gravar o álbum.
Bruno – Também derivado ao nome que já andava no ar.
Daio – Foi decidido quase no fim. Estava a parte gráfica para ser feita e tínhamos que dar mesmo o nome. Olhar para nós, para o trabalho que tínhamos desenvolvido e para o que é este álbum… e foi mesmo o pedir as ajudas dos amigos.

A – Falem-nos um pouco acerca desse “bebé”.
Pedro – O nosso estilo de música é uma fusão de estilos musicais. A música que deriva do que cada um de nós ouve. Este é um álbum que também teve a particularidade de ser produzido por um grande músico – o Ciro Cruz, baixista de Gabriel O Pensador – que já tocou com inúmeros músicos e que é um grande profissional. Foi uma experiência interessante e um privilégio trabalhar com uma pessoa como o Ciro, e não foi muito difícil de encontrá-lo. Ele gostou do projecto logo à primeira e quis produzi-lo.
Daio – Fundamentalmente, tínhamos um estilo muito heterogéneo, precisamente por uma fusão enorme de estilos. O Ciro ajudou-nos a equilibrar muito essa fusão. Antes de o Ciro entrar as músicas estavam lá, as ideias também, apesar de um pouco mais distorcidas ou mais desequilibradas em alguns pontos, e ele ajudou.
Pedro – Foi quase como uma lima. Criou mais algumas componentes como os metais, designadamente o trompete e o saxofone. No que concerne à formação, estamos a fazer concertos com seis elementos. Temos um músico convidado, o Nuno, que faz hammer & roades, teclados e alguns sintetizadores. Não obstante, criou outra componente que não tínhamos: ele disse que ia ficar bem, experimentamos e adoramos.
Daio – Não é daqueles discos em que se ouvem a primeira e a segunda faixa e está visto. Tem que se ir ouvindo para se ir descobrindo.
Bruno – É mesmo para se ir desvendando, para descobrir, tal como o videoclip também vai ser.



“Beg a dime” com cheiro a Morango

A – Estávamos a falar de uma das músicas estar inserida na BSO dos Morangos com Açúcar. Como se processou essa inserção?
Pedro – Trabalho no meio audiovisual e tenho alguns amigos na televisão. Um dos meus amigos está na centralização e, por acaso, perguntou-me: “não queres por uma música na novela?”. Tínhamos o EP no qual estava inserida a música “Beg a Dime”. Ele levou-o e o produtor musical gostou. Em Portugal, e em todo o mundo, é preciso ter alguns contactos para fazer alguma coisa. Temos a força, mas juntamente com alguns contactos conseguimos fazer o que queremos.

A – Terá sido esse o salto que precisavam que fosse dado?
Todos – Nem pensar.
Pedro – Isso é o que as pessoas pensam e já escreveram, inclusivamente, num jornal. Não sabem e pensam que está por detrás uma editora. Temos uma label que fomos nós quem a criamos, a Rich Man Records, para não ser edição de autor. Mais pessoas começaram a conhecer a nossa música, a aceder ao nosso site, a comprar a colectânea e a ver lá a nossa música. Detectou-se uma maior projecção e as pessoas que ouviram e disseram que gostavam da música; contudo, não houve editoras ou pessoas a «chegarem-se à frente» para nos lançar. Tivemos de ser mesmo nós.
Daio – A telenovela não foi o factor decisivo. O álbum já estava programado e, se calhar, antecipou apenas o processo um mês ou dois.
Pedro – Se ficássemos quietos não ia acontecer nada.

O reflexo do público

“Temos de apostar no projecto e tentar fazer de tudo, designadamente, pedir apoios a câmaras municipais, a amigos e a marcas. Fizemos esse trabalho com algumas ajudas, claro, mas amizades fundamentalmente”.

A – Estamos a falar um pouco da indústria musical portuguesa e a queixa é sempre a falta de apoio.
Bruno – Não apoia. Sei que realmente não apoia; todavia, não apoiam porque não é viável economicamente.
Pedro – A culpa é do público. O povo é que não compra CDs e, se não compra, a editora não vai apostar no músico.
Daio – Há cada vez mais bandas e mais pessoas a apresentarem os seus projectos. O mercado português é muito pequeno e não pode haver ilusões de uma pessoa viver da música, em Portugal. Vai haver um nicho de meia dúzia de pessoas que vai conseguir sobreviver da música no nosso país, ainda que se vejam e se conheçam vários nomes que se mantêm ao longo dos anos.
Pedro – É um negócio. Não é por gostarem ou não de uma banda, mas pelo negócio. No entanto, é uma realidade que eles não sabem dizer se vamos vender ou não. Outrora podia dizer-se que lançar uma banda parecida com outra que faz pop iria vender; contudo, hoje em dia não é assim. A situação das editoras está complicada até por que sabemos que bandas como os Radiohead estão a fazer a edição e a colocar o álbum à venda na Internet. Considero que, mais dia menos dia, o mercado das editoras vai por água abaixo, uma vez que as bandas vão começar a ser autónomas até mesmo ao nível da distribuição. Estamos a ter uma grande ajuda da Musicactiva, mas conseguimos lançar um álbum por nós. Os artistas já não vão querer estar agarrados a uma editora, querem ter a sua liberdade.

A – Concordam que a indústria musical se move para o pólo centralizador que é Lisboa?
Pedro – No Porto e em Coimbra também existem muitas bandas.
Daio – Acredito que, para se promoverem, têm que passar pelos grandes centros.
Bruno – No entanto, uma banda de Lisboa não se pode ficar só por Lisboa. É uma questão de logística. Estão lá as salas de espectáculos, os meios de comunicação principais. Estamos a falar do Centro do país.
Pedro – O Porto agora tem bons espaços. Considero que as bandas do Porto não têm do que se queixar no que diz respeito a espaços para tocar.
Daio – Respira-se muito a cultura no Porto.


Os palcos do mundo

“Já tocamos algumas vezes no Porto e gostamos muito do público. É um público quente que vem ter connosco e fala. O público de Lisboa é mais frio: até pode estar a gostar, mas está na dele, vai embora e não comunica. O público do Norte é mais caloroso”.

A – Como descrevem os vossos concertos?
Todos – «Power».
Pedro – Somos cinco, mas, ao vivo, tocamos seis. Contamos com mais hammer & roades e temos mais alguns teclados que enchem. A nossa ideia é inserir o trompete e o saxofone, que estão na gravação e vamos querer no ao vivo, quando começarmos a fazer uma digressão.
Daio – Força e energia.
Pedro – É mesmo muita energia e muito sentimento que passa para o público, disso temos a certeza.
Daio – Não há a colagem ao disco. As pessoas reconhecem os temas; todavia, pelo meio há muita coisa a ser feita na hora. Essa é uma característica que há em nós, há um fio condutor pelo qual nos guiamos, mas um espectáculo atrás do outro vale a pena ver por que não é igual.
Bruno – Nós sentimos muito o público. A nossa própria prestação também depende muito dele. Se virmos que em determinada parte que as pessoas estão a participar mais, prolongamos na hora.

A – Qual o palco que gostariam de pisar?
Pedro – O Coliseu do Porto e o Coliseu de Lisboa. Internacionalmente elegia o Central Park, em Nova Iorque.
Daio – O Maracaná, no Brasil.
Bruno – Porventura, o palco principal do Rock in Rio quando voltar ao Rio de Janeiro.
Pedro – Ou mesmo o de Portugal.

A – E no que concerne a bandas, qual a banda com que gostariam de actuar?
Pedro – Jamiroquai, Dave Mathews Band, Tool, Bem Harper. Sou grande fã de Tool e têm grande força, ao vivo.
Bruno – Gostava de estar no mesmo palco dos Pantera, mas já não posso. Jack Johnson era outro músico com quem gostava de tocar.
Daio – Por acaso tenho uma preferência diferente, a Madonna (risos).

Marcar terreno

“A liberdade do artista é muito bom, por que uma pessoa nunca sabe quando vai ter uma hipótese de uma editora exterior que consiga agarrar em ti e levar para o mundo.”

O trabalho dos CAIM não é ainda conhecido por todos, pelo que se tivessem de nomear uma música que dissesse mais acerca deles seria complicado. Prezam a liberdade e não deixam de lutar pelo sonho, com dedicação e muito trabalho, independentemente do custo que advenha disso. Daio salienta a importância da autonomia face às editoras, pois “há editoras que restringem o próprio artista, dizendo o que este tem de fazer”. Essa é uma vantagem que o vocalista dos CAIM assume, porquanto “fizemos aquilo que quisemos e isso transparece. Disco foi feito por nós, pelas nossas próprias mãos”.
“Awaking”, “Noisy Joy”, “Crawlin” e “What I Need” são as músicas que, de acordo com Duarte, Pedro e Bruno, mais teriam a banda como referente; porém, confessam que não são somente essas que têm algo a dizer sobre os CAIM: “ficávamos aqui a dizer o álbum todo. Não é fácil”.
As prospectivas que os elementos que integram a banda arrogam cingem-se ao perseguir de um sonho que têm entre si e, se possível, “viver da música dos CAIM e correr o mundo a tocar”, patenteia Bruno. Tal como menciona Pedro, o que a banda anseia é “conhecer países”, sendo um dos sonhos do guitarrista “conhecer sítios, conhecer pessoas e poder trocar experiências com outros músicos”.
Sempre com os pés na terra, conscientes de que “para fazer isto é preciso viver da música e ter disponibilidade total”, os CAIM querem afirmar-se no panorama da música, no qual “tomam o controlo do destino” promissor por intermédio da “mensagem vinda do coração” extraída de “Beg a Dime”.

Anabela da Silva Maganinho

Monday, December 10, 2007

A simples intuição da música


Tiago Bettencourt regressou à Invicta, no passado mês de Novembro, para promover o álbum de estreia “O Jardim”.
O vocalista dos Toranja dá agora a voz por um novo projecto com nome próprio, no qual se faz acompanhar por João Lencastre e Tiago Maia (Mantha).
Um disco gravado em Montreal, no Canadá, que conta com o dueto de Sara Tavares em “Canção Simples”.
A simplicidade é o que Tiago Bettencourt busca para a música, não advindo o gosto por esta de hoje, mas desde sempre. Esta arte sempre lhe despertou interesse, porventura, por influências dos pais: “o meu pai sempre gostou muito de música, sempre me rodeou de música de boa qualidade”, justifica. O essencial, sob o ponto de vista do músico, é “sermos rodeados de bom gosto e isso faz com que cresçamos a ser mais selectivos no estilo musical que gostamos”.
Efectivamente foi determinante essa “formação” por que cresceu “também um maior gosto pela música” que permitiu que Tiago Bettencourt vingasse por um estilo distinto, ainda não evidenciado em Portugal, excepto nos Toranja. Nessa banda iniciou o trajecto profissionalizante que o levou a sucessos como “A Carta” que se estendeu pelos “Laços” do último álbum.
Actualmente, a banda deliberou fazer uma pausa e Tiago decidiu embarcar num novo projecto ao lado dos Mantha. Um traçado cujo destino ainda não está determinado; contudo, adivinha-se promissor pelo presente florescente de “O Jardim”.

A – O gosto pela música suscitou em ti muito cedo, mas quando é que começou verdadeiramente a tua profissionalização?
TB – A minha profissionalização começou quando acabei o curso de arquitectura. A partir daí deixei de fazer outra coisa para além da música. Os Toranja aconteceram aquando do término do quinto ano já; porém, a minha primeira banda surgiu no terceiro. O lançamento do CD dos Toranja foi então lançado e, a posteriori, iniciei a digressão. Por essa razão não tive tempo para estagiar e só consegui fazê-lo passados dois ou três anos. Acabei o ciclo da arquitectura que era coisa importante para mim e, a partir daí, assumi-me como profissional.

A – Os Toranja surgiram na tua vida por acaso ou era um projecto pensado?
TB – Não, foi por acaso. Pedro Puppe, um amigo que frequentava a mesma turma, na universidade, convidou-me para fazer uma banda. Nessa altura, eu nem pensava em compor; no entanto, ele disse que tinha músicas. A determinada altura comecei, aos poucos e poucos, a escrever. O Puppe ia-me dizendo se o que eu escrevia era muito piroso ou pouco piroso e fui evoluindo até que não tinha sentido o Puppe cantar as minhas músicas. Separamo-nos e despoletou-se o que viemos a chamar os Toranja. Tivemos propostas para gravar discos, logo no primeiro concerto que demos, no Paradise Garage. Entramos num concurso e ganhamos. Aquando dessa participação nem sequer havia banda: não tínhamos baixista, nem um guitarrista de jeito, não tínhamos ninguém. Só que, como havia muito pouca gente a cantar em português, foi uma coisa muito diferente. Tivemos sorte ao irromperem, de imediato, muitas propostas para gravar discos. Nunca andamos à procura, veio tudo ter um pouco connosco.

A – Por falar em cantar em português, em que é que te inspiras para a composição das músicas?
TB – Sempre me inspirei no fado. Considero que o fado é a minha base e nunca deixei de o ouvir. Quando vou viajar, fico quinze dias fora e sinto saudades de ouvir fado. Não obstante, vou buscar influências, se calhar, ao brit pop, aos poetas antigos – como Bob Dylan, Tom Waits, David Bowie.

A – O que é que os Toranja ainda significam para ti?
TB – Tenho a noção que, sem os Toranja, não tinha gravado este álbum. Os Toranja fazem parte do meu percurso como músico. Aprendi muito com eles e penso que foi uma altura muito bonita da minha vida. Paramos na altura indicada.

A – Vários concertos foram realizados com os Toranja; todavia, nesta nova fase, encaras cada concerto como se fosse o primeiro?
TB – Não, isso é impossível por que já tenho muita bagagem. Não fico nervoso – acho eu –, talvez tenha o ar, mas já consigo evitar o nervosismo. Estou numa etapa em que sou muito exigente em relação ao que vou fazer ou não, em relação ao próprio espectáculo e à estética. Por isso, nunca é o primeiro. É um espectáculo que tem os outros todos para trás. Se fosse o primeiro não havia muita responsabilidade e eu, principalmente nos concertos, sinto a responsabilidade. A responsabilidade de dar qualquer coisa ao público, muito mais do que quando estou a gravar o CD. Quando estou a gravar, é uma coisa muito pessoal, ao invés, aquando dos espectáculos, estou a cantar para outras pessoas pelo que é impossível não querer ser competente.

Num projecto diferente, mas igual a si mesmo, Tiago Bettencourt mostra o outro lado da sua musicalidade.
Tiago Bettencourt & Mantha é uma formação, muitas vezes, substituída por a solo. O facto de ter ingressado nos Toranja acolhe no público mais desconhecedor uma denominação que o músico confessa não ser do seu agrado.
Tiago Bettencourt assume que consegue “sozinho fazer versões da músicas que estão no álbum, como também consigo fazer versões de todas as músicas dos Toranja”. Conquanto o que está no álbum não é propriamente o mesmo que faz sozinho, “o que está no álbum são estas músicas com a influência de dois músicos muito bons, intuitivos, expressivos e muito marcantes. Isso percebe-se ao ouvir o álbum, mas, principalmente, nos concertos”, assevera.
Não deixando de marcar a sua posição objecta que assim as pessoas conseguem perceber que não está sozinho e que, dele “não vem tudo”, para além de relevar que gosta “muito de dar valor aos músicos com quem estou a tocar”.

A – O disco de estreia intitula-se “O Jardim”. A que se deve essa escolha?
TB – Teve a ver com a capa do álbum. A princípio começou por ser uma fotografia minha num jardim, em Montreal, local onde o álbum foi gravado. Perto do estúdio situava-se uma escola de crianças com um muro gigante pintado por crianças, no qual se representava um jardim. Por outro lado, no álbum, havia uma música que falava de um jardim. Era para não ter nome e, posteriormente, acabei por lhe chamar “O Jardim”. Achei que tinha piada. Todo o álbum, as letras, o vocabulário, as metáforas têm muito a ver com a natureza – terra, mar, campo, erva, flores –; então, acho que é, realmente, um jardim o álbum. Não havia outro nome.

A – Um disco com 14 músicas que poderemos considerar “canções simples”?
TB – Ando sempre à procura de uma simplicidade, principalmente agora que somos três. Sou muito apologista da simplicidade e de limpar o mais possível para tentar chegar à essência das coisas. Quando há muito barulho não se consegue chegar ao centro das coisas e, nesse seguimento, nada está lá para enfeitar. As coisas estão lá, porque se as tirássemos ficava a faltar qualquer coisa à música.

A – Para quem não conhece este álbum, o que é que poderias dizer acerca dele?
TB – Não sei. Ando também a perguntar aos meus amigos e às pessoas o que é que acham. Posso dizer, somente, o que me dizem não raras vezes: os que gostavam de Toranja ficam a gostar mais disto e as pessoas que não gostavam de Toranja começam agora a gostar disto.

A – Quem é o Tiago Bettencourt neste momento?
TB – Quem é o Tiago? Não faço ideia. Ando aí a fazer umas músicas enquanto me deixam. Enquanto me deixam estar aqui vou cantando, não sendo arquitecto, por que considero que é uma oportunidade. A oportunidade de estar a dizer qualquer coisa às pessoas que nos ouvem é algo que não acontece a toda a gente e temos de dar a devida importância. Vou tentando muito humildemente fazer o meu trabalho.

A – O próximo single sai dentro de 15 dias, mas já podemos dizer o que nos espera o próximo álbum?
TB – Não faço ideia. Penso que, nesta altura, estou a perceber. Antes de gravarmos o álbum não demos concertos pelo que começamos a dar concertos, a 10 de Outubro. Começo a entender o que é este projecto: muito complexo, apesar da sua simplicidade. Os concertos são muito intuitivos. O João Lencastre, baterista, vem do jazz, o Tiago Maia, no baixo, também tem uma maneira de tocar baixo muito diferente e isso tem como consequência um projecto cada vez mais intuitivo. Dessa forma, é impossível dizer o que vai acontecer no próximo álbum, por que não sei como vai ser a nossa evolução. Cada concerto é uma aventura e é completamente imprevisível. Não sei muito bem onde é que isto vai dar, mas vai ser diferente.

Tiago Bettencourt espera ainda vir a alcançar muita coisa. A música é um caminho que pretende continuar a seguir independentemente do “lugar” onde o possa levar. “Noutro dia estive no Coliseu a ver os Interpol. Estava cheio e pensei «deve ser muito giro dar aqui um concerto». Adorava dar um concerto com o coliseu cheio”, revela.
Faz parte dos seus planos enquanto músico a passagem por um grande palco como o coliseu; no entanto, Tiago tem a consciência de que “é arriscado”.
Essa ideia não se lhe desvanece ainda assim. Dependendo de “como correrem as coisas vou para o coliseu”, afiança, “ou então para a Aula Magna que também é giro e já fizemos várias vezes”.
Por entre palcos e espectáculos o elo de ligação é a música e o que “queremos é ter muitas pessoas nos concertos e tocar no máximo de pessoas possível”.
As músicas fazerem parte da vida das pessoas numa “espécie de banda sonora” é a maior ambição de Tiago Bettencourt, um músico multifacetado que se encontra a atravessar “a ponte” da afirmação no “jogo” para a conquista da sua “praia”.

Anabela da Silva Maganinho

Tuesday, December 4, 2007

Rumo à vitória

FC Porto- Benfica: jogo da época 2006/07

O SL Benfica defronta, hoje, o Shakhtar Donetsk para a 6ª jornada do Grupo D da Liga dos Campeões.
A equipa portuguesa tem consciência de que o destino nas competições europeias é ditado esta noite, no Estádio Olímpico de Donetsk, o palco das emoções a dez graus negativos.
Sem Cristian Rodriguez, o Benfica precisa da vitória para prosseguir o trajecto europeu, transitando para UEFA.
José Antonio Camacho quer dar resposta à derrota do fim-de-semana e pretende “demonstrar que somos uma grande equipa e, para isso, é fundamental que consigamos dar uma boa resposta à derrota com o FC Porto”.
O onze ainda não foi anunciado; contudo, Camacho revela que pode não fazer apenas uma substituição “posso fazer mais alguma alteração. Vamos mudar um jogador [Rodriguez], mas não a maneira de jogar. Não é conveniente».Do outro lado, lembro que os ucranianos adiaram o jogo previsto realizar-se no fim-de-semana passado, com o propósito de se apresentarem à equipa da Luz nas melhores condições.
Sem subestimar o adversário, o Benfica vai lutar pela vitória, na Ucrânia, “o Shakhtar é uma equipa muito forte. Já antes do jogo da Luz sabíamos isso. Temos de ter muito cuidado, por que eles trabalham muito e precisamos de estar atentos a todos os jogadores”, salientou Luisão na conferência de Imprensa.

Anabela da Silva Maganinho

Saturday, December 1, 2007

A música no lugar


Tiago Bettencourt, reconhecido por dar a voz à banda Toranja, esteve, ontem, na FNAC do NorteShopping, a promover o álbum de estreia “O Jardim”.
O regresso ao Norte do país ficou marcado por um espaço cheio de fãs, admiradores, ou meros conhecedores de “canção simples”. A música foi inserida no disco por acaso, sendo conhecida como uma «brincadeira».
Durante o showcase, em formato acústico, Tiago quis dar um novo significado à música que poderia ter sido ouvida, no dia anterior, aquando do espectáculo no recinto de Santa Catarina. Um evento que, para ele, era como um “concerto” que, em simultâneo, servira para divulgar esta nova fase da carreira, acompanhado pelos Mantha.
Ao iniciar os primeiros acordes para a melodia “O Lugar”, Tiago Bettencourt frisou que iria ser aquela a faixa a ser ouvida por que “o que interessa, no fundo, é o caminho e não onde se chega”.
Com “Dois” o músico revelou que dentro de, aproximadamente, duas semanas poderemos ouvir o novo single do recente registo.
Ao piano, foram lembrados os “Laços” dos Toranja, cuja letra era conhecida pelos presentes.
O cantor, músico e compositor inigualável confessou: “adoro vir ao Porto, a minha família é do Norte e, por isso, sinto-me em casa”.

Anabela da Silva Maganinho

p.s. estejam atentos à entrevista de Tiago Bettencourt neste blog