Wednesday, December 12, 2007

A(r)riscar na Música


Luís, Bruno, Pedro, Nélio e Daio

Os CAIM voltaram ao Porto, no último fim-de-semana, para dar mais música à Invicta ao promoverem o álbum de estreia “Beg a Dime”.
Este é um nome que pode não ser indiferente, uma vez que integra a banda sonora da série televisiva “Morangos com Açúcar”. Cinco elementos que, acima de tudo, se uniram pela amizade em prol de um fundamento comum – a música.
No ano de 2001, cinco rapazes decidiram ingressar numa aventura de participar num concurso que estava prestes a decorrer na ilha da Madeira, um passo que viria a ditar, de certa forma, o futuro de uma banda. O CAIM saíram vencedores do concurso, mas não se ficaram por aí. Ao saberem que a Antena 3 estava a organizar um concurso de bandas, não deixaram a oportunidade escapar e, ainda que concorressem na «desportiva», evidenciou-se o talento da banda, cuja ideia de formação surtiu de Nélio, o baterista oriundo da ilha.
Em 2004, o EP saiu como forma de materializar o trabalho e o caminho que tinham percorrido até então. “Beg a Dime” foi um dos temas que constou nesse primeiro formato e tornou-se um sucesso da banda.
Três anos sucederam-se ao primeiro registo e, foi este ano, que a banda editou o disco de estreia.

O início

Anabela (A) – Sabe-se que os CAIM deram o primeiro passo através de um concurso de rádio. Podem explicar um pouco mais o vosso processo de formação?
Bruno – O Nélio tinha vivido uns anos nas Caldas da Raínha. Lá conheceu o Pedro e o Daio e formaram uma banda. Entretanto, o Nélio voltou para a Madeira, de onde eu sou também. A certa altura soube-se que ia haver um concurso de bandas e o Nélio convidou o Pedro e o Daio para irem à Madeira passar umas férias. O objectivo principal era divertirem-se um pouco; contudo, já que havia o concurso decidiram participar. A posteriori, eu – que sou amigo de infância do Nélio – fui convidado juntamente com outro rapaz que, mais tarde, viria a sair da primeira formação. Fomos participar nesse concurso, com temas que eles tinham da outra banda, e ganhamos. O prémio atribuído foi abrir, três dias depois, para GNR, o que foi um pouco assustador para nós.
Daio – Por que iríamos actuar para 7500 pessoas.
Pedro – Não estávamos com esperanças de ganhar. Foi, somente, com o intuito de participar. Íamos conhecer a ilha, participar e acabamos por ganhar. Apenas nos voltamos a juntar um ano depois, para o segundo concurso: o Antena 3 rock. Para participar tínhamos que, inclusive, compor uma música em português. O Daio fez a música, enviamos a maqueta e ficamos seleccionados. As três bandas que entrassem tinham de ir para o estúdio gravar três músicas e assim o fizemos. Subsequentemente, a viagem prosseguia para o espectáculo no Tecnopolo, que se tratava de um espectáculo grande, ao vivo. A banda que ficasse em primeiro lugar, teria direito a três músicas no CD, ao segundo cabiam duas e, finalmente, o terceiro inseria uma música. Ganhamos outra vez. Foi a partir daí que começamos a pensar que o projecto tinha «pernas para andar». Começamos a investir mais, a ensaiar mais e a arranjar concertos. Assim começaram os CAIM.

A – Era um sonho que já perseguiam há muito tempo enveredar pela música?
Bruno – Sim. Já tínhamos tido experiências musicais anteriores que, entretanto, se foram dissipando. Avançamos e juntamo-nos na intenção de manter esta banda.
Pedro – Tudo começou por brincadeira, por diversão tal como o jam. Às vezes, vamos a sítios e convidam-nos para tocar. Não temos problema nenhum, fazemo-lo. Vamos brincar um bocado com a música, por que gostamos mesmo é de brincar com as notas musicais. Não estamos muito colados a um registo até porque tivemos formação musical muito novos: começamos a tocar, tivemos o contacto com os instrumentos e, então, é natural.

O sonho de um projecto

“Ninguém está a querer apostar muito na música, porque também o mercado musical, em Portugal, caminha a passinhos muito curtos. Quisemos, vamos apostar, vamos andar para a frente. É a força de vontade”.

A – No fundo consistiu em embarcar numa aventura, ou já havia um projecto estruturado?
Pedro – Não havia um projecto. Em 2004, gravamos um EP que alguém nos incentivou a gravar. Tivemos uma música no CD das bandas de garagem, sempre no espírito de participar por participar. Temos a música e resolvemos participar, pode ser que dê alguma coisa. Entramos em concursos até que constatamos que tínhamos valor e que as pessoas também gostavam da nossa música. As coisas foram acontecendo e foi uma bola de neve até à hora que dissemos “vamos gravar”.
Bruno – Uma bola de neve muito suada. A determinada altura, o que começou a acontecer não foi por acaso. Houve muita dedicação da nossa parte, muito esforço e sacrifício para chegar ao primeiro álbum. É o que temos agora, mas ainda não é nada, ainda somos bebés. Inicialmente, era só por diversão e as coisas eram levadas com descontracção; porém, a partir de certo ponto, teve que haver um compromisso. O espírito em palco é o mesmo, só que há que ter em conta uma atitude fora do palco que consiste em assumir isto como algo que não é brincadeira.
Pedro – Ainda por cima como a nossa situação. Produzimos o álbum e temos estado a promover. Só temos distribuição pela Musicactiva, uma vez que editamos, produzimos tudo, desde o videoclip, passando pelas gravações... Foi uma junção de esforço da nossa parte, e dizer: “vamos conseguir”.

O gosto da música

O prazer que a música dá a estes rapazes conduziu-os no perseguir de um sonho. O que, para muitos pode ser inalcançável, para os CAIM apenas bastou acreditar.
“Não queremos ser tipo músicos profissional, uma banda é mais artistas do que ser mesmo músico”.

A – O que é que significa a música neste momento para vocês?

Daio – A música é uma linguagem, acima de tudo. A linguagem transpira mensagens, emoções e considero que a nossa música é muito emotiva. Toda ela é tocada e não temos máquinas, que é o que parece estar muito na moda.
Pedro – Nós desistimos de tudo para nos dedicarmos aos CAIM.
Daio – E, se fosse, económica e financeiramente, viável era isso que continuaríamos a fazer.

Amigos em cima do palco

“Já passaram seis anos; todavia, nos primeiros anos, um dos elementos saiu da banda, entrou o Luís e estamos com esta formação desde 2004”. Muita dedicação, muito profissionalismo e suor são as palavra-chave”.

A – Para quem não conhece os CAIM o que podemos dizer?
Daio – Somos cinco amigos com muita emoção em cima do palco. Nota-se que há um tom de brincadeira e diversão em cima do palco, mas muito profissionalismo, acima de tudo. Tudo é levado muito a sério, apesar de, por vezes, haver um lado mais recreativo e podermos viver as coisas de uma forma muito descontraída, pois a nossa maneira de ser, regra geral, é também essa.

“Para quem não conhece [o álbum] considero que tem que comprar, porque é baratíssimo. A capa está bonita e ao ouvir vão constatar que não é todo rock, mas é muito power”. (risos)

A – E do novo álbum? Este é o álbum de estreia, mas porquê o nome “Beg a Dime”?
Daio – “Beg a Dime” é um tema que já roda há mais tempo. Estava incluído no EP de 2004 e voltamos a gravá-lo. O single passou em várias rádios nacionais e, inclusivamente, em França e na Holanda. Tivemos uma sorte acrescida de terem gostado da música e quererem colocá-la nos “Morangos com Açúcar”. O álbum foi todo através de patrocínios e apoios e, portanto, o tema “Beg a Dime” – implorar ao cêntimo – faz todo o sentido.
Pedro – Quase que andamos a pedir tostões para gravar o álbum.
Bruno – Também derivado ao nome que já andava no ar.
Daio – Foi decidido quase no fim. Estava a parte gráfica para ser feita e tínhamos que dar mesmo o nome. Olhar para nós, para o trabalho que tínhamos desenvolvido e para o que é este álbum… e foi mesmo o pedir as ajudas dos amigos.

A – Falem-nos um pouco acerca desse “bebé”.
Pedro – O nosso estilo de música é uma fusão de estilos musicais. A música que deriva do que cada um de nós ouve. Este é um álbum que também teve a particularidade de ser produzido por um grande músico – o Ciro Cruz, baixista de Gabriel O Pensador – que já tocou com inúmeros músicos e que é um grande profissional. Foi uma experiência interessante e um privilégio trabalhar com uma pessoa como o Ciro, e não foi muito difícil de encontrá-lo. Ele gostou do projecto logo à primeira e quis produzi-lo.
Daio – Fundamentalmente, tínhamos um estilo muito heterogéneo, precisamente por uma fusão enorme de estilos. O Ciro ajudou-nos a equilibrar muito essa fusão. Antes de o Ciro entrar as músicas estavam lá, as ideias também, apesar de um pouco mais distorcidas ou mais desequilibradas em alguns pontos, e ele ajudou.
Pedro – Foi quase como uma lima. Criou mais algumas componentes como os metais, designadamente o trompete e o saxofone. No que concerne à formação, estamos a fazer concertos com seis elementos. Temos um músico convidado, o Nuno, que faz hammer & roades, teclados e alguns sintetizadores. Não obstante, criou outra componente que não tínhamos: ele disse que ia ficar bem, experimentamos e adoramos.
Daio – Não é daqueles discos em que se ouvem a primeira e a segunda faixa e está visto. Tem que se ir ouvindo para se ir descobrindo.
Bruno – É mesmo para se ir desvendando, para descobrir, tal como o videoclip também vai ser.



“Beg a dime” com cheiro a Morango

A – Estávamos a falar de uma das músicas estar inserida na BSO dos Morangos com Açúcar. Como se processou essa inserção?
Pedro – Trabalho no meio audiovisual e tenho alguns amigos na televisão. Um dos meus amigos está na centralização e, por acaso, perguntou-me: “não queres por uma música na novela?”. Tínhamos o EP no qual estava inserida a música “Beg a Dime”. Ele levou-o e o produtor musical gostou. Em Portugal, e em todo o mundo, é preciso ter alguns contactos para fazer alguma coisa. Temos a força, mas juntamente com alguns contactos conseguimos fazer o que queremos.

A – Terá sido esse o salto que precisavam que fosse dado?
Todos – Nem pensar.
Pedro – Isso é o que as pessoas pensam e já escreveram, inclusivamente, num jornal. Não sabem e pensam que está por detrás uma editora. Temos uma label que fomos nós quem a criamos, a Rich Man Records, para não ser edição de autor. Mais pessoas começaram a conhecer a nossa música, a aceder ao nosso site, a comprar a colectânea e a ver lá a nossa música. Detectou-se uma maior projecção e as pessoas que ouviram e disseram que gostavam da música; contudo, não houve editoras ou pessoas a «chegarem-se à frente» para nos lançar. Tivemos de ser mesmo nós.
Daio – A telenovela não foi o factor decisivo. O álbum já estava programado e, se calhar, antecipou apenas o processo um mês ou dois.
Pedro – Se ficássemos quietos não ia acontecer nada.

O reflexo do público

“Temos de apostar no projecto e tentar fazer de tudo, designadamente, pedir apoios a câmaras municipais, a amigos e a marcas. Fizemos esse trabalho com algumas ajudas, claro, mas amizades fundamentalmente”.

A – Estamos a falar um pouco da indústria musical portuguesa e a queixa é sempre a falta de apoio.
Bruno – Não apoia. Sei que realmente não apoia; todavia, não apoiam porque não é viável economicamente.
Pedro – A culpa é do público. O povo é que não compra CDs e, se não compra, a editora não vai apostar no músico.
Daio – Há cada vez mais bandas e mais pessoas a apresentarem os seus projectos. O mercado português é muito pequeno e não pode haver ilusões de uma pessoa viver da música, em Portugal. Vai haver um nicho de meia dúzia de pessoas que vai conseguir sobreviver da música no nosso país, ainda que se vejam e se conheçam vários nomes que se mantêm ao longo dos anos.
Pedro – É um negócio. Não é por gostarem ou não de uma banda, mas pelo negócio. No entanto, é uma realidade que eles não sabem dizer se vamos vender ou não. Outrora podia dizer-se que lançar uma banda parecida com outra que faz pop iria vender; contudo, hoje em dia não é assim. A situação das editoras está complicada até por que sabemos que bandas como os Radiohead estão a fazer a edição e a colocar o álbum à venda na Internet. Considero que, mais dia menos dia, o mercado das editoras vai por água abaixo, uma vez que as bandas vão começar a ser autónomas até mesmo ao nível da distribuição. Estamos a ter uma grande ajuda da Musicactiva, mas conseguimos lançar um álbum por nós. Os artistas já não vão querer estar agarrados a uma editora, querem ter a sua liberdade.

A – Concordam que a indústria musical se move para o pólo centralizador que é Lisboa?
Pedro – No Porto e em Coimbra também existem muitas bandas.
Daio – Acredito que, para se promoverem, têm que passar pelos grandes centros.
Bruno – No entanto, uma banda de Lisboa não se pode ficar só por Lisboa. É uma questão de logística. Estão lá as salas de espectáculos, os meios de comunicação principais. Estamos a falar do Centro do país.
Pedro – O Porto agora tem bons espaços. Considero que as bandas do Porto não têm do que se queixar no que diz respeito a espaços para tocar.
Daio – Respira-se muito a cultura no Porto.


Os palcos do mundo

“Já tocamos algumas vezes no Porto e gostamos muito do público. É um público quente que vem ter connosco e fala. O público de Lisboa é mais frio: até pode estar a gostar, mas está na dele, vai embora e não comunica. O público do Norte é mais caloroso”.

A – Como descrevem os vossos concertos?
Todos – «Power».
Pedro – Somos cinco, mas, ao vivo, tocamos seis. Contamos com mais hammer & roades e temos mais alguns teclados que enchem. A nossa ideia é inserir o trompete e o saxofone, que estão na gravação e vamos querer no ao vivo, quando começarmos a fazer uma digressão.
Daio – Força e energia.
Pedro – É mesmo muita energia e muito sentimento que passa para o público, disso temos a certeza.
Daio – Não há a colagem ao disco. As pessoas reconhecem os temas; todavia, pelo meio há muita coisa a ser feita na hora. Essa é uma característica que há em nós, há um fio condutor pelo qual nos guiamos, mas um espectáculo atrás do outro vale a pena ver por que não é igual.
Bruno – Nós sentimos muito o público. A nossa própria prestação também depende muito dele. Se virmos que em determinada parte que as pessoas estão a participar mais, prolongamos na hora.

A – Qual o palco que gostariam de pisar?
Pedro – O Coliseu do Porto e o Coliseu de Lisboa. Internacionalmente elegia o Central Park, em Nova Iorque.
Daio – O Maracaná, no Brasil.
Bruno – Porventura, o palco principal do Rock in Rio quando voltar ao Rio de Janeiro.
Pedro – Ou mesmo o de Portugal.

A – E no que concerne a bandas, qual a banda com que gostariam de actuar?
Pedro – Jamiroquai, Dave Mathews Band, Tool, Bem Harper. Sou grande fã de Tool e têm grande força, ao vivo.
Bruno – Gostava de estar no mesmo palco dos Pantera, mas já não posso. Jack Johnson era outro músico com quem gostava de tocar.
Daio – Por acaso tenho uma preferência diferente, a Madonna (risos).

Marcar terreno

“A liberdade do artista é muito bom, por que uma pessoa nunca sabe quando vai ter uma hipótese de uma editora exterior que consiga agarrar em ti e levar para o mundo.”

O trabalho dos CAIM não é ainda conhecido por todos, pelo que se tivessem de nomear uma música que dissesse mais acerca deles seria complicado. Prezam a liberdade e não deixam de lutar pelo sonho, com dedicação e muito trabalho, independentemente do custo que advenha disso. Daio salienta a importância da autonomia face às editoras, pois “há editoras que restringem o próprio artista, dizendo o que este tem de fazer”. Essa é uma vantagem que o vocalista dos CAIM assume, porquanto “fizemos aquilo que quisemos e isso transparece. Disco foi feito por nós, pelas nossas próprias mãos”.
“Awaking”, “Noisy Joy”, “Crawlin” e “What I Need” são as músicas que, de acordo com Duarte, Pedro e Bruno, mais teriam a banda como referente; porém, confessam que não são somente essas que têm algo a dizer sobre os CAIM: “ficávamos aqui a dizer o álbum todo. Não é fácil”.
As prospectivas que os elementos que integram a banda arrogam cingem-se ao perseguir de um sonho que têm entre si e, se possível, “viver da música dos CAIM e correr o mundo a tocar”, patenteia Bruno. Tal como menciona Pedro, o que a banda anseia é “conhecer países”, sendo um dos sonhos do guitarrista “conhecer sítios, conhecer pessoas e poder trocar experiências com outros músicos”.
Sempre com os pés na terra, conscientes de que “para fazer isto é preciso viver da música e ter disponibilidade total”, os CAIM querem afirmar-se no panorama da música, no qual “tomam o controlo do destino” promissor por intermédio da “mensagem vinda do coração” extraída de “Beg a Dime”.

Anabela da Silva Maganinho