Sunday, December 30, 2007

Muito mais do que um nome, muito mais que música


da dir para a esq AJ Marlon Nena e Salsa

Os Azeitonas estão a promover o recente registo “Rádio Alegria”, um álbum enfaixado em livro que envolve alguma polémica, mas, acima de tudo, amor pela música.
O percurso musical desta banda de garagem, com um nome bizarro e um estilo irreverente, iniciou-se no ano de 2002, no Porto. Marlon, AJ e Salsa, com a colaboração de Nena, o elemento feminino do grupo, começaram a escrever, compor e tocar canções que, a posteriori, vieram a ser coreografadas pelos próprios.


Assumem-se como aqueles que reivindicam “o estatuto de fiéis depositários de um Nacional-Cançonetismo perdido algures nas brumas do tempo, pelo direito alienánel à pretensão que assiste qualquer artista que se preze” e fazem do «formato-canção» “a tocha que nos alumia pelos trilhos perdidos da Música Ligeira Portuguesa”.
A música romântica, especialmente a portuguesa, não é a que reúne mais admiradores pelo que Os Azeitonas mencionam hoje que é “proibido gostar de música romântica”, podendo ser “punível com sanções que podem ir até à exclusão total dos mais concorridos grupos sociais”.
Actualmente, Nena é membro integrante da banda Os Azeitonas e dá um tom suave às músicas que eles apelidam como “pirosas”.
“Rádio Alegria” efectiva a transmissão de rádio imaginária e apresenta-se sob a forma de livro, uma vez que só assim seria aplicado o imposto de 5% ao invés da usual taxa de 21%, por serem os discos considerados “artigos de luxo”, como frisam Marlon e AJ no decorrer das apresentações na FNAC.
“O livro foi a forma de lançarmos as nossas músicas” é como a banda define este processo inovador que já conquistou muitos dos seguidores da banda e, sobretudo, da música. O livro é uma forma de fazerem chegar a música a mais pessoas sem que paguem mais por isso: “o nosso intuito não é lançar uma obra literária, mas sim a nossa música de modo a contornar a questão do IVA”, menciona Marlon.
O que Os Azeitonas enfatizam é que “a lei esqueceu-se de explicar que o imposto cai sobre o CD e não sobre o que vai lá dentro; ou seja, recai sobre o suporte físico e não sobre a música”.


Os primórdios do “nome da canção”

“Este projecto surgiu nas férias de 2002, como resultado de uma brincadeira entre amigos. Resolvemos fazer umas músicas a puxar para o piroso e resolvemos intitular-nos “Os Azeitonas”, de modo a fazer desta banda o nosso alter-ego do azeite”.

A – Quatro pessoas estão unidas num projecto comum; no entanto, cada um tem personalidades distintas e gostos diversificados. Até que ponto se pode tornar difícil conciliar esses aspectos?
Nena – Não o é, porque somos amigos.
AJ – Já éramos amigos, o que, às vezes, pode dificultar. Ao sermos todos amigos depois não temos muito respeito pelos outros (risos). Em qualquer grupo de pessoas há sempre diferenças e temo que saber lidar com isso.

A – Todos são detentores de referências musicais. De que referências estamos a falar que possam influenciar Os Azeitonas?
Salsa – Existem alguns pontos de encontro, designadamente a música pirosa que todos nós assumimos. Noutro dia estávamos a falar da “Niquita”, de Elton John, Scorpions, algumas músicas mais «duvidosas» de José Cid. Não temos vergonha de assumir o facto de gostarmos das baladas mais «duvidosas» de Bon Jovi ou de Aerossmith. Ao mesmo tempo cada um puxa para o seu lado: o guitarrista tende mais para o rock; eu, como pianista, influencio-me mais no clássico; a Nena é cantora mais doce e o Marlon, que tem um gosto um pouco mais virado para o soul e é, inclusive, DJ, traz uma componente mais moderna.

Um tanto ou quanto atarantados

“Tudo o que for mais do que tocar na praia para amigos, que foi assim que a banda nasceu, para nós, é um sucesso inacreditável”. AJ

A – No ano de 2005 o primeiro disco estava editado. Com a saída para as discotecas e com a promoção que foi feita conseguiram o sucesso esperado?
Salsa – Nunca esperamos grande coisa, na verdade. Não sabíamos para o que é que íamos. Lançamos o disco com o Rui Veloso; contudo, não sabíamos bem o que ia acontecer a seguir. Hoje estamos aqui a apresentar o novo livro e não fazíamos a mínima ideia que isto ia acontecer. O que tem acontecido são tudo constantes surpresas.
AJ –Não interessa se o nosso disco vende uma cópia ou mil, o facto de haver o disco é, para nós, um sucesso inesperado. Não tínhamos como objectivo gravar discos, por isso, tudo o que venha a mais é sempre um bónus. O sucesso, nós medimo-lo assim: tudo o que seja mais do que zero é muito.
Salsa – Não é um fim. Cada coisa que aconteça acaba por ser uma consequência. Temos que acreditar que é uma consequência do trabalho que andamos a fazer e é esperar que hajam mais hipóteses destas para continuar o que temos vindo a fazer até agora.

A – Alguma vez se sentiram “um tanto ou quanto atarantados”?
Salsa e Marlon – Claro.
Salsa – Quando se faz playback fico sempre todo atarantado. Nunca sei onde se põe as mãos e o que fazer ao certo.
Marlon – Essa é uma situação «atarantadesca», sem dúvida. Além disso, nos concertos, a reacção do público tem como consequência ficar um pouco atarantado.


As “Cantigas de Amor”

“Estudar mais, trabalhar mais e fazer as coisas cada vez mais bem feitas é o que, realmente, dá gozo a um artista para que se evidencie mais qualidade”. Salsa

A – Como é que definem a vossa música?
Marlon – A nossa música é simplesmente pop/rock.
Nena – Há nela estilos para toda a gente e para todas as idades.
AJ – Música ligeira portuguesa.

A – Perante o panorama da música musical e a indústria envolvente, qual o maior entrave em viver da música, em Portugal?
Salsa – Se fosse fácil, se calhar, perdia um pouco a piada. Uma pessoa tem de lutar para conseguir algo melhor e tem de acreditar que está a lutar por uma qualidade que, no futuro, se espera que compense. Penso que não é tão difícil como as pessoas pensam. É trabalho, como tudo o resto.

O livro que se ouve

“É uma forma de vender música. Fazer passar isto como um livro só sai mais barato para as pessoas, para nós e para a editora é exactamente a mesma coisa. Uma obra para ser aprovada como livro tem que lhe ser atribuído o depósito legal. Foi essa a nossa grande luta de um ano inteiro”.

A – Acerca do novo álbum o que podemos dizer acerca dele?
Salsa – É um álbum, é grátis.

A – É este o álbum que vos fará dar o salto para a ribalta?
Salsa – Não tenho a mínima ideia. Considero que isso vai depender da comunicação.
Nena – Desde que começamos a trabalhar com o novo álbum, que é livro, despoletou-se uma maior publicidade à nossa banda.
Salsa – A aceitação tem sido outra.
Nena – Tem havido mais visitas ao myspace e verificamos um maior interesse. No quotidiano, não há um colega que não me diga “hoje ouvi a tua música”.
AJ– O último mês foi a loucura total de idas à televisão e entrevistas. Muito mais do que no primeiro disco.
Nena – Fomos, inclusivamente, a várias Rádios dar entrevistas, o que não tinha acontecido com o primeiro álbum.
AJ – Não obstante, no primeiro nunca aconteceu um single passar em mais de uma rádio.


A – Terá, de alguma forma, a ver com a inserção de uma das músicas do álbum na banda sonora dos “Morangos com Açúcar”?
Salsa – Não sei bem. Houve muita adesão de rádios: algumas acredito que tenha sido por causa das músicas, outras devido à semi-polémica dos 5% do IVA e de termos feito o livro. Houve muitas rádios que acharam a ideia boa ou que pelo menos consideraram que dava para falar sobre isso e convidaram-nos para discutir isso.

A – Como suscitou essa ideia de fazer um CD acompanhado por um livro?
Barbas – A ideia de ser livro é só fachada para lançarmos o nosso CD com 5% de IVA.

A – Como está a ser a receptividade por parte do público face a esta novidade?
Marlon – As pessoas reconhecem que foi boa ideia. Quando dissemos, pela primeira vez, que iríamos lançar um livro recebemos bastantes respostas de apoio e incentivo. “Rádio Alegria” está há uma semana nas lojas e esperamos para ver qual a receptividade.

O sucesso é aquilo que Os Azeitonas têm alcançado à medida que vão maturando a sua melodia. Porém, eles não o reconhecem nem apontam uma razão evidente, daí que Marlon afirme: “primeiro temos de saber se existe sucesso e depois vamos procurar a razão para ele”. O «azeitona» revela com simplicidade que sentem que ainda estão a lutar e ambicionam mais. “A nossa ambição acaba por pregar na qualidade”, é a opinião que Salsa emite e assevera que “a única ambição não é ser conhecido, nem aparecer em capas de revistas ou tão pouco fazer novas modas, é mais um pretexto para ter a qualidade que queremos ter”.
“Não há fim. Permanece sempre a vontade de querer fazer melhor com melhores condições” é o que a banda delimita no presente indefinido. Todavia, uma causa ressalta por Marlon ao assegurar que “a razão principal de qualquer projecto musical é ser genuíno. Uma pessoa sentir mesmo o que faz sem intuitos lucrativos, por que se uma pessoa acreditar no que faz, isso transparece”.
Conscientes de que o público é o denominador que determina o sucesso, Os Azeitonas pretendem vir a conceber “músicas por medida”. Marlon deixa o convite para aqueles que ainda não o fizeram ouvirem “este novo trabalho «Rádio Alegria», o novo livro” e acaba por mencionar que gostava de fazer um outro: “já pensamos noutro livro, disco, noutro trabalho”.
O que pretendem é continuar no mundo da música a fazer o trabalho que lhes dá gozo, sem grandes ambições ou prospecções para o futuro, apenas na expectativa de que
“o próximo seja ainda melhor do que este”.
Os Azeitonas vão persistir no «rádio» com o mesmo estilo, semelhante género e com a preserverança de que “a semente fica e continua, teimosa e autónoma, a crescer, acabando por medrar”.


Anabela da Silva Maganinho

2 comments:

Anonymous said...

Pessoas mais azeitolas que estas não conheço...até na maneira como dão as entrevistas.

Um abração e um beijinho do,

Capitão

FERNANDESRIBEIRO.arquitecto said...
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