Tuesday, July 24, 2007

Este foi um dos grandes momentos de gozo, porque fui das primeiras a fazer-lhes uma entrevista:)

Um EU a ser descoberto


Vasco, Rui, Ricardo e Jorge
EU é a palavra que dá nome a uma banda recente constituída por quatro elementos da zona norte do país. O Jorge (baterista), o Ricardo (teclista e a cargo da guitarra) e o Vasco (guitarra) são oriundos de zonas circundantes ao Porto e o Rui (vocalista) é de Guimarães.
Este grupo demonstrou que têm a vontade de dar muito pela música portuguesa e que há um fundamento ao fazê-la: alertar as pessoas através de mensagens que cada música pode ter.
O grupo EU surgiu em Julho de 2002. Eles explicam como tudo começou Nós os três - Vasco,
Rui e Jorge -, sem o Ricardo, fazíamos parte de um outro projecto, que chegou ao fim. Chegamos então à conclusão que haveriam outras coisas que gostaríamos de fazer mas com outra identidade (dar prioridade ao nosso Eu).
A escolha deste nome não me parece vinda ao acaso, foi um nome pensado que tem, relativamente, a mesma origem do nome do EP “Átomo”. É o princípio de tudo. Cada um de nós está aqui com o seu Eu. Com e pelos seus interesses, por aquilo que quer ser e fazer. Formamos um Eu, o Eu que apresentamos para toda a gente, a todos aqueles que vão ver os nossos concertos. – como refere o Vasco.
Como podemos constatar todas as pessoas ouvem algo que acata determinados estilos. Os EU também têm as suas referências. Cada elemento tem um estilo próprio que se complementa ao fazerem a sua música.

Anabela – Quais são as vossas referências musicais?
Jorge – As minhas referências são diversas, desde o dance ao jazz, passando pelo rock. Mas tento abranger o máximo de estilos possíveis. Só há dois, os que eu gosto e os que eu não gosto.
Rui – Tive uma formação mais portuguesa, se assim poderemos dizer. Quando era mais novo, talvez por influência do meu pai, ouvia muito mais música portuguesa do que estrangeira. Daí possa advir o facto de escrever em português. Posteriormente, comecei a alargar o leque e ouço de tudo. Depois é como o Jorge diz “é o que gosto e o que não gosto”.
Vasco – O Rui é o dono das coisas deprimidas. (risos)
Ricardo – Ouço muito o rock dos anos 80... Dire Straits, Pink Floyd e Mark Knoffler, entre outros. Seguidamente dão-se tendências que eles me vão impingindo. (risos)
Rui – Agora tendo mais para o rock embora tenha uma formação Dire straits, Pink Floid, tal como o Ricardo, que ajuda nos ambientes e nas melodias. Contudo, a minha formação é, claramente, uma formação muito mais de rock e hard rock.

A – Em que medida é que essas referências podem influenciar a vossa música?
Rui – Penso que a influência é total. O nosso som contém muito de rock, ou seja, uma espécie de rock português. Temos ao nível do som o rock, um rock que se faz lá fora, porém, cantado em português. Só isso faz uma ponte com tudo aquilo que ouvimos.
Vasco - Começa no Rui e, a posteriori, cada qual dá o seu toque. Há temas que são mais direccionados para o rock e outros um pouco mais para o lado íntimo e para a voz e a guitarra. Depende a quem queremos dar primazia.

Como eles mesmos referiram, a classificação da música que fazem é de pop rock português. De uma certa forma este estilo pode não ser um bom conceito mas é uma boa definição para a música que mostram ao público. O Rui comenta que Por muito que se queira fugir ao catalogar é essa a melhor atribuição. Quando o nosso EP estiver à venda estará, provavelmente, em música portuguesa e pop rock. Não deixa de ser popular.
Tem o seu sentido porque por mais que façamos um rock mais barulhento... - complementa o Vasco - não deixa de ser pop, pois as melodias são cantadas e não gritadas. Elas são criadas e em português. O que acho que, normalmente, transmite um maior acesso à melodia do que se fosse em inglês, uma vez que, a maior parte das pessoas não percebe o que é dito.
Actualmente, a música realizada no nosso país é, muitas das vezes, em inglês. Utilizam a língua universal porventura de se fazer chegar a um público diverso, embora nem sempre seja esse o resultado. Muitas pessoas, em Portugal, não entendem outra língua que não a de origem, no caso o português, pelo que, ao ouvirem em inglês não significa que não gostem, mas concluímos que não sabem nem percebem aquilo que é dito.

A – De encontro ao que referiram, qual é o motivo para a escolha da língua portuguesa, quando cada vez mais bandas portuguesas decidem optar pelo inglês?
EU – Considero que cantar em português é fundamental para as pessoas perceberem a nossa mensagem. Podíamos cantar em inglês, todavia, penso que as pessoas não prestam tanta atenção ao que se está a cantar. Em português há sempre alguma coisa à qual se vai prestar a atenção.
Jorge – O “I love you” não tem a mesma força e a mesma seriedade que “Eu amo-te”.
Vasco – É muito mais sério e muito mais profundo do que as músicas em inglês que acabam por entrar e sair. A mensagem que queremos transmitir passa muito mais facilmente em português do que em inglês.

Os EU encontram-se a promover o seu EP de estreia Átomo. Realizaram uma espécie de show case na FNAC do Norte Shopping e irão actuar ao vivo em Santa Catarina e em Gaia nos próximos dias. O EP ainda não está à venda mas, em breve, poderemos encontrá-lo nas discotecas. Falamos já um pouco dele e daquilo que os EU sentem em relação ao público que ouve já a sua música, assistindo a concertos ou a actuações ao vivo.

A – Átomo é o vosso EP de estreia. Qual a receptividade que esperam por parte do público?
EU – A fase do EP é muito complicada por ser uma espécie de pequeno cartão de visita que dá muitos passos mas que não dá para fazer uma história inteira tal como um álbum. Com um álbum consegue-se fazer uma história inteira com nexo. Num EP apenas podemos mostrar aquilo que sabemos fazer, o que está em nós. Já estamos a trabalhar no sentido daquilo que queremos para o álbum e estamos no caminho do “vamos virar para onde?!”. Entendo que o EP mostra o potencial, que é importante, e que vai ter receptividade, penso eu. Para já está a ser muito bom. As pessoas querem-nos conhecer, os CDs vão-se vendendo... Está tudo a correr bem por mais que seja no início. Já contamos com os amigos, os amigos e familiares dos amigos que gostaram e, inclusive, já ouvimos pessoas que não conhecemos a dizerem que têm o nosso Cd. O que nos deixa orgulhosos.


A – Na sequência de falarem que existe uma mensagem, o que é que pretendem passar para o público?
Vasco – Acordá-lo. A ideia da mensagem tem duas vertentes muito vincadas: a vertente pessoal e a que tem a ver com a sociedade. A vertente pessoal são os temas que têm a ver com a dor, com o muito pessoal de cada um - cada um vai sentir de maneira diferente, depende do que vai buscar da sua vida. Quanto aos temas que têm a ver com a sociedade, aí reside a ideia de acordar. Se conseguirmos que pelo menos uma pessoa tome consciência do que faz ou não, sentir-me-ei mais do que bem comigo próprio.

A – Há algum público em específico para o qual a vossa música se projecta?
EU – É diverso. Muitos são familiares outros não o são. Podem compreender idades entre 50 a 60 anos e outras os 15 anos.

Os EU, enquanto banda, deixaram evidente que o seu pragmatismo, estão bem conscientes daquilo que abrange o mundo em que estão a entrar. Desempenham, por enquanto, actividades complementares à música, visto que ainda é todo um início, contudo, já se detecta um objectivo que não persiste em muitas bandas, o não querer perder a autenticidade.
É uma banda com princípios comuns, numa carreira que será conjunta, Enquanto banda são princípios de alguma comunhão, relativamente à sociedade. De abordar as pessoas, de que as pessoas tomem consciência de que podem ser mais, tal como nós. As músicas servem tanto para fora como para dentro. As músicas mais íntimas também detêm um princípio, o princípio de partilha. – salienta o Vasco.
As ambições são algo muito diverso no panorama musical e particular de cada um. Há quem ambicione num campo mais vasto ou quem se cinja por aquilo que é capaz de atingir.

A – Quais são as vossas ambições futuras? O que é que esperam alcançar?
Vasco – No que concerne à banda, a minha ambição é a de continuar. E se continuarmos é sinónimo de que estamos a melhorar. Penso que há uma semelhança enquanto banda e enquanto pessoa que é ser maior, ser melhor. Fazer algo que faz sentido.
Rui - Ser melhor amanhã do que aquilo sou hoje.
EU – Com o objectivo de chegar ao máximo de pessoas possível.

Sabendo que podiam revelar tudo aquilo que consideram como ambições, os Eu não querem apontar as expectativas para além daquilo que sabem que podem conseguir, apesar disso, não esconderam que gostariam de fazer a primeira parte de um concerto do qual vários poderiam ser os nomes a extrair, com quem gostariam de actuar. O Rui chega a afirmar Em Portugal, se uma banda conseguir dar um concerto de estádio, sozinha, é uma loucura. Isso é uma ambição.
Ficamos então a conhecer um novo grupo constituído por quatro EU que se reúnem num primórdio comum do qual se avistam conquistas.


Anabela da Silva Maganinho

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