Wednesday, July 11, 2007

André Sardet: dez anos de carreira repleto de grandes êxitos




André Sardet um nome familiar a todos os portugueses que, por isso, dispensa apresentações.
Com um percurso musical distinto e uma carreira invejável, este cantor e músico apresenta o seu mais recente disco “Acústico”.
Dez anos após a estreia com “Imagens”, este álbum mostra-se repleto de grandes êxitos, em formato acústico, que se foram ouvindo por terras lusas. Gravado no teatro Gil Vicente, em Coimbra, o CD reproduz a música de todo um concerto, acompanhado pela gravação em dvd de três temas.
A experiência de André Sardet já conta com uma longevidade significativa. Participou noutras experiências musicais, apesar de ser a solo que esta figura de renome nacional tenha conseguido, efectivamente, enveredar pelo seu propósito com mérito próprio.
Aproveitando a sua passagem pelo Porto entrevistamos André Sardet sobre o passado e presente que abarcam uma década de sucesso e, não obstante, sobre o futuro vindouro deste profissional da música.

Anabela (A) – Um novo álbum, algo muito esperado por parte dos fãs. Numa primeira instância, por não editar um álbum há cerca de três anos o que gerou expectativa, acrescido ao facto de ser um álbum em formato acústico o que cativa mais, sem dúvida. Quer-nos falar um pouco acerca deste trabalho?
André Sardet (AS) – Este é um álbum que sempre quis gravar. Gosto muito de álbuns ao vivo, especialmente no formato acústico, por ter a ver com a forma como componho e por aproximar as músicas da sua essência. Era mais uma teimosia, um velho sonho, e foi por essa razão que, pela primeira vez, investi num álbum meu. Acredito neste projecto há muito tempo. Estava prestes a comemorar dez anos de carreira e, então, achei que deveria lançar este álbum, cumprir esse sonho antigo. Aparecer com ele todo pronto (desde a capa, as músicas, os arranjos, tudo pronto) à editora e dizer “está aqui, agora vamos fazer um acordo para o promover e distribuir”. É a grande diferença em relação aos outros álbuns.

A – Esteve alguns anos ausente dos palcos e das gravações. Como apaixonado pela música a que se deveu essa paragem?
AS – A paragem apenas é atribuída como tal, porque as pessoas não me vêem tanto. Estas coisas não se param: a música e a composição estão dentro de mim e não as travo, não tenho um botão no qual carrego para desligar e ligar. Não sou muito produtivo, no sentido de não ser regular. Ou seja, tenho fases de composição brutais, em que sou capaz de compor trinta ou quarenta temas num ano, e fases em que estou dois ou três anos sem compor. Já me habituei a lidar com isso e não fico muito preocupado quando não componho. Mas este “não aparecimento” não se deveu a nada de concreto.

Surgiu no panorama da música nacional em 1996 com um projecto a solo, embora tenha ingressado num outro tipo de projecto precedentemente. Ainda assim, os anos que percorre no caminho traçado pela música são conseguidos com luta e dedicação àquilo que faz. Podemos dizer que o balanço de todos estes anos ao serviço da música é positivo, “É muito positivo. Se assim não fosse não estaria aqui ao fim de dez anos. Teria arrumado as botas e a viola, direccionando-me para outra área. Isto é, verdadeiramente, o que gosto de fazer, bem mais desta forma do que aquando da iniciação. Comecei com um grupo de bares a tocar covers, agora canto as músicas que escrevo e componho, tendo isso um sabor diferente e muito especial ao mesmo tempo.”
Deparamo-nos com uma evolução no repertório de André Sardet, progresso esse que o próprio detecta referindo “a minha própria personalidade foi-se construindo e isso tem um reflexo muito evidente na música que componho por ser um pouco autobiográfico. Penso que, à medida que os anos foram avançando, também fui edificando a minha identidade musical. É quase como que a minha impressão digital musical, se quisermos. Isso é, certamente, o que me orgulha: criar um espaço na música portuguesa e constatar que as pessoas ouvem a minha música e decorridos apenas três/quatro segundos percebem que é minha. Essa era a grande ambição desde o início.”
Voltamos aos primórdios da sua carreira para sabermos se tal feito era pensado por algum instante. André Sardet confessa que continua enquanto fizer sentido. Nunca conjecturou qual iria ser a duração da sua permanência nesse mundo, movendo-o o amor pela música “Desde o início que não quis ser mais um na música portuguesa e tinha isso bem delineado dentro da minha cabeça e desafio quem quiser ouvir e/ou ler as minhas primeiras entrevistas. Evidentemente, tentei não escolher o caminho mais fácil. Empenhei-me em reconstruir alguma coisa sólida e foi o que tentei fazer. Aconteceu tudo de forma natural, nunca pensei se iria ter dez ou vinte anos, considerei que devia cá andar enquanto fizesse sentido.”

A – Qual o momento mais significativo vivido até hoje?
AS – Em termos musicais são vários. Realizo-me quando ouço as pessoas a cantar as minhas músicas. Seja isso num lugar como a FNAC - com cem ou cento e cinquenta pessoas -, ou num recinto onde estejam presentes três mil pessoas. Lembro-me na Expo 98 quando toquei. Estava com dois anos de carreira e encontrei-me diante de um mar de gente a cantar “Azul do céu”. Um concerto que continuo a ter na minha memória, ainda que não me sinta cantor e músico de grandes massas. Prefiro cantar em salas pequenas onde me encontro mais próximo do público.

Dez anos de êxitos, palcos diversificados, públicos distintos e o reconhecimento que, às vezes, não é tanto quanto o merecido. Um dos temas de início de carreira de André Sardet mencionava um “lugar para ficar”. Perguntamos a André se encontrou já o seu porto seguro onde possa ficar. Atenciosamente, conta sob uma abordagem retrospectiva o quão curioso é “que editei neste álbum “Acústico” uma música que se chama “A balada da estrada do sol” que é um tema que compus em 1994 e, na altura, eu via-me como uma criança numa estrada à procura de um raio de sol, não de um lugar ao sol. Eu queria ser iluminado para ter uma carreira e era assim que eu me via. Portanto, penso que todos os dias temos que procurar esse lugar, todos os dias temos que trabalhar para isso porque isto pode ter uma ascensão muito rápida mas também pode ter uma queda abrupta e com consequências trágicas. Por isso, é preciso trabalhar todos os dias e é isso que eu faço.“
“Quando eu te falei em amor”, “(o amor é assim) Nasce sem se ver”, “Foi feitiço” são algumas das grandes músicas ecoadas pelo público. Temas que nos suscitam a atribuir a classificação de romântico realista a André Sardet. É de todo uma dedução errada “Sempre fugi desse rótulo”, e explica “penso que falo de coisas mais abrangentes. Um romântico fala só de amor, eu não falo apenas disso. Às vezes, dou a volta às letras para as tornar mais leves; contudo, posso não estar a pensar naquilo que as pessoas julgam ao interpretarem as letras; todavia, aquilo que está na origem das músicas não costumo revelar.”
Anos de experiência que não deixam de se traduzir referências musicais, uma vez que “se me tornasse na minha própria influência, penso que estaria a castrar-me”. Podem ter mudado algumas das influências; porém, continuam referências que sempre o acompanharam “tive grandes referências na minha adolescência que a certa altura achei que me traziam semelhanças na composição.”, e continua “Esse é talvez um dos momentos marcantes que incidiram entre o segundo e o terceiro álbum. Actualmente, não se presentificam as semelhanças, mas somente influências que não renego, tais como Jorge Palma, Luís Represas, Rui Veloso, Sting. Influências que perduram e pessoas que continuo a ouvir muito atentamente.”

A – No que concerne a experiências de dividir o palco já o fez com expoentes da música como Luís Represas a título de exemplo (que celebra trinta anos de carreira). O que significou esse acontecimento?
AS – Numa noite em que eu comemorava dez anos de carreira e, portanto, era um momento de felicidade e de partilha de emoções com muitas pessoas. Não podia prescindir de ter em palco uma das pessoas que mais me ajudou pelos conselhos e pelo respeito demonstrado ao longo destes dez anos. O Luís tinha de estar no palco nessa noite, eu fazia questão, e tive uma honra muito grande em tê-lo comigo.

A – Nas músicas denota-se um ambiente de confidência. Qual a inspiração ao compor?
AS – Essa é a frase certa. A composição ajuda-me a resolver os meus problemas. É o meu comprimido, o SOS. Não há motivos de composição todos iguais. Componho quando algo me inquieta, aquando de uma situação que me incomoda ou logo que observe alguma coisa em outrém ou em mim.

A – Pensei que a sua cidade – Coimbra – fosse um local de inspiração. Disse em entrevistas a outros media que é um local onde se sente bem pela tranquilidade e por estar perto da família…
AS – A composição, para mim, tem de ter um lado de muita calma, paz interior e disponibilidade mental. Tenho que acordar com as músicas e dormir com as mesmas na cabeça e no coração, é um pouco assim que tem de acontecer. No tempo em que componho, durante dois ou três dias deambulam coisas dentro de mim que depois acabam por sair. Essa é a razão pela qual gosto de viver em Coimbra, porque consigo essa paz, calma e tranquilidade.

Luta pelos seus objectivos e pelas injustiças que cercam a sua actividade – a música. Defende o seu amor que “É mais do que uma paixão, mais do que um feitiço” pelo qual enveredou. Acompanhado pela guitarra que não tem necessariamente de ser a sua eterna confidente; no entanto, que “é o instrumento que mais uso, apesar de gostar muito do piano.” Como na vida, tudo “tem fases e tenho fases em que componho ao piano e outras em que componho à guitarra”.

A – “Há que jogar para ganhar ou perder… para viver também acho que há que fazer pela vida” este é um excerto de “Aos papéis”. É um lutador que defende a profissão e a música, considerando que há que se fazer pela vida para singrar?
AS – Claro que é. Não se pense que é chegar, ver e vencer. Tem um lado de trabalho e de persistência e, sobretudo, penso que é a última o segredo do sucesso. Não querendo avaliar se tenho ou não sucesso, sei que sou persistente. Luto pelos meus objectivos e pelas minhas ideias sempre.

A – De todos os temas, se tivesse de escolher apenas um, sobre qual recairia a escolha?
AS – Não conseguia. Fiz uma selecção e escolhi dezasseis, imagina pedires-me para escolher apenas uma, é complicado não consigo.

A – Mas não há nenhuma música que marque, realmente, a tua carreira?
AS – Determinadas músicas marcaram a minha carreira, porque as pessoas fizeram com que tal acontecesse. “Azul do céu” e “Foi Feitiço” são exemplos de músicas muito marcantes. O single deste álbum “Quando eu te falei em amor”, inserido numa novela, será mais um tema que assinalará a minha carreira.


A – “Perto mais perto” é umas das primeiras músicas que integram a sua obra musical e que, inclusive, incluiu neste álbum. Está agora mais perto de si do que outrora esteve?
AS – Estou. Inicialmente, era tímido e inseguro e isso tem se esvaindo ao longo dos anos, no presente sinto-me mais seguro.

A – O que pretende alcançar no futuro? Há algo muito esperado que ainda não tenha conseguido? 20/30 anos de carreira?
AS – Não. Essencialmente, o que pretendo é andar nesta vida com dignidade. Não quero perder a noção do ridículo. Espero manter-me aqui enquanto tiver alguma coisa para dar. Quando eu e as pessoas constatarmos que nada mais proporciono, tenho
mais é que me reformar e fazer outra coisa qualquer, não sei o quê.

Ficamos a saber um pouco mais da personalidade e das metas de André Sardet, músico, cantor humano que triunfa com o seu jeito de ser e com o modo de encarar a vida num mundo de batalhas árduas; contudo, de conquistas gratificantes para quem idolatra aquilo que faz. Mais do que um dezena de resultados em crescente que contribuem para o enriquecimento do panorama da música portuguesa.



Anabela da Silva Maganinho

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