Wednesday, July 25, 2007

Um grande senhor da música. Ponto!

Will Souto – O (re)conhecimento de anos na Música



Will Souto é oriundo de Minas Gerais, apesar de ter sido criado em Salvador da Bahia. Músico, compositor e produtor veio a Portugal por obra do acaso e desde há quatro anos que permanece em terras lusas.
A curiosidade de conhecer o povo que aprecia a sua música moveu-o e continua a despoletar no brasileiro a vontade de ficar e divulgar mais do seu trabalho, por Portugal. Admite que tem feito maior promoção no norte do país, mas o objectivo é mostrar um trabalho de anos iniciado no Brasil e manter a sua afirmação no panorama musical.
Realista, aventureiro e lutador é como podemos caracterizar este cantor que opta por viver da música em Portugal, quando no seu país poderia exercer um importante cargo profissional, que o faria ganhar mais sob o ponto de vista económico. Confessa que é a música que realmente o satisfaz e que se sente feliz em ser como é.


A - Como é o Will, na sua concepção? Como se caracteriza?
WS – Sou música e alegria. Respiro música vinte e cinco horas por dia. Sou compositor, produtor e tenho muitas músicas minhas gravadas. No Brasil, existe um compositor, Tonho Matéria – com quem tenho gravadas imensas músicas -, que hoje regressou aos Olodum. Ele é cantor desta que é uma das melhores bandas de percussão do mundo, tendo já gravado com Paul Simon, Michael Jackson, Jimmy Cliff, Tina Turner, Peter Gabriel entre outros. Por isso caracterizo-me como música e alegria, destinando-se a minha música para as pessoas dançarem e se divertirem.

A - Como surgiu o projecto Will Souto? Era já algo pensado e ambicionado?
WS – Não foi um projecto pensado. A minha família sempre foi uma família musical - o meu pai tocava e cantava, mas, na verdade, eu não sabia o que era ser músico até porque eu era modelo. Iniciei o meu percurso no meio artístico como modelo e a música apenas veio por um acaso. Eu cantava em festas e outros eventos, as pessoas iam gostando; contudo, nunca cheguei a assumir a música profissionalmente. Quando cheguei do Iraque, para onde tinha ido trabalhar como Engenheiro técnico de fabricante, e surgiu a oportunidade de cantar para as pessoas, em bares e em espectáculos, e as pessoas gostaram. Nesse momento, pensei em considerar a hipótese de assumir a música como profissão.

Acerca do seu trabalho, Will Souto refere “Ainda não construí, da música ou com a música, tudo o que quero”, mas admite “Já fiz muita coisa pela música e ela também já fez muito por mim. Vivi muitas emoções, especialmente no meu país”.
É uma realidade que o nosso país, quando comparado com o Brasil, é um país muito pequeno. Will, tem consciência disso e de que “as possibilidades de apresentação do trabalho que realizamos tornam-se pequenas”. Explica algumas das causas “Uma das razões é o clima. O calor incide substancialmente sob quatro meses de Verão, de calor que é quando as pessoas se mostram dispostas a ver espectáculos e eventos musicais. Isso diminui a possibilidade de nos apresentarmos e nos mostrarmos ao público.”. Em contrapartida, “no Brasil tive muitas oportunidades: gravei todos os programas de televisão que existiam, realizei concertos, viajei pelo país inteiro, e ainda para fora do meu país em digressões (América Latina, Itália, ...)”.
Portugal surgiu na sua rota como por eventualidade “Estava previsto eu ir para o Japão, mas o meu irmão, que é coreógrafo, veio a Portugal e falou-me muito bem do país e do gosto dos portugueses pela música da Bahia e pelo axé. Quatro músicas minhas estavam a tocar aqui na voz de outros artistas com grande sucesso. Vim para Portugal para conhecer e acabei por ficar”.
O mais curioso é que Will nunca pensou permanecer tanto tempo no nosso país. As oportunidades apareceram e acabou por se firmar. “Fiquei em casa de alguns amigos brasileiros que jogavam em clubes portugueses. Eles levaram-me a um estabelecimento onde brasileiros e portugueses iam. Nessa casa, que tocava samba, resolvi ir cantar um pouco a convite das pessoas. No dia seguinte estava contratado. A partir daí foram aparecendo trabalhos e contratos para eventos de Verão. Fui ficando até hoje. Vou ao Brasil de quando em vez e acabo por regressar. Apesar de Portugal ser pequeno, a comunidade brasileira neste país é grande e as pessoas adoram a música brasileira. Sinto-me bem. Tenho aqui uma filha e quero que ela aprenda um pouco da cultura dela para depois aprender um pouco da do país do pai”.

A - Como foi o início da sua carreira como cantor?
WS – No Brasil, temos uma coisa muito importante e muito valorizada que é a vida nocturna. As pessoas saem do trabalho e dirigem-se a um bar, para uma explanada das seis até às nove horas da noite - é o happy hour. Nessas horas, nos locais referidos são contratados músicos para fazer o happy hour. O meu começo foi esse. Posteriormente, comecei a tocar na noite mesmo em bares com pista de dança, nos quais se toca tudo o que há no Brasil, que confina uma variedade de estilos musicais. Dessa variedade surte um repertório muito amplo, para que se possam atender gostos distintos. Foi a minha melhor escola musicalmente falando.

A – Tive a possibilidade de ouvir o seu CD de promoção. Esse é o único Cd de acesso em Portugal?
WS – Quando comecei a gravar programas de televisão em Portugal, senti a necessidade de fazer algo mais recente, pois o que eu trouxe do Brasil foi o meu quarto álbum “Deusa de Itamaracá”, gravado após eu ter saído do grupo Remix Samba. Na época em que vim para Portugal constatei que o meu trabalho com seis anos poderia estar desfasado. Resolvi, então, gravar, num estúdio do Porto, este Cd single com quatro músicas e com um curto making of - no qual falo das músicas, da minha carreira no Brasil e das parcerias artísticas - com o intuito de me apresentar e divulgar um trabalho mais recente. Esse CD serviu como cartão de visita para os media portugueses.

As influências musicais de Will Souto são toda a música negra, doravante, no seu país, “o que é chamado de música negra ou R&B não entra com tanta força uma vez que dá primazia à música brasileira. O samba e o axé são as origens, a música do povo que a Ivete Sangalo, o Araketu, os Jota Quest e o Chiclete com Banana cantam, fazendo com que se arraste uma multidão. A minha maior inspiração musical é uma fusão de ritmos negros americanos com a música negra brasileira (afro-pop)”.
Mencionei, precedentemente, que para além de músico e produtor, Will é compositor e, não obstante, compõe músicas que constituem verdadeiros êxitos no Brasil.

A - Compõe algumas das suas músicas. Em que se baseia?
WS – Se for para expressar alegria tem muito a ver com o samba, que é para as pessoas dançarem e esquecerem da vida, tal como enuncia a música De Banda: “Vai começar (...) de banda (...),jogando os braços pro ar, na palma (...)”. A música diz aquilo que as pessoas podem fazer naquele instante. Quanto a músicas românticas baseiam-se na minha vida, naquilo que eu já vivi. Pode ser acerca de um grande amor, que pode ter corrido bem ou nem tanto, de sentimentos, de vivências.

A - O que pretende atingir através da música?
WS – A música, para mim, é alegria. O que é significativo é passar alegria e emoção para as pessoas. Por entre baladas e músicas de dança a música tem o poder de transmitir essas sensações e, inclusive, mensagens positivas e esperançosas.

Para além de sucessos conseguidos no Brasil, Will começa a ser reconhecido em Portugal. As suas músicas podem ser ouvidas nas rádios nacionais e o público pode ter conhecimento das músicas e do rosto de quem canta, nas suas passagens pela televisão.

A - O tema “ De banda” encontra-se em promoção nas rádios portuguesas. Como se processa a divulgação?
WS – Como referi anteriormente, Portugal é um país relativamente pequeno, pelo que a divulgação do meu trabalho foi feita por mim. Não há necessidade de haver uma empresa, de carro dirijo-me às rádios, que ouvem e escolhem as faixas e, no caso de estarem interessados, começam a executá-las nas rádios. Todavia, tenho trabalhado mais a região norte.

A – Está satisfeito com a divulgação que está a ser feita?
WS – Portugal não consome o produto português, o que é mau. Não há uma preocupação em colocar a música portuguesa em maior destaque, com o compromisso de levar música portuguesa aos portugueses. Desta forma, a minha música, cantada em português, teria uma maior abertura na Rádio nacional. Gostava que povo português tivesse mais acesso e conhecessem mais a minha música, mas, infelizmente, isso não acontece e temos que nos preocupar com o dia-a-dia que compreende a nossa própria sobrevivência.

Concertos brasileiros incita-nos à imagem de um “mar de gente” a ver e a vibrar com o artista, com as músicas e com todo o ambiente que se gera em redor.
Fãs que depositam toda a sua energia e uma entrega total nos artistas que admiram ou, simplesmente, pessoas que gostam de se divertir, tem como consequência a adesão de milhares num mesmo local. A afluência é mais que muita e a euforia instala-se.
Em Portugal, tivemos já algumas amostras daquilo o que estamos a falar, contudo, como Will salienta são culturas diferentes o que implica distintas formas de se expressarem.

A - Como são elaborados os seus concertos e como os caracteriza?
WS – Costumo trabalhar com uma banda de seis a sete elementos. Dois percussionistas, bailarinos, bateria, guitarra, teclado, baixo, eu no violão e, por vezes, cavaquinho. O meu espectáculo é praticamente um trio eléctrico. Embora o palco esteja parado, a energia é a mesma. É o samba, o axé, o reggae e as pessoas são seduzidas pelo momento e entregam-se de corpo e alma às duas horas de concerto que realizo.

A – Estamos a falar de milhares ou até mesmo milhões de pessoas a assistir. Há uma adrenalina ao subir o palco?
WS – As primeiras quatro músicas abrem as portas do meu acesso ao público que está à minha frente. Nesses dez minutos são abertas as minhas portas, o meu mundo e as pessoas fazem o mesmo, dando permissão para que eu entre no mundo delas com a minha música. A aproximação e o contacto que permitem a participação e a interacção do público e com o público.


A - A sua música direcciona-se para um público específico?
WS – A música por si própria não tem idade, não envelhece. Pode depender do momento, do local envolvente, para quem está a ser feita a música...; contudo, a música não tem idade. Determinada música pode ser mais para adultos mas até as crianças podem ouvi-la e dançá-la.

A - Em que diferem as fãs portuguesas das brasileiras?
WS – Têm uma diferença muito grande, o que tem a ver com a cultura. As brasileiras vivem um clima diferente, uma cultura distinta. Não têm vergonha de nada e falam o que pensam. As portuguesas, às vezes, querem dizer, porém, a cultura não permite. Foram educadas dessa maneira. Mas fã é fã e, em qualquer parte do mundo, é evidenciada a sua manifestação, mais ou menos contida.

A - Qual a parte mais significante em se ser cantor?
WS – O mais significante é poder passar alegria e mensagens para as pessoas. Conseguir provocar a emoção e identificação com determinada música ou circunstância. Transmitir o real do quotidiano.

A - O mundo musical é avaliado muitas vezes pela aparência dos artistas. Considera que há uma imagem a manter e cuidar? Qual a sua imagem? Que cuidados costuma ter em particular?
WS – Sou um pouco vaidoso. Costumo cuidar-me. Faço bastante exercício para me manter em forma. Não sei qual a imagem que tenho, tenho a imagem com a qual me sinto bem. Ao estarmos bem connosco, sentimo-nos alegres e conseguimos passar essa vibração positiva para as pessoas.

A – Uma última questão é a seguinte: veio para Portugal encontrou aquilo que procurava?
WS – Não vim à procura de nada em Portugal. O meu irmão esteve aqui e disse que a minha música era executada e foi quando eu decidi vir para cá ver e estudar a possibilidade. Cheguei num dia, no outro fui contratado e fui ficando. Acredito que ainda poderei fazer muito musicalmente. No meu país, vivi grandes emoções com a música e não acredito que haja a necessidade de ir em busca de alguma coisa. Todos procuramos sucesso, o brilho que a música pode dar, ver o nosso nome a ser divulgado, mas não tenho obsessão. Um artista á artista por si próprio independentemente de ser divulgado pelos media ou não. A partir do momento em que vive daquilo e fá-lo com amor é artista, dentro do seu conceito. Eu adoro ver as pessoas felizes, a identificarem-se com o meu trabalho.

Relativamente a projectos para o futuro, Will reserva-nos pelo menos uma surpresa “Para Portugal, queria fazer um disco com todos os sucessos. Tenho muitas músicas gravadas no meu país e gostaria de aglomerar os sucessos num CD. Não tenho qualquer obsessão, relevante é fazer o Cd independentemente de serem milhões – se assim for tanto melhor - ou centenas”.
A sua vontade de continuar a cantar e o gosto pelo que faz são componentes que marcam o seu cariz “Quero é continuar a cantar. Que as pessoas me conheçam e que eu possa continuar a mostrar o meu trabalho, mas se tiver o prazer de sentar no meu banquinho e tocar viola e cantar para cem ou duzentas pessoas como faço. Amo o que faço e quero a possibilidade de fazer isso sempre”.
Actualmente, podemos encontrar Will no restaurante “O Brasinhas”, em Leça do Balio, todas as quartas, sextas e sábados à noite. Canta diversas músicas brasileiras como Martinho da Vila, Fábio Júnior e “Mesmo que seja roupagem de outros que cantaram no Brasil”, dá-lhe um imensurável prazer que se pode tornar indescritível.





Anabela da Silva Maganinho









São pessoas como esta, que têm valor e que nos proporcionam grandes momentos. Dão-nos a conhecer a personalidade atenta, o profissionalismo emocional e a atitude de nunca desistir, mas sim lutar pelos sonhos e pelo que querem verdadeiramente de si consigo, e para com outrém: o público.

2 comments:

Anonymous said...

Will, além de uma grande amiga do passado, sou uma pessoa que sempre torci para que seu valor fosse reconhecido, e estou muito feliz em saber que está sendo valorizado como merece...
Um beijo no coração cheio de saudades...

Anonymous said...

Além de muito apreço que tenho por este homem, vejo nele um grande exemplo de humildade, sinceridade e honestidade. Conheci-o o ano passado no restaurante onde ele actua todos os fins-de-semana e sinceramente acho que, mesmo fazendo aquilo que ele mais gosta e que lhe dá o maior prazer, é pouco, muito pouco para ele. Merece todo o sucesso, todo o respeito, e um lugar melhor no panorama musical nacional e internacional.
É uma pessoa que admiro muito, com um enorme talento e um excelente coração.
Além de o ter conhecido na circunstância em que foi (aniversário da minha irmã, festejado no tal restaurante), a música dele ficou-me no ouvido e pedi-lhe o contacto para actuar no meu casamento.
Ele actuou. Todos os meus convidados ficaram, como eu, extremamente felizes com a presença dele, e devo dizer que é um EXCELENTE PROFISSIONAL, e não tenho qualquer problema em escrever com maiúsculas, porque sei que ele é.
Para vocês, me despeço com amizade, e para o Will, um grande abraço e muita força para o teu SUCESSO!