Thursday, May 22, 2008

Israel pela Nação


Adriano Moreira marcou presença no ISLA, de Vila Nova de Gaia, na passada segunda-feira, numa oratória repleta de sabedoria, experiência e conhecimento, em torno dos 60 anos de independência de Israel.

Lencastre Godinho (director Académico), Adriano Moreira, Artur Villares e Adriano Vasco Rodrigues (responsáveis pelo CECOM)
A iniciativa partiu do centro de estudos de Israel, Médio Oriente e Mediterrâneo, que o instituto possui, e se mostrou muito honrado com a comparência do professor, outrora ministro do governo de Salazar.
Voltar ao pós-guerra, ao sofrimento do holocausto evocando a paz na organização da Nações Unidas foi o que Adriano Moreira discutiu num discurso esclarecedor do conflito israelo-árabe do qual não há vencidos, nem vencedores, mas sim dois povos com direito à integração que precisam de um mundo sem «unilateralismos».

Na retrospectiva no tempo
Adriano Moreira reflectiu sobre os sonhos remotos que revestiam o povo judaico. Um povo que “representou o princípio da internacionalização”, de acordo com o professor, com a pretensa de regresso a Jerusalém. A unção das gerações, numa visão prospectiva, que “do ponto de vista da reorganização ocidental se traduzia numa impressão da relação das diásporas com as sedes políticas originárias”.

O Holocausto
Um massacre que extinguiu com povos distintos acabou por culminar num grande marco da história mundial. O terror que afectava a Europa traduzia-se numa Europa envolvida por humanos “afligidos pela situação de desastre em que se encontravam”. Nessa instância, “não foram claramente favoráveis em receber e integrar esses deslocados o que ajudou a firmar a conclusão de que a situação apenas seria resolvida com a criação do Estado de Israel”, advoga Adriano Moreira. A elação parece suspensa no tempo tal como a imagem de toda a guerrilha e matança que recordamos quando recuamos no tempo.

O pós-guerra a título de um protagonista: a Inglaterra
Inglaterra acabou por estar envolvida nos anos subsequentes à segunda grande guerra. De acordo com Adriano Moreira, “em 1948, abandonou a palestina que recebia os judeus à sonhada casa. Abandono que marcou o início do enfrentamento sangrento entre judeus e árabes que dura até aos nossos dias”. “O conflito entre hindus e muçulmanos implicou o massacre de centenas de milhares de pessoas”, rememora.
Porventura de toda a sucessão de acontecimentos, a opinião pública deu o seu parecer e, com base nos acontecimentos nazis, emitiram opiniões que culminaram “no grande motor da decisão de proceder à criação do Estado de Israel [que] foi o conhecimento do holocausto”, assegura Adriano Moreira. Tal criação não apenas se limitou a conciliar “os que se opunham ao regresso dos deslocados aos antigos estados de acolhimento como apaziguava a indignação geral perante o mal que tinha sido praticado”.

O papel da ONU
A ONU é um ponto central na tentativa de término do conflito; no entanto, aquilo que Adriano Moreira atenta é o facto de “o projecto da ONU nunca logrou em efectivar-se”. Na sua concepção poderia ser um passo para um «modelo» de “cidade livre poderia ter prestado serviços indispensáveis” no sentido de encontro entre culturas, mas, sobretudo, entendimento e cooperação. Porém, até então a ideia não foi propagada e o recordo com que vivemos é aquele que reveste à “fixação das fronteiras sempre sagrada pelo derramamento do sangue”, alude.
O Estado dinamizador de uma nação, como menciona Adriano Moreira, está inserido num enquadramento em que a “ONU ainda foi organizada só para Ocidentais” e onde apenas “a ordem dos pactos militares é que estiveram em vigor durante 50 anos”, revela. Uma concordância dispare constante que acerca gerações que não sabem o que é a paz, porque não a chegaram a conhecer, que aponta para “a grande intervenção com as organizações especializadas” que as Nações Unidas comandaram.
Adriano Moreira chama atenção para a incontornável conjuntura, instituída até ao momento, que nos projecta a imagem de pessoas que vivem em condições que “ofendem a Declaração Universal dos Direitos do Homem” e, “enquanto esta situação continuar a paz manter-se-á instável e o dever da ONU e dos seus membros estará por cumprir”, lamenta.
“A mudança anda mais depressa do que a nossa capacidade de alterar os conceitos” e o projecto da ONU insere-se nessa constatação visto que “não se executou, porque a ordem da ONU nunca entrou em vigor”.

A Europa
O professor catedrático aponta uma correcção para o cenário contemporâneo: “unilateralismo não pode continuar”, afirma. Num espectro de alargamento da Europa em que “não há programa prévio de governabilidade cada vez que alargue”, nem “a definição de fronteiras amigas” impossibilita a progressão uniforme. No entanto, Portugal pensou nos países de “fronteiras amigas”, termo da preferência do orador, ao organizar a Cimeira de Lisboa, e esse exemplo devia ser também conduzido por outros países para que não vigore a ideia de países inimigos ao invés dos vizinhos. Nesse sentido, “a Europa [que] é uma região carente – não tem matérias-primas, não tem energia, não tem de mão-de-obra” poderá conseguir a “força tranquila” de que precisa. “Enquanto isso não acontecer, a paz, julgo, andará longe da nossa vida”, conclui.


O terrorismo
O terrorismo que teima em rodear o mapa do território global é um problema discutido por faculdades, por cimeiras ou conferências, ou tão-somente na mesa de cada um. Todavia, o debate não tem chegado perante os incidentes que têm vindo a acontecer. Este fenómeno que “mata inocentes por sistema” parece não ter fim. A finalidade é só uma “quanto mais inocentes matar mais o seu objectivo está alcançado” e, dessa forma, consegue-se quebrar “a confiança da sociedade civil e a relação de confiança com os governos”, considera Adriano Moreira.
O professor tem uma opinião que, a priori, parece contraditória, no que concerne às Nações Unidas, mas a verdade é que “se o mundo está mal, sem Nações Unidas estaria pior”, assume e como “espelho do mundo” que são “não há possibilidade do mundo mudar a imagem”. Verdade é que não nascemos ensinados e, por isso, vamos aprendendo, pelo menos, porquanto é um lugar “no mundo onde todos falam com todos e o diálogo é fundamental”, assevera.
As armas de destruição maciça têm de acabar e o “saber já não nos falta, o que falta é ética. A obrigação moral de cumprir”. Um patamar que é preciso atingir, ou melhor, conquistar, que se for alicerçado pela procura “da pré-constituição mundial”, que Adriano Moreira acorda que “ou se organiza ou a guerra não pára”.
Adriano Moreira partilhou a sapiência de décadas num instante de recuo, não estratégico, mas temporal, que afirmou ideias, confirmou teorias e perspectivou a imagem do futuro tardio que Israel e a Palestina querem viver e que “a guerra está no coração dos Homens” não deixa.

Anabela da Silva Maganinho

Artur Villares, Adriano Moreira, Adriano Vasco Rodrigues

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