Thursday, August 30, 2007

Reno a atravessar (en)costas


Daniel, Paulo, Carlos, Pedro, Reno, Kevin


Os Reno vieram a Portugal em Março último para promover o álbum “Learning to a Speak Human”. A banda liderada por Reno Silva regressa a terras lusas em Setembro para mega-concertos que prometem consolidar a presença dos canadianos no nosso país.
Os Reno surgiram no ano de 2004, em Toronto (Canadá) pelas mãos do vocalista Reno Silva.
Reno Silva decidiu pôr a sua experiência à prova, iniciando “o percurso, em Toronto, a actuar sozinho”. Uma sequência que tinha de fazer parte do músico até que “chegou a altura certa de fazer umas músicas”.
Elaborou um projecto a comunicar aos amigos, de forma a inseri-los numa banda para tocarem as músicas de Reno. Como os restantes já tocavam, conseguiu-se a junção de distintas experiências numa mesma iniciativa: “Estávamos em 2004 quando decidi dar o passo. Subsequentemente, fomos crescendo e já passaram três anos. Estamos muito mais fortes do que antes. O facto de termos agora um produtor novo também ajudou muito”, afirma Reno.
Daniel Gama a cargo da guitarra e vozes secundárias, Pedro Rodrigues na bateria e percussão, Carlos Azevedo no baixo e nas vozes, Paulo Gama ao piano e na voz, e Kevin D guitarrista também com participação na voz, juntaram-se ao vocalista Reno Silva e, conforme destinado, formaram a banda.
Reno deu nome homónimo ao grupo que fundou, após uma longevidade invejável na música. Foi o prosseguir num sonho do jovem que conta com 20 anos de experiência musical e pretendia afirmar-se no mundo daquilo que sabe fazer: a música. “Comecei a tocar guitarra quando tinha quatro anos e as actuações iniciaram-se aos oito. O meu pai já actuava e, portanto, era fácil despoletar em mim a inspiração”, lembra Reno.
Nesse mesmo ano, foi editado o álbum de estreia da banda que a deu a conhecer em diferentes cantos, por entre um género há muito aguardado pelos apreciadores desta arte. Cada elemento tem as suas influências e experiências na música enquanto profissionais ou meros amadores e a grande apresentação foi na estrada que começou a ser construída.
Pink Floyd, U2, John Mayer, Eagles, Delfins, Santos e Pecadores, Bryan Adams, Xutos e Pontapés são alguns dos nomes indicados pelo vocalista da banda. Reno Silva confessa que foi “criado com o Rádio e a maior parte das vezes não podia escolher o que ouvir. O meu pai ia conduzir e tinha aquela música”. Da época destaca os Abba e os Eagles, entre a tanta música que compõe o panorama musical ao longo destes anos e que teve o seu contributo na formação não só de Reno como da sua banda.

As referências acabam por ter uma quota-parte na criação e desenvolvimento do grupo. “A maior parte das músicas sou eu quem as faço, e cada um deles traz as influências para a música. Eles participam de forma a que se consiga a grande ideia de como a música deve ser”, revela Reno.
As suas origens são assumidas como portuguesas e, por isso, chegou a hora de mostrarem um pouco daquilo que têm para dar, recheando, assim, o cenário da música nacional e internacional.

A – Falem um pouco acerca do novo CD “Learning to a Speak Human”.
R – O nome do CD é este, uma vez que tem muitas emoções. São coisas pelas quais todas as pessoas passam e não somos apenas nós que temos os problemas: em casa, na escola, no trabalho… Não é uma regra para viver a vida, mas sim uma espécie de diário do “dia-a-dia” tudo o que estamos a cantar. É importante deixarmos transparecer às pessoas que não são só elas a terem esses problemas, nós também os temos e há maneiras de sair deles. É bom quando acontece isto. É aprender a falar humano. Compomos uma espécie de diário das nossas vidas.

A – Então a vossa música pode ser um remédio ou uma cura para determinadas «doenças»?
R – Pode ser. E, então, já fizemos o nosso trabalho. A coisa mais importante para nós é quando alguém vai ouvir a banda, ouve o CD em sua casa ou no carro e, pelo menos, se consegue esquecer dos problemas que tem. Uma coisa que pode ajudar e dar um impacto na vida de uma pessoa. Ao fazer isto já estamos a fazer o nosso trabalho. Para nós nunca o dinheiro foi a base. O que pensamos foi sempre a possibilidade de dar uma coisa boa à vida de uma pessoa.

A – Como está a ser a receptividade por parte do público, nomeadamente o português, ainda que este seja só conhecedor de uma pequena parte do vosso percurso?
R – Acho que já foi melhor do que esperávamos. Já sabíamos que ao fazermos uma música em português e em inglês ia abrir alguns olhos. Mas a reacção das pessoas já foi muito bem aceite. Fomos à televisão e actuamos no Hard Rock Café. Já fizemos grandes coisas que precisávamos de fazer em Portugal e, agora este manager vai ajudar na nossa vinda mais vezes. Até hoje penso que todos gostaram e, por todo o lado, a reacção é a mesma. No Hard Rock foi incrível, éramos para actuar 45 minutos e actuamos duas horas. As pessoas ficaram loucas a dar saltos e até a saírem do palco, o que era um pouco chato (risos). Recebemos mais do que estávamos à espera. Vir a Portugal não é dar um passo para trás, acho que é até um pouco mais difícil. É um país em que a economia não está muito forte e onde há muitas bandas; no entanto, se fosse para lutar preferia Portugal ao invés do Canadá. O Canadá é um país grande e podemos conduzir dias para chegar de uma cidade à outra. Aqui é só uma ou duas horas, tal como pela Europa e é muito mais fácil. Já esperávamos que fosse bom; todavia, receberam-nos melhor do que o que estávamos à espera.

A – Fora de Portugal o vosso sucesso é estrondoso, já actuaram inclusivamente com bandas de renome internacional. Qual a razão que consideram ser a responsável pelo vosso sucesso?
R – Tivemos muita sorte em ter pessoas – como o meu pai gosta de dizer – “padrinhos”. Na América e no Canadá, principalmente, é um grande passo chegar onde já chegamos. O facto de sermos portugueses permite-nos contar com um grande apoio das comunidades, especialmente da América do Norte. Deixam transparecer o orgulho que têm por sermos portugueses e não hesitam em depositar um apoio incessante a cada iniciativa. Fazemos um estilo de música que a maior parte das vezes não é o que se evidencia no Canadá. No Canadá, fazem muito música pimba; porém, sabemos bem o quão mais há, na música portuguesa, para além disso. É uma pena que não cheguem lá os grandes artistas que vocês têm aqui. Portanto, os jovens têm muito orgulho e dão muita força. Eles sabem que estamos a trabalhar em prol de algo.

A – E por que é que, em Portugal, o vosso projecto ainda não está bem presente? Muito pouca gente vos conhece e até mesmo os CD’s ainda não estão disponíveis.
R – É isso mesmo. O CD já está editado e vai ser lançado aqui. Temos agora um grande produtor, Steve Thompson, outrora produtor dos Red Hot Chilli Peppers, Madonna, Korn, Whitney Houston, Duran Duran, entre outros. E ter um produtor destes é um grande passo, por que as pessoas podem levar um pouco mais a sério o que queremos fazer. Só que por causa disto, levamos mais tempo a chegar a Portugal. Queríamos vir muito antes, mas é uma coisa que só surge consoante as possibilidades. Actualmente estamos a tentar fazer o melhor possível enquanto estamos aqui. Portugal está sempre a dizer que o de fora é que é bom. Eu não acredito nisso. Isso é um mau pensar, pois vocês têm artistas muito bons. Nós não queremos vir aqui mudar nada, somente queremos entrar na nova onda do que está a acontecer com as novas bandas. Boas bandas estão a sair daqui agora, designadamente os Fingertips, Santos e Pecadores, Delfins. Vocês têm grandes bandas aqui e eles merecem todo o apoio que o país pode dar. Estivemos a estudar como tudo funciona por aqui, algo que leva o seu tempo. Virmos aqui por nossa conta era um risco e para tomarmos a decisão acertada tínhamos de ter tudo acertado. Estamos a tentar fazer tudo o que podermos em Portugal. Quatro elementos da banda são portugueses e uma pessoa que se dá bem com este país, ou em França e Espanha abre uma boa porta para começar a divulgar a música.

A – Estamos a falar de pessoas diferentes, com as respectivas referências e trajectos distintos, que se uniram em prol da conquista de um sonho. Mas a música que obtêm como resultado final é, então, um conjunto de influências ou são influenciados mas criando o vosso próprio estilo?
R – Trago um estilo desde o princípio. Apresento a música já gravada em casa, com todo o instrumental, posteriormente, entrego-as para que cada um deles comece a colocar um pouco deles nas músicas. O próximo disco vai contar com mais ideias dos outros membros. Todos têm boas ideias e temos de apostar nelas.

Uma banda pop/rock acústico é como se definem os Reno. Ainda assim, este disco é “muito moderado, o que nos dá a possibilidade de entrarmos mais pesados ou mais calmos com as nossas músicas”.
Numa época em que Portugal está para ser conquistado pela música destes rapazes, é unânime que se pudessem voltar atrás fariam, exactamente, o mesmo. Assumem que estão a crescer e, como em tudo na vida, correm riscos. “Podemos falhar ou ter a ganhar com isto. Ficamos contentes, por estarmos a aprender; não obstante, ganhamos experiência”, afirma Reno. Consideram que uma banda quando alcança determinado patamar - tendo já alcançado o sucesso – “pode já não fazer estas coisas”. Por outras palavras, uma banda com a carreira consolidada pode não “ir a lugares e colocar as cadeiras e as mesas para trás” tal como eles fizeram nos showcases em Portugal.
No entanto, a humildade é uma das características primordiais da banda luso-canadiana. Independentemente do êxito que alcançam e virão a conseguir, os Reno assumem “nós não mudamos nada”, pois é a paixão que os move.

A – Têm uma verdadeira paixão pela música. Como caracterizam tal paixão?
R – Não acho que seja uma coisa para escolher. Nada mais sei, a não ser música. É um amor, é um amigo, é uma casa onde podemos entrar… são os problemas que temos… pode ser tudo. E eu não sei o que fazia sem ter a música.

A – Para quem nunca viu os vossos concertos como os descreve?
R – Penso que, no princípio dos concertos, as pessoas ficam a olhar para ver quem é que nós somos. As primeiras três/quatro músicas servem para formarem uma ideia da banda. Começa forte e cai um pouco para as pessoas saberem como é e terem noção dos lados por onde podemos entrar com a música. Depois fica muito mais pesado para por a malta doida (ganhar pica).

A – O que pensam acerca da divulgação do vosso trabalho no nosso país?
R – No Hard Rock apareceram quatro editoras a quererem falar comigo e com o manager. O facto de trabalharmos com o Steve Thompson, tem muito a ver com isto, as pessoas que estão com as editoras querem ver o que é que ele fez. Ele que trabalhou sempre com bandas de renome, agora pega numa banda que não é conhecida. Teve muita fé na banda e apostou muito em nós e as pessoas já querem saber quem somos. Para já, no Hard Rock, esteve o editor de todos os Hard Rock da Europa e Canadá, e gostou muito da banda. Quer colocar a banda a rodar na Europa; não obstante a ter solicitado um vídeo para passar em cada Hard Rock do mundo inteiro. As pessoas necessárias para gostarem da banda já gostam e eu vejo isso. Ao mesmo tempo, é preciso ter muito cuidado, logo que têm interesse não podemos demorar muito tempo a aceitar. Não viemos com o intuito de fazer um pouco de barulho e depois desaparecer por dois ou três anos. Durante um mês dois meses iremos apostar na indústria.

A – Com que bandas gostariam de dividir o palco?
R – Eu já tive o prazer de cantar com o Olavo Bilac, em Toronto, e isso foi, para mim, um grande sonho por ser dos meus cantores preferidos. Há pessoas que chegam a dizer que tenho a voz parecida com a dele. Se fosse de escolher gostaria muito de tocar com o Rui Veloso. O Rui Veloso para mim é um gigante, o rei do rock aqui. É das pessoas que escreveu as músicas mais bonitas, em Portugal. Na música inglesa destaco John Mayer, uma grande influência, e os Pink Floyd.

A – Num adjectivo caracterizem a banda e cada um dos seus elementos entre si.
R – O Pedro é o trabalhador; ao falarmos no Daniel falamos no organizador. O Carlos é um animal, é louco; quanto ao Kevin definimo-lo como inovador, trabalha muito e é perfeccionista. Finalmente o Paulo é bastante criativo e o Danton, o nosso técnico de som que está agarrado à banda, é trabalhador e amigo da banda. Eu não durmo, estou sempre a trabalhar nisto. Os meus dias todos e tudo o que faço é para a banda e, por isso, sou trabalhador também. No que concerne à banda toda, num só adjectivo: inquieta. A banda está inquieta para entrar nos ouvidos das pessoas e entrar nas vidas das pessoas, para dar inspiração e para cada um se esquecer dos problemas que tem. Simplesmente, para desfrutar e gostar de música e perder-se nela.

O futuro ainda tem muito a prometer a esta banda. Contudo, desde já ficam os desejos e os projectos que os Reno visam concretizar.
A banda canadiana menciona como um exemplo a seguir a conterrânea Nelly Furtado, pelo sucesso que tem por todo mundo, fazendo despoletar um orgulho enorme nos portugueses. Reno considera que “os portugueses a apoiam pelo facto de ela ser da sua nacionalidade. O que nós queremos é a mesma coisa. Queremos mostrar que não só uma pessoa o consegue, e que existe lugar na música para todos. Queremos ser tudo o que podemos com o máximo pelo sucesso”, aspira Reno.
No futuro, a ambição que os move é “abrir o espectáculo para muitas pessoas famosas, bandas grandes portuguesas e inglesas, para além de conseguir singrar em Portugal e pelo mundo inteiro”. Fica o projecto final que a seu tempo será concretizado: “estamos a filmar tudo o que é possível para o DVD que está a ser feito. A posteriori, gostaríamos de incluir um DVD junto com um CD”.
Reno têm perfeita consciência de que são “uma banda nova”. Ainda há muito trabalho a ser feito, mas estes rapazes não baixam os braços, e as armas estão carregadas para lutar neste mundo, onde nem sempre parece haver lugar para todos.
Prevemos uma banda que vai vingar, perante a declaração de que vieram para ficar “e quem sabe, daqui a dez anos, lançaremos um Greatest Hits ou um Grammy. Isso seria incrível”.
Enquanto isso não se proporciona, preparamos a recepção da banda ao nosso país e “vamos ver”. Tudo leva o seu tempo “e é preciso dar muita atenção no mundo do trabalho” para que os palcos sejam percorridos com pisadas largas, mesmo que por águas profundas e turbulentas conduzidas pelo sonho que os une: Reno.


Anabela da Silva Maganinho


And as you said Reno "Keep it up!"

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