Sunday, December 21, 2008

Vitória na mira

Um jogo pela paz

William e Yazalde Hugo Monteiro

O Gil Vicente conseguiu conquistar a vitória frente ao Varzim (3-2), esta manhã, no Estádio do Varzim SC.
Um jogo arbitrado por Pedro Proença que até mostrava mais posse de bola para a formação varzinista, mas que até ao final do encontro a equipa visitante de Barcelos conseguiu surpreender com os tentos à baliza de Marafona.

Os primeiros minutos asseguraram tentativas de expansão do terreno por parte das duas equipas. Aos 3’, o Varzim avança no primeiro remate, mas sem resultado eficaz. Logo de seguida o Gil avança em contra-ataque e consegue um canto, contudo, não se concretiza da melhor forma. Até ao minuto 10, ambas as formações tentam bater-se pela chegada ao golo e o momento mais significativo surge pelo camisola 27 do Varzim, Mendonça, mas as mãos de Marco. O Gil mostrava uma defesa fraca, Yazalde remata novamente, no entanto, as mãos do guarda-redes gilista volta amparar o pontapeado. Ainda assim é o Gil quem parece chegar primeiro ao golo. Ao minuto 16, um remate bem conseguido põe a euforia no galo, mas a equipa de arbitragem compreende fora de jogo ao lance começado de livre por João Vilela. Vinte minutos transcorridos, enceta a essência gilista ao ataque. Canto batido, nada de assustar. Igor Souza volta a ultima, falha na concretização ao golo. Diego Gaúcho segue-se nas tentativas, encaixa na baliza e vale Marafona para o Varzim. Aos 28’, cobrança de livre para o Varzim, na sequência de cartolina atribuída ao Gil, sem resultado visível. O Gil aproveita mais uma oportunidade para atacar. Falta de Alexandre sobre João Vilela. Igor Souza volta a conduzir mais um lance bem conseguido, mal concretizado, pois não passa das mãos de Marafona. Mendonça ensaia um remate para assinalar para o Varzim. Aos 37, é assinalada falta sobre Telmo e o Varzim acaba por aproveitar a sequência de um livre para meter a bola na baliza estreando o marcador. 1-0 para a formação da casa por intermédio de Yazalde que cabeceou directo. O Gil parecia mostrar-se mais ofegante do que o que deveria, afinal estava a perder. Foi então que Hermes aproveitou o ressalto de um colega de equipa defendido por Marafona e faz o Gil igualar a partida no minuto após os 45. Os jogadores recolhem aos balneários e, na subida ao relvado para a segunda parte, parece ver-se um pouco daquilo que se assistiu na primeira parte. Desta vez, pareciam ambas as equipas oscilar entre os rasgões no ataque e o desvanecer do ataque. A posse de bola era repartida e evidenciava-se a luta também impulsionada com as substituições efectuadas por ambas as equipas. Malafaia parece a mais significativa no comando varzinista e a saída de Ivanildo também acaba por ser uma boa opção para os gilistas pelo desgaste do jogador. O Varzim avança no segundo tempo perante um Gil mais passivo e com mais dificuldades em ultrapassar o meio-campo. As faltas tomam conta da partida… é a sucessão. É a equipa da casa quem volta a colocar-se na frente do marcador. O goleiro? Yazalde. O jogador, que tem grandes probabilidades de rumar ao Braga, volta a assinalar um tento para o Varzim. Canto apontado por Telmo e o camisola 14 pontapeia ao golo (72’). Nos minutos subsequentes, o Gil volta a transformar o meio campo, primeiro com a entrada de Hugo para o lugar de João Pedro e depois pela entrada e saída dos vermelhos. João Vilela dá lugar ao também ex-benfiquista João Coimbra. As mudanças em campo não são muitas, mas ao minuto 79’ vê-se o Gil chegar ao empate justamente por Hugo, na sequência de cruzamento de Igor Souza. Dois igual no Estádio do Varzim SC e a euforia extasiante começa a comandar o jogo, visto que ambas as equipas visavam vencer a partida. Perto do minuto 90’, Alexandre acumula amarelos e é expulso, ficando a formação gilista favorecida no que concerne ao número de homens em campo. O Varzim segue o trajecto do Gil e também esgota as substituições. No entanto, a mais valia de superioridade numérica não é um elemento que a formação de Barcelos não deixa de aproveitar e chega assim ao golo da vitória. Rodrigo Galo aponta o canto e William aponta para as redes de Marafona, deixando o guardião sem hipótese de defesa (2-3). Uma vitória ansiada que faz ascender o plantel de Manuel Ribeiro ao quarto lugar, uma posição cada vez mais próxima da cimeira onde se encontra o Olhanense com mais quatro pontos.




Substituições
45’ Nelsinho sai e entra Miran para o Varzim
55’ André sai e entra Malafaia para o Varzim
58’ Ivanildo sai e entra Kalaba para o Gil Vicente
74’ João Pedro sai e entra Hugo Monteiro para o Gil Vicente
78’ João Vilela sai e entra João Coimbra para o Gil Vicente
90’ Nuno Rocha sai e entra Pedro Santos para o Varzim




Golos
37’, 74’ Yazalde
45’+1 Hermes
80’ Hugo
90’+2 William

Cartões:
Amarelos
24’ João Vilela
26’ Pedro Ribeiro
33’ Alexandre
37’ William
73’ Tiago Costa
75’ Kalaba
81’ Hugo
89’ Alexandre


A(s) Figura(s)
Hugo e William pelo Gil Vicente

Anabela da Silva Maganinho

Monday, December 15, 2008

Acreditar na música só por si

Mário Pereira, Ricardo Oliveira, Tiago Ramos e Ricardo Freitas

Os Flirt nasceram para a música nacional a partir de Lisboa, ainda que se assumam como uma banda nacional. Ricardo Oliveira dá a voz ao projecto que conta com Mário Pereira, na guitarra, Ricardo Freitas, no baixo, e Tiago Ramos, na bateria. Um estilo rock cantado em português que Portugal já há muito não via ou, então, tão-somente não queria ver. No entanto, agora o trabalho destes quatro rapazes está consolidado num álbum lançado há quase duas semanas, mas que avizinha o imposto de um seguidor. “Arquétipos da alma” é um composto de onze temas cuja composição ficou a cargo da banda que revela um outro lado das experiências da vida por entre uma sonoridade de ontem, de hoje e, porventura, de sempre a julgar pelos anos em que o rock vigora por entre o espectro musical.
“Um sonho que se vê”, uma utopia transformada por mérito próprio em realidade, quatro indivíduos que lutam pela mostra daquilo que se afigura como a paixão de sempre agora mais retratada num só conceito: Flirt.


Anabela (A) – Flirt, vão começar por me explicar como é que surgiram, onde é que nasceu a ideia de formarem esta banda em particular com ideias fundadoras no fundo.
Ricardo Oliveira (RO) –
Eu e o Mário já somos compinchas destas andanças há alguns anos. Começamos como bandas de covers e depois encetamos algumas experiências com originais. Os projectos até então não tinham dado muito certo, mas continuamos a fazer música juntos. Alguns temas que fazem agora parte do “Arquétipos” vêm desse período e já têm alguma história.
Mário (M) – Mas em fases diferentes.
Ricardo Oliveira (RO) – Tem a ver com esta fase precedente aos Flirt. Em 2006, achamos que estava na altura de experimentar fazer a coisa soar à séria e decidimos sair do armário. Primeiro convidamos o Freitas, um amigo nosso já de longa data, com quem ainda não tínhamos partilhado nenhum projecto musical. Finalmente ingressou o Tiago que era um amigo do Freitas. Assim se compôs o ramalhete. Os temas não estavam totalmente fechados e eles trouxeram o seu contributo, o seu cunho pessoal. Portanto, os Flirt são, realmente, quatro pessoas, ainda que alguns temas já tenham uma história anterior ao projecto propriamente dito.
A – Introduzem a página do myspace por dizer que “os Flirt são, finalmente, um sonho que se vê”. Era, efectivamente, esperado o lançamento do disco, uma espécie de primeira consagração do vosso trabalho?
RO –
Era.
M – Essencialmente, os Flirt são a consagração de um sonho. A concretização dos anos que estivemos juntos a trabalhar nos projectos que tivemos e da vontade de fazer um projecto credível. Pretendíamos a consecução de um projecto que fosse algo com que nos orgulhássemos, embora os outros não fossem para deitar fora.
RO – Tudo o que temos conseguido tem sido às nossas custas. O nosso CD é uma edição de autor e tudo aquilo que temos conseguido conquistar desde que o colocamos cá fora – até alguma coisa em termos de produção –, temos sido nós a empurrar com a barriga, como eu costumo dizer. Logo, considero que já podemos dizer, só por esse aspecto, que tem mérito.

O gosto pela música brotou desde cedo e Ricardo chega mesmo a assumir que “quando estava na quarta classe cantava uma música dos Grease numa festa de Natal”. Uma lembrança que faz surtir comentários em jeito de graça por parte dos outros membros.
Dos projectos anteriores fica a lembrança de projecto e a experiência num trajecto até porque “não é nada assim com muita história”, como menciona Ricardo. Trabalhos que enriqueceram o som de um todo e que fazem parte de um trajecto normal “todas as pessoas que tocam vão para os bares, fazem uns covers, depois vêm os primeiros originais, depois gravas a maqueta, depois juntas um dinheiro para tentar gravar um cd com meia dúzia de temas, depois a banda acaba, depois fazes outra”, recorda Mário.
Dois rapazes de Lisboa que se uniram em prol de um objectivo e trouxeram consigo todo um desígnio com Tiago, da Golegã, e Ricardo que acaba por estar repartido entre Lisboa e o Porto, visto que trabalha na Invicta. “Temos trabalhado em Lisboa, mas somos uma banda nacional”, assevera Ricardo.

A – E porquê a escolha do nome Flirt para a banda?
RO –
Costumo dizer que é um dos meus passatempos favoritos e é um nome que representa bem a nossa relação com a música. Penso que as coisas nunca iriam para a frente, com as dificuldades todas que sabemos que se colocam, se não houvesse uma paixão assolapada, se não houvesse uma grande sedução pela música e, por isso, o nome acaba por representar bem este sentimento de encantamento.
M – Dar o nome a um projecto é sempre um desafio extraordinário. Todos nós damos dez ideias e todos os outros votam noutras dez ideias; portanto, é uma tarefa inglória. Houve um dia que o Ricardo, numa das viagens Lisboa-Porto, me telefonou e disse: “arranjei um nome porreiro para nós e é Flirt”. E, a partir desse momento, foi consensual: Flirt é um grande nome, é uma palavra só é pequenina e todos percebem. Foi unânime, pela primeira vez votamos todos a favor.
A – Em relação à vossa música, disseram, durante o showcase na Fnac de Santa Catarina, que é rock. Um rock mais no regresso às origens ou um rock mais modernista?
RO –
Não tenho bem a certeza. Para ser muito honesto, agora, na fase em que estamos a fazer promoção e a dar a conhecer a música às pessoas, é que estamos a pensar mais sobre o assunto. Penso que, sobretudo, é um rock muito instintivo, muito primitivo, que nos sai naturalmente. Estamos a concentrar os esforços na promoção do “Arquétipos da Alma”, mas continuamos a compor novas músicas sem nenhum tipo de preocupação estética. Estão a sair dentro da mesma onda deste primeiro álbum, o que significa que é um rock traduzido num som muito honesto. É muito difícil catalogá-lo. Temos gostos diversificados, se calhar algum dia com maior influência do rock dos anos 90; todavia, eu ouço muito hard rock dos anos 70, sou grande fã dos Led Zeplin, Deep Purple… Sou mais influenciado por estes dois tipos de música que acaba por ser um bocadinho o som dos Flirt.
M – Não temos preconceitos nenhuns ao dizer que tocamos rock. Queremos que seja moderno, queremos que seja actual. Sim, faz todo o sentido. Não somos surdos, nem cegos, nem parvos para não lermos as influências que nos rodeiam, mas, essencialmente, não temos vergonha de dizer que fazemos rock, rock à moda antiga com guitarras altas, bateria a bater com força, etc. Não temos medo de nos assumirmos neste projecto que é a concretização de um sonho. Se é a concretização de um sonho tem de ser vivido com toda a emoção e com toda a paixão.

A – No que concerne à composição, vocês compõem as músicas e as letras. O que é que surge primeiro: a letra ou a sonoridade?
RO –
Sempre a música. Começa por uma improvisação, a malha de guitarra…
M – Eu não consigo parar de compor. Estou sempre a criar novas ideias, novas estruturas com a música e preciso estar sempre a deitar cá para fora qualquer coisa. Funciona um pouco por substituição, algumas vão fora, o que é bom sinal pois significa que colocamos algum controlo de qualidade nas músicas. Estamos a lançar este disco agora, estamos a fazer os concertos nas Fnacs, e já temos quatro temas novos. Estamos a pensar no segundo trabalho e não paramos de compor.
RO – E agora a mais valia é sermos quatro pessoas a pensar. Porventura numa determinada altura éramos só os dois, hoje em dia estes «moçoilos» estão aqui, estas «carinhas larocas» que tem muito valor acrescentado a estas ideias que surgem.

A – Em relação à composição das letras, o que vos ressalta para inspiração, para a própria composição das letras?
RO –
A maior parte das letras sou eu quem as faço. No disco existem apenas duas excepções que são o “Culpado” e o “Num imenso céu voar” que são de um amigo nosso, Mário Guerreiro. É difícil explicar de onde vem a inspiração, mas penso que tem a ver com experiências e com sensações. A ideia é dar um certo toque intimista a este som rock. Falo sempre de coisas que têm a ver comigo e de experiências pelas quais vou passando.

A – «Porque é assim que queremos e nos materializamos no espaço. Porque cada palavra tem mais significado na língua em que é vivida». Este excerto foi retirado do my space, então porquê a escolha de cantar em português quando grande parte das bandas opta por cantar em inglês ou até canta em português, mas sem descartarem o inglês?
M –
Não podia ser de outra forma. Tomamos a decisão de cantar em português há meia dúzia de anos já num projecto de originais. Tentamos gravar o EP com alguns temas e a banda acabou aí. Aí a decisão já era cantarmos em português. Cantar em português faz sentido até porque há uma pequena diferença: todas as bandas rock cantam em inglês. E quem é que faz rock em Portugal? Nós queremos fazer em português.
RO – Cantar noutra língua nem sequer foi uma alternativa. Há duas motivações em cantar noutra língua que não a portuguesa: uma delas é a perspectiva de uma carreira internacional, quando na maior parte dos casos são músicas cantadas em português as que singram; a outra perspectiva é a questão do preconceito que costuma haver uma vez que cantar em português acaba por expôr muito mais as pessoas. Percebemos o que se está a dizer. Temos, inclusive, a experiência de tentar traduzir algumas letras de inglês para português e verificamos o susto que é. (risos). Portugal é conhecido como o país dos poetas. Não estou a dizer que o que nós fazemos é poesia, isso é demasiado eclético da minha parte, mas acho que diz bem.

A – Falaste em poetas e lembrei-me agora de uma palavra que vocês usam no site que é «utopia». «Cada canção é a concretização de uma utopia realizada em conjunto» é uma frase vossa, qual a razão da utopia?
RO –
Um pouco por causa do que eu estava a dizer. Acredito que quando se fala de letras isso é mais óbvio. Chamamos ao nosso álbum “Arquétipos da Alma” e os «arquétipos» significam ideias, conceitos, formas de dizer a realidade. A «alma» representa aquilo que acreditamos que sejam as nossas músicas: retratos da maneira como as coisas acontecem a nossa volta. Acredito que mesmo a composição musical acaba por ser a transposição de um sentimento que vai estar dentro e a utopia é um bocado essa. Pretendemos ser, acima de tudo, honestos e transparentes com o nosso trabalho.
M – Exactamente, daí o facto de dizer que algumas coisas deitamos fora. Honestos também na forma como entregamos e como queremos dar a nossa música às pessoas: com rigor e com qualidade. Queremos, essencialmente, ser honestos e transparentes com as pessoas.

A – E o que é que pretendem passar através da música?
RO –
Espero que as pessoas se divirtam. Considero que a essência do rock é um bocado essa, a boa disposição e o puxar para cima.
M – No princípio, quando começámos a pensar em gravar tivemos o cuidado de pôr tudo para dentro do disco. Gravámos o disco todo, trabalhámos num ambiente de estúdio caseiro para ouvirmos as músicas a amadurecerem, e tínhamos aquela posição de que estávamos a fazer aquilo porque era algo que queríamos deixar gravado se as pessoas gostassem muito bem, se não gostassem tudo bem na mesma. A posteriori, conforme o projecto foi crescendo, decidimos gravar um disco a sério, num estúdio conceituado e pensamos que o facto de as pessoas dizerem que gostam da música é muito mais interessante do que dizermos que vamos tocar para nós. Queremos chegar às pessoas, principalmente. Ver alguém dizer no nosso myspace ou no nosso blogue ou no nosso site ou o que for, “gostamos da vossa música”, “a vossa música é fixe”, “transmite energia positiva” ou “identifico-me com a letra a ou com a melodia b” para nós é uma alegria tremenda. Quer queiramos quer não, os artistas vivem das palmas e nós queremos sentir as palmas.

A – «Os Flirt lançam os Arquétipos da Alma, mas têm a coragem de não pôr as culpas a ninguém», a quem é que poderiam ser atribuídas culpas?
RO –
Isso é uma forma de exprimirmos esta determinação que acaba por ser um bocado individualista. Não temos o direito de chorar por não sermos apoiados. Essa foi uma decisão também nossa. Decidimos não andar a bater às portas de ninguém, decidimos fazê-lo por conta e risco porque, desta maneira, salvaguardávamos aquilo que, para nós, era o mais interessante – a nossa identidade, o nosso som e aquilo que queríamos fazer.
M – Ninguém nos poderia dizer «não está na moda», «muda isto»… Não!
RO – Sabemos que corremos o risco do nosso som não ser o mais actual, aquele que passa nas rádios, não temos um dueto com ninguém famoso… e sabemos que isso pode ser uma condição para não chegar a um maior número de pessoas possíveis e imaginárias.
M – Quer corra bem ou mal, as decisões foram nossas e nunca vamos poder culpar ninguém. Fizemos como quisemos e como achamos que era o nosso caminho.

A – Ao ler isto interpretei que se tivessem a referir ao panorama da música portuguesa actual?
M –
A indústria da música é uma coisa que está a mudar a uma velocidade vertiginosa. Os artistas deixaram de ganhar dinheiro a vender discos. Os artistas dão os discos, os artistas ganham com os espectáculos; portanto, a indústria da música é uma coisa que vai eclodir, vai rebentar. Primeiro tem estruturas pesadíssimas, pessoas que, algumas delas, digamos são pagas a peso de ouro e, de um momento para o outro, os artistas, que são os seus ovos de ouro, colocam os discos na internet, já para não falar de mp3, pirataria e outras transformações que a tecnologia vem a permitir. A indústria está-se a redefinir e queremos ir pelo nosso barco.

Com um bom ambiente de banda, os Flirt têm meio caminho andado, como eles próprios afirmam. “Arquétipos da Alma” é uma aposta pessoal que concretiza um sonho e comanda um futuro mesmo quando «a razão podia tremer, agora já sabemos a que árvore subir. Editámos este álbum porque nos queremos cruzar com destinos que teimam em existir e não ser apenas uma história que fica por contar». Excertos que os quatro rapazes redigiram online que tem que ver com “a aspiração de qualquer pessoa que faz música ou que se exprime de outra maneira qualquer [que] é conseguir tocar lá num sitiozinho qualquer das pessoas”, de acordo com Ricardo. O vocalista dos Flirt esclarece que “ninguém faz as coisas só a pensar no seu umbigo e claro que o reconhecimento externo é sempre importante. Agora nós podemos tê-lo através da música que fazemos, mas também podemos tê-lo de outra maneira que é as pessoas olharem para nós e dizerem: estes gajos foram pessoas que conseguiram lutar contra as adversidades e conseguiram concretizar uma coisa que desejavam”.
Ultrapassadas as vicissitudes que se colocavam como entraves até ao momento, as barreiras parecem por si transponíveis e isso é uma “compensação muito boa. Sabíamos o que queríamos traçar e eu não estou a ver quem nos consiga parar. Porque independentemente do impacto que as músicas tenham nas pessoas nós fazemos música de uma forma instintiva e vamos começar a fazê-la mesmo que ninguém goste”, remata.

As ambições parecem não ser inalcançáveis e a vontade de vencer perdura nesta banda. Uma elação que Ricardo Freitas ilustra: “enquanto banda a ambição é chegarmos onde nos deixarem. Iremos continuar a trabalhar, a fazer as nossas coisas independentemente do que digam. É um sonho que todos nós temos”. Para o baixista, o grande sonho enquanto Flirt é “por exemplo chegar a um grande festival, muita gente. Sou adepto das massas. Haja saúde e para a frente é que é caminho”. Por entre os imensos nomes a designar do panorama nacional e internacional, o desejo de actuar com os Xutos e Pontapés é concorde até pelo marco que a banda de Tim deixa no rock português. Tiago Ramos não deixa de destacar que estão “todos no mesmo barco queremos é remar todos para o mesmo lado. Portanto, a ideia, de facto, é que esta banda vá para a frente e consiga o seu estatuto no panorama musical nacional”. Uma aspiração comandada pela forma como encaram esta presença. Ricardo Oliveira afiança que vão “continuar a dar luta, vamos dar passos do tamanho das nossas pernas” e continua “como eu dizia há pouco, a nossa determinação tem-nos feito chegar até aqui”. A audácia daqueles que gostavam “de deixar na música nacional uma pegada que fosse pelo menos um décimo do que os Xutos e Pontapés deixaram”, como refere Mário.
Os projectos vindouros sintetizam-se em “tocar, tocar, tocar”. A promoção está agora a começar e o propósito de levar a música às pessoas é o objectivo primordial do momento. Flirt é o nome que vai dar que falar, pois sentem logo existem e o «fim do mundo» deixou «de os atormentar».

Anabela da Silva Maganinho