Monday, June 1, 2009

A luta de três pelo sonho além fronteiras

Diego (piano), Marcos (voz e guitarra), Felipe (bateria)


Chapa é o nome da banda que integra três irmãos de Rio Grande do Sul. Encetaram no mundo da música brasileira no ano de 1993 ao se juntarem para participar num concurso organizado pela escola. Ainda muito novos, Felipe, Diego e Marcos ganharam o concurso com um original e esse foi apenas o mote para avançarem numa carreira. Divulgar a música por entre bares e outros lugares do estado natal foi o primeiro passo até que avançaram com uma digressão pela Argentina e pelo Uruguai. Em 2006, decidiram navegar o oceano e fazer chegar o nome Chapa à Europa. Portugal e Espanha foram os países que os acolheram, com destaque para Porto e Lisboa e Barcelona, Madrid e Valência.
No ano transacto, os irmãos Fagundes regressaram a terras lusas para promover o álbum “Outro Dia” e é no sentido de dar continuidade a esse intuito que os Chapa estão em Portugal neste momento. As Fnacs do Norte do país foram as primeiras a recebê-los neste ano de 2009, seguindo-se as de Lisboa na semana que acabou de terminar.
Com o novo álbum já na forja, lançamento previsto para Março, os Chapa prometem ficar por Portugal até Setembro com muitas surpresas por revelar.

Anabela (A) – Como não poderia deixar de ser vamos começar pelo início. Vocês são três irmãos de Rio Grande do Sul, mas como é que tudo começou? Em 1993, deram o salto para o mundo da música e o que é que se passou antes disso?
Diego (D) –
O ano de 1993 foi o início mesmo. Foi a primeira vez que tocamos juntos. Eu já tocava piano há cerca de dois/três anos, o Marcos, com apenas oito anos, tocava violão e o Filipe começou a tocar naquele ano a bateria. Então, na mesma casa, começamos a tocar juntos. Fizemos a banda para participar num festival da nossa escola. Compusemos a música, participamos no festival e ganhamos.

A – As músicas surgiram a partir daí ou já contavam com algumas composições?
Diego (D) –
Na verdade fizemos a primeira música aquando do concurso. Para participarmos no concurso a exigência era uma música original e foi aí que fizemos a nossa primeira música. Éramos muito novos. Eu tinha 10/11 anos, o Filipe tinha 12/13 e o Marcos 8. Depois começamos a tocar em bares, em casas de concertos e decidimos continuar.
Marcos (M) – A gravação do disco foi 1997. Foi essa a primeira vez que entramos num estúdio e começamos a compor mesmo.

A – Podemos dizer que o gosto pela música despoletou em vocês desde sempre?
M –
Sim. Com cinco anos, a minha brincadeira era fazer uma bateria com latas de tinta.

A – Vocês são três irmãos que formaram uma banda, mas já contam com antecedentes na família?
M –
Na verdade, temos um tio que toca violão.
D – Mas não é profissional.
M – Na nossa família os nossos pais são médicos. Não têm qualquer ligação com música, mas sempre gostaram.

A – Vocês são uma banda pop/rock, as vossas referências musicais assentam nessa linha?
M –
Ao longo da nossa carreira já tivemos influências diferentes. Em “Outro Dia”, as nossas influências assentaram muito no rock dos anos 70/80. No Brasil, Rita Lee, Paralamas do Sucesso…ao nível internacional Beatles, Beach Boys, Aerosmith, Silverchair...

A – Em que medida é que essas bandas influenciam na vossa composição?
D –
Eu acho que tudo. Como o Marcos falou temos bandas dos anos 60 e 70 que nos influenciam, mas também bandas mais actuais em que conseguimos ver a influência das mesmas bandas. Todos acabam por se influenciar. Tivemos já várias fases, no que diz respeito a influências. Houve uma altura em que éramos influenciados pelo reggae: Bob Marley, Big Mountain, entre outros e agora estamos a gravar um álbum novo, em inglês, e temos sentido a influência de coisas bem diferentes. Para além das influências dos clássicos, coisas mais modernas, electrónicas…
Filipe (F) – Alternativas e experimentais também.
D – Acho que até o nosso novo trabalho tem uma onda mais alternativa… É difícil rotular o que fazemos.

A – Cabe-vos a composição das músicas, em que é que vocês se inspiram?
M –
Em várias coisas. Sentimentos…
D – O “Outro Dia” foi gravado em 2006, no Brasil, e agora após uns anos consigo ver as composições e as letras e ver que elas tratam aquilo que vivíamos na época. Morávamos no Rio de Janeiro e as letras e a música reportam-nos a isso.
F – Dessa forma, considero que o nosso novo álbum vai ter muita coisa do que estamos a viver agora.
D – Estamos a compor e a produzir várias músicas e isso está a reflectir-se no álbum. Penso que muita coisa daqui, do que nós temos vivido em Portugal se está a reflectir.

A – O que é que surge primeiro a melodia ou a lírica?
D –
Isso não tem muita regra. No nosso trabalho novo, as ideias têm surgido do Marcos. Com as melodias concebidas depois sempre nos reunimos para produzir e para definir as estruturas das coisas.
M – Geralmente a letra sempre fica para último, mas também já tivemos muitas músicas que começaram pela letra, por uma frase. A música “Lágrima” fizemos toda a letra, depois musicamo-la e voltamos a fazer mais um pouco da letra. Não há regra.

A – Através das músicas, há uma mensagem a passar para o público?
D –
Não temos uma ideia básica do que queremos passar. Em cada música queremos passar uma ideia diferente. Procuramos fazer coisas que gostamos, com as quais nos sentimos bem a tocar. Fazemos as músicas, gravamos e depois vamos estar alguns anos a tocá-las, então, tem que ser algo que gostemos. No “Outro dia” conseguimos isso e ainda mais no trabalho novo. Temos gostado. Hoje [quinta-feira], no concerto [no Rock in Chiado], vamos tocar as três músicas do álbum novo para ver a reacção do público em relação às três músicas.

A – Nos vossos concertos, em Portugal e até mesmo no Brasil, há uma faixa etária que consigam identificar?
M –
Acho que há uma faixa etária, mais ou menos, da nossa idade entre os 20/30 anos. D – Encontramos também pessoas mais velhas e mais novas, mas, em geral, é nessa faixa dos 20/30.

A – Na vossa opinião, quais as características que um artista deve reunir para ser bem sucedido?
D –
A característica principal é não ter regra. Não procurar ser nada. Simplesmente ser original e natural.
M – Não buscar «lá na frente» o resultado que a música vai dar. Importante é fazer pela música, sem pensar. Depois que fazemos, aí sim tentamos levar para o máximo de pessoas.
D – Por mais que tenhamos influências de outras bandas sempre procuramos a nossa maneira de fazer, de tocar, compor e falar. Penso que isso é o principal. É difícil dar uma fórmula, porém, acho que é isso: cada um tentar achar o seu caminho.

A – Recordam-se ainda da primeira vez que ouviram pela primeira vez a vossa música a tocar na rádio?
M –
Eu estava a chegar em casa. Foi em 1998 que ouvi o primeiro single, do nosso primeiro disco, “Quero Você”.
A – O que é que se sente?
M – Sentimos que nos estamos a tornar pop stars. (risos)

A – E em Portugal, algo bem mais recente visto que a vossa estreia em Portugal foi em 2006, como se sentiram quando a vossa música passou nas rádios nacionais?
M –
Foi bom. Chegamos a Portugal um pouco antes do Festival da Best Rock. Não sabíamos como estava a ser, porque estávamos no Brasil. Chegamos, estivemos na Rádio, demos uma entrevista e deu para sentir como as coisas estavam a decorrer. No Festival foi muito bom vermos as pessoas a cantarem as nossas músicas.

A – Nestes três anos o que é que destacam do que fizeram por cá?
M –
Em 2006, a primeira vez que cá viemos, fizemos uma tour por Portugal e Espanha e essa viagem foi muito boa, porque ficamos dois meses aqui. Demos uma volta por Portugal e Espanha e foi muito bom conhecermos, praticamente, toda a Península Ibérica.
D – Demos um concerto em Espanha, em Valência, e foi aí que tivemos a ideia de tocar em inglês. Estávamos a tocar num lugar, num dia em que tinha chegado uma excursão da Alemanha, e todos foram ao concerto. No final, vieram ter connosco e disseram-nos que tinham gostado da nossa música, todavia, que não tinham compreendido nada. Ficamos a pensar que tínhamos de começar a cantar em inglês para poder passar tudo e, por isso, estamos a fazer este novo álbum em inglês.

A – E com isso podem alargar a vossa música para além do vosso país e dos países latinos, para outros países da Europa…
D –
Sim. Para a Inglaterra e outros países.

A – No ano passado investiram muito na promoção, em Portugal. Este ano continuam a apostar nela?
D –
Estamos a fazer uma tour com concertos de forma a promover o álbum “Outro Dia”. Paralelamente, estamos a preparar o novo álbum que vamos começar a trabalhar a partir do ano que vem. Portanto, estamos a fazer a tour do disco, concertos com base nas músicas do disco às quais juntamos duas ou três músicas novas. A – Qual é a grande diferença que denotam entre o público brasileiro e o público português?
D –
A diferença do público é muito relacionada com o modo como funciona o mercado da música. No Brasil, a música popular é uma música mais do Norte. No nosso estado, as pessoas identificam-se mais com uma música com mais influência de rock, não tem tanto a música popular.
M – É uma música mais fria do que o resto do Brasil.
F – É um público mais parecido com a Europa e com Portugal.

A – Como é que vocês vêm o panorama da música portuguesa?
D –
Acho que, em qualquer lugar, o mercado da música está a passar uma crise pela questão da pirataria. No Brasil ainda mais… A Iinternet, para bandas que estão a começar, é bom. Existem milhares de maneiras de divulgarem a música. Para as editoras não é uma coisa tão boa, porque perdem nas vendas. Acho que o que é bom nisso é que estão mais bandas a aparecer, mais bandas a compor. Hoje existem mais bandas boas, mais bandas más, mais tudo e isso é bom.
M – Todos conseguem ser ouvidos pelo menos um pouco.

A – O que é que vocês estão a preparar aqui em Portugal?
D –
Vamos fazer mais alguns concertos aqui. Agora, em Junho, vamos para os Açores. Agosto e Setembro vamos ter mais alguns concertos aqui e, no final deste ano ainda, vamos lançar o single. Ainda não temos nada oficial do que vai acontecer, porquanto estamos a ver tudo o que diz respeito ao novo álbum.



A – Para quem ainda não conhece o vosso álbum. O que é que têm a dizer acerca dele?
D –
Um álbum muito bom.
M – Na verdade, foi o primeiro trabalho mesmo verdadeiro, para mim. Não tivemos influência de ninguém de fora. Fizemos todas as músicas, gravamos e produzimos e, por isso, é uma coisa que mostra bem o que somos. As letras reflectem uma fase bem forte das nossas vidas e daí o nome “Outro dia”. Tudo mudou: a música, começamos a ficar mais velhos…

A – E a vossa vida no Brasil como está agora?
M –
Esse é o lado pior. Ficar longe da família, da namorada…
D – Mas também acostumamo-nos a isso. Já há alguns anos que estamos sempre a viajar. Ficamos uns meses e saímos para viajar e tocar.
F – Em Portugal, já fizemos vários amigos. Isso faz com que nos sintamos bem, nos sintamos em casa.

Há mais de uma década e meia que traçam o percurso pelo mundo da música. Sem ambicionarem demais preferem dar pequenos passos, desde que sejam à sua maneira, de forma a que consigam fazer chegar o nome e a música ao maior número de pessoas.
Com vários concertos já no repertório, confessam em sintonia que gostaria de dividir o palco com Paul McCartney. No entanto, Diego revela “uma pessoa com quem seria bom actuar”: “um cantor/compositor argentino chamado Tito Paes. Gostaria muito de cantar com ele e dividir o palco com ele. Ele é uma influência nas músicas e nas letras que compomos. Seria muito bom”.
Já com um disco editado no Brasil, Portugal começa a fazer cada vez mais parte dos planos de edição dos Chapa. “Até agora está a surgir a ideia. O nosso manager aqui está a fazer contactos com o Brasil para relançar o “Outro Dia”, adianta Marcos. “Queremos lançar um novo álbum. A princípio na Inglaterra, porque o álbum é em inglês, mas também em Portugal e no Brasil. Uma coisa simultânea, não sei como”, anuncia o pianista Diego com um sorriso e continua “começar a divulgar e dividir os meios para tocar em todos os lugares. Este ano, estamos muito a pensar como o vamos fazer”.
No que concerne a objectivos e a sonhos, podemos dizer que «os pés bem assentes na terra» são uma máxima para estes irmãos. “Eu não consigo pensar muito na frente. O que eu quero é o que estamos a viver agora. Penso no álbum novo, em realizá-lo, que fique da maneira que eu espero e começar a divulgá-lo. Tocar na Inglaterra, em Portugal, no Brasil… acho que isso é o que eu quero que se realize no momento e depois vemos”, assevera Diego.

Felipe acaba por ir de encontro às ideias do irmão e diz que o que pretendem “é tentar mostrar ao maior número de gente a nossa música e quem nós somos. Fazermos um disco excepcional, com certeza que vai ser. E, no próximo ano, cantar por novos países, novas culturas”.

Marcos, apesar de, inicialmente, brincar com o facto de ter sido deixado para último, acaba por falar muito a sério quando afirma que importante é aproveitar o momento: “o momento que estamos a viver aqui é novo para nós. Está a ser muito bom e espero que no próximo ano conheçamos ainda mais pessoas diferentes, culturas diferentes, toquemos para mais gente e tentar ampliar. Estou muito satisfeito”.

A satisfação é, efectivamente, um conceito que acerca esta banda que se contenta com o que tem arrecadado, mas nem por isso estagna em relação a projectos. Querem manter o dinamismo e mostrar a ritmo que transportam sempre conduzidos pelo sonho real da música que não pára com "o tempo".

Anabela da Silva Maganinho

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