Saturday, April 11, 2009

In: um sonho por "dentro" da música

Os IN começaram a jornada pelas lojas Fnac na passada quinta-feira, tendo em vista a promoção do primeiro registo da banda. IN é o nome dado a cinco rapazes que têm o mesmo sonho em comum: a música. Duarte dá a voz e está sempre acompanhado pela guitarra, Gil não prescinde das teclas, Miguel para além da voz dá o tom à guitarra, Ângelo faz a segunda voz no compasso do baixo e Virgílio fica com as pautas da bateria.
Oriundos de Braga e juntos desde 2003, os IN revelaram o verdadeiro boom enquanto banda no ano transacto, altura em que “Se já não queres saber de mim” encetou pela rádio. Entretanto, vieram as actuações pela televisão e agora, para executar, ficam os espectáculos um pouco por todo o país, de modo a que a música IN possa chegar “dentro” de cada um.
Anabela (A) – A primeira pergunta é a da praxe...
Duarte (D) –
Como é que surgiu a banda?

A – Exactamente. Como é que vocês surgiram? Vocês formaram-se em Braga, mas o que eu queria saber é se são todos de Braga.
D –
Sim. Vila do Prado, Vila Verde, Braga. A – Agora contem lá como é que tudo aconteceu. Em que ano é que vocês surgiram?
D –
Nós surgimos, como eu costumo dizer, num gosto pela música. Eu, o Gil e o Ângelo já nos conhecíamos da escola, só que formar um trio é complicado. Só em casamentos e não é muito a ideia (risos). Então era preciso arranjar mais músicos. Contactámos o Miguel e um outro baterista que esteve connosco durante três anos. Depois ele saiu e agora temos o Virgílio. Os IN surgiram, sobretudo, de um gosto pela música, de um gosto pelo rock. Tudo começou em 2003. Havia, inclusivamente, um dia oficial que nós declaramos quase feriado nacional, que é o dia 20 de Fevereiro de 2003. Não é feriado nacional, mas deveria de ser (risos). A partir daí foi só tocar, ensaios, concerto aqui concerto acolá e entretanto gravamos o disco.

A – Mas o grande boom podemos dizer que foi em 2008, não é?
D –
Sim, podemos dizer que fomos contratados para gravar o disco em 2007, mas o disco sai em 2008, por isso podemos considerar o boom IN em 2008.

A – E agora a explicação para o nome IN. IN tem a ver com moda com o estar dentro?
D –
Sim, precisamente por aí. Estar dentro, pertencer, fazer parte. Podíamos agora inventar e dizer que era uma sigla. Parecia bem, mas não vale a pena (risos).
A – A partir do momento em que tiveram a ideia da formação da banda irrompeu um projecto que foi sendo elaborado e limado ou uma junção foi constituída «às três pancadas»?
D –
Sim, considero que, como quase todos os projectos, surge às três pancadas. Só que, normalmente, vê-se ao contrário. Nós música zero, guitarras loja dos trezentos praticamente. Havia era uma grande vontade, mas foi evidentemente «às três pancadas». Claro que aos poucos fomos refinando a nossa maneira de ver a música, fomos caminhando para um gosto comum pela música que agradou a todos, que agrada a todos e continuamos a caminhar nesse sentido.

A – O vosso interesse pela música despontou nessa altura ou já vinha dantes?
D –
Penso que há uma ligação à música pela parte de todos. No meu caso, não digo que seja desde o berço porque não me lembro, mas é, de facto, uma ligação desde tenra idade. Eu acho que desde que uma criança ouça música e aprecie música, ainda que não se pense muito sobre isso, acaba por fomentar o «bichinho» da música dentro de si.
Um género musical, essencialmente rock, que apelidam como pop punk rock e que tem suscitado algumas novas denominações “ainda hoje ouvi algo engraçado pop punk skatter. Concordei, não podia dizer que não, mas também tem rock”, revela Duarte.
Miguel explica de que forma é que não estão “ligados a uma tendência”, pois pode ser “misturado um pouco pop, mas isso acabou por ser um acordo a que chegamos com a anterior agência. Antes de escrevermos os temas para avançarmos para a gravação do primeiro álbum determinamos isso, porque eles tinham um projecto mais ou menos definido que coincidiu com a criação de alguns temas mais pop, sendo a banda originalmente muito mais rock. Tudo o que aparecerá a partir de agora será uma versão diferente, será já com uma certa maturidade”.
Efectivamente, a música que vende em massa é a música pop, parece que é o meio termo no meio de distintos géneros musicais e os IN estão atentos a essa consciência que envolve o mundo no qual estão inseridos. “Se queremos ser músicos, temos que vender e aí, se queremos que chegue às massas, é pop”, confessa Duarte sem, no entanto, deixar de dizer: “vamos tentar buscar o rock mais genuíno, vamos como se fosse numa demanda pelo rock”.
A composição das letras e músicas deste disco de estreia coube a todos os membros da banda; todavia, não há um estereotipo do que é que se concebe primeiro – se a melodia ou a lírica: “Aí somos um bocado anarcas. Não há uma regra de estipular primeiro o som, depois a melodia, depois encaixamos a letra. Não, vamos supor: estamos na sala de ensaios e o Miguel está com a guitarra na mão e até sai um som engraçado. Uma coisa que lhe saia bem a ele, que nos soe bem a nós, dá para começarmos a trabalhar a partir da música”, explica o vocalista. “Isto é um bocado fruto da tua própria criatividade. E a criatividade, por vezes, vem num ensaio, como pode vir no trabalho, em casa, na cama, por vezes, é preciso estar atento, arranjar uma forma de memorizar aquilo em que estás a pensar e depois no ensaio demonstrar”, assevera Miguel.

A – Como é que descrevem este álbum?
D –
É um álbum jovem, dinâmico, podemos dizer que é um adolescente. Chamando a minha parte de letrista, embora todos componham e dêem a sua achega, posso dizer que é adolescente. Pode reflectir ainda ao nível de letras o período da adolescência; porém, julgo que, ao nível de melodias, é um disco mais adulto. Quero acreditar que é assim.
Miguel (M) – Eu considero até que é um disco que consegue reunir diversas faixas etárias. Digamos que tenho colegas mais novos que adoram e que se identificam, mas também há pessoas que escutam e que dizem que gostaram dos temas. Acho que não tem de estar conectado. É um álbum bastante consensual. A – Neste momento, se tivessem de destacar uma música, como a que melhor vos define, qual escolheriam?
D –
É complicado. Tendo o disco baladas… se me pedisses duas eu dizia-te duas de cabeça: a “Untitled”, uma balada fenomenal, um «baladão» como nós lhe chamamos; a outra seria a “First Date”, uma música que mostra atitude, energia e, no final de tudo, um desenrasque. A letra fala mesmo de um desenrasque e de lutar contra as adversidades. Ele vai, faz e acontece, tudo.

A – O que é que vocês pretendem passar através da música?
M –
Acima de tudo, sempre iniciamos este projecto como forma de ocuparmos algum tempo que sempre tivemos disponível, associado ao gosto pela música e fomos sempre ambicionando mais. Recordo-me dos primeiros ensaios e dos primeiros concertos em que eu gostava de dizer aos meus amigos que tinha uma banda, que íamos ensaiar. Eles achavam que eu era o maior. Agora os tempos foram passando e…
D – E tu continuas o maior (risos).
M – e a ambição também vai crescendo. Passamos por várias etapas e se podemos considerar que até houve uma altura em que levamos a música muito na brincadeira, neste momento não é tanto assim. Como o Duarte dizia no início, os instrumentos que utilizávamos não transmitiam qualidade. A partir de um certo momento houve um desenvolvimento a nível de banda e, acima de tudo, pensamos em começar a utilizar instrumentos que fossem capazes. Não queríamos ficar condicionados se tivéssemos de ir tocar a algum lado e, portanto, tudo isto foi surgindo naturalmente até que conseguimos levantar o primeiro álbum. Já estamos a pensar num próximo e esperamos que esse próximo traga uma nova dimensão e que essa dimensão permita chegar a um outro lado pela música.
D – Apesar de identificar nas músicas o movimento punk, não vejo as músicas como um meio de passar mensagens políticas ou morais. Vejo a música como um meio que possa passar energia, possa passar o desfrute de bons tempos ou talvez de uma fase menos boa até que escrevamos sobre isso e que a pessoa se identifique.
Ângelo (AN) – Essencialmente é boa energia. Camaradagem entre o pessoal.

A – Uma percentagem do vosso CD reverte para a causa Oikos, não é assim?
D –
Lá está, em vez de passar pela música preferimos agir. A letra de uma música é constituída por palavras e, ainda que possa despertar alguém para isto ou para aquilo, não passam de palavras. Tentamos fazer mais do que passar palavras e o exemplo é o nosso disco que pode ser adquirido no nosso site por 10€ e 2.50€ revertem para a Oikos.

A – Mas como é que surgiu essa ideia, mesmo da vontade de intervenção?
D –
Desde pequenos que estamos ligados a esse tipo de causas.
M – Desde pequenos banda (risos). Somos uma banda solidária.
D – Desde pequenos que estamos ligados à solidariedade e ao bem-estar dos outros, porque se o outro está feliz também eu estou feliz. Surge daí uma procura por melhorar tudo o que é possível melhorar.

A – Estávamos há pouco a falar sobre a composição das músicas. Quais são as bandas que vos influenciam na composição que se traduzem em referências musicais, para além dos Fonzie?
M –
Mas achas que é algo que está marcado na nossa banda, os Fonzie?
A – Talvez, não propriamente em termos sonoros, mas acho que há qualquer coisa que vos liga.
M – Não é relacionado. Posso dizer que, como banda, estamos muito ligados à sonoridade mais rock. Chegamos a uma altura em que a composição do nosso som era muito relativa. Não estávamos bem identificados até que houve um momento de viragem. Nessa altura, bandas como os Fonzie, ao nível nacional, Green Day e tantas outras, acabaram por ser influências. No entanto, do tipo de sonoridade com que nos viemos a identificar Fonzie era a maior referência nacional.
Virgílio (V) – O que é importante referir é que, não obstante ao facto de o grupo ser influenciado por referências nacionais e por referências que o grupo como um todo chama a si, há um lado mais individual que acaba sempre por contribuir para a música. Eu não sou influenciado por Fonzie, não que não goste da sonoridade, mas prefiro Nirvana, por exemplo. Mais do que ser influenciado como um grupo somos mais influenciados individualmente.
M – No fundo há uma sincronia de referências. Hoje, por exemplo, tocámos um tema que não está no álbum e não encontro os mesmos pontos para este tema, mas encontro outros. Penso que será sempre assim e é do meu agrado e do agrado de todos que o seja. Não queremos estar sempre a tocar temas exactamente iguais.
D – Sinto que, ao vivo, somos muito mais «rockeiros» do que aquilo que alguma vez se consegue mostrar num disco. O nosso álbum acaba por reflectir uma realidade que são os IN claro, mas as influências de um rock mais pesado começam a surgir em temas como a “Turn Bay”. Um tema que surgiu tarde e a más horas, mas, se calhar acaba por estar um pouco mais desfasado do disco. Quero acreditar que é uma música mais madura, mais trabalhada, mais pensada.
AN – Mais rock.

A – A que se deve a escolha de cantarem em português e em inglês, um assunto que suscita sempre alguma discussão no contexto nacional?
AN – É o meio-termo.
M – Mas não foi consensual no início.
D – Foi complicado, no início. Enquanto compositores é complicado de um momento para o outro começarmos a compor em português, não digo que não é.
AN – Costumávamos compor em inglês.
D – Estivemos três ou quatro anos a compor em inglês e, de um momento para o outro, tivemos de compor em português.
V – Tem a ver com fazermos uma adaptação. O rock não é português. Não estou a dizer que não podemos tocar em português; contudo, depois há a crítica de bandas portuguesas a cantar em inglês. A grande questão é que as coisas nascem por si, influenciadas por toda uma cultura…
AN – O inglês é a língua universal.
M – Se fossemos pegar em certos temas e os transpuséssemos para português acabaria por não funcionar da mesma forma.

A – Relativamente à vossa música “Deixaste-me tentar” é uma música tocada nas rádios nacionais, com especial destaque na montra nacional da “Best Rock”. Queria saber duas coisas: qual foi a sensação ao ouvirem pela primeira vez a vossa música passar na rádio? Este apoio por parte das rádios e até por parte das televisões mais recentemente, o que é que significa para vocês?
D –
A primeira vez que ouvimos a nossa música na rádio é estranho. Começamos por ouvir a nossa música numa rádio local e aí nem pensamos. Se os nossos primos ouvem é fixe. Quando vais no carro do nada e ouves numa rádio nacional a tua música… só saltávamos dentro do carro.
AN – É a mesma sensação de estar a jogar por um clube e logo no primeiro jogo marcar golo.
V – Das primeiras vezes, em que a música tocava nas rádios locais, eu não estava na banda. No entanto, lembro-me de uma situação: fomos a Lisboa e o nosso manager teve uma reunião numa rádio qualquer. Estávamos a vir embora e eu por acaso nunca tinha ouvido a música na rádio. Então, na carrinha de volta a casa eu ia no banco de trás e, de repente, começa a dar a música e o Ângelo esmaga-me contra a carrinha (risos).
AN – Era a primeira vez que estávamos todos juntos,
M – Ouvimos todos a música no top 7 às 7.
D – Vamos ver uma coisa, Portugal é um país pequenino, mas, para uma banda de Braga, estar a disputar o top quando estão com bandas de Lisboa, com bandas internacionais até, é um orgulho enorme. Significa que gostam de nós. Quanto ao apoio, acaba por se reflectir numa cobertura de tudo e em directo. Acaba por ser mais um pilar na nossa subida.

A – Acerca disso queria-vos colocar outra questão, vocês sentem-se de alguma forma «postos de lado» pelo facto de serem uma banda do Norte e não de Lisboa?
D –
Penso que cada vez mais isso vai deixar de existir. Nós, que somos de Braga, vemos que Braga é cada vez mais um pólo cultural e saem de lá cada vez mais bandas do que alguma vez saíram.
M – Braga está bem representada não só com bandas. Promoção e espectáculos é coisa que não existe, em Braga. Não é uma cidade que vive à custa da música, não vai lá ninguém tocar. Temos, há cerca de um ano, o Teatro-Circo que contribuiu para que houvesse mais qualquer coisa, mas não podemos ignorar que tivemos um fosso muito grande durante muitos anos. Não havia nenhuma referência a ser projectada para Braga para poder acontecer qualquer coisa e não havia esse interesse cultural. Esse fosso criou um isolamento.
V – Portugal é um país extremamente centralizado. Agora que Braga tem crescido e que iniciativas culturais têm surgido em Braga também é verdade. Não culpo os espaços culturais ou a falta de iniciativa que tem havido em Braga, porque tem a ver com a mentalidade das pessoas, essencialmente. Quantas vezes não há concertos e boa música e o pessoal prefere estar a socializar.
D – Socializar, entenda-se estão nos copos (risos).

A – Mas a indústria musical então não tem uma cota parte de culpa no meio disto?
M –
Não. Não há uma aposta por parte das pessoas, os bares não se mobilizam, não apostam.
V – Tendo em conta os espaços culturais que temos e o público, penso que o público está um bocado em baixo. A mentalidade das pessoas é que tem de mudar e isso é uma coisa que se vai adquirindo só ao longo do tempo, ou não. Ou se calhar é uma coisa que é um mundo à parte e vai continuar a ser. A – Vamos agora mudar um pouco o assunto e virar as atenções para cada um de vocês. Duarte, o teu sonho é fazer uma tour mundial. Quem é que gostavas que vos acompanhasse nessa tour?
D –
Boa pergunta. Nunca pensei nessa maneira, pensei sempre em acompanhar alguém. Sem problemas nenhuns com Simple Plan, com Green Day. Não nos importávamos nada de partilhar palco com eles. Nunca pensei eu a fazer uma tour mundial e alguém a fazer a primeira parte, pensei em eu acompanhar alguém.
M – É a humildade. :)

A – Miguel, a tour eras capaz de fazer em BTT?
M –
Olha que eu não digo que não (risos). Estou em forma. Sempre adorei praticar desporto e com a passagem dos anos isso foi-se tornando uma parte secundária da minha vida. BTT foi um desporto ao qual sempre estive ligado, porque já pratiquei a modalidade, e voltei agora por iniciativa de outros amigos e de pessoas da banda que também gostam de dar umas voltas. Referi a BTT como um hobbie, pois é bastante interessante e dedico-lhe algum tempo. É uma coisa radical.

A – Ângelo, os Fonzie são…?
AN –
Para mim, posso dizer que são meus amigos. Como banda, estão numa fase diferente, estão aí a experimentar o português. Acho que sim, que está a correr bem e que são uma excelente banda.






A – Virgílio, tens a frase preferida “o homem moderno perdeu o prazer do silêncio”, mas se o houvesse onde caberia a vossa música?
V –
Eu penso que sim.
Todos(risos).
V – É claro que não se pode interpretar literalmente. Não é o silêncio em si que tem que ser interpretado. Basicamente, o silêncio é muito uma ideia cultural. O silêncio é um silêncio intelectual.

A – Gil, caracterizas-te como maluco? E que história é essa de dizeres gosto: de mulheres; não gosto: de homens? Explica-te. (risos)
G –
O ser maluco acho que só os amigos, conhecendo o Gil como é…
Todos – o Gil, o jogador da bola
G – Não é só na foto do álbum em que possam dizer “aquele gajo é muito porreiro, muito quietinho”… não! O ser maluco é ser uma pessoa desinibida. Em cima do palco gosto de me poder libertar. Quanto ao resto “gosto de mulheres e não gosto de homens” penso que toda a gente sabe o que eu queria dizer, nada de mais (risos).
A inspiração comandou a esperança da concretização de um sonho. IN são hoje os mesmos rapazes de outrora que continuam a revelar o lado mais adolescente que cada um tem em si.


Os projectos e as ambições integram o elenco futuro, não obstante à incessante vontade de continuarem a compor e a mostrar aquilo que têm para dar ao mundo da música. Continuar a tocar é a prioridade e podemos adiantar, sem certezas, que IN pode ser uma banda a chegar além fronteiras. Sem demais a adiantar ficamos à espera de ver os próximos passos desta banda que, a qualquer altura, actuará bem perto de ti.
A banda, a concepção, o intuito IN da música nacional tudo num só núcleo bracarense que apresenta algo que vem de dentro a cada dia, desde que os deixem sempre tentar.
Anabela da Silva Maganinho

No comments: