Saturday, September 22, 2007

Elmar Stremitzer: Paixão sem fronteiras









As grandes emoções do Hóquei em Campo viveram-se em Portugal durante toda uma semana do mês corrente.
Um torneio disputado em dois grupos por oito selecções que ambicionavam o apuramento para os Olímpicos. Portugal, Polónia, Itália, Áustria, Ucrânia, Suiça, País de Gales e Escócia integraram este evento que foi quase como que uma apresentação da modalidade aos portugueses.
Elmar Stremitzer é um dos atletas que conta na primeira pessoa como se vive a modalidade no seu país e qual a sua opinião acerca de Portugal e dos portugueses nesta que foi a sua primeira vez por terras lusas.

As equipas já cruzaram destinos ou finalidades por campos internacionais e, por isso mesmo, “não é a primeira vez que jogamos contra elas”, afirma Elmar e continua “já conhecemos a Polónia, a selecção contra quem jogamos quatro ou cinco vezes por ano. Conhecemos a Itália do último campeonato, em Roma. A Ucrânia já foi nossa adversária imensas vezes e, no que concerne à selecção da Suiça, podemos dizer que são os nossos vizinhos e que realizamos alguns jogos amigáveis”.
A selecção austríaca acreditou desde sempre que era potencial candidata ao troféu em questão. Todavia, Elmar assiste na consistência que a selecção da Polónia e da Escócia são: “para mim, as melhores equipas fisicamente e as que reúnem, inclusive, as melhores técnicas, mas depois deste jogo contra a Polónia, do qual saímos vencedores, tudo mudou. Agora esperamos pelo jogo contra Portugal e provavelmente iremos ganhar” (lembro que o jogo frente a Portugal foi a segunda jornada do torneio).
A Áustria posicionava-se no primeiro lugar do grupo até ao confronto com a equipa portuguesa e no mesmo lugar permaneceu. Esperavam ter pela frente na semi-final o segundo classificado do outro grupo, cujas estatísticas apontavam para a Ucrânia ou Suiça. Equipas que teriam fortes probabilidades de chegar à final e que “poderemos jogar contra eles”, assevera Elmar.
O camisola 23 acreditava na tão aclamada final, que dava “acesso à divisão A daqui por dois anos”, e assim se concretizou mais uma vez com a Polónia na derradeira partida.
No que diz respeito à equipa portuguesa Elmar revela que o surpreendeu, até porque nunca a tinha defrontado em competição. “Penso que já me cruzei com um dos jogadores há alguns anos no Indoor Hockey, mas nunca em outdoors”. O jogador austríaco considera que os jogadores da Selecção Nacional “estão em boa forma e jogam muito bem hóquei”. Elmar confessa não conhecer bem os novos jogadores e que também não está muito por dentro do campeonato hoquista que por aqui decorre, nomeadamente no que circunscreve às equipas. Tem a certeza é que é de bons jogadores que estamos a falar.

Anabela (A) – Para este campeonato quais são as expectativas que cria?
Elmar Stremitzer (ES) – Na verdade viemos competir e sabíamos que teríamos pela frente três jogos no nosso grupo – contra a Itália, a Polónia e Portugal. Conhecemos Portugal e temos a consciência de que temos de ganhar contra esta equipa. É que se não conseguirmos ganhar contra esta equipa não temos a certeza se somos suficientemente bons para jogar nos Olímpicos: Torneio de Qualificação Olímpico. Quanto à Polónia, eles são profissionais, ou seja, são pagos, treinam duas vezes por dia, estamos a falar de verdadeiros desportistas. A nossa equipa é composta por muitos estudantes. Temos alguns agentes, alguns advogados... Por isso, somos estudantes e trabalhadores e, não obstante, jogadores de hóquei apenas por diversão.

Elmar assume que para ele “tem sido uma surpresa constante”: “Jogamos contra a Polónia há duas semanas, um jogo no qual perdemos. Não me recordo do resultado, mas perdemos e era como se eles estivessem a jogar contra miúdos, um escândalo”. Agora a situação inverteu-se e a Áustria saiu vencedora do confronto “ganhamos a partida e apenas temos que pensar que temos outro jogo amanha, por isso, vamos ter calma e guardar a energia para esse jogo”.
De Viena os telefonemas foram mais de que muitos a felicitarem a equipa “muitas pessoas começaram a ligar-nos poucos minutos depois do final do jogo. Todos estão felizes e celebram em Viena. Ganhamos e ainda é mais especial porque nunca tínhamos jogado com a Polónia num outdoor. É uma das melhores equipas europeias e ganhamos contra eles”, revela Elmar resplandecente com tal vitória.

A – Falamos dos jogadores nacionais, voltemo-nos um pouco para o país. Com que ideia é que ficam de Portugal?
ES – Já estive muitas vezes em Espanha; porém, nunca passei por Portugal. Por enquanto apenas conheço o meu hotel, o campo de hóquei e, no dia de descanso, fui até à cidade que é muito bonita. Percorremos o Bairro Alto e o centro histórico da cidade. Sei que Portugal é um dos países mais pobres da Europa; contudo, penso que – pelas pessoas que conheço e pelas que vi na cidade – são um povo muito contente e sempre atencioso e amistoso. Falamos de pessoas muito tolerantes. Daí que penso que é um país muito simpático para viver e para estudar e trabalhar provavelmente.


Ser jogador hóquei em campo nem sempre é fácil porque há toda uma vida conjugar com esta actividade desportiva. É a paixão e o desejo de vencer que comanda a vida destes jovens e nada os pode mover do sonho que perseguem.



Não raras as vicissitudes pelas quais têm de se fazer ultrapassar, Elmar diz aos amigos que jogar hóquei é do melhor. O hóquei em campo na Áustria não é muito conhecido, tal como na maioria dos países na Europa, mas ele insiste que “Olhem, o hóquei é um dos melhores jogos, por que gosta-se sempre, vais aos torneios, e é uma modalidade de homens e mulheres”. Elmar prossegue a explicação de que “temos sempre 50 por cento de hipóteses para cada um dos lados e que há sempre muita diversão, sobretudo na nossa equipa”. “Um jogo inteligente que não é só conduzido pelo corpo e por um jogo grosseiro e não é como o futebol. O hóquei é mais técnica e muito mais com o cérebro, é um jogo que exige o raciocínio. Se forem à Áustria, Alemanha e, provavelmente, Portugal passa-se o mesmo que com a Holanda. É muito familiar, sempre acompanhado pela família. As crianças jogam, os pais já jogaram outrora e a modalidade passa de geração em geração”, assegura.
Efectivamente falamos de um desporto que o apaixona e, mais do que isso: “amo este jogo”. Elmar reafirma que “não é um jogo estúpido quando comparado com outros” e, em jeito de brincadeira, revela ser este o desporto que tem “as melhores festas de sempre”.
E para os que têm medo das dificuldades aqui vai um conselho “Se queremos ser uma das melhores equipa da Europa e conquistar alguma coisa, então, temos mesmo que desistir de uma quantidade de coisas”. Sair à noite em algumas alturas, ir a festas a toda a hora são duas das muitas coisas que não se podem fazer; para além disso “nada de drogas, que é um aspecto bom”. Elmar insiste na necessidade de comparecer sempre nos treinos e, por tudo isto, por conseguir conciliar tudo é que “a nossa equipa é tão especial”, assume Elmar “estudamos e também trabalhamos, e não somos gente estúpida, apesar de não sermos profissionais nem recebermos dinheiro por jogarmos hóquei”.
Trabalhadores que lutam por um lugar ao sol a cada passo que dão rumo às conquistas. Enfrentam constantemente um problema de gerenciamento de tempo para que tudo seja feito em somente um dia – estudo, trabalho e treino – “vamos para o trabalho e, ao final da tarde, temos treino. São algumas das coisas que se tem de ter em conta quando se joga hóquei”.
Um trabalho árduo nem sempre reconhecido; no entanto, a melhor recompensa desta temporada foi conquistada – a divisão A em 2009 – e, a partir deste momento, o sonho (pros)segue pela Europa a fora.



Anabela da Silva Maganinho

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