Thursday, June 14, 2007

A corrida pelo jogo da vida


João Vilela, jogador oriundo de Lisboa, que actua pelo Gil Vicente tem revelado o esforço constante em prol da equipa que, na presente temporada, ultrapassou momentos dolosos.
O apoio incessante dos pais tem sido uma mais valia perante o seu percurso profissional “têm reagido bem face à minha carreira e conto com o apoio deles. Falamos sempre e as decisões são tomadas em conjunto”.
Iniciou a jornada futebolística aos sete anos ao serviço das escolas do Benfica, tendo permanecido no clube até 2005. Durante um ano, nos primórdios, efectivou no Damaiense “que era um clube perto de casa, para estar a jogar regularmente, porque no clube ainda não tinha competição”.
Nos escalões mais jovens a sua formação foi adquirida enquanto jogador e confessa “cresci e aprendi a jogar futebol da melhor maneira, ganhei títulos, conquistei muitas vitórias importantes e fiz muitos amigos”.
Anos significativos em toda a caminhada que tem percorrido. Mais de uma década de profissionalismo, mas, acima de tudo, de «amor» por aquilo que faz.
Há cerca de duas épocas no Gil Vicente, o atleta ainda tem três anos de contrato a cumprir, resta saber se decidirá ficar em Barcelos ou se se encaminhará rumo a outros clubes, nomeadamente Belenenses e Nacional que avançam com forte interesse na contratação para a época de 2007/2008.

Anabela (A) - Qual a razão primordial para ter seguido pelo futebol profissional?
João Vilela (JV) – Não sei. Os meus pais dizem que desde miúdo sempre quis as bolas. No ensino primário, passava os intervalos sempre a jogar e, a partir daí, não queria mais nada a não ser jogar à bola.

A – Sempre quis ser jogador de futebol ou tinha em mente vir a exercer outra profissão?
JV – Acho que nunca pensei em mais nada. Sempre quis ser jogador de futebol, apesar de nunca ter deixado os estudos para trás porque são muito importantes. Porém, foi sempre o futebol que comandou a minha vontade.

A – Quem era para si uma referência? Corresponde à mesma de hoje?
JV – O Rui Costa. Corresponde à mesma de hoje. Não o conheço pessoalmente, mas pelo que vejo e por aquilo que me falam dele continua a ser uma referência e, mais do que isso, um «senhor do futebol».


Numa época controversa, devido à polémica no âmbito do «caso Mateus», João Vilela e os restantes jogadores do Gil Vicente tiveram de superar as decisões tomadas, a aplicação de sanções e, sobretudo, a descida de divisão. Ainda assim não se esbateram perante as vicissitudes. A equipa comandada por Paulo Alves manteve a sua posição face à conjuntura e durante três jornadas não compareceram “o objectivo era permanecer na Primeira Liga”.
Os sacrifícios de nada valiam e foi então que, face à despromoção, começaram a lutar pela subida de divisão. Um objectivo que se instituiu como destituiu. A Liga determinou, a meio da época, que seriam retirados nove pontos da classificação do Gil Vicente. Próximo propósito a ser estabelecido – a permanência na Liga de Honra. “Com os problemas todos que foram surgindo na secretaria e com a perda de pontos, o que pretendíamos atingir era a manutenção e está conseguida”, revela João.
Algum tempo sobre o momento mais conturbado do clube e da carreira de João Vilela, “a equipa já está bem. Mas se formos a pensar nisso, claro que ficamos todos tristes”. Sabiam que este ano na BWin poderiam “fazer um campeonato muito bom, visto que equipas como o Paços de Ferreira ou o Leiria – equipas ao nosso nível – estão a fazer campeonatos de Taça UEFA. O próprio Belenenses que foi ao final da Taça e está no quinto lugar. É só essa desilusão que temos. Mas temos de viver com a realidade e fizemos o nosso trabalho na Liga de Honra”.


A - No início da época, com toda a confusão instaurada entre Gil e Belenenses pensou, porventura, abandonar o clube? Como conseguiu lidar com a situação?
JV – Eu até pensei em deixar o futebol. O futebol português está numa situação em que cada vez mais começamos a conhecer os meandros e os podres. Isso deixa-me um pouco desiludido, pois sou um fascinado pelo futebol, gosto do futebol e estou aqui por esse gosto e não por interesses, contrariamente a outras pessoas. Deixa-me um pouco triste, mas é a minha profissão e tivemos todos que levantar a cabeça e viver com a realidade.

A - O que mudou no Gil esta época em relação à época anterior?
JV – No ano passado estava mais como aposta do banco, para entrar e ajudar a equipa. Este ano consegui assumir-me como titular. Foi mais essa diferença que se fez sentir. Tenho jogado mais e é bom para mim, uma vez que me dá minutos e experiência.

A – Que balanço se pode fazer desta época?
JV – O balanço que faço é muito positivo. Na minha opinião, com tudo aquilo que passamos com o caso Mateus e com a descida do clube, tivemos uma época muito bem conseguida e ganhamos muitos jogos. A nível pessoal foi a minha melhor época como sénior. Esta foi também a época que joguei mais. Tenho vindo a jogar regularmente e, inclusive, marquei uns golos.

A – Em termos individuais esta época conseguiu afirmar-se em definitivo no plantel a titular. Sente que tem evoluído?
JV – Isto realmente é assim, é a evolução de um jogador. O Gil Vicente está a fazer-me dar um passo importante. Estou a conseguir jogar na minha idade que é muito importante, acrescido ao facto de jogar num campeonato muito competitivo – como é o da Liga de Honra – e é mesmo isso um passo para, cada vez mais, ser melhor jogador.

A – O que espera ainda vir a fazer ao serviço do Gil?
JV – Para o ano, se continuar cá, espero levar o Gil para onde merece estar, no escalão principal, na Primeira Liga.

A – E acerca do Paulo Alves qual a opinião que emite acerca dele?
JV – O Paulo Alves é uma pessoa que me tem vindo a surpreender. Apenas há um ano se estreou a treinar e tem crescido imenso como treinador e como pessoa. Já era um homem exemplar, presentemente, como treinador, verificamos a sua capacidade não só ao nível disciplinar como noutras vertentes é muito bom e o relacionamento que estabelece com os jogadores é excepcional. No que concerne aos treinos têm evoluído bastante e acho que vai ser um treinador de futuro em Portugal.

De acordo com o critério de João Vilela, José Mourinho é o melhor treinador da actualidade. Pelas razões que todos sabemos, designadamente capacidade de liderança, coesão de equipa e as conquistas, e porque “sou um fã incondicional do trabalho dele”.

Marcar um golo é, sem dúvida, um sentimento extasiante para qualquer jogador, independentemente da posição em campo. João, quando marca um golo, sente “uma alegria enorme, como é normal, e é a realização de um trabalho que fazemos todos os dias. O golo é, sem dúvida o mais importante, individualmente. Todavia, desde que a equipa ganhe não faz diferença se sou eu a marcar ou um dos meus colegas”. O golo é importante, mas o que é mesmo significativo é a equipa ganhar.
As recompensas são consequência de muito trabalho e dedicação; contudo, nem sempre os jogadores estão em plena forma ou atravessam a melhor fase profissionalmente.
Na pré-temporada, João Vilela encontrava-se lesionado, tendo iniciado o campeonato ao banco. Substituições aos últimos minutos ou a consecução de jogos como suplente nos 90 minutos da partida são instâncias que nem sempre são fáceis de compreender ou superar pelos atletas. João confessa: “por acaso isso aconteceu-me nos primeiros seis/sete jogos desta época e, na realidade, é uma situação muito aborrecida. Estamos ali para jogar e não para ver os outros a fazê-lo. Gostamos é de estar lá dentro e a sensação de estar cá fora e não poder ajudar é complicado. Temos de compreender que são opções do treinador e continuar a trabalhar para jogar”.



A - Rescindiu contrato com o Benfica, pensa ter sido uma aposta bem conseguida até então?
JV – Por um lado sim, por outro há sempre aquele suporte de estar no Benfica e ser jogador do Benfica. O respeito é sempre outro, outra carga em cima. Ser jogador só do Gil pode abrir-me o mercado para outras situações. Acho que não foi nenhuma aposta falhada, estou contente aqui apesar de todos os problemas, e o mais importante é estar a jogar.

A - O Benfica continua na sua mente ou apenas no coração?
JV – O Benfica está sempre no coração. Na mente não vivo obcecado por voltar ao Benfica, nada que se pareça. Eles fizeram a opção deles, eu fiz a minha e, se algum dia, nos voltarmos a cruzar é bom sinal.

A - Pretende continuar no Gil até ao final de contrato?
JV – Se arranjar melhor, de certeza que gostava de dar um salto; contudo, agora penso somente em ajudar o Gil e jogar no clube.
Repartido entre Lisboa e Barcelos, João confessa que é sempre custosa uma mudança como a que sentiu.
Conciliar a vida afectiva com a vida profissional, acrescido ao facto de estar um pouco distante da sua cidade. João assevera ser “muito complicado. Vivemos sozinhos e sem a família por perto, embora eu tenha família aqui em Barcelos e no Porto. Mas não é a mesma coisa. Tenho os meus pais em Lisboa e, agora, também tenho a minha filha lá e gostava de estar com ela todos os dias, mas são os ossos do ofício. Temos de lidar com isso e o ano já está a passar e até se passou bem”.
Por entre campeonatos em distintos escalões, jornadas disputadas ao rubro e títulos, podemos afirmar uma sucessão de vitórias. Porém, a grande vitória da carreira do jogador “apesar de para o Benfica não ter valido muito, foi ser campeão nacional de juniores no ano complicado em que faleceu o Bruno Baião. Foi das maiores conquistas que tivemos”. Um ano que se fez ressentir nos jogadores do Benfica, uma vez que, cerca de quatro meses após a morte do malogrado jogador Miklos Féher, Bruno Baião também “abandonou” a equipa de juniores.
Se houve momento confrangido profissionalmente foi “sem dúvida a morte de um dos meus melhores amigos e companheiro de equipa ainda por cima. Recentemente o caso Mateus também não foi fácil, mas nada teve que ver com os sentimentos que circunscrevem a morte de um amigo”, declara João Vilela.

No que concerne a expectativas, o jogador pensa afirmar-se “no futebol, quer no português quer no futebol internacional. Ser chamado à Selecção que é sempre um dos objectivos, representar o país. E continuar sempre a jogar que é o mais importante”.
Apesar de não ter sido convocado, no corrente ano, para a Selecção Sub-21, esteve durante anos a representar o escalão de Sub-20 em competições internacionais.
A – Considera que o público apoia muito mais sobre a selecção A do que as restantes?
JV – Não tenho muitas razões de queixa quando há jogos da Selecção. Costuma sempre ser em cidades onde o futebol está mais parado e as pessoas vão muito aos jogos das Selecções. Por isso, acho que o apoio tem sido fantástico em todas as Selecções e esta onda que se cria da Selecção Portuguesa e de representar o país onde todos são vistos com a bandeira, é extraordinário. Cada vez mais, jogar pela Selecção é um orgulho. Os estádios estão sempre cheios e é outro mundo.

A – Esta ascensão dos sub20 para os sub21 pode marcar uma viragem na tua carreira?
JV – Marca. Se for convocado, ainda não fui convocado nenhuma vez. Vejo, inclusive, isso como objectivo, mas não vivo obcecado. É mais um passo, um capítulo importante e a montra dos sub21 é enorme.

A – Uma frase positiva que lhe surge neste momento?
JV – Levantar sempre a cabeça e acreditar sempre em nós.

A – O que é mais difícil de se suportar na carreira de um jogador? Ser dispensado?
JV – Nunca fui dispensado, por isso não sei. O que aconteceu foi o Benfica querer rescindir comigo e fizemo-lo de mútuo acordo. Acredito que ser dispensado deve ser complicado, mas outra situação a ter em conta é não seres opção na equipa em que estás, e estares lesionado, duas situações muito aborrecidas.

A – O que falta ao futebol nacional?
JV – Falta gente séria. Pessoas que gostem só de futebol e não tendo em conta outros interesses.

A – Qual a maior alegria que o futebol já lhe deu?
JV – Todas as vitórias são uma alegria. Ter sido campeão nacional, fui duas vezes. Representar a Selecção. O momento que mais me arrepiou foi a minha primeira internacionalização que, ao ouvir o hino, já sonhava com aquilo e arrepiei-me todo e se calhar foi o momento mais marcante do futebol.

Um jogador que “gosta de fazer várias posições e usa mais a inteligência. Gosto de jogar e pensar o jogo. Boa qualidade de passe. Consigo fazer uns golinhos, entro bem na área. Jogador inteligente que sabe se posicionar, sabe jogar e ainda consegue fazer uns golos às vezes”, é como se define o atleta.
Sob uma outra perspectiva, João assume-se como “uma pessoa muito calma que gosta de sair à noite quando tenho folgas. Gosto de me divertir como qualquer jovem, mas sabemos que temos alguns entraves que nos impossibilitam de fazer a vida que outros jovens fazem. De resto, sou muito reservado, gosto de estar em casa, a ver uns bons filmes e estar a descansar”.
O campeonato inglês é o seu eleito, ainda que gostasse de vir a representar o Real Madrid. Ao invés, na Playstation, opta por jogar pelo Barcelona, o clube rival.
Acredita sempre que é capaz e nunca desiste por mais que sejam as vicissitudes e entraves; porém, no futebol, “as coisas não acontecem sempre como queremos nem como merecemos. Acredito sempre que posso dar a volta e em certas situações vingar. Certas situações põem-nos mais para baixo, mas sou persistente, acredito em mim e nunca desisto”.
João Vilela tem confiança no seu valor, mas nem sempre lhe são reconhecidos os factores peculiares que o caracterizam “até pensei chegar mais longe. O objectivo é chegar mais longe. Com 21 anos ainda não fiz nada e tenho muito para conquistar”.
Aquando do seu desempenho ao serviço ao Benfica nos escalões jovens, “o meu sonho era jogar na equipa principal e ser campeão pelo Benfica. Ou mesmo jogar pelo Benfica na equipa principal como nunca alcancei. Isso, com certeza, é um sonho”, refere João, todavia, “construir uma boa carreira, ser reconhecido profissionalmente e ganhar um bom suporte para mim e para a minha família para viver bem”, estabelecem a pretensão que visa alcançar.
“Ser feliz independentemente de todo o resto” será a maior vitória da sua vida; não obstante, a “fazer feliz aqueles que me rodeiam, que me amam. Neste momento, a minha prioridade é a minha filha e só quero fazê-la feliz”, expõe. No futebol, sairia vencedor ao “jogar na Liga dos Campeões e ouvir o hino e ser campeão do mundo por Portugal”, manifesta o desejo.
No período de férias do Gil Vicente, João Vilela aproveita para desfrutar dos momentos de descontracção para, na pré-época, estar disponível com a mesma força de vontade e conduta que o têm orientado a cada treino, para fazer de cada encontro o jogo da sua vida.



Anabela da Silva Maganinho

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