Thursday, April 26, 2007

Viagens terminam por este ano




Germano Almeida Rui Vieira






Rui Vieira, Geemano Almeida, António Cabrita e Afonso de Melo durante a conferência




Afonso de Melo
A segunda edição das Conferências “Literatura em Viagem” que decorreram em Matosinhos, terminou terça-feira – véspera de 25 de Abril – com duas mesas que mais uma vez primaram pelos convidados.
Pelas 15.30h iniciou-se a penúltima mesa com o tema “A Sul de Nenhum Norte”. O assunto a debater colocou os presentes do painel numa situação um pouco complicada por não saberem qual a melhor forma de o abordar.
A moderação ficou a cargo de António Cabrita, uma vez que Helena Vasconcelos e Jean Paul Delfino não compareceram, e o repertório constituinte foram Rui Vieira, Germano Almeida (Cabo Verde), e Afonso de Melo.
Após a introdução de António Cabrita a prioridade da oratória foi dada a Germano Almeida pela larga experiência. Este escritor, romancista e jornalista, nasceu na ilha da Boa vista, em Cabo Verde e reúne obras como “O Testamento do Senhor Napumoceno da Silva Araújo” já adaptada para cinema. Geramano Almeida confessa que ao deparar-se com o tema a que foi proposto não se sentiu muito preparado “estaria mais à vontade com “On The Road” ou “O Desejo do Desconhecido”. Ainda assim apresenta bem o seu ponto de vista enquanto “Ilhéu em que normalmente se pensa que o desejo da aventura pode estar no sangue”, mas a Germano o mesmo não acontece: “Enquanto ilhéu sinto-me seguro nas ilhas. Podem ter de a deixar por uma questão de sobrevivência e não pelo espírito de aventura”. Não deixa de analisar o tema sob o ponto de vista que “de facto o norte era ir para Sul” e que “neste momento, quando falamos em viagens temos de falar no tempo”, porque antigamente se demorava muito tempo a realizar as viagens uma vez que o meio o transporte para grandes viagens era o marítimo. Germano Almeida enfatizou o regresso. Há entre ele uma vontade incessante de regresso e é esse o norte. Contudo, não deixa de recordar a única viagem que fez sem norte “de Lisboa para Luanda, em 1972, para cumprir serviço militar em Angola. Era algo que eu não queria fazer. Uma viagem que fiz durante dez dias e sentia que estava perdido.”. De acordo com a opinião e experiência deste cabo verdiano, “hoje, o mundo obriga-nos a viajar a Sul de nenhum Norte, porque é a desconfiança”, o terrorismo pairou sobre o panorama mundial e a segurança e desconfiança são uma constante. No que concerne a livros que marcaram a sua vida a resposta é que “Não há livros que me tenham despoletado a vontade de viajar” e já muitos passaram pelas suas mãos e outros tantos foram lidos. Lugares “há muitos que ainda não fui, pois prefiro ler ou ver através da imagem do que, propriamente, ir lá”. Germano confessa que “viajar cansa e não há qualquer vontade de ir lá”.
A segunda “palavra” atribuiu-se a Afonso de Melo que dispensa apresentações. Ainda assim avivo a memória de quem não associa o nome à pessoa. Afonso de Melo estou Direito, acabando, a posteriori, por enveredar pelo jornalismo, nomeadamente, o jornalismo desportivo. Desde Janeiro de 2004 que efectiva a assessoria na Selecção Nacional de futebol. Não obstante, Afonso de Melo publicou livros como “Tantas vezes tu”, “Portugal em calções”, “Doping – A triste vida do Super-Homem” ou “Uma sombra Laranja-Tigre”, entre tantos outros.
Afonso de Melo assume-se um “viajante compulsivo e gosto de visitar sítios de gente”. Numa outra conferência, o escritor situou “viagens interiores” que contrastam com as viagens da literatura. Durante essa dissertação é lhe questionado pelo moderador acerca da sua viagem à Índia e, ainda que quase que transparecendo uma indiferença, Afonso de Melo emociona-se quando se evoca daquelas passagens. O viajador “por sons” viaja, inclusive, “um pouco porque me limpo um bocado, limpo-me de hábitos incomodativos”. Embora caminhemos para Sul, de acordo com este autor, “e pareça que é no Sul que está o fascínio, a verdade é que somos do Norte”. Afonso de Melo demonstrou nas afirmações proferidas que “há muitas terras que vou justamente, porque é mal empregado haver cidades com nomes estranhos e não irmos lá deliberadamente”. O Sul que outrora, “em 1981/82 quando escrevi um livro, o Sul representava a marca de alguma dor”. Afonso encarava o Sul como algo de negativo e, actualmente, a sua concepção mudou. “Em relação ao que escrevo (viagens) deveu-se muito à mensagem das coisas que foram ditas”, finaliza Afonso de Melo.
Finalmente Rui Vieira que, apesar de algum nervosismo, consegue arrancar alguns sorrisos pelo facto de ser engenheiro. Pela dificuldade de também ele interpretar o tema da mesa, decidiu recorreu à obra de “Lukovski” para enfatizar determinadas expressões. Seguiram-se explicações sob o ponto de vista geométrico “sendo o mundo uma esfera, poderíamos pensar que estamos em todos os pontos”. Rui Vieira deixa evidente a suposição de que todos os Sul estão a Sul e os Norte têm algum Sul. A sua viagem à Tailândia serviu-se para ilustrar o tema e uma mulher que conheceu fizeram-lhe “ver os seus olhos a brilhar. Brilhavam à procura do Sul”. O livro do “Sandokan” é uma referência que até ao ano de 2002 lhe fez viajar. Em 2002, viajou até à Malásia e “não encontrei o Sandokan, mas, em Malaka, ouvi histórias”.
Em suma, as histórias também constituem as viagens e, sendo para Sul ou para Norte, não devemos temer o regresso que podemos descobrir sem sairmos de casa. Como Afonso de Melo referiu “quando alguém procura o exotismo se calhar não preciso de sair de casa”.


Anabela da Silva Maganinho

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