Monday, October 8, 2007

A essência rosa do Estado de Espírito

Nuno, Filipe, Gonçalo, Jorge

Os Estado de Espírito encerraram ontem a torné “Vida” com o espectáculo no Alqueva. Filipe, Nuno e Gonçalo Romão e o mais recente membro Jorge percorreram parte do território nacional para divulgar a música por “A vida que eu sempre quis”.
Há cerca de um mês estes rapazes oriundos de Lisboa estiveram na vila alentejana da Vidigueira e a recepção calorosa à banda resultou num recinto cheio ao qual se sucedeu uma actuação de última hora dois dias depois.
Guitarrista e vocalista na Vidigueira

O sucesso do álbum de estreia foi evidente por onde quer que passassem; contudo, a fase de estúdio espera-os para o novo álbum que já tem dois temas na forja.

Anabela (A) – Acabaste o concerto a dizer que esta foi a vida que sempre quiseste. O que te fez despoletar tal reacção?
Nuno – Isto pode parecer um chavão, mas é a realidade, é aquilo sentimos. Nós, os Estado de Espírito, vivemos um dia de cada vez e hoje foi o dia certo. O que não quer dizer que amanhã não possa vir a dizer a mesma coisa: “hoje foi o dia certo”.

Com a bateria a cargo de Gonçalo, o mano (en)canta


A – O que é que mudou no decorrer deste ano? Entrevistei-vos entre Julho e Setembro do ano passado, o que é que aconteceu entretanto?
Filipe – Acho que, de um ano para o outro, os Estado de Espírito amadureceram em termos musicais, de mentalidade e na relação com o público. Éramos músicos, já tocávamos há muito fora de originais e começamos a aprender a lidar com massas, ou seja, o público. Os Estado de Espírito lidaram muito bem com 2006; neste momento, estamos a preparar o próximo álbum, a ver se ainda sai em 2007. Estamos mais maduros, mais evoluídos em termos de sonoridade musical e apostamos em vencer com um álbum mais sóbrio.

Gonçalo Romão confessa que, assim que sobem ao palco, “a ideia que tentamos passar é que encaramos tudo isto com uma grande responsabilidade e sabemos que o público é a nossa segunda família”. Não obstante, o baterista afirma que tentam “nunca abordar situações complexas, situações aborrecidas”, designadamente “raptos, pedofilia, não entramos na política, não criticamos ninguém”. Ao invés, o que pretendem é “abordar o lado mais cor-de-rosa da vida e sempre bater no ponto em que tudo vai melhorar, em que nós temos de viver o nosso dia-a-dia”, revela o músico. Gonçalo apontava para a camisola cor-de-rosa que trazia, justamente por isso, e prossegue no discurso: “Felizmente somos músicos, lidamos com uma forma de expressar sentimentos – que já existe há muitos séculos – mas de uma forma amplificada”, uma forma que optam por “transmitir as [nossas] emoções”.

A – Vou cometer uma inconfidência, durante os ensaios eu ouvia sempre a palavra “acreditem”. Continuam a acreditar em vocês ou, às vezes, precisam de um empurrãozinho?
Gonçalo – Como todas as pessoas, nós, de vez em quando, vamo-nos abaixo. Toda a gente tem família e, estar tanto tempo longe dela, dos que mais gostam de nós… Estar tanto tempo fora do panorama normal, da vida quotidiana de um cidadão normal (ter o apoio da namorada, da mãe, da prima, da tia, dos amigos, das pessoas que jogam à bola contigo) é estar distante de tudo o que é importante para conseguir encontrar o ponto de equilíbrio. Por vezes, estamos na estrada e as coisas não correm tão bem. Com o público está tudo bem; porém, as partes técnicas ou os problemas não os conseguimos ultrapassar. Então, como em todas as profissões, de vez em quando aparece uma pequena frustração, uma vez que queremos apresentar sempre a melhor qualidade e a resposta é o que tivemos aqui hoje. Estivemos num palco espectacular, numa festa agradável, com muitas pessoas bonitas do Alentejo. As condições eram excelentes e tivemos vídeo com toda esta qualidade. Se eles não nos apoiarem, quem nos vai apoiar? Acabamos de chegar, estamos no recinto rodeados por equipa técnica e seguranças e, neste ponto, é sempre essencial ter alguém que nos dê um carinho e uma palavra amiga e nos empurre para a frente.

Em dia de jogo de apuramento da Selecção Nacional de futebol, o recinto do concerto estava vazio já perto da hora do Festival Vidigueira Jovem ter início.
Os Estado de Espírito abriram o evento e, assim que cessaram os últimos acordes da primeira música, o Parque estava cheio. Milhares de pessoas expectantes direccionadas para o palco a observar o que ali se iria passar. A fila da frente era ocupada por fãs que conduziram, por intermédio da interacção, o concerto.
Com “Tens o mundo a teus pés” todos acompanharam Nuno e, assim que a música terminou, o público continuou a ecoar a canção.
Perante tal situação, notou-se um ambiente de certa emotividade. Nuno admite ter uma filosofia e uma maneira de pensar aqui aplicável: “um artista que não sai do disco e, portanto, não faz espectáculos ao vivo, é um artista morto”. Pelo contrário, “nós tocamos, escrevemos, compomos, gravamos para o público. Fazemo-lo a pensar no público, pois é a “pessoa” que vai receber a mensagem”, assevera o vocalista.
Os Estado de Espírito só pensam, pela representação de Nuno, que o público não tem culpa se um dia é menos bom, pelo que apenas têm [os Estado de Espírito] de lhes dar o melhor: “Estamos em cima do palco e só pensamos que ninguém nos conhece de lado nenhum, ninguém sabe que tivemos um furo no pneu do carro ou um aborrecimento qualquer”, esclarece e continua “as pessoas não podem imaginar o que se passa e parece que, com a mensagem que transmites, que nunca é igual, as pessoas captam o que sentes e acarinham-te”. Aplica-se aqui o ditado um gesto vale mais do que mil palavras e assegura isso mesmo Nuno ao dizer que “as pessoas não podem chegar a ti e fazer-te uma festa, dar-te um beijo e dizer “boa sorte”; então, acarinham-te dessa maneira, é o feed-back. As pessoas ao cantarem passam a mensagem de que estão a gostar e isso é muito gratificante, é espectacular”.

A – Uma mensagem para os vossos fãs, especialmente para estes.
Nuno (N) – Eu vou deixar a minha, sabendo que eles vão deixar cada qual a sua. Tal como as pessoas que estão ao pé de nós, antes do público chegar, e nos dizem “Acreditem”. Nós deixamos essa mensagem para o público “Acreditem”.
Filipe (F) – É muito bom tocar em todas as zonas de Portugal, nomeadamente Alentejo, possivelmente porque começamos de baixo para cima e é sempre bom. O povo português é muito caloroso na maneira como encara a música e gosta dela e nós vamos continuar com o nosso Estado de Espírito em alta, a mostrar o lado cor-de-rosa da vida para quando estiverem a assistir a um espectáculo nosso esquecerem os problemas, ou pelo menos alguns.
Jorge (J) – Que tenham muita força, com muito Estado de Espírito.

Gonçalo Romão deixou também a sua mensagem pessoal e, além disso, uma pitada para os novos acontecimentos. “A quem comprou o nosso trabalho e o acompanhou e àqueles que conhecem as nossas músicas que, essencialmente, continuem a fazê-lo”, apela Gonçalo numa mensagem dirigida aos fãs, “que nos dediquem um pouco de tempo e atenção, porque o que fazemos é, efectivamente, para o público, para os fãs, para os amigos e para toda a gente que gosta de música portuguesa”.
O baterista dos Estado de Espírito no decorrer do discurso acrescenta dados novos à discografia da banda “deixo um pequeno reparo ao novo trabalho do qual dois singles vão estar disponíveis em breve, dependendo das negociações”. Um novo registo que vai contar com um estilo “mais cool, com uma sonoridade mais aberta, mais dentro do género em que estamos neste momento”. Gonçalo confessa que “no primeiro trabalho discográfico, estávamos um pouco oprimidos pela sonoridade de quem o estava a produzir. Isso tirou um pouco a expressão apresentada ao vivo sob um panorama mais rock, mais live, mais poderoso, com um contacto mais directo com o público”.


Sabemos, então, que o próximo disco terá a vibração expelida pela banda nos concertos, embora eles não tenham consciência se poderá ainda ser um erro ou não, pelo que “vamos experimentar”.
Gonçalo não deixa de relevar a importância de séries como “Morangos com Açúcar”. Não só esta como todas as séries “têm feito o país agarrar-se um pouco mais à Televisão. Todas as mensagens pedagógicas e aquilo que apresentam, traduzem-se em lições de moral, fazendo com que as pessoas acreditem e reponham os valores de forma coerente. Além disso, a camada jovem está a dar muito mais valor à música portuguesa”, o que faz despoletar o aparecimento de artistas, com a hipótese que tiveram de colocar a música na banda sonora.
Nessa sequência, o membro dos Estado de Espírito considera que estão muito favorecidos “porque – e digo isto sem querer estar a prejudicar ninguém, nem querer-nos prejudicar com isso – as Rádios, em Portugal, especialmente as de maior expressão, movem-se através de dinheiro. Infelizmente, movem-se com muitos interesses e lobbies”, declara Gonçalo. Este assume: “Tivemos a hipótese de ir directos e, com amigos desses, não precisamos de outros. Portanto, se pudermos ficar no mundo da música ficamos, senão ficamos na mesma”.
Com um sorriso no rosto, mas a credibilidade e frontalidade de poucos, o baterista dá a voz pela sua banda e é assim que vemos os Estado de Espírito vingarem por entre um mundo complexo, afirmando-se no panorama da música nacional.
O regresso ao Porto está prometido e “será para breve” como garante Nuno Romão. Por sua vez, Filipe garante que vêm “de certeza para arrasar”.
O sonho não é “mais do que pode(m) ter” e, por que “existe uma razão para ficar” na vida que sempre quiseram, os Estado de Espírito prosseguem na luta por um rumo “sem destino para chegar”.

Anabela da Silva Maganinho


Uma amizade, com certeza, longa não? Mais que não seja pelos 520km que fiz:)

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