Monday, August 20, 2007

A paixão pela conquista nos relvados






Carlos Fangueiro, jogador internacional português, regressou à terra, após uma passagem por duas épocas ao serviço de dois campeonatos distintos. Inglaterra e Grécia foram os destinos para onde rumou o jogador, estávamos no ano de 2005.
O camisola 7 voltou agora para Portugal, subsequentemente a uma estadia menos boa no Ionikos, clube da primeira divisão do campeonato grego. “Um pesadelo” foi o que viveu, mas que pretende esquecer assim que toda a situação polémica seja resolvida.
O miúdo das escolas do Leixões cedo conseguiu se integrar no futebol profissional sénior. Com apenas 17 anos fazia história ao participar, como membro integrante, em tal “campeonato”.
A partir daí, foi só somar golos por entre conquistas, muitas vezes, abordadas como inalcançáveis.
Vitória de Guimarães e Gil Vicente foram os clubes que marcaram Carlos Fangueiro; aos quais se seguiu a União de Leiria, o clube que o fez catapultar para o estrangeiro.
Vários momentos são, ainda hoje, recordados a cada camisola “guardada num lugar especial”, tal como a do Leixões, o “clube do coração”.
Não nega que tudo o que viveu até aos nossos dias o fizeram crescer; todavia, o grande remate da sua vida está, ainda, por alcançar: a Selecção Portuguesa A.
Por ora, Carlos Fangueiro não se encontra vinculado a um clube, pelo que a resposta será dada nas próximas semanas, perante propostas de vários clubes nacionais.
E o “menino do clube do mar” reaparece para nos contar o percurso profissional que atravessa há mais de uma década, por entre sprints no relvado, a cada Estádio que percorre a sua vida.

Anabela (A) - Quando era miúdo pensava em ser jogador de futebol ou havia outra profissão que lhe despertava a atenção?
Carlos Fangueiro (F) - Lembro-me de em pequeno, ainda na escola primária, a professora perguntar o que é que pretendíamos ser no futuro. A minha resposta era sempre a mesma: queria ser jogador de futebol, um profissional do futebol. Felizmente, esse objectivo foi conseguido com muita alegria para mim.

A – Qual a razão primordial para ter seguido pelo futebol profissional?
F – A televisão. Via muitos jogos na Televisão. O meu pai era um apaixonado pelo futebol e foi, inclusivamente, jogador. Não o praticou ao alto nível, mas a uma condição de amador. Ele tinha muito gosto por aquilo que fazia e eu tentava acompanhá-lo. Ambos costumávamos ver os jogos no campo. Éramos adeptos do Leixões e não falhávamos um jogo, tanto fora como em casa. O gosto crescia até ao momento em que tentei ser jogador de futebol.

A – Alguma vez pensou que o futebol fosse ocupar uma parte tão significativa da sua vida?
F – Lutei sempre por esse objectivo. Não tinha a certeza do que poderia acontecer no futuro; no entanto, sempre foi algo que eu quis bastante. Tive sempre em conta as minhas capacidades e limitações sem nunca desistir de lutar pela consecução do objectivo.

Aquando miúdos, os jogadores têm os seus ídolos e só esperam um dia vir a ser como eles. É uma adoração que em alguns dos casos chega a superar o próprio idolatrado.
Fangueiro afirma que nunca os teve “adorava futebol, ver futebol e jogar futebol. Na altura já havia grandes craques, mas nunca tentei imitar ninguém, nem sequer nutria um gosto especial por alguém”. Era o futebol em si que venerava e, só mais tarde, despoletou em si a admiração por um craque: Luís Figo.
“Com 16/17 anos é que comecei a ter talvez uma admiração especial pelo Figo. Jogava na minha posição e era um excelente jogador, não havia dúvida”, confessa o jogador, “identificava-me mais com ele e observava-o dentro de campo para tentar melhorar as minhas capacidades”.
Presentemente assim como outrora, alguns rapazes que iniciam o percurso no mundo do desporto-rei identificam-se com Fangueiro e outros chegam mesmo a tê-lo como referência.
Fangueiro assevera com um sorriso sincero que “É bom. É bom saber isso”. Embora não tenha tido o seu ídolo e, por isso mesmo, “fugisse um bocado à regra”, o jogador sabe “que muitos miúdos senão mesmo a maioria deles, pensam em seguir alguém ou têm um gosto especial por alguém”.
Hoje, como jogador de futebol, tem a noção de que, possivelmente, existe alguém que vê nele uma referência, o que é algo “bonito e fantástico”.
Honesto na vida e lutador em campo é como se define. Apesar das vicissitudes, Fangueiro não perde a esperança e vai continuar o combate que o move a cada jornada.

A – Como se auto-define o Fangueiro em campo?
F – Sou um jogador que arrecada uma característica importante no futebol: a velocidade. Um jogador veloz, que tem algumas qualidades técnicas também; conquanto, não seja esse o meu maior forte. Gosto muito de jogar simples e de fazer - ao jeito da gíria futebolística - o 1-2-1. Fazer uma tabela, dar a bola e receber na frente. Aproveitar a velocidade para fazer uma assistência para o golo ou até mesmo finalizar. Não sou muito alto; porém, tenho um bom jogo de cabeça e finalizo muito bem.

A – E na vida quais as características que reúne?
F – Na vida, sempre fui uma pessoa honesta e séria. Dou muito valor à família e, a partir do momento em que fui pai, mudei bastante. Sou uma pessoa direccionada para a família.

Se voltasse atrás no tempo, nada mudaria. “Em quase tudo na vida, nunca me arrependo daquilo que faço. Se eu fiz algo que não foi o melhor para a minha vida eu tento aprender com esse erro, mas dizer que me arrependo não. Portanto, eu tinha um objectivo enquanto criança, que era ser jogador de futebol, profissional de futebol, consegui. Por isso julgo que faria tudo exactamente da mesma forma”, declara.

A – Quando subiu pela primeira vez a um relvado a fim da disputa das verdadeiras competições, qual foi o sentimento?
F – Não diria indescritível, mas quase. Estava a vestir a camisola do clube que eu apoiava e que sempre apoiei. Tinha acabado de fazer 17 anos ao alinhar pelo Leixões, já na Divisão de Honra. Um feito histórico para mim e para o clube. Era internacional, mas a sensação de subir ao Estádio, a pisar o relvado com aquela camisola vermelha e branca - do clube do meu coração - numa liga profissional, foi extraordinário. Nos primeiros minutos tremi um pouco. Ulteriormente, com naturalidade, isso passou e acabei por fazer um bom jogo.

A – Fangueiro era muito falado aquando da última época no Leiria, tanto que deu o salto para o estrangeiro. Foi, inclusive, indicado como uma esperança para a selecção. Como justifica o apagamento durante as últimas épocas?
F – Já antes, quando estava em Guimarães, estive prestes a assinar pelo Benfica. Fiquei a saber que estive no departamento de pesquisa de talentos dos três grandes e, durante dois anos consecutivos, mesmo muito próximo do Benfica. No último ano em que estive próximo de integrar o plantel com tudo acordado, falhou. Estabeleciam-se negociações com o Vitória de Guimarães, com quem tinha mais um ano de contrato, até que, entretanto, apareceu um outro jogador a dar nas vistas na minha posição e com uma margem de produção maior. Não obstante, era mais barato, o que lhe valeu na escolha. No Leiria chegou-se a falar, quando eu decidi partir para o estrangeiro.
Nessa época, realmente, deixou de se falar bastante em mim. No entanto, o mesmo acontece a quase todas as pessoas que vão para fora, excepto os grandes nomes como Figo e Rui Costa. A segunda divisão inglesa – que é boa, muito boa mesmo – é pouco acompanhada pela Comunicação Social de Portugal. Estive estes últimos seis meses na Grécia, na primeira liga e via o que saía. Ocasionalmente publicavam uma “coisinha” e, de facto, isso faz esquecer um pouco a pessoa e o jogador.

Internacional sub15, sub16, sub18 e também internacional B, foram as representações que Fangueiro efectivou ao serviço da Selecção Nacional.

A – Como pode ser justificado o facto de nunca ter alinhado pela Selecção A das quinas?
F – Pois, não sei… Talvez essa seja uma pergunta um pouco complicada. É um facto que, em Portugal, existem grandes valores e eu estive muito perto de representar a nossa Selecção. Muitos conseguiram lá chegar e, se eu estivesse no lugar deles, seria um orgulho tremendo, tal como foi representar as selecções mais jovens. Não sei, não sei responder porquê. Fiz tudo, trabalhei bastante, sou um grande profissional, e disso ninguém pode ter dúvidas. Quem me conhece sabe que sempre dei o meu melhor. Não atingi essa etapa, paciência… é continuar a trabalhar. Sei que nesta altura, com 30 anos, é muito difícil, mas nunca deixará de ser um objectivo.

A – Por alguma vez pensou que os portugueses se esqueceram do Fangueiro?
F – Julgo que não. Eu não era falado há cerca de dois anos em Portugal e, nesta altura, com o problema grave que tive na Grécia voltou-se a falar um bocadinho mais no meu nome, especialmente por entre a Comunicação Social. Tenho a noção de que as pessoas ainda me reconhecem. Não sabem, ou poucas sabem, por onde passei; contudo, sabem quem sou. Estou agora em negociações com alguns clubes cá e, assinando por um clube no nosso país, com certeza isso vai passar. As pessoas vão tornar a falar e eu prometo dar o meu melhor, em prol de mim e do clube para onde for, assim como do futebol português.

A – E quem é hoje o Fangueiro?
F – Eu! É exactamente a mesma pessoa. Não mudei, na minha opinião não mudei. A pessoa que foi - o Fangueiro que era quando foi para fora - é o que encontram neste momento. Talvez com um pouco mais de responsabilidade e maturidade, porque aprendemos com o passar dos anos, designadamente por intermédio dos erros que cometemos e da forma de estar na vida.

A – Um goleador durante as temporadas que acercam a sua carreira. E, porque falamos de um goleador, recorde o primeiro golo.
F – O meu primeiro golo, na Primeira Liga, foi no encontro entre Vitória de Guimarães-Braga. Foi o meu primeiro jogo a titular. O Vítor Paneira não podia jogar nesse jogo por castigo e o mister Quinito apostou em mim para jogar na vez dele. Ganhamos 1-0 num foi um golo de cabeça. O golo da jornada. Lembro-me de o ter festejado como se se tratasse do primeiro e último da minha vida. Dei um pico para a bandeirola de canto, arranquei-a e comecei a acenar. O jogo realizou-se num Sábado à noite, no Domingo fui ver o Tirsense-Leixões, em Santo Tirso. Vivi algo fantástico ao entrar dentro do Estádio. As pessoas, assim que se aperceberam que era eu, começaram a bater palmas. Foi muito falado na TV “Fangueiro, o jovem das escolas do Leixões”. As pessoas não esquecem e orgulham-se disso e eu orgulho-me também. Foi espectacular ouvir e ver aquelas pessoas baterem palmas e eu sentir a minha pele a arrepiar.

A – É esse o golo que lhe fica na memória?
F – É o primeiro. Tenho vários, mas esse, por ser o primeiro da Superliga, tem um carimbo especial.

A - E o que sente um jogador quando marca um golo?
F - Tudo. Passa tudo pela cabeça. É uma alegria quando se vibra mesmo, quando se sente o clube e até as pessoas. É uma sensação única, espectacular, fantástica.

A - Como avalia o seu percurso profissional?
F - Razoavelmente bom. Bom ou muito bom seria representar a Selecção Nacional A ou chegar a um grande, que são as metas de qualquer profissional de futebol. Não cheguei até aí; todavia, obtive um patamar razoavelmente bom. Representei o Vitória de Guimarães durante sete anos; o Gil Vicente, que terminou a época em quinto lugar assim que subiu de divisão, e o Leiria. Equipas que se seguiram ao Leixões, um clube histórico, emblemático, com uma massa associativa fantástica.

A - Durante o seu percurso passou algum momento de pressão?
F - Vários em termos de pressão desportiva. Tive momentos muito bons ao longo desta carreira; contudo, tive outros menos bons. Em Guimarães, aconteceram situações como um jogo estar previsto iniciar-se pelas 16horas e, só há uma e meia da manhã conseguimos abandonar o Estádio, sob escolta policial. Era uma fase complicada que o clube atravessava e um jogo menos conseguido teve este resultado. São situações como esta que nos fazem crescer e nos dão mais responsabilidade.

A – Relativamente aos meios de Comunicação Social, podem eles influenciar de alguma forma o jogador e contribuir para o desequilibro?
F – Podem e tenho conhecimento de casos de colegas que se deixam influenciar. Nós, profissionais de futebol, é que temos de ser pessoas fortes física e psicologicamente para lidar com um momento bom ou um momento menos bom.

A – As últimas épocas, provavelmente, não foram das melhores da carreira de Fangueiro. Não pensou, por algum momento, abandonar o clube pelo qual actuava no momento?
F - Nos últimos 5 meses que estive na Grécia, sim. Sou uma pessoa que nunca tive ou criei quaisquer problemas por entre os diversos clubes que representei. Pois lá quiseram arranjar problemas comigo. A problemática passou mesmo pela detecção de documentação falsificada para que, com isso, deixassem de me pagar. Fui para lá por intermédio de um telefonema do Inácio. Estávamos no mês de Janeiro, a meio da época, e o Inácio indicou-me para tentar ajudar o clube que estava numa situação muito má. Subsequentemente, procedeu-se à remoção de oito pontos à minha equipa: cinco por o meu presidente ter dado um soco ao árbitro; uma invasão de campo que houve no nosso Estádio na qual agrediram juiz auxiliar mais três ou quatro pontos. Foi o único sítio por onde passei até hoje, em que jogava para me tirarem pontos. Era uma desorganização total. A partir do momento em que a descida de divisão ficou consumada, os jogadores que tinham chegado em Janeiro começaram a ter problemas com a direcção. Na grande maioria das situações, quando se chega a meio de uma época, o jogador é mais bem pago do que os outros que lá estão. Como já tínhamos descido e, para evitarem de nos pagar começaram a arranjar problemas com os jogadores que tinham chegado, inclusivamente falsificação de documentos. E eu disso não vou abdicar, dado é que meti o meu processo na FIFA contra o Ionikos na Grécia; aguardo a resolução. Nessa altura sim, passou-me várias vezes pela cabeça abandonar a meio o meu contrato.

Jamais lhe passou pelo pensamento abdicar do futebol.
Esta foi das épocas mais difíceis, em que decisões tiveram de ser tomadas. Contudo, a vida é feita de decisões e Fangueiro não lida a quente com a resolução dos assuntos. “Sou uma pessoa muito fria. Em situações de risco ou de problemas sou uma pessoa muito fria. Tento sempre pensar muito bem nos prós e nos contras para, a posteriori, tomar uma atitude. Sempre ponderei as situações e nunca me arrependi, felizmente”, revela o atleta.

A – Qual é a época que recorda com maior saudade?
Não tenho uma. Tenho três no mínimo. Tenho duas em Guimarães, nas quais fui duas vezes o melhor marcador da equipa. Não obstante, a do Leiria que foi boa conjuntamente. Apesar de não marcar tantos golos, em termos de qualidade considero uma boa época. Como disse tenho várias… a do Gil que é uma equipa que conseguiu o quinto lugar pelo trabalho fantástico do Álvaro Magalhães. E todas as épocas do Leixões, obviamente, que era o clube onde me sentia melhor. Estava em casa, estava no clube do meu coração e tinha um orgulho tremendo em jogar naquele Estádio com aquela camisola.

A – Como relembra as competições europeias?
F – É o auge. Já representei pelo Vitória de Guimarães a Taça UEFA. Estive na final da Taça Intertoto pelo Leiria. É, definitivamente, um orgulho tremendo entrar numa competição de alto nível.

A – Sente saudades de representar o seu clube na UEFA?
F – Recordo bastante. Tenho todas as camisolas, de todos os clubes por onde passei. E de vez em quando vou lá, ao meu lugarzinho especial, relembrar o passado, nunca esquecendo, obviamente do presente, e do futuro que tenho que encarar.

A – Nesta altura em que não está ligado oficialmente a um clube, como estamos quanto a negociações? Podemos já citar alguns nomes?
F – Não, não se pode. Posso dizer que são dois clubes da Superliga e três da Liga de Honra. Ao chegar a Portugal tive logo dois convites para clubes estrangeiros. Porém, não queria que o meu futuro passasse por aí, queria ficar em Portugal. Tenho consciência que, em termos financeiros, o nosso país está muito mal. Mesmo assim pretendo chegar a acordo para permanecer por cá. Se não chegar ao acordo, muito provavelmente, terei de ir para fora, onde o meu empresário está a trabalhar nesse sentido. Por isso julgo que durante esta semana, já devo ter o meu futuro definido.

A – Se viesse agora a representar um clube de outra divisão que não a primeira, seria um recuo na sua carreira?
F – Não. Até porque a Liga de Honra, por exemplo, é muito competitiva. Quase todos os clubes que militam nesta divisão têm como objectivo a subida e, portanto, não era um decréscimo. Sabendo que todos têm o objectivo da subida, lutar por um objectivo é sempre bom. Óptimo será quando esse objectivo se consegue. Porventura em termos de patamar pode ser visto dessa forma, mas, por outro lado, estava num país que é o meu, que adoro e, ao mesmo tempo, estaria a praticar bom futebol. Não tenho qualquer dúvida de que quer na segunda divisão inglesa quer na primeira grega, não é praticado um futebol tão bonito como o português.

A – Nada ainda está definido. Qual o clube que gostava de vir a representar?
F – Ao nível nacional seria o Benfica. Uma grande frustração estar tão próximo do clube e não o ter conseguido. Em termos internacionais, penso que o Real Madrid é e sempre foi um histórico, um clube poderosíssimo à escala mundial.

A – Portanto, o Campeonato espanhol é o que elege?
F – Neste momento é. Está muito forte e detém uma organização muito grande. Isto para além da saúde financeira. Na minha opinião será o melhor campeonato do mundo.

Aos 30 anos, o jogador continua a evidenciar a forma e o espírito de um jogador que ainda muito contributo tem para dar ao futebol nacional.
Num breve olhar para o futuro podemos analisar uma outra fase por onde o jogador pode optar: ser treinador.

A – Já pensou em alguma vez vir a treinar um clube?
F – Sim, passa por seu um objectivo meu. Fiz o curso nível 1 de treinadores, em Braga. Aquando do segundo, no Porto, fiz a inscrição e o respectivo pagamento, só que, no dia seguinte, tive de viajar para a Grécia. Passa por ser um objectivo meu em termos futuros, como apaixonado pelo futebol que fui e sou a cada dia que passa. Por isso mesmo, no término da minha carreira de jogador, se o meu futuro passar por estar ligado ao futebol será a concretização.

A – Qual seria o clube de sua eleição?
F – Nenhum clube em particular. A nossa vida é feita de sonhos e o meu sonho seria atingir um patamar, como por exemplo o Mourinho atingiu ao tornar-se o melhor do mundo. Em tudo o que faço dou o meu melhor e, se o meu melhor fosse conseguir um lugar desses, seria óptimo. Mas não é fácil, pois a concorrência e os valores são muitos. Existem treinadores fantásticos no desemprego e é um trabalho muito complicado, com uma carreira muito difícil.

A – Actualmente com quatro filhos espera que lhe sigam as pisadas?
F – Não vou influenciar em nada. Só tenho um menino e claro que gostava de vê-lo seguir as minhas pisadas. Sei que ele é um apaixonado pelo futebol, mas ainda é muito cedo para prever o que irá seguir. Se um dia isso acontecer será um motivo de orgulho para mim. Não o deixando nunca abdicar dos estudos.

A – No que concerne ao futebol nacional, por entre tanto défice e polémica, o que considera que falta?
F – Falta um pouco de organização e a atribuição de mais credibilidade. Já está melhor; todavia, a todo o momento e a toda a hora são dirigentes e presidentes de clubes que falam nos jornais e que aparecem como o grande destaque nos jornais, quando, no fundo, deveria ser o jogador de futebol. Ele é que é o artista, é quem vai lá para dentro e sua a camisola. Ele é quem corre atrás da bola, faz golos. Portanto, é ele quem faz vibrar. Sei que é um conjunto de pessoas, passando pelos directores que criam um espectáculo com organização e tudo mais. Porém, o verdadeiro artista é o jogador de futebol. Infelizmente, há casos menos bons que acontecem no futebol português, o que fez com que, se calhar, as pessoas com mais poder nos clubes tivessem de dar a cara e falar.

A – Há algo que considera que poderia ser mudado, a curto prazo?
F – A seriedade. Não digo que não haja; todavia, as pessoas deveriam encarar o futebol como uma profissão e um desporto sério. Reafirmo, não digo que não seja o caso, mas cada dia que passa deveríamos encarar de uma forma mais positiva, mais séria e mais credível, porque de outra forma não vamos conseguir encher os Estádios. A realidade é que, a cada ano que decorre, eles estão mais vazios, uma questão preocupante.

A – Concorda com a proposta do sindicato, na criação de um fundo monetário para jogadores desempregados ou em fim de carreira?
F – Concordo. Aliás, há que dar os parabéns por todo um trabalho que o sindicato tem feito. Não é ainda um sindicato que tenha muita força em relação, por exemplo, ao sindicato inglês ou ao sindicato francês; no entanto, estamos a seguir para esse caminho. Está a ser realizado um trabalho sério, no qual as pessoas estão a acreditar. Antigamente, um jogador de futebol acabava a carreira e não tinha mais nada que fazer. Muitos deles acabavam a pedir esmola – infelizmente acontecia isso –, na miséria. Ao ser criado esse fundo ajudar-se-iam mais esses jogadores, algo que julgo ser muito importante.

A – Na época passada, não estava por terras lusas, mas soube de tudo quanto se ia passando por cá. Três acontecimentos marcaram este último ano: a luta entre Gil Vicente e Belenenses com o caso Mateus; a Selecção Sub 21 com o campeonato europeu deste ano e a Selecção A. Como é que avalias esses três factos que ocorreram?
F – A história do Belenenses e do Gil Vicente vem de encontro com o que falamos. Credibilidade, seriedade e capacidade de dar um murro na mesa para dizer “é isto que vai acontecer”. Com essa afirmação ninguém questionaria a decisão. Esse foi um facto não muito bom e, infelizmente, aconteceu. Esperamos que, no futuro, não se volte a suceder, uma vez que foi mesmo muito mau.
Em relação às selecções jovens, com pena minha, confesso que era algo que previa, pelo simples facto de terem aberto as portas do mercado português a qualquer estrangeiro que venha para cá jogar. Não sou contra isso, sou é contra a quantidade que entra. Preferem ir buscar um ou dois estrangeiros que não conhecem, não sabem a capacidade e a qualidade adquirida, em detrimento de um jogador detentor de algum nome e que percorreu um trajecto no futebol nacional. Escolher estrangeiros, pode vir a reduzir as oportunidades dos jovens promissores. Optam por buscar estrangeiros e a consequência é detectarem-se planteis com 11/12 brasileiros, mais 2/3 franceses, com 1/2 africanos.
Ao invés, a Selecção A, têm vindo a desenvolver um trabalho muito sério e muito bom. Os últimos jogos não têm sido tão bons, em muito devido aos adversários encararem o jogo com Portugal, como outrora encaravam com a Argentina ou com o Brasil. Cada jogo com Portugal é visto como se fosse o último da vida deles e isto é um factor de motivação muito grande. Acredito que com o valor que existe vai-se conseguir inverter a conjuntura. Num curto espaço de tempo, acredito que a Selecção vai conseguir algo de muito bom. Uma conquista muito boa tal como um Campeonato da Europa ou mesmo um Campeonato do Mundo.

A – Nessa sequência de ideias, o futebol pode passar por ser uma imagem de marca?
F – Sim, principalmente o português. É um futebol muito bom, muito rápido e muito técnico. Não é por acaso que muitos estrangeiros vêm para o nosso futebol e sentem dificuldades na adaptação, sobretudo, os brasileiros. Existe muita qualidade e daí ser uma imagem de marca, sem dúvida alguma.

A – E quando falamos em publicidade: imagem visual e aparência de que são exemplos o Zidane ou o Ronaldinho.
F – Hoje mais do que ontem e, com certeza, no futuro mais do que hoje é a tendência. Imagem, publicidade, marketing é o aproveitar das “caras bonitas” e das imagens de marca que fazem dinheiro. A finalidade roda num mundo financeiro e, de certeza absoluta, que muitos mais jogadores de futebol, muitos mais jogadores de ténis, vão tornar-se estrelas ao darem a cara por algo.

A – Considera este um factor relevante?
F – Não é o mais importante. Ainda assim é bom sentirmo-nos úteis, especialmente quando pensamos que vamos ser um exemplo para alguém.

A – O Fangueiro preocupa-se, de alguma forma, com a imagem? Com a que passa e com a que tem?
Penso que qualquer pessoa que goste minimamente de si se preocupa com estar bem, em vestir mais ou menos bem, em usar o cabelo desta forma ou daquela, em preocupar-se com a imagem. E não me refiro só o jogador de futebol. Eu gosto de mim e preocupo-me com isso é claro.

A – Com a experiência que arrecadou ao longo destes anos. O que, na sua opinião, deve reunir e deve ser um jogador para ser bem sucedido?
F – Muito sério, muito profissional e, acima de tudo, ser muito forte psicologicamente. Estes são três ingredientes relevantes para quem quer e deseja ser jogador de futebol.


Para a próxima época, este jogador deseja “ficar cá em Portugal, chegar a acordo com um dos clubes que estão em negociações e fazer uma grande época para que as pessoas comecem a lembrar novamente o meu nome”. A afirmação do jovem promissor que está de regresso “para que saibam que eu estou vivo ainda”.
Nomeadamente se fosse ao serviço do “clube do coração”, “pois isso seria muito bom, mas neste momento não acredito muito que isso seja possível”. Fangueiro está bem informado quanto aos acordos que se fizeram com alguns jogadores do FC Porto e confessa ter pena por não fracas serem as probabilidades de vir a ingressar no Leixões. “Tenho pena, porque, tirando este, nos últimos três anos houve um namoro muito grande, da minha parte para com o Leixões e do Leixões para comigo. No ano passado estivemos muito próximos, tínhamos tudo acordado e o que falhou foi… o que os dirigentes do Leixões dizem não coincide com aquilo que o meu empresário me falou, há ali qualquer coisa no meio que não bateu muito certo, e, por isso, não assinei pelo Leixões no ano passado”, divulga o jogador. Um pouco triste foi como se sentiu nessa altura uma vez que tinha tudo acertado. Distintas propostas nacionais surgiram no decorrer desta negociação, nomeadamente por parte do Beira-Mar, Gil Vicente, Académica de Coimbra, Paços de Ferreira e um outro clube da Segunda Liga, “e como tinha tudo acertado com o Leixões disse que ia ficar na minha terra, que queria ficar no Leixões que era o clube que eu gostava. Depois de vir de férias via que ninguém me ligava, achei estranho, e quando eu tentei saber o que se passava me disseram que tinham ido buscar outro jogador”, reaviva. Após ter dado a resposta negativa a esses clubes teve de ir para fora, “porque fiquei sem nada em Portugal”. Rumou a Inglaterra, contra a sua vontade pessoal: “queria ficar em Portugal. Já no ano passado queria ficar por cá, pois, como disse, sou uma pessoa que dá muito valor à família. A família estava cá e era com ela que eu queria ficar”, confirma Fangueiro.
Mas lembranças à parte, viramos a página para as prospectivas. O sonho que comanda a vida de Fangueiro é “o mesmo de qualquer outro jogador de futebol: representar um grande do futebol, principalmente, na minha opinião, do futebol nacional”, assume “Esse é o grande trajecto, o grande objectivo que eu tenho como profissional. Sei que há medida que o tempo vai avançando, tenho 30 anos nesta altura, que esse sonho vai ficando mais pequenino, mas ainda não acabou e tudo farei para alcança-lo”.
Uma ambição que comanda a sua paixão incessante pela vida e pelo futebol, no palco das emoções a cada jornada por entre os relvados da sua vida.



Anabela da Silva Maganinho

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