No ano transacto, os irmãos Fagundes regressaram a terras lusas para promover o álbum “Outro Dia” e é no sentido de dar continuidade a esse intuito que os Chapa estão em Portugal neste momento. As Fnacs do Norte do país foram as primeiras a recebê-los neste ano de 2009, seguindo-se as de Lisboa na semana que acabou de terminar.
Com o novo álbum já na forja, lançamento previsto para Março, os Chapa prometem ficar por Portugal até Setembro com muitas surpresas por revelar.
Anabela (A) – Como não poderia deixar de ser vamos começar pelo início. Vocês são três irmãos de Rio Grande do Sul, mas como é que tudo começou? Em 1993, deram o salto para o mundo da música e o que é que se passou antes disso?
Diego (D) – O ano de 1993 foi o início mesmo. Foi a primeira vez que tocamos juntos. Eu já tocava piano há cerca de dois/três anos, o Marcos, com apenas oito anos, tocava violão e o Filipe começou a tocar naquele ano a bateria. Então, na mesma casa, começamos a tocar juntos. Fizemos a banda para participar num festival da nossa escola. Compusemos a música, participamos no festival e ganhamos.
A – As músicas surgiram a partir daí ou já contavam com algumas composições?
Diego (D) – Na verdade fizemos a primeira música aquando do concurso. Para participarmos no concurso a exigência era uma música original e foi aí que fizemos a nossa primeira música. Éramos muito novos. Eu tinha 10/11 anos, o Filipe tinha 12/13 e o Marcos 8. Depois começamos a tocar em bares, em casas de concertos e decidimos continuar.
Marcos (M) – A gravação do disco foi 1997. Foi essa a primeira vez que entramos num estúdio e começamos a compor mesmo.
A – Podemos dizer que o gosto pela música despoletou em vocês desde sempre?
M – Sim. Com cinco anos, a minha brincadeira era fazer uma bateria com latas de tinta.
A – Vocês são três irmãos que formaram uma banda, mas já contam com antecedentes na família?
M – Na verdade, temos um tio que toca violão.
D – Mas não é profissional.
M – Na nossa família os nossos pais são médicos. Não têm qualquer ligação com música, mas sempre gostaram.
A – Vocês são uma banda pop/rock, as vossas referências musicais assentam nessa linha?
M – Ao longo da nossa carreira já tivemos influências diferentes. Em “Outro Dia”, as nossas influências assentaram muito no rock dos anos 70/80. No Brasil, Rita Lee, Paralamas do Sucesso…ao nível internacional Beatles, Beach Boys, Aerosmith, Silverchair...
A – Em que medida é que essas bandas influenciam na vossa composição?
D – Eu acho que tudo. Como o Marcos falou temos bandas dos anos 60 e 70 que nos influenciam, mas também bandas mais actuais em que conseguimos ver a influência das mesmas bandas. Todos acabam por se influenciar. Tivemos já várias fases, no que diz respeito a influências. Houve uma altura em que éramos influenciados pelo reggae: Bob Marley, Big Mountain, entre outros e agora estamos a gravar um álbum novo, em inglês, e temos sentido a influência de coisas bem diferentes. Para além das influências dos clássicos, coisas mais modernas, electrónicas…
Filipe (F) – Alternativas e experimentais também.
D – Acho que até o nosso novo trabalho tem uma onda mais alternativa… É difícil rotular o que fazemos.
A – Cabe-vos a composição das músicas, em que é que vocês se inspiram?
M – Em várias coisas. Sentimentos…
D – O “Outro Dia” foi gravado em 2006, no Brasil, e agora após uns anos consigo ver as composições e as letras e ver que elas tratam aquilo que vivíamos na época. Morávamos no Rio de Janeiro e as letras e a música reportam-nos a isso.
F – Dessa forma, considero que o nosso novo álbum vai ter muita coisa do que estamos a viver agora.
D – Estamos a compor e a produzir várias músicas e isso está a reflectir-se no álbum. Penso que muita coisa daqui, do que nós temos vivido em Portugal se está a reflectir.
A – O que é que surge primeiro a melodia ou a lírica?
D – Isso não tem muita regra. No nosso trabalho novo, as ideias têm surgido do Marcos. Com as melodias concebidas depois sempre nos reunimos para produzir e para definir as estruturas das coisas.
M – Geralmente a letra sempre fica para último, mas também já tivemos muitas músicas que começaram pela letra, por uma frase. A música “Lágrima” fizemos toda a letra, depois musicamo-la e voltamos a fazer mais um pouco da letra. Não há regra.
A – Através das músicas, há uma mensagem a passar para o público?
D – Não temos uma ideia básica do que queremos passar. Em cada música queremos passar uma ideia diferente. Procuramos fazer coisas que gostamos, com as quais nos sentimos bem a tocar. Fazemos as músicas, gravamos e depois vamos estar alguns anos a tocá-las, então, tem que ser algo que gostemos. No “Outro dia” conseguimos isso e ainda mais no trabalho novo. Temos gostado. Hoje [quinta-feira], no concerto [no Rock in Chiado], vamos tocar as três músicas do álbum novo para ver a reacção do público em relação às três músicas.
A – Nos vossos concertos, em Portugal e até mesmo no Brasil, há uma faixa etária que consigam identificar?
M – Acho que há uma faixa etária, mais ou menos, da nossa idade entre os 20/30 anos. D – Encontramos também pessoas mais velhas e mais novas, mas, em geral, é nessa faixa dos 20/30.
A – Na vossa opinião, quais as características que um artista deve reunir para ser bem sucedido?
D – A característica principal é não ter regra. Não procurar ser nada. Simplesmente ser original e natural.
M – Não buscar «lá na frente» o resultado que a música vai dar. Importante é fazer pela música, sem pensar. Depois que fazemos, aí sim tentamos levar para o máximo de pessoas.
D – Por mais que tenhamos influências de outras bandas sempre procuramos a nossa maneira de fazer, de tocar, compor e falar. Penso que isso é o principal. É difícil dar uma fórmula, porém, acho que é isso: cada um tentar achar o seu caminho.
A – Recordam-se ainda da primeira vez que ouviram pela primeira vez a vossa música a tocar na rádio?
M – Eu estava a chegar em casa. Foi em 1998 que ouvi o primeiro single, do nosso primeiro disco, “Quero Você”.
A – O que é que se sente?
M – Sentimos que nos estamos a tornar pop stars. (risos)
A – E em Portugal, algo bem mais recente visto que a vossa estreia em Portugal foi em 2006, como se sentiram quando a vossa música passou nas rádios nacionais?
M – Foi bom. Chegamos a Portugal um pouco antes do Festival da Best Rock. Não sabíamos como estava a ser, porque estávamos no Brasil. Chegamos, estivemos na Rádio, demos uma entrevista e deu para sentir como as coisas estavam a decorrer. No Festival foi muito bom vermos as pessoas a cantarem as nossas músicas.
A – Nestes três anos o que é que destacam do que fizeram por cá?
M – Em 2006, a primeira vez que cá viemos, fizemos uma tour por Portugal e Espanha e essa viagem foi muito boa, porque ficamos dois meses aqui. Demos uma volta por Portugal e Espanha e foi muito bom conhecermos, praticamente, toda a Península Ibérica.
D – Demos um concerto em Espanha, em Valência, e foi aí que tivemos a ideia de tocar em inglês. Estávamos a tocar num lugar, num dia em que tinha chegado uma excursão da Alemanha, e todos foram ao concerto. No final, vieram ter connosco e disseram-nos que tinham gostado da nossa música, todavia, que não tinham compreendido nada. Ficamos a pensar que tínhamos de começar a cantar em inglês para poder passar tudo e, por isso, estamos a fazer este novo álbum em inglês.
A – E com isso podem alargar a vossa música para além do vosso país e dos países latinos, para outros países da Europa…
D – Sim. Para a Inglaterra e outros países.
A – No ano passado investiram muito na promoção, em Portugal. Este ano continuam a apostar nela?
D – Estamos a fazer uma tour com concertos de forma a promover o álbum “Outro Dia”. Paralelamente, estamos a preparar o novo álbum que vamos começar a trabalhar a partir do ano que vem. Portanto, estamos a fazer a tour do disco, concertos com base nas músicas do disco às quais juntamos duas ou três músicas novas. A – Qual é a grande diferença que denotam entre o público brasileiro e o público português?
D – A diferença do público é muito relacionada com o modo como funciona o mercado da música. No Brasil, a música popular é uma música mais do Norte. No nosso estado, as pessoas identificam-se mais com uma música com mais influência de rock, não tem tanto a música popular.
M – É uma música mais fria do que o resto do Brasil.
F – É um público mais parecido com a Europa e com Portugal.
D – Acho que, em qualquer lugar, o mercado da música está a passar uma crise pela questão da pirataria. No Brasil ainda mais… A Iinternet, para bandas que estão a começar, é bom. Existem milhares de maneiras de divulgarem a música. Para as editoras não é uma coisa tão boa, porque perdem nas vendas. Acho que o que é bom nisso é que estão mais bandas a aparecer, mais bandas a compor. Hoje existem mais bandas boas, mais bandas más, mais tudo e isso é bom.
M – Todos conseguem ser ouvidos pelo menos um pouco.
A – O que é que vocês estão a preparar aqui em Portugal?
D – Vamos fazer mais alguns concertos aqui. Agora, em Junho, vamos para os Açores. Agosto e Setembro vamos ter mais alguns concertos aqui e, no final deste ano ainda, vamos lançar o single. Ainda não temos nada oficial do que vai acontecer, porquanto estamos a ver tudo o que diz respeito ao novo álbum.
A – Para quem ainda não conhece o vosso álbum. O que é que têm a dizer acerca dele?
D – Um álbum muito bom.
M – Na verdade, foi o primeiro trabalho mesmo verdadeiro, para mim. Não tivemos influência de ninguém de fora. Fizemos todas as músicas, gravamos e produzimos e, por isso, é uma coisa que mostra bem o que somos. As letras reflectem uma fase bem forte das nossas vidas e daí o nome “Outro dia”. Tudo mudou: a música, começamos a ficar mais velhos…
A – E a vossa vida no Brasil como está agora?
M – Esse é o lado pior. Ficar longe da família, da namorada…
D – Mas também acostumamo-nos a isso. Já há alguns anos que estamos sempre a viajar. Ficamos uns meses e saímos para viajar e tocar.
F – Em Portugal, já fizemos vários amigos. Isso faz com que nos sintamos bem, nos sintamos em casa.
Há mais de uma década e meia que traçam o percurso pelo mundo da música. Sem ambicionarem demais preferem dar pequenos passos, desde que sejam à sua maneira, de forma a que consigam fazer chegar o nome e a música ao maior número de pessoas.
Com vários concertos já no repertório, confessam em sintonia que gostaria de dividir o palco com Paul McCartney. No entanto, Diego revela “uma pessoa com quem seria bom actuar”: “um cantor/compositor argentino chamado Tito Paes. Gostaria muito de cantar com ele e dividir o palco com ele. Ele é uma influência nas músicas e nas letras que compomos. Seria muito bom”.
Já com um disco editado no Brasil, Portugal começa a fazer cada vez mais parte dos planos de edição dos Chapa. “Até agora está a surgir a ideia. O nosso manager aqui está a fazer contactos com o Brasil para relançar o “Outro Dia”, adianta Marcos. “Queremos lançar um novo álbum. A princípio na Inglaterra, porque o álbum é em inglês, mas também em Portugal e no Brasil. Uma coisa simultânea, não sei como”, anuncia o pianista Diego com um sorriso e continua “começar a divulgar e dividir os meios para tocar em todos os lugares. Este ano, estamos muito a pensar como o vamos fazer”.
No que concerne a objectivos e a sonhos, podemos dizer que «os pés bem assentes na terra» são uma máxima para estes irmãos. “Eu não consigo pensar muito na frente. O que eu quero é o que estamos a viver agora. Penso no álbum novo, em realizá-lo, que fique da maneira que eu espero e começar a divulgá-lo. Tocar na Inglaterra, em Portugal, no Brasil… acho que isso é o que eu quero que se realize no momento e depois vemos”, assevera Diego.
Felipe acaba por ir de encontro às ideias do irmão e diz que o que pretendem “é tentar mostrar ao maior número de gente a nossa música e quem nós somos. Fazermos um disco excepcional, com certeza que vai ser. E, no próximo ano, cantar por novos países, novas culturas”.
Marcos, apesar de, inicialmente, brincar com o facto de ter sido deixado para último, acaba por falar muito a sério quando afirma que importante é aproveitar o momento: “o momento que estamos a viver aqui é novo para nós. Está a ser muito bom e espero que no próximo ano conheçamos ainda mais pessoas diferentes, culturas diferentes, toquemos para mais gente e tentar ampliar. Estou muito satisfeito”.
A satisfação é, efectivamente, um conceito que acerca esta banda que se contenta com o que tem arrecadado, mas nem por isso estagna em relação a projectos. Querem manter o dinamismo e mostrar a ritmo que transportam sempre conduzidos pelo sonho real da música que não pára com "o tempo".
Anabela da Silva Maganinho
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