Thursday, October 4, 2007

Um lado directo para as estrelas


João Pedro Pais rumou ao Porto para um concerto “Lado a Lado” com Mafalda Veiga, no Coliseu. Ontem foi dia da dupla actuar m Lisboa e o palco das emoções foi o Coliseu dos Recreios.
João Pedro esteve, há cerca de um mês, na vila alentejana da Vidigueira e foi lá que o músico revelou o lado directo para o público.
Uma década de êxitos é assegurada pelo artista oriundo de Lisboa que entrou para este mundo como que por um ou vários acasos.
Apesar dos seus tios-avós maternos serem quase todos músicos, João Pedro enveredava pelo desporto não deixando de revelar o seu lado (en)cantador.
Por diversas vezes tornou-se campeão de Luta Greco-Romana e Luta Livre Olímpica, mas também por bares e músicos conhecidos foi deixando o seu toque pessoal ao cantar. Começou a tocar covers de músicos portugueses até que decidiu participar no programa televisivo “Chuva de Estrelas” e chega mesmo à fase final. Nunca parando de cantar, dois anos depois – no ano de 1997 –, João Pedro Pais lança finalmente o álbum de estreia que revelou “Segredos”como “Ninguém é de ninguém” e “Louco por ti”.
O sucesso persegue o caminho do músico por mais dois álbuns. Em 1999, o CD editado vale-lhe mais uma nomeação para melhor intérprete aos Globos de Ouro e “Mentira” aparece como um dos singles eleitos para melhor canção.
Seis anos subsequentes ao surgimento do músico no panorama musical “Falar por sinais” surge numa etapa de consolidação para João Pedro Pais que o encaminham para novos êxitos com as faixas “Não há” e “Um resto de tudo”, um tema gravado em Barcelona.
Não obstante, é no ano de 2003, em Fevereiro, que acontece algo que João Pedro recorda hoje com grande paixão: a digressão por Espanha e Portugal com Bryan Adams.
Após a sua performance no Rock in Rio 2004, mais um disco é posto à venda, mostrando que está “Tudo bem” na sua carreira.
Hoje João Pedro Pais assume-se com “um grau de maturidade mais elevado” e promete dar tudo o que tem para o seu público desde que aqueles que o acolhem sejam receptivos.

O concerto na Vidigueira foi uma actuação que “gostamos imenso”, de acordo com João Pedro Pais; “não é a questão de surpreender, embora possamos dizer que esse foi o sentimento, uma vez que tocamos muito tarde e já não temos a mesma energia”. O músico confessa que, em Portugal, os espectáculos têm início relativamente tarde, quando comparado com os grandes concertos de grandes bandas, e esse facto pode ter como consequência uma actuação não tão produtiva: “um espectáculo que começa há uma hora já não é a mesma coisa”. João Pedro lembra que “as grandes bandas internacionais – Rolling Stones, Pearl Jam, Bryan Adams – entram em palco, em qualquer país da Europa, entre as 20.30h e as 21h. Ao invés, em Portugal, entram às 22h”. Deste modo, conclui, salientando que “há alguma razão: eles com certeza não gostarão de tocar às onze da noite, há uma da manhã ou as duas”.

A – A Vidigueira é uma vila alentejana que tal como outros municípios não têm a mesma dimensão das grandes cidades. Considera que tem a sua importância independentemente da dimensão em conta?
JPP – Tudo é importante, porque cada público é um público. Estamos é a falar de momentos. Às vezes, vamos a um sítio e ficamos a pensar: “será que vai resultar o espectáculo aqui?!”; e depois surpreendemo-nos pela positiva. Penso que é uma questão de alma. O espectáculo também resulta como o público quiser que resulte. Se tivermos um público que não recebe a nossa música de uma maneira positiva e está presente por favor claro que o resultado é mau e, por mais que me esforce e dê a minha alma na música, as coisas não funcionam. Nesta sequência, penso que o público é que tem o papel principal.

A – E é nesse sentido que se fazem os grandes palcos?
JPP – É, claro. Os grandes ambientes e também os grandes concertos. Não selecciono se toco na Vidigueira, se toco em Lisboa ou no Porto. Todos os espectáculos são importantes para nós, pelo que devemos dar a conhecer a nossa música àqueles que não a conhecem, mas também àqueles que já conhecem a banda e viram outros espectáculos. É importante fazer tudo.

A – Arrecada um vasto repertório tanto a nível nacional como internacional. Em que medida diferem os públicos nas actuações nacionais das internacionais?
JPP – Aqueles espectáculos que fizemos com o Bryan Adams surpreenderam-nos, até porque fomos muito bem recebidos em Espanha. Ninguém nos conhecia. Era uma novidade um grupo português fazer a primeira parte de um cantor como ele e, além disso, ficamos surpresos por o Bryan Adams não trazer um cantor estrangeiro, o que seria habitual. Quando surgiu o convite, ainda como uma hipótese, ficamos entusiasmados, ansiosos; contudo, de alguma forma cautelosos. Tínhamos a consciência que não poderíamos falhar e que muitas pessoas iriam estar a ver-nos. Passados dois anos, ele veio outra vez cá e fizemos, novamente, a primeira parte do concerto de Bryan Adams. Uma certeza temos, se as coisas tivessem corrido mal em 2003, não estaríamos na digressão de 2005.

Na antevéspera da actuação na Vidigueira, João Pedro Pais esteve em performance no Canadá. O concerto “correu bem” é a avaliação do músico que actuou para “um público diferente”. João Pedro justifica: “em primeiro lugar, fomos muito bem recebidos, foi espectacular”. Uma experiência que lhe traz à memória recordações de outrora “já viajei algumas vezes pelo mundo, nomeadamente a torné com o Bryan Adams pelas cidades espanholas de Barcelona, Alicante e Madrid. Nessa altura, “tocamos para um público diferente, o espanhol, e gostamos imenso. Agora, no Canadá, tocamos no Portuguese Day”, e perguntaremos: mas é um público diferente porquê? João Pedro esclarece que “as pessoas que lá estão são emigrantes de há muitos anos que conhecem as músicas. No entanto, os seus filhos, os jovens, foram criados lá e, por isso, não têm conhecimento da minha música a não ser pelos antecedentes ou por uma Rádio”.
João Pedro Pais revela: “ não me levo a sério”. É assim que se auto define e prossegue asseverando que apenas canta as suas canções, “quem gostar de mim gosta quem não gostar paciência”. O músico garante que não veio “à procura de nada nem de descobrir nada. As notas musicais já existem há centenas de anos e há grandes músicos neste país que sabem mais do que eu e até que estudaram mais”. É, com humildade que admite: “estou em palco com profissionalismo”.
Essa é a razão apontada para os dez anos de carreira que acerca, consequentemente, uma década de êxitos. Profissionalismo é, simultaneamente, a causa para “quatro álbuns a solo, tocar nas rádios e ter agora um projecto reconhecido. Já cantei com o Jorge Palma, com o Luís represas, já acompanhei o Carlos do Carmo à viola”, patenteia, e não deixa de referir que “o público leva-me a sério no sentido de me respeitar”. A simplicidade e honestidade de João Pedro também se revelam por entre as qualidades, na afirmação “sou igual a vocês, canto é canções. Uns são jornalistas, outros médicos, outros camionistas… Eu sou cantor que canta as canções”.

A – Na exposição das canções diz que o público é o mais importante. O que é para si o público e qual a mensagem que tem para eles?
JPP – A mensagem a projectar, neste momento, é que tenham “paciência” e que se divirtam. O público que aqui estava era maioritariamente jovem. Para esses, que se divirtam, mas sem drogas. Costumo dizer nos espectáculos: “deixem-se de merdas, deixem-se de drogas”. Na minha opinião, uma pessoa para se divertir, não precisa recorrer a aditivos. Eu divirto-me imenso e não recorro ao álcool, nem recorro à droga. Podemos arrematar que se as pessoas têm morrido é porque não faz bem. Portanto, o que faço é mais um apelo: “juízo, divirtam-se, respeitem as famílias, respeitem-se a vocês próprios e oiçam música”. Não quer dizer que seja a minha, mas oiçam música e bebam uns copos de vez em quando; todavia, sem exageros.

A – Durante todo o concerto presencia-se um grupo uno a cantar as suas músicas, sem excepção.Qual o sentimento de ouvir o público ecoar as suas músicas?
JPP – Há uma cumplicidade. As pessoas cantam as canções e isso é bom. A cumplicidade é um reconhecimento daquilo que eu faço e, ao mesmo tempo, um agradecimento àquilo que eu faço e é isso que realmente me entusiasma para continuar. É óptimo.

A – Qual a mensagem que pretende passar ao público?
JPP – As minhas canções. As minhas canções são aquilo que vejo nos outros, claro que também têm um carácter autobiográfico. Daquilo que eu leio, vejo, das viagens que faço… tudo o que nos envolve. Neste último álbum, escrevo mais sobre os outros, mas o primeiro e o segundo álbum falam muito sobre mim. No que concerne ao último a solo – o quarto – já nem tanto, por que fala mais dos outros.

A – Um dos grandes efeitos dos álbuns foi “Mentira”. O que é para ti uma “Mentira”?
JPP – Uma mentira é aquilo que não se pode dizer, às vezes. Entre uma mentira e a omissão… Por vezes, não dizemos as coisas para que não magoemos as pessoas, mas a isso poderá chamar-se uma mentira.

O mais recente projecto de João Pedro Pais colocado em prática é o álbum “Lado a Lado” com Mafalda Veiga. Este é o nome feminino com quem este cantor contracena em palco em digressão e, na sua origem, no projecto da Swatch-Mundo Perfeito. Dois artistas portugueses que enchem o mundo da música nacional e unem-se agora num único objectivo também vencedor. Juntam-se num sonho, “cúmplices” num espectáculo que reflecte o contrário de “nada de nada” que a longevidade do percurso de duas carreiras se conseguiu com os sucessos dos intérpretes e compositores.
"Lado a Lado" tem-se revelado um sucesso por entre o êxito. Nos dois primeiros meses do disco nas discotecas, o trabalho tinha assentado no Top das rádios nacionais, conquistando o Disco de Platina.

A – Porquê a Mafalda na envolvência deste projecto?
JPP – Somos amigos. O projecto surgiu sem nenhuma obrigatoriedade. Gostamos de cantar e tanto a Mafalda como eu compomos as nossas músicas. Havia o perigo de as vozes, na eventualidade, não rolarem bem, devido às harmonias, e tivemos esse cuidado. O objectivo é não nos atropelarmos musicalmente e acho que esse está conseguido. Chegamos ao público, e vamos agora fazer os coliseus. Estamos expectantes em relação ao que se vai passar.

A – E quanto a projectos futuros?
JPP – Estou a compor o meu próximo álbum.

Não podíamos deixar passar em branco esta informação e, não hesitei em colocar a questão: para quando esse álbum a solo?
Final de 2008 é a data prevista para o novo lançamento. “Hoje [na Vidigueira] queria cantar uma música que vai integrar o novo álbum só que agora com o You Tube e com toda a gente a gravar, pensei “deixa-me estar quieto”, expõe o músico consciente da realidade contemporânea da pirataria e dos downloads, mas com um sorriso escondido.
Desde o “Chuva de Estrelas” até aos dias de hoje, no ano de 2007, João Pedro não pensa que se registou uma evolução. Considera antes que ganhou maturidade: “quando participei no Chuva de Estrelas… eu caí de pára-quedas no Chuva de Estrelas. Eu pertencia à selecção nacional de luta. As pessoas diziam que eu tinha jeito para cantar, só tinha de trabalhar. Cantava em bares ao mesmo tempo que treinava, mas nunca pensei chegar lá um dia”, divulga. Mas, como ele próprio menciona “há muita coisa que já aconteceu que nunca esperei que acontecesse”, tal como “a torné com o Bryan e gravar com a banda dele”. Um entusiasmo que perdura com o decorrer dos anos: “o meu último álbum de 2004 “Tudo bem” é gravado no estúdio do Bryan Adams com a banda dele em Vancouver, no Canadá”. E, isso são mais do que fundamentos necessários para João Pedro ponderar que “então, muita coisa já eu consegui”. “Somos um país pequeno, canto só em português, então não tenho objectivos? Não! Os objectivos que eu tenho são mesmo em Portugal, a cantar em português, a fazer canções novas e melhorar. Agora não tenho o objectivo de ir para o estrangeiro, excepto quando é para as comunidades portuguesas”, assevera o jovem.
Um sonho inesperado que o faz (sobre)viver num mundo onde muitos entram, mas poucos são os que prevalecem. A evidenciar o seu profissionalismo e, até mesmo, devoção João Pedro Pais anuncia: “estou aqui e gosto de estar cá; de cantar em Portugal, na minha língua, e na minha pátria”.
Uma pátria que o acolhe por “Versos Proibidos” por “Mais que uma vez” numa relação de “Puro Acaso” por um amor que é “como o mar”.


Anabela da Silva Maganinho

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