Monday, March 23, 2009

Um brasileiro ao serviço do Azerbaijão


Thiago Gabriel Rodrigues Paz é um dos jogadores brasileiros que integra o elenco da selecção do Azerbaijão. Decorrida a fase de apuramento, o Azerbaijão assegura um marco na história do país ao se qualificar para o Euro 2010. Thiago deixou o distintivo nas três jornadas ao assinalar cinco golos, mas o futuro ainda não detém certezas para o jogador no que concerne ao futsal.
Iniciado no Internacional de Porto Alegre, o trajecto de Thiago passou pelo Atlético Erechin, pelo Minas e pelo Veranopolis. Transferido para Espanha, ingressou pelo Marfil Santa Coloma e pelo Burela, tendo terminado no Cáceres até à proposta para o Aras do Azerbaijão.
O destino levou-o para o outro canto do mundo, se pensarmos nos milhares de quilómetros que o separam de Santana do Livramento, no Brasil; porém, é a paixão, o amor pelo futsal que o movem para qualquer direcção. Aos 27 anos, a modalidade é que o faz feliz e lhe tem dado alegrias representadas em títulos; no entanto, a família, sobretudo a filha, são a prioridade e, por isso, o futuro apenas lhe cabe a ele traçar.

Anabela (A) – Queria começar por saber um pouco acerca do teu percurso profissinal.
Thiago Paz (TP) –
Comecei a jogar aos 9 anos já em torneios, na disputa de competições. O meu primeiro ano de profissional foi em 1999, no Internacional de Porto Alegre, no Brasil. Em 2001, saí para a Espanha onde joguei cinco temporadas até que surgiu esta proposta, a oportunidade de ir para o Azerbaijão. Cheguei ao Azerbaijão há três meses, tirei a cidadania através do meu bisavô que morou lá (não sei o que é que ele estava a fazer lá (risos)). Tenho a agradecer ao Azerbaijão o facto de me ter aberto as portas para eu poder disputar um pré-europeu que para o Azerbaijão vai entrar para a história, porque nunca se classificou. Vim a Portugal representar um país e sinto-me sinto orgulhoso por ter podido representar da maneira como representamos. Ninguém esperava que o Azerbaijão se fosse classificar, mas a verdade é que conseguimos e agora é trabalhar e esperar 2010, na Hungria.

A – E a selecção do Brasil não era algo ambicionado da tua parte uma vez que seria a representação do teu país?
TP –
Não. Claro que como sou brasileiro o meu sonho sempre foi representar o meu país, mas não tive oportunidade. Como referi, o Azerbaijão abriu-me estas portas e eu vou ser sempre agradecido. Onde eu estiver a jogar, se eu receber uma convocatória irei certo onde for para representar o país.

A – Qual a razão para escolheres o futsal quando o futebol 11 é o mais ambicionado pelos miúdos, ainda mais no Brasil?
TP –
Verdade. Até aos 18 anos sempre joguei os dois. Durante o dia jogava futebol e à noite jogava o futebol de salão. Com 19 anos, tive de escolher e, como é óbvio, se fosse a pensar financeiramente estaria a jogar futebol, mas optei pela minha paixão que perdura até hoje. Eu amo jogar futebol de salão e sinto-me orgulhoso de ter optado por esta modalidade.

A – Ao longo do teu percurso enquanto jogador, qual o momento que mais destacas como o momento mais feliz?
TP –
Teve vários. Desde que comecei a jogar futebol de salão, eu quero vencer! Se saio derrotado, sinto-me muito mal e até nos treinos eu quero vencer, quero vencer. Já tive vários títulos, mas representar uma selecção, representar um país como o que aconteceu aqui. Ver o Azerbaijão a classificar-se, algo que nunca aconteceu… e agora ficamos a saber pelos directores que o país está à nossa espera. Sinto-me orgulhoso por causa disso: estar a representar um país e saber que vou entrar para a história, não só eu como os meus companheiros, os jogadores que classificaram, pela primeira vez, um país para uma competição tão importante como o Europeu.

A – Durante esta fase de apuramento para o Europeu as expectativas foram superadas pelo facto de vocês prosseguirem, mas qual o balanço que fazem dos três jogos que realizaram?
TP –
Como a nossa equipa da selecção tem cinco brasileiros entregamo-nos ao máximo, já está no sangue. Nós conversamos muito, treinamos um pouco separados da equipa e preparamo-nos muito para chegar aqui. Não viemos em passeio e tentamos transmitir aos nossos colegas que podíamos conquistar este pré-europeu. A cada dia levantávamos o astral do «pessoal» e viemos confiantes. Contra Portugal, sabíamos que o favoritismo era de Portugal, mas fizemos um bom jogo. No final, o árbitro deu um penalty, mas, de facto, era penalty. Nesse jogo vimos que tínhamos condições. Depois jogamos com a Polónia, ganhamos 4-3 apesar de termos tido um pouco de dificuldades, talvez por termos empatado com uma selecção tão importante como a de Portugal. No entanto, ganhamos e graças a Deus hoje chegamos confiantes para o jogo ao ganhar a Finlândia por 5-1.

A – E quais são as perspectivas em relação ao Europeu que aí vem?
TP –
Olha, agora é aproveitar um pouco e descansar. Vou ficar em Espanha até Domingo e vou descansar um pouco, descansar mesmo. Depois vou voltar para me apresentar no meu clube, porque está no final da competição lá também e temos de conquistar o título. Posteriormente, vou falar com a administração para ver o que é que eles pretendem e ver a proposta deles. Entretanto vou de férias para o Brasil aproveitar a minha família, pensando já no meu futuro.

A – E Portugal? Já que estamos em Portugal, como é que achas que a selecção nacional se vai comportar no Europeu?
TP –
Até lá ainda há muita coisa para acontecer. Não se sabe se vamos estar do lado do Azerbaijão, se vão estar os mesmos jogadores, mas sabemos que Portugal está entre as melhores selecções do mundo. Espero que, se tivermos condições de jogarmos contra eles, se nos cruzarmos lá, possamos dificultar ao máximo (risos), porque, como te falei, estou a defender as cores do Azerbaijão e vamos lutar até ao final.

A – Voltando a bola para ti, como é que te defines dentro e fora das quatro linhas?
TP –
É difícil (risos). Fora das quadras, sou uma pessoa que procura fazer o bem, para o próximo, para a minha família. Onde vou espero poder passar para as pessoas quem eu sou. Sou muito aberto, sou muito dado, eu entrego-me mesmo. Estou longe… jogo para poder dar condições à minha família. Eu jogo para a minha família. Tenho uma filha de um ano e jogo a pensar nela. Estou há seis anos a viver sozinho, longe de casa, mas a coisa mais importante continua a ser a minha família só que sei que ao estar a trabalhar, ao estar bem, vou poder dar condições para a minha família de modo a que estejam bem no Brasil e a minha filha vai poder crescer bem. Dentro das quadras, acho que é complicado (risos). Defino-me como… complicado mesmo (risos), acho que é mais fácil perguntar para o treinador, para os companheiros… Não sei, eu sou uma pessoa que tento fazer o que o treinador pede. Entro sempre a pensar em defender, porque penso que era a minha maior dificuldade. Há dois anos, meti na cabeça que tinha de começar a defender, então cresci muito na defesa. Não adianta fazeres golos e não ajudares na defesa, ainda mais no futebol de salão que jogas em todas as posições. Entrego-me, tento sempre fazer tudo o que o meu treinador me pede, o que os meus companheiros me pedem e é isso.

As ambições não fazem em grande proporção parte dos prognósticos de Thiago e daí que o jogador confesse “se eu disser que estou muito feliz é uma das coisas que eu queria muito. Deram-me a oportunidade de poder representar o Azerbaijão e poder chegar e colocar a cabeça na almofada e ver que eu ajudei, que eu fui importante para um país como o Azerbaijão, eu fico muito feliz”.
A felicidade é o bem maior num universo de luta e de permanência num lugar que o satisfaça e que dê novas possibilidades aos que o cercam. Prosseguir rumo ao Euro vai ser um momento marcante para o país onde reside, neste momento, e, por isso, o camisola 6 revela que gostaria de continuar a representar a selecção: “foi uma parte de um torneio que vai continuar em 2010 que vai ficar marcado. E eu pretendo, se eles contarem comigo e eu for convocado para jogar o Europeu, eu vou-me preparar muito bem para poder ajudar ao máximo o Azerbaijão”.
O futuro pode continuar a passar pela Europa ainda que o maior desejo de Thiago seja regressar ao seu país: “É complicado, porque eu penso muito em voltar a jogar no Brasil. Faz seis anos que estou a morar sozinho longe da minha família e penso muito em voltar a jogar no Brasil para poder estar perto deles. Para poder estar presente no crescimento da minha filha, porque não é fácil, mas não sei”, afirma.
Durante a época passada, Thiago recebeu propostas do Brasil. Ele pensou que, realmente, poderia voltar, mas foi nessa altura que “apareceu a proposta do Azerbaijão. Eu tenho de pensar no futuro da minha filha. Onde for bom para mim, onde me vá sentir bem, dependendo da estrutura do clube e do que me vão passar, então eu vou. Estando bem, confiante e desde que o clube que me contrate me passe confiança, eu vou para onde for”, assevera.
Os planos que Thiago tem em mente, por ora, são os de “acabar o campeonato e levar o título do Azerbaijão pelo meu clube que é o Aras. Depois ir para casa, descansar com a minha família, ver a minha filha. Passar uns 20 dias lá e depois sim começar a pensar no que vai acontecer, no que é que eu quero para mim para a próxima temporada”.
Mais um triunfo passa a ser assegurado por Thiago Paz num caminho que não tem sido fácil de atravessar para quem está a bem mais do que um oceano de distância, mas nem isso faz com que ele desista de lutar por esta paixão que se mantém acesa até ao final de cada campeonato e se prolonga pela competição da vida: o futsal.

Anabela da Silva Maganinho

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