Wednesday, October 24, 2007

Uma década segura em mãos

Sérgio Mendes, Rui David, João Luís, João Coelho

Os Hands on Approach (HOA) marcaram o regresso ao Porto com a apresentação do novo álbum “10 anos – Casino da Figueira”, em formato acústico, o quarto registo da banda. Este disco reúne êxitos de uma década, tendo os HOA aparecido no panorama musical no ano de 1996.
Rui David estava a tocar com amigos numa praia do Algarve quando começou por suscitar o interesse de um animador de Rádio. O vocalista decidiu formar então uma banda da qual viria a fazer parte o irmão, João Luís. Mais dois amigos foram convidados para integrarem a formação e, assim, os quatro rapazes puderam ouvir-se e ser ouvidos na Antena 3, estúdio onde a banda de Setúbal se estreou.
Por entre um circuito de EP’s e contactos para editoras os HOA conseguem, mais de um ano depois, dar o grande passo: a gravação do primeiro álbum, intitulado “Blown”.
Já com o guitarrista Sérgio Mendes, o primeiro registo, datado de 1999, vendeu mais de 38 mil cópias, atribuindo-se a “culpa” ou não ao sucesso do single My wonder moon.
No ano subsequente, “Moving Spirits”, o segundo álbum, já se encontrava nas discotecas e um ano de digressão circunscreveu o percurso dos Hands on Approach. Uma torne que fê-los ganhar experiência e crescer enquanto músicos para que, em 2003, estivesse na forja o terceiro álbum de originais.
O contrato de dois álbuns que tinha sido estabelecido com a editora estava concluído, pelo que estavam perante uma editora independente. A banda teve a “oportunidade de participar mais activamente no processo criativo”.

Após a inserção de músicas como “A Chance” ou “Let’s be in love” na série televisiva “Morangos com Açúcar”, a banda liderada por Rui David consegue o feito de se afirmar cada vez mais no mundo da música com “10 anos de carreira”.

Anabela (A) - O que vou levou a lutar por este projecto que, no fundo, é um sonho?
Rui David (RD) – Penso que acabamos por descobrir o gosto pela música. Quando gostamos de uma coisa damos o máximo e vamos até ao fim. E foi isso, o que começou por ser algo meio por acaso, por que foi a tal “descoberta” feita por um locutor de Rádio quando eu estava a tocar na praia. Na altura, eu tinha uns temas novos, mas era tudo muito amador. A partir do momento em que formamos a banda e começamos a tocar e a compor mais músicas apercebemo-nos que era aquilo que, realmente, queríamos fazer.
A – Era verdadeiramente neste mundo que queriam ingressar ou havia outras áreas que despertavam a curiosidade?
RD – Cada um tem, e sempre teve, outros projectos que gosta também; porém, a música encetou num papel tão importante na nossa vida que, a certa altura, tivemos de nos dedicar a ela a cem por cento. Ainda bem que o fizemos. Acho que estamos no sítio certo.

Os HOA contam com um vasto repertório de canções em inglês, não obstante, às letras em português que mostram uma sonoridade diferente. Nenhuma razão justifica a escolha de uma das línguas; contudo, o vocalista da banda assume que “é por uma questão racional, mas também por uma razão irracional”. Pode parecer uma afirmação antagónica pelo que Rui David explica “que é uma questão meramente artística, uma escolha artística, que tem a ver com o facto de sempre termos ouvido mais música anglo-saxónica”. “Não pensamos se vamos fazer uma música em português ou inglês, as coisas vão saindo. Hoje em dia continuam a ser temas cantados em português, a questão de não estarem no disco é simplesmente uma questão de selecção que temos que fazer”, assevera o cantor.
De acordo com a opinião do irmão João “ há um processo criativo, que se processa na maior parte das bandas, aquando da composição de uma música em que a música vem primeiro e a letra é um pouco acessória”. O guitarrista assume, também como compositor, que “a letra serve para dar um contexto aquelas melodias que acabamos por descobrir.” Deste modo, tentam criar uma melodia vocal e compor com uma língua que faça sentido; no entanto, João admite haver “ pessoas a escreverem maravilhosamente bem em português e nós não sentimos nenhuma obrigação patriótica para compor em português”.

A – Na língua lusa ou anglo-saxónica, o que representa para vocês a música?
RD – Considero que aqui possa ser também uma coisa muito particular. A minha vida, neste momento, é só música. Tudo o que faço tem a ver com música e, portanto, é quase um modo de vida, uma maneira de estar na vida.
João (J) – Uma forma de expressão.
RD – Acaba por ser também um refúgio, porque é na música que estou no meu país das maravilhas.
J – É um pouco isso. Independentemente de termos outros interesses ou não - e a maior de nós tem interesses noutras áreas -, a música é sempre um sítio para onde fugimos e estamos com os nossos pensamentos e com as nossas ideias e com as nossas emoções. Lá, nesse cantinho, sentimo-nos mais próximos e livres como pessoas e como artistas.

Uma década decorreu sobre a iniciação dos HOA. Rui David e João recordam a primeira performance, na Antena 3. Um evento que hoje é habitual ser feito por bandas, especialmente na fase de produção, há dez anos foi tudo menos normal. Por entre um sorriso, os irmãos confessam em coro: “não, não foi normal”.
Rui lembra o efeito contrário “a actuação foi emitida em directo para o todo o país e estávamos muito nervosos. Acabou por não correr tão bem como gostaríamos”
Uma observação que é feita pelos músicos em geral, porque tal como João refere “nunca correm”. Ainda assim ambos concordam que “foi inesquecível, talvez das actuações mais inesquecíveis que tivemos”. “Principalmente pelo facto de nunca termos tido esse tipo de condições para gravar e tivemos boas condições”, assevera João e continua Rui dizendo que “o ambiente de estúdio para nós era uma novidade e foi espectacular”.
Ao saberem que estavam a tocar para o país inteiro sentiram “um pouco essa responsabilidade” e, “o mais engraçado foi que uma das músicas que tocamos foi o original Tão perto, tão longe. Posteriormente, ouviram a música tocar na Antena 3 muitas vezes “e isso também foi importante para a nossa decisão de continuar com a banda”. Foi aí que viram que “havia interesse e aquilo que estávamos a fazer era especial”.

A – Como foi a primeira vez que ouviram a vossa música a tocar na Rádio?
RD – Foi um sentimento muito estranho e, ao mesmo tempo, de satisfação, como é lógico. Quando ouves a música na Rádio fazes uma espécie de retrospectiva de tudo o que fizeste e pelo qual passaste. Pensamos que valeu a pena todo esse esforço e toda a dedicação.
J – Hoje vínhamos no carro a ouvir a música e o primeiro instinto foi logo “muda aí”, porque estamos tão fartos [refere com um sorriso]. Porém, não ficamos indiferentes ao que estamos a ouvir e temos consciência que outras pessoas também ouvem o nosso som, o que acaba por ser gratificante.

O álbum de estreia foi produzido por Darren Allison, que colaborou com bandas de renome internacional como Skunk Anansie, Spiritualized e Divine Comedy, alcançou a platina. Um registo que atravessou o Atlântico rumo ao Brasil, onde foi lançada a edição dupla.
Nesse ano [1999], tornaram-se a banda revelação da música portuguesa e a sua dimensão despoletou na realização de quase uma centena de actuações.
Poderíamos dizer que, subsequentemente, à apresentação os HOA só somaram, mas Rui e João não avaliam o trajecto dessa forma. “Não, a partir daí foi muito trabalho”, garantem os músicos “muito suor; portanto, aquilo não foi nada garantido”.
Rui David ainda destaca uma curiosidade em relação aos primórdios “aconteceu aquela coisa curiosa com o My Wonder Moon, um tema que suscitou alguma indecisão de o inserir no disco e teve o sucesso que teve e ainda continua a ter. É engraçado pois teve quase para não entrar no disco”. Para os músicos que integram a banda “era um dos temas que não fazia sentido colocar no disco; todavia, as pessoas de fora tem uma outra perspectiva e fizeram-nos ver que era um bom tema e que devíamos pôr, declara João “ não estávamos preparados para o sucesso nem era previsível. Aliás, penso que ninguém prevê o sucesso. Era o mesmo que dizer que o sucesso se consegue produzir, e ninguém consegue fazê-lo”.

A – Hoje, passados dez anos, o que é que mudou na vossa vida, na vossa música e nos concertos que apresentam?
RD – Considero que o que mudou mais foi a nossa forma de estar, hoje em dia, na música. Crescemos como pessoas e, inclusive, crescemos como músicos. Temos uma certa insatisfação crónica em relação àquilo que fazemos, ou seja, queremos sempre melhorar. Penso que isso é óptimo, uma vez que nos faz evoluir e saber de forma mais consistente aquilo que queremos. Isso facilita especialmente no processo de composição dos temas ou até mesmo a gravar. Somos uma banda mais madura e a nossa música está mais madura e mais desenvolvida.
J – Quando saíram discos sentimos uma certa responsabilidade. Temos um disco cá fora ou vários, como é o nosso caso, e já há um certo número de pessoas que ouviram a nossa música, gostaram, compraram. Há, então, sempre a responsabilidade e o respeito. Tentamos transmitir isso nos nossos concertos ou quando nos abordam na rua. Por isso temos de ter essa responsabilidade para retribuir com alguma atenção e igual respeito o apreço que as pessoas têm pela nossa música e por nós. Acrescido àquele sentimento de divertimento por fazermos aquilo que gostamos.
A – Quanto a referências musicais, ainda há referências que influenciam na música que fazem?
RD – Sim, tudo o que ouvimos acaba por nos influenciar e temos um pouco esse “cuidado” involuntário. Ouvimos muita música de todos os estilos possíveis e imaginários. Tentamos estar um bocado a par daquilo que se faz hoje em dia e isso, quer se queira quer não, acaba sempre por influenciar. Estou agora a ver uma salada [no ambiente de trabalho de um computador], e é um pouco isso que vai nas nossas cabeças: uma salada de música – dos vários géneros, formatos e feitios – que, aquando da composição, vamos buscar os bocadinhos que queremos.

A – Então é nisso que te inspiras quando compões as músicas?
RD – A inspiração é outra coisa. A inspiração é a forma como depois dispomos a salada. A inspiração vou buscá-la às experiências que tenho na minha vida no decorrer do dia-a-dia, designadamente os sentimentos, as emoções. Não consigo explicar muito melhor. Vem algures daqui de dentro – não sei de onde – e sai espontaneamente.

A – Qual mensagem a passar através da música?
RD – Tento falar um pouco naquilo que são essas experiências, nos meus sentimentos e emoções, que se revelam na minha forma de ver a vida.
J – Como indivíduos à medida que crescemos e temos consciência do mundo que nos rodeia temos um pouco a tentação de tentar transmitir alguma mensagem sobre as coisas que nos tocam e que mexem connosco. Contudo, os HOA nunca foram uma banda de intervenção, no sentido em que nunca foram uma banda que quisesse transmitir determinada mensagem através de uma canção. Uma das qualidades da banda tem sido essa. Uma pessoa que ouve If you give up ou My wonder moon identifica-se com a letra, porventura, por uma experiência que teve na vida, mas outra pessoa que ouve a mesma música e pode ir buscar outro aspecto com o qual se identifica. Quando uma letra consegue fazer com que cada indivíduo torne a canção como a sua própria história, acho que o objectivo está conseguido.

João encara “o problema das canções de intervenção [como] canções muito direccionadas e muito fechadas no seu formato”. O músico revela que “por acaso, neste último disco de originais, que estamos a fazer, tem uma música talvez das mais “intervencionistas” que escrevemos, mas foi também por puro exercício estético e de diversão”. Um álbum que chegará às discotecas no próximo ano “está quase a acabar, é o que podemos dizer, mas estamos super entusiasmados com o trabalho”, refere João e Rui acrescenta “sobretudo, queremos deixar amadurecer mais”.
A vantagem da banda é “termos o estúdio nosso em Setúbal o que nos dá, pela primeira vez, a serenidade para compor as coisas com calma. E isso é bom”.

A – Estamos numa Era em que é difícil permanecer no mundo da música. Há muitas bandas a falar desta falta de apoio, porque entram e não se conseguem afirmar. Qual a razão para conseguirem lutar e sobreviver nesse mundo já há dez anos?
J – Temos de ser honestos connosco próprios naquilo que fazemos, é essa a principal razão.
RD – Gostar daquilo que se faz é o essencial.
J – Penso que as bandas que sobrevivem ao longo dos anos são as bandas que fizeram isso. Se há uma mensagem que podemos passar para bandas ou músicos que se estão a formar é essa. Não devemos fazer porque está na moda. O que é realmente importante é fazermos aquilo que sentimos que é verdadeiro.
RD – Sermos nós próprios.
J – O nosso segredo, se é que é segredo, no “sucesso” até agora tem sido esse: mantermo-nos fieis àquilo que somos e nunca ir atrás de nada só porque alguém nos diz.

A – Efectivamente a dificuldade está na promoção e divulgação. Vocês ressentem-se ou não têm grandes dificuldades nessa realidade?
RD – Actualmente a promoção tem uma parte importante naquilo que é o sucesso ou não de determinado projecto. Porém, temos sempre a consciência de que a música é o principal. Se tiveres uma boa música com pouca promoção, podes chegar longe; se tiveres uma má música, podes ter a maior promoção do mundo e, se calhar, não vais a lado nenhum. O que não quer dizer que não tenhamos já sentido o que é uma boa promoção e o que é uma má promoção. Já sentimos isso. Mas também não é uma parte que nos diga muito respeito. Preferimos dedicarmos à parte musical.
J – Reconhecemos que há uma certa dificuldade em fazer passar a palavra – há muitas palavras a serem passadas – felizmente que existem muitas bandas novas a aparecerem, com muitos trabalhos. O mundo é cada vez mais competitivo nesse aspecto, pelo que as bandas não estão quatro anos sem gravar um disco. De dois em dois anos ou de ano a ano gravam um disco e, quando há muita informação para passar, é difícil. Há sempre alguma que fica por passar. O nosso desafio ao fim de dois anos é encontrar meios alternativos para fazer passar essa mensagem, seja pela Internet ou pelo contacto directo com pessoas nos nossos concertos, tentar comunicar das mais variadas formas possíveis.

A – Ainda continuam com uma editora independente, certo?
João – O disco que está agora nas lojas é quase produção nossa na totalidade. Licenciamos o disco para ser distribuído por uma editora; porém, se formos a pensar na realidade somos os editores e, neste caso, a Farol (a editora) está licenciada para distribuir o disco. O mercado está a caminhar para uma maior independência das bandas, pelas razões que toda a gente sabe, e como já andamos nisto há alguns anos, se calhar, estamos um bocadinho há frente disso nesse aspecto de tomarmos conta do nosso trabalho. Vamos ver o próximo disco como será.

A – E isso surte efeitos na vossa sonoridade?
J – Não, não tem a ver. Reflecte-se mais na nossa serenidade e na nossa confiança, no nosso envolvimento com o trabalho que fazemos, e isso é importante para nós. Dá-nos mais a sensação que isto é nosso; ao passo que, quando lançamos um disco por uma multinacional, há sempre aquela sensação de que o nosso trabalho foi expropriado por uma grande companhia. É essa a única diferença, porquanto a nível artístico nunca deixamos de fazer as coisas por estarmos numa multinacional.
A – Estamos a falar em gravações, qual a fase que vocês preferem: estúdio ou digressão?
J – A gravação é um processo óptimo, importante para qualquer músico. É onde temos espaço para experimentar e para criar e é onde, realmente, somos criativos. Essa parte é fundamental, sem essa parte não há outra. Apesar disso, nós, os HOA, adoramos a parte ao vivo, de andar em torné, conhecer pessoas, comunicar e de sentir qual é a reacção do público à nossa música. Se tivéssemos que preferir seria andar em concertos; no entanto, os dois são indissociáveis.

Foi no estádio de produção, num dos concertos, que um produtor de Televisão sugeriu a inserção do tema A Chance na banda sonora da série televisiva “Morangos com Açúcar”. O feed-back extraído deste feito ditou a eclosão do terceiro álbum “Groovin’ On Monster’s Eye-Balls”. Um disco que contou com a participação da vocalista dos Wire Daisies, grupo inglês no qual João tocou. If You Give Up permaneceu nos tops durante mais de três meses e assegurou, por um período de três semanas, o segundo lugar nos dowloads do iTunes.
João acredita que o facto de as músicas constarem da série fez repercutir consequências, nomeadamente numa maior projecção da banda por ser “um meio de divulgação óptimo. Nunca tivemos qualquer preconceito em relação a essa ou qualquer outra série. O que nos interessa é o vínculo em si e os resultados que produzem, o chegar a novos públicos”, patenteia e prossegue o discurso ressaltando que há “gerações de pessoas a ouvirem a nossa música que, naturalmente, talvez nunca chegariam a fazê-lo, e isso só pode ser positivo”.
Rui David atenta que quando escrevem uma música não colocam restrições: “a nossa música pode ser ouvida por quem quer que seja e ficamos satisfeitos com isso”. O vocalista reflecte sobre a realidade de haver “uma grande falta de programas dedicados à música na Televisão” e, por isso, consideram ser “uma boa oportunidade que tinham de aproveitar” e decidiram aceitar o convite.

A – Relativamente a este álbum, é um registo que dispensa apresentações, repleto de êxitos, mas o que significa este álbum para vocês?
RD – Muito, muito.
João – Acho que foi uma prenda que quisemos dar a nós próprios para marcar o facto de estarmos a celebrar dez anos de carreira. Quisemos também dar-lo a todas as pessoas que gostam, que ao longo destes anos nos apoiaram e que tiveram connosco.Valia a pena marcar esses dez anos, visto que temos um convite do Casino da Figueira para fazer espectáculos. É uma sala que adoramos e tocamos lá várias vezes, o que nos levou a pensar: “isto pode ser uma coisa especial e vamos aproveitar para fazer deste evento um marco”.

A – Foi essa a causa que levou à escolha do Casino da Figueira?
J – Foi, exactamente. Coincidiu, na altura em que estávamos a fazer dez anos, o Casino convidar-nos para fazer espectáculos. Associamos as coisas e vimos que a sala era óptima. Não obstante, como um dia já tínhamos falado na hipótese de fazer um DVD e de ter qualquer coisa visual dos HOA editado, pensamos que seria uma boa oportunidade.

A – Conseguem seleccionar um ou mais momentos que marquem realmente a vossa carreira?
J – Sim, vários. Para além daquele que já falamos da Antena3, tivemos um espectáculo também no Pavilhão Atlântico com os Silence 4 e os Phase. Realizou-se no ano de 1999, numa altura em que estávamos ainda a acabar de gravar o primeiro álbum; portanto, ainda éramos uns meros desconhecidos que de repente, estávamos a tocar para 10 mil pessoas. Esse momento foi marcante para todos. Foi o primeiro grande concerto, o primeiro concerto oficial dos HOA, e foi assim em grande escala. É engraçado, poderíamos estar todos nervosos – e estávamos –; todavia, quando entramos parece que esse nervosismo se transformou em concentração e confiança ao ponto de termos tocado. Foi fantástico!

A – Uma das músicas intitula-se “A Chance”. Podemos dizer que esta vossa entrada e estes dez anos foram uma oportunidade que surgiu e se tem vindo a consagrar?
J – Sim, considero uma oportunidade que qualquer artista sonha ter. Tentamos a cada dia aproveitá-la ao máximo e só assim é que conseguimos tornar as coisas interessantes para nós.

A – Qual a música que escolheriam, neste momento, para vos apresentar?
J – Este CD DVD acústico é um bom cartão de apresentação para a banda no seu todo. Para quem nunca ouviu a banda, se comprar o CD/DVD e se vir e ouvir vai perceber, vai ter uma boa ideia do que são os HOA. Percorre os 10 anos de carreira e todos aqueles temas conhecidos, mas outros desconhecidos. Tem temas originais e dois temas novos que vão sair, inclusivamente, no próximo disco. Reúne o passado, o presente e o futuro.

A – Com quem gostavam ainda de vir a trabalhar ou dividir o palco?
J – Muita gente. Há muita gente que respeitamos e admiramos em Portugal. Portugal é um país com artistas fantásticos, com músicos fabulosos e, às vezes, esquecemo-nos um pouco disso. Há muitos desses artistas com quem gostávamos de partilhar e esperamos que um dia aconteça. Certamente irá acontecer, talvez nos 20 anos dos HOA.

A – E quanto a palcos, qual o palco mítico que gostariam de pisar?
J – Vou ser um pouco regionalista, patriota: o Coliseu de Lisboa. É uma sala fantástica. Noutras andanças já toquei em muitas salas da Europa. O Coliseu de Lisboa é um dos sítios que esperamos tocar brevemente e fazer um espectáculo especial.

Com a música “Step Forward”, os HOA aproveitam para olham para o futuro e “pensam continuar a fazer isto”, de acordo com João “gostávamos de expandir a nossa música e de levar a nossa música a outras pessoas, mesmo fora do país. Era um sonho que tínhamos. Sabemos que vai demorar algum tempo e vai implicar ainda mais trabalho e muito mais investimento da nossa parte, mas estamos preparados para isso”.
Para João parte do «sonho» seria “poder fazer uma torne europeia, por exemplo”. Uma iniciativa que exigiria, com certeza, muito trabalho; porém, os HOA estão preparados e, sobretudo, conscientes daquilo que podem ter pela frente: “conseguir montar uma coisa assim para levar música, para ver como é que as pessoas, na Suécia, em Espanha ou em França reagiriam à nossa música”, assevera João. Por outras palavras, o que o músico pretende chamar a atenção não para a realização de “uma torne só pelo facto de irmos tocar para portugueses; não é que isso não tenha valor, mas queríamos fazer uma coisa que levasse a música realmente a pessoas que não sabem o que é a cultura portuguesa, sem termos o selo de banda portuguesa”. O que pretendem é levar a música a vários sítios como “uma banda que faz música e que toca uma pessoa que nasceu na Áustria, a título de exemplo”.
Esse é o próximo passo afirmado pelos HOA “faz parte dos nossos planos. Não vou dizer que não. Não quer dizer que seja imediatamente; no entanto, gostávamos que isso acontecesse”, comunica João.
Uma banda que se afirma cada vez mais no mundo, para muitos inalcançável, que se desvincula de tratados, de forma a criar a autonomia e a “serenidade” na elaboração de novos projectos.
Um contínuo de perseverança, sem rendições a modas, evidencia os Hands on Approach no panorama da música nacional e o espaço além fronteiras será mais um limite a transpor “tão perto, tão longe”.



Anabela da Silva Maganinho

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